Fanfic: Nossa rotina | Tema: Fátima e William

Na manhã seguinte, Fátima, que mal havia dormido, acordou com os olhos inchados e uma forte dor de cabeça. Seu primeiro pensamento foi William e quando olhou para o lado e viu que ele não estava ali, começou a se perguntar onde havia dormido e com quem. Não teve vontade de se levantar da cama, queria ficar ali pra sempre, pois sabia que a partir dali as coisas seriam muito complicadas, mas mesmo assim, pensou nos filhos e criou coragem para enfrentar o que quer que fosse acontecer.
Durante o café da manhã, os meninos bombardearam-na com perguntas sobre a briga dos dois, porém, ela cortou a conversa dizendo que não queria falar sobre aquilo naquele momento, mas que tudo iria ficar bem.

William não dormiu absolutamente nada se martirizando por ter deixado aquela calçinha na gaveta. O paulista sempre fora muito auto-crítico e nunca aceitara muito bem os próprios erros, por isso, sempre que algo em sua vida dava errado, ele culpava a si mesmo.
Além do que, aquele apartamento era cheio de fotos deles dois juntos, felizes e tudo ali o fazia lembrar Fátima, inclui-se ter que dormir na cama deles sozinho. Após tomar um banho, notou que sua camisa estava muito amassada pois ainda usava a mesma do dia anterior e teria que dar um jeito de ir pegar roupas novas. Bebeu apenas um café preto forte que fez na máquina e seguiu até em casa, estacionou na garagem e buzinou para que os filhos soubessem que havia chegado. Não quis descer para não encontrar com a mulher pois sabia que aquele não era um bom momento para tentar uma conversa, já que ela ainda devia estar de cabeça quente e logo sairia para o trabalho.

Quando ouviu a buzina, Fátima congelou; seu coração parou mas ela tentou disfarçar... Os meninos pegaram suas mochilas, despediram-se dela e foram ao encontro do pai. Ela ficou ali na mesa por um momento pensando em como seriam as coisas dali pra frente, mas foi tirada de seu devaneio pela empregada perguntando-lhe por que o marido não havia tomado café, e ela teve que mentir dizendo que ele havia acordado mais cedo para resolver alguns problemas e que não tinha tido tempo de comer.
A carioca costumava ir para o Projac às 6:50, portanto, William decidiu voltar em casa após deixar os filhos na escola a fim de pegar algumas coisas de que iria precisar durante o dia. Entrou em casa, deu bom dia à moça que trabalhava ali e foi até seu quarto. Pegou uma mala pequena de mão e colocou ali uma camisa, uma calça jeans, cuecas e produtos de higiene, depois trocou de roupa e deitou-se em sua cama. O cheiro dela nos lençois e travesseiros estava mais forte do que nunca, o que lhe fez sentir ainda mais saudades da esposa... Lembrou-se de várias noites de amor que viveram ali, dos juramentos, das brincadeiras e até das briguinhas bobas que acabavam em abraços e beijos. Ele precisava encontrar alguma forma de explicar a ela o que havia acontecido para fazê-la pelo menos pensar se iria ou não acreditar nele, mas como faria aquilo? Ficou ali quebrando a cabeça, já que ainda tinha algum tempo até a hora de ir para o trabalho.

Fátima tentou parecer o mais tranquila possível durante a apresentação de seu programa, dizendo apenas que havia dormido mal por conta de uma dor de cabeça. Ela disfarçava melhor que o marido, pois era mais durona e conseguia esconder bem o que sentia, só temia que William estivesse mal durante a apresentação do jornal naquela noite porque os boatos certamente iriam surgir e ela sabia o quão maldosa a mídia podia ser.

Já passava do meio-dia e William almoçava sozinho em sua sala. Não conseguira assistir ao programa da mulher por causa da reunião de pauta do JN que acontecia no mesmo horário, e sentia falta da ligação que ela costumava lhe fazer  quando acabava de apresentar. Ele se esforçava ao máximo para não pensar nela e conseguir trabalhar direito, mas era impossível! E com ela não era diferente...

O dia passava extremamente devagar, mas finalmente chegara ao meio da tarde, hora de a carioca ir pra casa. Assim que entrou em seu carro e pegou o celular para checar se havia alguma mensagem importante ele vibrou em sua mão. Era William e ela novamente sentiu o coração parar com o wattsapp dele:

"Não paro de pensar em você um segundo e não estou conseguindo fazer nada direito! Por favor, vamos conversar hoje a noite?"

Ela visualizou mas não respondeu e então ele disse:

"Eu sei que você leu... Por favor, me responda!"

Ela então digitou: "Não." e enviou.

"Não, não vai me responder ou não, não quer conversar?" perguntou. Mesmo sabendo a resposta, queria continuar falando com ela, mas foi novamente ignorado.

Fátima guardou o celular na bolsa e foi pra casa.
Entrou em seu quarto, tomou um banho e seguiu até guarda-roupa para se vestir, mas quando o abriu encontou uma carta assinada com a letra dele embaixo de uma caixinha preta. Primeiramente pegou a caixinha e a abriu. Ficou surpresa ao encontrar um guadanapo escrito "Eu te amo" com a grafia dela. Não precisou de muito esforço para se lembrar da noite que escreveu aquilo para ele, durante um jantar com os colegas de trabalho, logo no início do namoro. Foi a primeira vez que ela confessou que o amava... A conversa na mesa estava chata e ela então arrancou um sorriso bobo e apaixonado dele ao ler o que ela havia escrito num guardanapo e colocado dobrado em sua mão, discretamente. Não acreditava que ele havia guardado aquilo... Fazia tanto tempo! Pegou então a carta e começou a ler:

"Meu amor,

Sei que está muito magoada mas, por favor, leia essa carta até o fim.
Ontem pela manhã quando saí para almoçar (como já te disse, tive que almocar mais cedo), duas meninas estavam na porta do prédio me esperando; elas me gritaram e fizeram uma festa! Abraçaram-me e pediram fotos mas eu disse que estava atrasado, então uma delas me entregou um envelope estufado, que guardei no bolso para conferir depois. Não vou negar que elas eram atiradas, mas você já está acostumada a isso. Quando voltei do almoço, abri o envelope e dentro tinha aquela calçinha que você viu e um bilhete dizendo: "adoro ir pra cama com você me dando boa noite". Eu achei engraçado e guardei em minha gaveta para depois levar pra casa e guardar junto com os outros presentes de fãs. Você provavelmente só encontrou a calçinha, mas o bilhete também estava lá! Enfim, eu nunca poderia imaginar que aconteceria o que aconteceu: você vir até a minha sala e encontrar a maldita calçinha.

Esse guardanapo ai na caixa é de quando começamos a namorar, você deve se lembrar... Eu o guardei porque foi muito importante para mim esse seu primeiro "eu te amo". Eu também te amo (muito!), sou dependente do seu amor, de você, dos nossos filhos e de tudo isso que construímos juntos. Gostaria que você parasse um pouco para refletir sobre tudo que vivemos até hoje e o porquê sempre confiou em mim. Enquanto você estiver lendo, eu, com certeza, estarei pensando em você, pois o medo de te perder tem me atormentado a cada segundo desde que você saiu correndo de minha sala ontem. Estarei esperando por você quando quiser falar comigo... Um beijo."

Após terminar de ler, Fátima precisou se sentar para digerir aquilo. As palavras finais de William a desestabilizaram e a deixaram na dúvida. No fundo ela queria acreditar que ele falava a verdade, mas sua personalidade não a permitia deixar de lado a possibilidade de ele estar mentindo.

À noite, ela fez questão de assistir ao jornal nacional, pois precisava vê-lo. O jornalista estava com uma barba de um dia, coisa que não acontecia nunca! Ele não apresentava o jornal sem fazer a barba pois se sentia desleixado e com cara de bêbado, só deixava a barba crescer nas férias para dar uma descansada. Cometeu dois erros só no primeiro bloco, e no segundo errou de novo logo no início quando não percebeu que já estava no ar. Ela sabia o quanto ele ficava mal quando acontecia algum erro no jornal, principalmente quando era ele quem errava e sentiu-se mal por não poder estar com ele e tentar acalmá-lo quando chegasse em casa. A filha Laura a tirou de seu devaneio quando sentou ao seu lado e lhe perguntou:

-Mãe, por que vocês brigaram? O meu pai está péssimo! Olha só a cara dele!

Fátima respirou fundo e disse:

-Confiar em alguém é uma coisa muito complicada, minha filha... É como dar um tiro no escuro, e às vezes essa confiança é posta em prova.

-Como assim? O que o meu pai fez?? = perguntou a menina preocupada.

-Eu sempre confiei muito em seu pai, mas às vezes é dificil saber se a pessoa está ou não mentindo pra você.

-Mãe, você não acha que o meu pai tá te traindo, né? Ele nunca faria isso. Meu pai não é assim. - disse a menina, convicta.

-Não, não estou afirmando isso, meu bem. Mas seu pai é homem... Apesar de tudo.

-Eu sei, mas você também sabe que tem muita gente que tem inveja de vocês... Eu não sei o que aconteceu, mas talvez possa ser só invenção de pessoas desocupadas.

Fátima não respondeu e a menina continuou:

-Hoje saiu na internet um boato de que você tinha colocado ele pra fora de casa.. Parece que o viram chegando no apartamento da lagoa ontem à noite e saindo de lá hoje de manhã sozinho...

-As pessoas não perdem tempo mesmo, heim! Falam do que fizemos e inventam o que não fizemos. - disse irritada.

-Eu não sei o que houve entre vocês, sei que não querem contar, mas não quero que vocês se separem! Conversa com ele, mãe. Meu pai te ama... - pediu.

William terminou o jornal arrasado, pediu desculpas aos colegas e editores do jornal e saiu de lá em direção à sua sala. Estava furioso consigo pelos erros cometidos e precisava fazer algo a respeito, pelo menos para se sentir menos pior. Ficou ali trabalhando, editando matérias e revisando textos, sem perceber a hora passar. Quando olhou no relógio já era mais de meia-noite, mas ele precisava acabar o que fazia ali. Só parou para ligar para os filhos e saber como estavam, depois continuou a trabalhar. Saiu da redação por volta das duas da manhã e encontrou o jornalista William Waack, apresentador do jornal da globo, pelos corredores.

-Bonner?! - chamou Waack.

-Oi, parceiro! Tava tão distraído aqui que nem te vi... - respondeu.

-Eu percebi.. Tá fazendo o que aqui a essa hora?

-Trabalho, meu amigo! Tava terminando umas coisas que não pude fazer mais cedo. Muita coisa pra fazer... - mentiu.

-Hmm... Eu bem sei como é! Bom, mas você precisa descansar! A patroa deve estar te esperando, vai pra casa! - disse, dando tapinhas nas costas do paulista.

-É, eu preciso sim.. Até breve! Bom trabalho pra vocês ai! - disse, indo embora.

-Obrigado, xará! Bom descanso. - respondeu o moço.

Quando saiu da garagem do prédio percebeu que haviam alguns jornalistas de sites de fofoca esperando por ele, provavelmente querendo confirmar boatos da briga e aquilo o deixou tão irritado que nem parou para conversar, acelerou o carro com os vidros fechados e partiu em direção ao apartamento. A madrugada seria, mais uma vez, solitária e agoniante. Já eram quase quartro da manhã quando William deitou a cabeça no travesseiro. Ele sempre tivera dificuldade para dormir normalmente, portanto, quando estava com algum problema essa dificuldade só piorava. E para completar as lembranças de noites maravilhosas com a esposa ali naquela mesma cama insistiam em lhe atormentar. Ele pegou o celular e digitou uma mensagem para os filhos no grupo de wattsapp deles:

"Passo ai amanhã às 07:00 para pegar vocês"

Os trigêmeos teriam prova naquele sábado e ele fazia questão daquele momento com os filhos. Após mandar aquela mensagem entrou na conversa de Fátima e olhou a última vizualização dela: 23:15 e pensou: "como ela consegue dormir?". Ficou ali martelando mais um pouco e estava tão cansado que logo adormeceu.