Fanfic: Nossa rotina | Tema: Fátima e William

Fátima dirigia pelas ruas aos prantos. Estava sem chão e não tinha a quem recorrer pois era para ele que corria sempre que seu mundo desabava, e dessa vez o motivo do desmoronamento era ele... Para quem ela iria correr?! Não gostava de envolver ninguém em suas brigas com o marido pois achava que essas coisas deveriam resolver sozinhos. Ela não conseguia acreditar que ele havia feito isso! Logo ele que sempre fôra tão carinhoso, amoroso e atencioso... Começou a pensar então que esse era só mais um indício da traição, porque ele era bom demais pra ser verdade. Claro que tinha defeitos, mas suas qualidades falavam mais alto, tanto que ela nunca teve ciumes excessivos dele, confiava demais para isso. Queria saber há quanto tempo ele tinha outra... Se começou antes ou depois de ela sair do jornal. Queria saber quem era a vagabunda, ou as vagabundas... Queria e ao mesmo tempo não queria.

William estava desesperado! Não sabia como iria se explicar e tinha medo do que Fátima estava pensando, medo de que ela não quisesse escutá-lo ou que não acreditasse nele, pois conhecia a mulher que tinha e sabia o quão fria e decidida ela podia ser. Dirigiu pelo caminho que ela fazia para chegar em casa, mas até então não havia nem sinal do carro dela e para completar o trânsito estava péssimo. Ele não sabia nem se ela estava indo pra casa mesmo e isso o deixava ainda mais angustiado, mas decidiu seguir até lá. Caso ela não estivesse, ele a esperaria.

Nem mesmo Fátima sabia para onde estava indo... Sua cabeça estava a mil e tinha medo de que os filhos a vissem chegar naquele estado, mas não podia fazer nada, sabia que em algum momento William apareceria lá para contar a verdade e dizer que o casamento dos dois estava acabado. Ela não acreditava que ele fosse capaz de sustentar aquela mentira agora que ela já sabia. Decidiu então ir mesmo para casa.

Estacionou o carro na garagem, subiu as escadas apressada dando graças a Deus que nenhum dos filhos estava por ali, entrou e trancou a porta do quarto e desabou na cama! Ficou ali chorando por alguns minutos até que escutou os sapatos de William subindo as escadas correndo e, logo depois, fortes batidas na porta.

-Fátima, abre a porta!! Nós precisamos conversar!! - chamou ele.

Esperou um pouco mas não obteve resposta então continuou:

- Fá, por favor, deixa eu me explicar!! Não aconteceu nada do que você está pensando!! Deixa eu entrar ai, amor... - ele implorava e ela nem sequer respondia.

Ela não queria ouvir a voz dele, estava com raiva, repulsa, decepção e muitos outros sentimentos que não sabia definir. Ela não conseguia acreditar que ele continuava mentindo... Não queria nem ouvir o que ele tinha a dizer, afinal, qual outra explicação para ele guardar uma calçinha na gaveta de seu escritório?!

-Fátima, pelo amor de Deus, abra essa porta!! Eu não vou sair até você abrir! Até durmo aqui se for preciso, uma hora você vai ter que sair daí!

Ele esperou mais um pouco e nada... Não sabia mais o que dizer, então precisava agir pois não aguentaria aquela agonia por mais muito tempo.

-Se você não abrir eu vou derrubar essa porta, é sério! - esperou e nada então começou a dar investidas com o corpo na porta mas só fazia barulho.

Assustados com os estrondos, os filhos do casal saíram do quarto para ver o que estava acontecendo.

-Pai, o que aconteceu? Por que você tá tentando derrubar a porta? - perguntou Beatriz.

-Cade a minha mãe? - perguntou Laura.

-Érr... Sua mãe ficou presa la dentro e não consegue abrir a porta.- inventou William.

-Não é melhor chamar o chaveiro? - perguntou Vinícius.

-Não, não precisa! Já tô conseguindo aqui, tá tudo sob controle, não se preocupem... - tentou parecer tranquilo.

-Hmmm... Tá certo... - disse Beatriz, desconfiada.

-Podem ir pro quarto, papai vai dar um jeito aqui! - disse William.

Os três acharam aquilo muito estranho e não esgoliram a história de William, logo perceberam que os pais haviam brigado e que dessa vez era sério. Mas eles não podiam interferir em nada então foram para o quarto de Vinícius, ficar juntos e torcer para que ficasse tudo bem logo.

Após mais algumas investidas o jornalista conseguiu abrir a porta, quebrando a maçaneta e espalhando lascas de madeira pelo chão. Ver Fátima assustada e com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar foi como uma facada no peito de William. Ele nunca quis ser motivo de tristeza para ela, muito pelo contrário! Sua única vontade foi de correr para abraçá-la, conter suas lágrimas e lhe assegurar de que estava tudo bem, mas não podia fazer isso naquela situação, então, de coração partido, foi na direção da mulher, mas antes que desse o segundo passo ela o impediu:

-Não chegue perto de mim!!

Ele congelou onde estava e ficou ainda mais desesperado.

-Amor, eu... - antes que pudesse terminar de falar ela o interrompeu.

-Amor?! Pare de ser cínico, William!!

-Fá, não fala assim... Eu não fiz nada! Me escu... - lágrimas caíram de seus olhos e ele foi mais uma vez interrompido.

-Me poupe das suas lágrimas! Estou com tanto nojo de você que não consigo nem olhar na sua cara... Por favor, saia daqui! - pediu.

-Não vou sair! Não até você me escutar! - ele disse com a voz firme.

-Não vai?! Então saio eu. - disse, pegou a bolsa e as chaves do carro e foi em direção à porta, mas antes de que pudesse passar ele entrou na frente, impedindo-a.

-Nós temos um combinado, lembra?! Não dormir brigados... Sempre tentar resolver as coisas... - ele relembrou.

-Saia da minha frente! - disse, ignorando-o e empurrando-o, mas ele segurrou os pulsos dela em suas mãos fortes, fazendo com que ficasse impossível de se soltar.

-Não saio! E você também não vai sair daqui! - falou num tom mais alto.

-Me solta!! Você está me machucando! - gritou.

O paulista então a olhou nos olhos por um tempo, forçando-a a olhá-lo de volta, e quando ela o fez percebeu que não adiantaria falar, pois não importaria o que dissesse ou fizesse naquele momento. Nada a faria mudar de ideia. Soltou um suspiro e libertou os pulsos dela.

-Você não vai me ouvir mesmo, não é?! - ele perguntou sem esperar resposta - Então pode ficar. Já que você não me quer aqui eu vou embora...

O moreno abaixou a cabeça, derrotado, e foi andando pelo corredor, mas antes de sair das vistas dela, virou-se e disse:

-Eu te amo, Fátima. Só existe você em minha vida, só você.

Fátima, arrasada, fechou a porta, ou pelomenos o que sobrou dela, e foi até o banheiro. Precisava de um banho frio, precisava dormir para apresentar seu programa na manhã seguinte, mas com certeza não conseguiria calar a própria mente. Deixou que a água caísse por seu corpo na esperança de a dor fosse embora pelo ralo. Evitava pensar nele, mas era impossível! Aquela sensação de que havia sido enganada e feito de trouxa não saía de sua mente... Era horrível!

Enquanto isso William foi se despedir dos filhos. Viu quando os três entraram no quarto do garoto e foi até la, bateu na porta e a abriu em seguida.

-Posso entrar? - perguntou.

-Claro, pai, entra! - respondeu o menino.

-Que bom que vocês estão juntos, assim eu já falo com os três ao mesmo tempo... - disse, ajoelhando-se em frente aos filhos que estavam sentando no chão do quarto.

-Fala o que, pai? O que aconteceu?? - perguntou Laura, engolindo em seco.

-Sua mãe e eu tivemos um pequeno desentendimento... Nada com que vocês precisem se preocupar, mas ela está muito nervosa e eu vou ter que dormi fora de casa hoje. - explicou.

-O que?? - as meninas perguntaram ao mesmo tempo.

-Como assim, pai? Essa casa também é sua! - questionou Vinícius.

-Eu sei, eu sei... Mas fiquem tranquilos, é só por hoje. Eu prometo! Amanhã virei bem cedo pra levar você à escola, tudo bem? Agora eu preciso de um abraço bem apertado dos três... - diss e eles se abraçaram forte. - Eu amo muito vocês, não se esqueçam disso nunca!! Vocês e sua mãe são a minha vida! - disse sincero com os olhos vermelhos - Qualquer coisa me liguem... Qualquer coisa! - reforçou.

William desceu até a garagem, entrou em seu carro, respirou fundo e não conseguiu conter o choro preso em sua garganta. Deu um murro no volante, disparando a buzina, e chorou feito criança com medo de escuro... Ele tinha medo de perder a mulher e a família que tanto amava, medo de que Fátima não acreditasse nele e de que não o quisesse mais. Não sabia o que faria se isso acontecesse, pois sua família era o que tinha de mais precioso no mundo e não conseguiria viver sem ela. Precisava sair dali e descansar pelomenos o corpo, já que a mente seria impossível. Dirigiu pelas ruas até o enorme apartamento que eles tinham na Lagoa.