Fanfic: Nossa rotina | Tema: Fátima e William

No dia seguinte, um domingo, a família Bonemer almoçou e passeou um pouco por um shopping no Rio acompanhados pelos pais de Fátima, Seu Amâncio e Dona Eunice, mas sem muita demora porque os trigêmeos tinham uma festa de aniversário de uma amiga para ir naquela noite.
As meninas tinham salão marcado e Fátima as acompanhou, aproveitando para fazer as unhas, enquanto William e Vinícius conferiam uma exposição de carros antigos que estava acontecendo ali.

À noite, enquanto os filhos se aprontavam, Fátima dava todas as recomendações de mãe para que se comportassem e ligassem na hora de ir buscá-los. William passou na casa da namorada do filho para buscá-la e deixou os quatro adolescentes na festa de aniversário. Já em casa novamente, estacionou o carro na garagem, entrou em casa e viu que Fátima estava na sala, com a televisão ligada, porém, mexendo no celular. Colocou as chaves do carro, o celular e a carteira na mesinha de canto e sentou-se no sofá ao lado dela.

-O que vamos fazer essa noite? Temos algumas horas sozinhos em casa... - perguntou à mulher.

-Tanto faz... Qualquer coisa! - disse desinteressada, sem nem olhar para ele, ainda mexendo no celular.

-Quer ver um filme?

-Pode ser.. - disse, ainda desinteressada.

-Qual?

-Pode escolher você. - disse e tirou os olhos do celular por um minuto para sorrir para ele e logo depois voltou sua atenção ao aparelho.

Impaciente, o moreno esticou a mão, pegou o celular da mão dela e o colocou de lado, junto ao seu. Ela abriu a boca para reclamar, mas decidiu não fazê-lo.

-Pode me dar um pouco de atenção agora? - perguntou ele.

-Desculpa... - disse sincera e esticou a mão para que pudesse acariciar o rosto dele - Você quer sair pra jantar?

-Não... Prefiro ficar em casa hoje. Tô cansado... - disse, deitando a cabeça no colo dela.

Ela começou a fazer cafuné nele, sabia que o marido adorava, mas quando notou que ele já estava quase dormindo parou.

-Por que você parou? Tava tão gostoso... - reclamou.

-Você tomou meu celular pra dormir no meu colo? - perguntou irônica.

Ele sorriu envergonhado e disse:

-Não... Espera um pouco, eu já volto! - levantou-se e saiu dali. Alguns minutos depois voltou com uma garrafa de vinho e duas taças nas mãos. Serviu para os dois, colocou a garrafa na mesa e brindaram.

-À nossa família. - disse ele.

-E à nossa saúde! - completou ela.

-Vem comigo... Vamos lá pra fora que a noite está linda. - chamou, já indo, e ela foi logo atrás.

Eles já tinham muitos anos de casados, por isso o romantismo e aquela vontade de ficarem juntos o tempo todo já não eram tão espontâneos como no início da relação, mas se esforçavam para terem momentos a sós, cuidando sempre para que o casamento não esfriasse e caísse na rotina. Sabiam como era gostoso manter a chama acesa.
Ele colocou sua taça e a garrafa na mesa que havia ali próximo à pscina e em frente ao jardim, foi até ela por trás e passou um braço por sua cintura. Ela virou o rosto e lhe deu um selinho.

-Eu ainda não disse o quanto senti sua falta nessas duas noites que dormirmos separados... - comentou ele.

-Eu também senti... Fiquei preocupada sem saber onde você iria dormir e imaginei mil coisas... - começou ela.

-Shhh.... - colocou a mão livre nos lábios dela e pediu - Esquece o que você imaginou e pensa só no que for verdade.

-Então me diz uma coisa: Por que você nunca me disse que ainda tinha aquele guardanapo guardado? - perguntou curiosa.

-Não sei... Acho que nunca tive oportunidade. - disse.

-Hmm... Fazia algum tempo que você não me escrevia uma carta. - disse e riu, e ele sorriu.

-Aquela carta não foi igual às cartas e aos bilhetes que eu te escrevia antigamente, foi uma tentativa de me explicar.

-Eu sei, mas a última parte me fez lembrar de como você escrevia. Você sempre escreveu muito bem.

-Eu sempre gostei muito de escrever, principalmente quando me sentia sozinho... Escrever não amenizava a solidã, só a registrava e era como uma válvula de escape, mas não precisei mais disso depois que a gente se casou.

Ela não tinha o que dizer, apenas o olhou com admiração e se apertou um pouco mais a ele.

-Acho que a dança era a sua válvula de escape... Estou certo? - perguntou ele.

-Está sim. Quando eu dançava conseguia me concentrar só naquilo e acabava me esquecendo de todos os problemas... - lembrou - Mas não só por isso, eu gosto mesmo, você sabe.

-Eu sei e adoro vê-la dançar. Só é uma pena que eu não consiga te acompanhar.. - brincou.

-Claro que consegue! Você melhorou bastante desde que nos conhecemos.

-Eu só começei a tentar dançar por sua causa... Você ficava tão feliz dançando que me deixava feliz também e eu queria te acompanhar. E também tinha o fato de que se eu não fosse com você algum marmanjo tomava meu lugar! - confessou em tom de brincadeira.

-Você nunca me disse isso antes... - disse um pouco surpresa.

-Não achei que fosse necessário dizer. Na verdade nem sei porque disse agora... Mas não quero que você pense que não gosto, hoje eu gosto... Não tanto quanto você, mas gosto.

-Hmm... Acho que numa relação a gente sempre acaba fazendo alguma coisa que não gosta muito só pra agradar o outro.

-É verdade... Mas agora fiquei curioso. O que você faz ou já fez por mim que não gostasse?

-Ah, não vou me lembrar de muita coisa agora.... Tem só uma que me vem à cabeça mas não é que eu não gostasse, eu só não me sentia confortável... Lembra de quando saíamos com seus amigos em São Paulo?! Eu sentia que eles não gostavam de mim, principalmente suas amigas, mas eu ia por sua causa.

Ele riu e se virou para que ficasse de frente para ela.

-Eu também acho que as meninas não gostavam muito de você, mas os homens eu nunca percebi... Na verdade não era isso o que eles diziam para mim, falavam muito bem de você! Até discuti com um deles uma vez porque ficou te olhando demais, lembra? Acho até que exagerei um pouco, mas deve ter sido por conta do álcool.

-Eu também não gostava muito do jeito que as meninas te tratavam, eram muito ousadas! Tudo bem que vocês eram muito amigos antes de você vir pro Rio, mas quando uma pessoa começa a namorar as relações com os amigos acabam mudando.

-Eu sei, mas eu tentava contorná-las... Nunca fiz nada pra você sentir ciúmes.

-De propósito não..

-Iiiih... Olha quem fala! Lidar com seus amigos e seu ex não foi fácil também. - disse em tom descontraído.

-Como assim? Meus amigos sempre me respeitaram muito!

-Respeitavam na fala, mas nos olhares não e eu percebia isso.

-Quanto a isso eu não podia fazer nada. Mas o que tem meu ex? Ele não causou problemas... Só me procurou algumas vezes, mas nunca fez nada que eu não quisesse.

-O problema com seu ex não era bem esse... - disse, desviando o olhar.

-Então qual era? - perguntou curiosa.

-Ah, Fá, ele foi seu primeiro... - ele não terminou a frase mas deixou subentendido - Você fez muitas coisas com ele e querendo ou não eu pensava nisso. Ele tirou sua virgindade, pô! Eu tinha a preocupação em ser melhor que ele... Não só nisso, em tudo! Quando amamos alguém queremos ser o melhor para aquela pessoa e eu queria ser o melhor pra você.

-Mas que besteira, William! Pra que isso? Homem é tão bobo...

-Querendo ou não a gente sempre pensa nisso, amor. Não tem jeito! Ficamos na dúvida se o p** dele é maior, se ele te fez sentir mais prazer... Enfim. É ridículo mas é uma competição involuntária, não tem como controlar.

-Involuntária e sem sentido!

-Pode até ser.... Mas... você nem comentou o que eu disse sobre minhas dúvidas. - perguntou, confiante sobre a resposta.

-Quais dúvidas?? Sobre o desempenho do meu ex-marido na cama?! Pra que você quer saber disso? Já faz tanto tempo que eu nem lembro mais! - disse ela, achando idiotice falar sobre aquilo.

Ele se assustou com a resposta, e teve medo de que o ex dela fosse melhor que ele. Engoliu em seco e disse:

-Você não quer me dizer porque ele era melhor que eu, é? Pode dizer. Eu nem devia ter perguntado essa merda, mas já que eu perguntei preciso saber. - disse irritado consigo mesmo.

-William, calma, é claro que não! Eu disse isso porque não vejo propósito nessa conversa, mas já que você quer tanto saber eu falo! É claro que eu prefiro você. Ele não me fez sentir nem metade do que você fez.

-E como eu sei que você não está dizendo isso só pra me deixar feliz? - perguntou infeliz.

Ela o olhou sem paciência e disse:

-Basta você fechar os seus olhinhos e se lembrar de todas as vezes que tranzamos. Acha que mesmo que eu fingi todos esses anos?!

Ele parou um pouco para pensar, sorriu e disse:

-Não... Não acho. Desculpa pela idiotice, mas me sinto bem melhor agora.

-Tá desculpado. Vamos mudar de assunto? - pediu.

-Vamos! Me fala o que você acha da gente colocar mais umas duas cadeiras de sol aqui nessa área? Acho que ficaria legal...

-Você acha?! Eu não sei... Podemos ver.

Eles continuaram a conversar até que de repente ouviram um barulho estranho de alguma coisa caindo na parte de trás da casa, logo depois os cachorros, presos, começaram a latir. Fátima tremeu de medo e apertou a mão do marido. Sempre que ouvia algum barulho estranho achava que era ladrão pois já haviam tido a casa assaltada uma vez e ela ficou traumatizada por muito tempo.

-William, pelo amor de Deus, o que foi isso?? - perguntou assustada, ainda apertando a mão dele.

-Não sei, amor.. Algum dos cachorros deve ter derrubado alguma coisa lá no fundo ou então foi o vento mesmo... Fica calma, os alarmes estão todos ligados. - tranquilizou-a, já sabendo do trauma dela.

-Estou com medo... - disse, correndo os olhos por toda a extensão que sua visão podia alcançar.

-Eu vou dar uma olhada, me espera aqui. - disse, soltando a mão dela, mas ela a agarrou novamente e disse:

-De jeito nenhum!! Volta aqui! Não vou ficar aqui sozinha e nem deixar você ir lá sozinho! Não quero mais ficar aqui, vamos entrar, por favor? - pediu, já puxando ele.

-Fá, calma! Não tem ninguém aqui. Vem cá... - disse, abraçando-a - Tá tudo bem...

-Tá, vou tentar ficar calma lá dentro! Não estou me sentindo bem aqui, é sério. - disse e o puxou novamente, conduzindo-o até a porta, mas assim que entraram foram surpreendidos por dois homens armados com as cabeças cobertas por máscaras de pano pretas.

-Quietos, senão eu atiro. - disse um deles, apontando uma arma para o casal.