Fanfics Brasil - 1 Will be the random?

Fanfic: Will be the random? | Tema: Naruto


Capítulo: 1

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Não é fácil ver seu mundo desabar por causa de uma doença. Ainda mais uma doença como um câncer, e principalmente se ele estiver alojado em sua própria mãe. E ainda mais difícil é ver seu pai te abandonar, justo quando você mais precisava do apoio dele. Ligar para o meu pai depois de ele não aparecer nem uma vez sequer durante os três anos da batalha da minha mãe contra o câncer foi complicado. Complicado, mas necessário: ele era o único parente que me resta. Na verdade, tudo que me restava eram as minhas roupas e a picape. Porque tudo o que eu tinha, era minha mãe e minha casa. Tive que vender a casinha que a minha avó nos deixara para pagar as últimas despesas médicas da minha mãe, e minha mãe foi consumida pelo câncer.


O que menos esperava, é ter que procurar meu pai depois de tudo o que aconteceu, isso definitivamente não estava em meus planos. Mas era melhor que ficar sem um teto. Parei a picape Ford de quinze anos da minha mãe em cima da grama para não atrapalhar a saída de ninguém. Meu pai não tinha me dito que daria uma festa esta noite. Na verdade, não tinha me dito quase nada. Olhei para a imensa casa de três andares situada bem em cima da areia branca da praia de Hitachi, no Japão. Aquela era a nova casa do meu pai. Sua nova família. Eu não iria me encaixar ali. De repente, alguém abriu com um tranco a porta da minha picape. Por instinto, levei a mão até debaixo do assento e peguei a minha nove milímetros. Levantei-a e apontei em cheio para o intruso, segurando-a com as duas mãos e pronta para puxar o gatilho. 


-Caramba! Eu ia dizer que você estava perdida, mas agora digo o que você quiser. Só guarda essa coisa, por favor. -Do outro lado da minha pistola estava um sujeito de cabelos loiros desgrenhados, com as duas mãos para cima e os olhos azuis arregalados. Levantei uma das sobrancelhas e mantive a pistola firme. Ainda não sabia quem era aquele cara.


 -Não, acho que não estou perdida. Aqui não é a casa de Kizashi Haruno?-O sujeito engoliu em seco, nervoso.


 -Hã... com essa coisa apontado para a minha cara eu não consigo pensar direito. Você está me deixando bem nervoso. Poderia baixar a pistola antes que aconteça um acidente?-Acidente? Sério? O cara estava começando a me irritar.


 -Eu não conheço você. Está escuro aí fora e eu estou sozinha em um lugar desconhecido. Então me desculpe se eu não me sentir muito segura neste momento. Pode confiar em mim: não vai acontecer acidente nenhum. Eu sei manejar uma pistola muito bem.


O cara não pareceu acreditar em mim e, agora que eu estava olhando melhor, não me parecia realmente ameaçador. Mesmo assim, eu ainda não estava pronta para baixar a arma.


 -Kizashi? – repetiu ele devagar. Começou a balançar a cabeça, então parou. -Peraí, o padrasto novo do Sasuke se chama Kizashi. Eu o conheci antes dele e Mikoto viajarem para Paris. Paris? Sasuke? Como assim? Esperei mais explicações, mas o cara continuou a encarar a pistola, prendendo a respiração. Com os olhos fixos nele, baixei a arma e me certifiquei de acionar a trava de segurança antes de guardá-la debaixo do banco do motorista. Talvez sem a pistola ele conseguisse se concentrar e me explicar. -Você tem porte de arma para essa coisa? -Perguntou ele, sem acreditar. Eu não estava com disposição para conversar sobre o meu direito de portar armas. Precisava de respostas.


-Kizashi está em Paris? -Perguntei, querendo uma confirmação. Ele sabia que eu chegaria hoje. Tínhamos nos falado na semana anterior, depois que vendi a casa. O sujeito fez que sim devagar e relaxou a postura


. -Você o conhece?-Ele perguntou, mas na verdade nem eu mesma sabia a resposta. Na verdade, não. Desde que ele tinha abandonado a minha mãe e eu havia cinco anos, eu só o vira umas duas vezes. Eu me lembrava do pai que assistia às minhas partidas de futebol e fazia hambúrgueres na churrasqueira do quintal para as festas dos vizinhos do bairro. O pai que eu tivera até o dia em que a minha irmã gêmea, Sayuri, morreu em um acidente de carro... quando ele estava dirigindo. Nesse dia, ele mudou e se tornou o homem que não me ligava para saber se eu estava bem enquanto cuidava da minha mãe doente. Esse homem eu não conhecia. Nem um pouco.


-Sou a filha dele, Sakura.-O cara arregalou os olhos, jogou a cabeça para trás e riu. Qual era a graça? Estava esperando que explicasse quando ele estendeu a mão. 


- Venha cá, Sakura. Quero apresentar você a uma pessoa. Ele vai amar saber disso.-Encarei a mão dele e estendi o braço para pegar a minha bolsa. - Tem outra arma aí nessa bolsa? Devo avisar a todo mundo para não te irritar?-O tom provocador da voz dele me impediu de dizer alguma grosseria. 


- Você abriu a minha porta sem bater. Fiquei com medo.


-E a sua reação instantânea quando sente medo é apontar uma arma? Caramba, menina, de onde você é? A maioria das garotas que eu conheço daria um gritinho ou alguma coisa assim.-A maioria das meninas que ele conhecia não fora forçada a se proteger nos últimos três anos. Precisei cuidar da minha mãe, mas não tinha ninguém para cuidar de mim.


-Eu sou de Konoha -Respondi, ignorando a mão dele e saltando sozinha da picape. A brisa do mar bateu no meu rosto e o cheiro salgado da praia era inconfundível. Eu nunca tinha visto uma praia. Pelo menos não ao vivo. Apenas em fotos e filmes, mas o cheiro era exatamente o que eu imaginava que seria. 


-Quer dizer então que é verdade o que dizem sobre as meninas de Konoha.- Retrucou ele e isso me chamou a atenção.


-Como assim?-Ele desceu os olhos pelo meu corpo e tornou a subir até o meu rosto. Abriu um sorriso.


 -Jeans justo, camiseta sem manga e uma pistola. Caramba, acho que errei de estado.-Revirei os olhos e abri a traseira da picape. Tinha uma mala e várias caixas que precisava levar para a Legião da Boa Vontade. – Deixe eu te ajudar. Ele deu a volta e estendeu as mãos para dentro da caçamba da picape para pegar a mala que a minha mãe mantivera guardada no armário para a “viagem de carro” que nunca chegamos a fazer. Ela vivia dizendo que um dia iríamos atravessar o país e subir a costa oeste. Isso foi antes de ela ficar doente. Espantei essas lembranças e me concentrei no presente. 


-Obrigada, hã... acho que não sei o seu nome.-O cara puxou a mala e se virou de volta para mim.


-Como assim? Esqueceu de perguntar quando estava com a arma apontada para a minha cara?-Dei um suspiro. Bem, talvez eu tenha exagerado um pouco com a pistola, mas ele me assustara. – Meu nome é Naruto. Eu sou... hã... amigo do Sasuke. 


-Sasuke?- O mesmo nome outra vez. -Quem é Sasuke?-O sorriso de Naruto tornou a se abrir. 


-Você não sabe quem é Sasuke?-Ele estava achando muita graça.-Porra, que bom que eu vim aqui hoje.-Ele virou a cabeça em direção à casa.-Vamos. Vou apresentar você. 


Fui andando ao seu lado enquanto ele me conduzia até a casa. Quando nos aproximamos, a música lá dentro tocou mais alta. Se o meu pai não estava lá, quem estaria? Mikoto era a mulher dele, mas isso era tudo o que eu sabia. Será que aquela festa era dos filhos dela? Quantos anos eles tinham? Mikoto tinha filhos, não tinha? Eu não me lembrava. Meu pai fora muito vago ao falar dela. Dissera que eu iria gostar da minha nova família, mas não mencionou quem era essa família exatamente.


-Esse Sasuke mora aqui?-Perguntei. 


-Mora. Bem, pelo menos no verão. Ele se muda para as suas outras casas conforme a estação. 


-Outras casas?-Naruto deu uma risada. 


-Você não sabe nada sobre a família para a qual o seu pai entrou, né, Sakura?-Fiz que não com a cabeça. -Então, rápida miniaula antes de entrarmos na loucura -Disse ele, parando no alto da escada que conduzia à porta da frente e olhando para mim.-Sasuke Uchiha é o seu irmão postiço. É filho único do famoso baterista do Slacker Demon, Fugaku Uchiha. Os pais dele nunca se casaram. A mãe, Mikoto, era groupie quando jovem. Essa casa é dele. A mãe mora aqui porque ele deixa.-Ele parou e olhou para a porta bem na hora em que ela se abriu. – E toda essa gente aqui é amiga dele.


Uma ruiva alta e longilínea me encarava da porta, usando um vestido curto preto e um par de sapatos de salto que me fariam quebrar o pescoço se eu tentasse calçá-los. Percebi o desagrado na sua expressão mal-humorada. Eu não sabia muita coisa sobre aquele tipo de gente, mas sabia que as minhas roupas de loja de departamento não eram algo que ela aprovasse. Ou isso, ou tinha uma barata andando em cima de mim. 


-Oi, Karin.-Falou Naruto. 


-Quem é ela?-Perguntou a garota, olhando para ele. 


-Uma amiga. Não faça essa cara de quem chupou limão, Karin. Não fica bem em você.-Respondeu ele, estendendo a mão para segurar a minha e me puxar para dentro da casa. 


A sala não estava tão cheia quanto eu imaginara. Quando passamos pelo grande saguão aberto, um arco ia dar no que imaginei ser uma sala de estar. Mesmo assim, era bem maior do que a minha casa inteira, ou melhor, minha ex-casa. Duas portas de vidro se abriam para uma vista do mar de tirar o fôlego. Eu queria ver aquilo de perto. 


-Por aqui.- Informou Naruto. Falava comigo enquanto se encaminhava até um... bar? Sério mesmo? Tinha um bar dentro de casa? Olhei de relance para as pessoas ao nosso redor. Todas paravam um instante para me dar uma rápida conferida de cima a baixo. Eu estava me destacando à beça.-Sasuke, esta é a Sakura, acho que talvez ela seja sua. Encontrei-a lá fora com um ar meio perdido. – disse Naruto. Desviei os olhos daquela gente curiosa para ver quem era aquele tal de Sasuke. Ai. Ai, ai, ai. 


-É mesmo?-Respondeu Sasuke com uma voz preguiçosa, arrastada. Com uma cerveja na mão, ele se inclinou para a frente no sofá branco.-Ela até que é gata, mas é muito novinha. Não dá para dizer que é minha.


 -Ah, ela é sua, sim. Considerando que o papai dela fugiu para passar as próximas semanas em Paris com a sua mamãe... Eu diria que agora ela é sua, sim. Eu bem que ofereceria a ela um quarto na minha casa se você preferisse. Quer dizer, se ela prometer deixar a arma na picape.


Sasuke estreitou os olhos e me estudou com atenção. Os olhos dele eram negros como a noite. Um negro profundo e misterioso, como eu nunca tinha visto.


-Nem por isso ela é minha.-Respondeu ele por fim, recostando-se no sofá. Naruto pigarreou.


-Está de brincadeira, não está?-Sasuke não respondeu. Em vez disso, tomou um grande gole da garrafa longneck que tinha nas mãos.


 Seus olhos agora estavam cravados em Naruto e pude ver o alerta na sua expressão. Ele iria me pedir para ir embora a qualquer momento. Aquilo não era nada bom. Eu tinha apenas 20 dólares na bolsa e estava quase sem gasolina. Já tinha vendido tudo de valor que possuía. Ao ligar para o meu pai, explicara que só precisava de um lugar para ficar até arrumar um emprego e ganhar dinheiro suficiente para encontrar onde morar. Ele concordara na hora e me dera o seu endereço, dizendo que adoraria que eu ficasse na sua casa. Sasuke prestava atenção em mim outra vez. Estava esperando que eu fizesse alguma coisa. O que queria que eu dissesse? Um leve sorriso de ironia moveu os seus lábios e ele piscou para mim. 


-Estou com a casa cheia de convidados hoje. E a minha cama já está lotada.-Ele desviou os olhos para Naruto. -Acho que é melhor ela procurar um hotel até eu conseguir falar com o papai dela.


A repulsa na sua língua ao pronunciar a palavra “papai” não passara despercebida. Ele não gostava do meu pai. Na realidade, eu não podia culpá-lo. Afinal, aquilo não era problema dele. Quem me mandara até ali fora o meu pai. Eu tinha gastado quase todo o meu dinheiro em gasolina e comida durante o trajeto. Por que fui confiar naquele homem? Estendi a mão e peguei a alça da mala que Naruto ainda segurava. 


-Ele tem razão. É melhor eu ir embora. Foi uma péssima ideia.-Falei, sem olhar para Naruto. 


Puxei a mala com força e ele a soltou com alguma relutância. Conforme caía a ficha de que eu estava prestes a ficar sem casa, senti lágrimas arderem nos meus olhos. Não consegui olhar para nenhum dos dois. Mantendo os olhos baixos, virei-me e me dirigi para a porta. Ouvi Naruto batendo boca com Sasuke, mas me forcei a não escutar. Não queria ouvir o que aquele cara lindo estava dizendo sobre mim. Ele não gostava de mim. Isso tinha cado claro. Meu pai não parecia ser um membro bem-vindo da família.


 -Já vai, tão cedo?-Perguntou-me uma voz meio pegajosa. Ergui os olhos e deparei com o sorriso satisfeito da menina que abrira a porta.


Ela tampouco me queria ali. Será que eu era tão repulsiva assim para aquelas pessoas? Tornei a olhar para o chão e abri a porta. Era orgulhosa demais para deixar aquela vaca mesquinha me ver chorar. Quando estava segura do lado de fora, deixei escapar um soluço e andei até a minha picape. Se não estivesse carregando a mala, teria corrido. Precisava da segurança da picape. Meu lugar não era ali, naquela casa ridícula com aquela gente metida. Estava com saudades de casa. Da minha mãe. Outro soluço escapuliu. Fechei a porta da picape e a tranquei.


Enxuguei os meus olhos e me forcei a respirar fundo. Não podia desmoronar agora. Não tinha desmoronado ao segurar a mão da minha mãe enquanto ela dava o último suspiro ou quando o seu caixão fora baixado para dentro da terra fria. Também não desmoronara ao vender o único lugar que tinha para morar. Não iria desmoronar agora. Iria sair dessa. Não tinha dinheiro suficiente para um quarto de hotel, mas tinha a minha picape. Poderia morar nela. Meu único problema seria arrumar um lugar seguro para estacionar durante a noite. Aquela cidade parecia segura, mas eu tinha quase certeza de que aquela picape velha estacionada em qualquer lugar durante a noite chamaria a atenção. A polícia viria bater na minha janela antes mesmo de eu conseguir pegar no sono. 


Eu teria que gastar meus últimos 20 dólares em gasolina. Concluí que teria que ir até uma cidade maior, onde a minha picape passasse despercebida em um estacionamento. Talvez eu pudesse estacionar atrás de um restaurante e arrumar um emprego por lá. Não precisaria de gasolina para ir e voltar do trabalho.


Minha barriga roncou, lembrando-me de que não comia desde a manhã. Precisaria gastar alguns dólares em comida. E rezar para arrumar um emprego quando amanhecesse, eu ficaria bem. Virei a cabeça para olhar atrás da picape antes de engatar a marcha a ré. Olhos negros me encaravam. Dei um gritinho antes de perceber que era Sasuke. O que ele estava fazendo em pé do lado da minha picape? Será que tinha saído para garantir que eu sumiria do seu terreno? Eu realmente não queria mais falar com ele. Comecei a desviar os olhos e a me concentrar em sair dali quando ele levantou uma das sobrancelhas para mim. O que significava aquilo? Sabe de uma coisa? Eu não estava nem aí. Mesmo que ele estivesse sexy para caramba fazendo aquilo. Comecei a acelerar a picape, mas, em vez do ronco do motor, tudo que ouvi foi um clique e silêncio. Ah, não. Agora não. Por favor, agora não. Girei as chaves e rezei para estar enganada. Sabia que o marcador de combustível estava quebrado, mas prestara atenção na quilometragem. Não deveria estar sem gasolina. Ainda tinha alguns quilômetros. Sabia que tinha. 


Bati com a palma da mão no volante e xinguei a picape várias vezes, mas nada aconteceu. Eu estava ferrada. Será que Sasuke chamaria a polícia? Ele queria tanto que eu fosse embora que tinha saído para se certificar. Agora que eu não conseguia ir embora, será que ele mandaria me prender? Ou pior: chamar um reboque? Se ele fizesse isso, eu não teria dinheiro para recuperar a picape. Pelo menos na cadeia eu teria cama e comida de graça. Engoli em seco, abri a porta da picape e torci pelo melhor.


-Problemas?-Perguntou ele. Minha frustração era tanta que eu queria gritar, mas apenas concordei. 


-Acabou a gasolina.-Sasuke deu um suspiro. Não falei nada. Decidi que o melhor naquela situação era aguardar o veredito. Eu sempre poderia implorar depois. 


-Quantos anos você tem? 


-O quê?-Ele estava mesmo perguntando a minha idade? Eu estava presa no acesso de carros da sua casa, ele queria que eu fosse embora e, em vez de conversar sobre as minhas alternativas, ele estava perguntando a minha idade? Que cara estranho.-Dezenove.-Respondi. Sasuke levantou as duas sobrancelhas.


-Sério?-Eu estava fazendo força para não me irritar. Precisava que aquele cara tivesse compaixão de mim. Forçando-me a engolir o comentário irônico que estava na ponta da minha língua, sorri. 


-Sério.-Sasuke sorriu e deu de ombros. 


-Foi mal. É que você parece mais nova. – Ele parou e os seus olhos desceram pelo meu corpo e tornaram a subir. O súbito calor no meu rosto foi constrangedor. – Retiro o que eu disse. Seu corpo tem toda a pinta de 19. É o seu rosto que parece muito jovem. Você nunca usa maquiagem?-Era uma pergunta? O que ele estava fazendo? Eu queria saber o que o futuro me reservava, não falar sobre o fato de que usar maquiagem era um luxo ao qual eu não podia me dar. Além disso, meu ex-namorado (e atual melhor amigo) Sai sempre dizia que eu não precisava de mais nada para melhorar a minha aparência. O que quer que isso significasse.


-A gasolina acabou. Eu tenho 20 dólares na bolsa. Meu pai fugiu e me abandonou depois de me dizer que me ajudaria. Acredite em mim: ele era a ÚLTIMA pessoa para quem eu pediria ajuda. E não, eu não uso maquiagem. Tenho problemas mais graves no momento do que ficar bonita. E agora, você vai chamar a polícia ou um reboque? Se eu puder escolher, prefiro a polícia.-Fechei a boca para encerrar o meu desabafo. 


Ele tinha me pressionado e eu não consegui segurar a língua. Agora cometi o erro de dar a ele a ideia do reboque. Merda. Sasuke inclinou a cabeça e me observou. Quase não consegui suportar o silêncio. Eu acabara de compartilhar informação demais com aquele sujeito. Se ele quisesse, poderia dificultar a minha vida. 


-Eu não gosto do seu pai e, pelo tom da sua voz, você também não.-Disse ele, perspicaz. – Tem um quarto vazio hoje à noite. Vai ficar vazio até a minha mãe voltar. Eu não peço para a empregada dela vir quando ela está viajando. Nas férias dela, Aiko só vem fazer faxina uma vez por semana. Você pode ficar no quarto dela debaixo da escada. É pequeno, mas tem cama.


Ele estava me oferecendo um quarto. Eu não iria cair em prantos. Poderia fazer isso mais tarde. E, pelo menos, não iria para a cadeia. Graças a Deus.


 -Minha alternativa é esta picape. Posso garantir a você que o que está me oferecendo é bem melhor. Obrigada. -Sasuke franziu o cenho por um instante, mas a expressão logo sumiu e o sorriso descontraído voltou a surgir no seu rosto. 


-Cadê a sua mala?-Indagou ele. Fechei a porta da picape e fui até a traseira para pegar a mala. 


Antes que eu pudesse estender a mão, um corpo quente com um cheiro desconhecido e delicioso se esticou por cima do meu. Congelei enquanto Sasuke pegava a minha mala e a puxava para fora. Eu me virei e ergui os olhos para ele. Sasuke piscou.


-Posso carregar a sua mala. Não sou tão babaca assim.


-O-obrigada – gaguejei, sem conseguir desgrudar o meu olhar. Os olhos dele eram inacreditáveis. 


 -Ah, que bom que você a deteve. Eu estava dando cinco minutos antes de sair para me certificar de que não tinha afugentado totalmente a garota.-A voz conhecida de Naruto me fez sair do meu transe e eu me virei, grata pela interrupção. Estivera encarando Sasuke feito uma idiota. Estava surpresa de que ele não tivesse mandado eu dar o fora outra vez.


-Ela vai car no quarto da Aiko até eu conseguir falar com o pai dela e dar algum outro jeito. -Sasuke soava contrariado. Entregou a mala a Naruto e disse: -Tome, mostre o quarto a ela. Tem gente me esperando.-Sasuke se afastou sem olhar para trás. 


Foi preciso toda a minha força de vontade para não ficar olhando enquanto ele ia embora. Principalmente porque o seu traseiro naquele jeans justo era muito tentador. Ele não era alguém por quem eu devesse me sentir atraída. 


-Esse cara é mal-humorado demais.-Comentou Naruto, balançando a cabeça e olhando para mim. Não pude discordar.


-Não precisa carregar a minha mala lá para dentro de novo.-Falei, estendendo a mão para pegá-la. Naruto afastou a mala da minha mão.-Por acaso, eu sou o irmão gentil. Não vou deixar você carregar esta mala tendo um par de braços muito fortes, para não dizer muito impressionantes, para carregá-la.-Eu teria sorrido, se não fosse a palavrinha que me fez virar a cabeça na sua direção.


-Irmão?-Perguntei. Naruto sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos.


-Acho que me esqueci de dizer que eu sou filho do marido número dois de Mikoto. Ela ficou casada por doze anos com o meu pai, desde que eu tinha 3 anos e Sasuke, 4. Quando se separaram, Sasuke e eu já éramos irmãos. O simples fato do meu pai ter se divorciado da mãe dele não mudou nada para a gente. Fomos para a faculdade juntos e entramos até para o mesmo grêmio.-Ah, certo. Por essa eu não esperava. 


-Quantos maridos a Mikoto teve?-Naruto deixou escapar uma risada curta e dura. Em seguida, começou a andar em direção à porta. 


-O seu pai é o número quatro. Meu pai era um idiota. Aquela mulher parecia trocar de marido como quem troca de calcinha. Quanto tempo demoraria para se livrar dele e partir para outra?-Naruto tornou a subir a escada e não me disse mais nada enquanto seguia na direção da cozinha. 


Era um cômodo imenso, com bancadas de mármore preto e aparelhos complicados. Lembrava aqueles lugares que saem nas revistas de decoração. Ele abriu uma porta que parecia uma grande despensa com espaço para uma pessoa entrar. Sem entender, olhei em volta e o segui até lá dentro. Ele foi até o fundo e abriu outra porta. Havia espaço suficiente para ele entrar e pôr a minha mala em cima da cama. Era óbvio que estávamos debaixo da escada. Espremido entre a cama e a parede tinha um criado-mudo. Tirando isso, mais nada. 


-Não tenho a menor ideia de onde você pode guardar a sua mala. Este quarto é bem pequeno. Para ser sincero, é a primeira vez que venho aqui.-Naruto balançou a cabeça e suspirou.-Escute, se quiser ir comigo para o meu apartamento, tudo bem. Pelo menos posso lhe oferecer um quarto no qual dê para se mover.


Por mais gentil que Naruto fosse, eu não estava disposta a aceitar a oferta. Ele não precisava de uma hóspede indesejada ocupando um dos seus quartos. Pelo menos ali eu estava escondida e ninguém iria me ver. Poderia limpar a casa e arrumar um emprego em algum lugar. Talvez Sasuke me deixasse ficar dormindo naquele quartinho desocupado até eu ter dinheiro suficiente para ir embora. Ali eu não tinha tanto a sensação de estar impondo a minha presença. No dia seguinte, iria encontrar um mercado e usar os meus 20 dólares para comprar comida. Pão com manteiga de amendoim devia bastar por uma semana, mais ou menos. 


-Aqui está perfeito. Assim eu não atrapalho. Além do mais, Sasuke amanhã vai ligar para o meu pai e descobrir quando ele volta. Talvez ele tenha um plano, sei lá. Mas obrigada, valeu mesmo pela oferta.-Naruto correu os olhos pelo lugar mais um vez e fez uma cara feia. Ele não estava contente com aquele quarto, mas eu estava aliviada. Que gentileza a dele se importar comigo. 


-Detesto deixar você aqui atrás. Parece errado.-Ele tornou a olhar para mim, e dessa vez a sua voz adquiriu um tom de súplica.


-Está ótimo. Muito melhor do que na picape.-Naruto franziu o cenho. 


-Na picape? Você ia dormir lá? 


-Ia, sim. Mas isto aqui me dá um pouco de tempo para decidir qual vai ser o meu próximo passo.-Naruto passou uma das mãos pelos cabelos desgrenhados.-Você me promete uma coisa? – Pediu. Eu nunca fui de prometer nada. O que eu sabia sobre promessas era que elas se quebravam com facilidade. Dei de ombros. Era o melhor que podia fazer.-Se Sasuke obrigar você a ir embora, ligue para mim. Comecei a concordar, mas percebi que não tinha o telefone dele. -Onde está o seu celular para eu poder gravar o meu número?-Perguntou ele. Aquilo iria fazer eu soar ainda mais digna de pena. 


-Não tenho.-Naruto me encarou boquiaberto.


-Não tem celular? Não é à toa que você anda armada.-Ele enfiou a mão no bolso e pegou o que parecia um recibo.-Tem caneta?-Tirei uma da bolsa e entreguei para ele. Ele anotou o número rapidamente e me entregou o papel e a caneta. -Ligue para mim. É sério. Eu jamais ligaria, mas era gentil ele me oferecer. Concordei. Não tinha prometido nada.-Espero que você durma bem aqui. Ele olhou em volta com um ar preocupado. Eu iria dormir maravilhosamente. 


-Eu vou.-Garanti. Ele assentiu, saiu do quarto e fechou a porta. Esperei até ouvi-lo fechar também a porta da despensa antes de me sentar na cama ao lado da mala. Aquilo estava bom. Eu podia me virar com aquilo.



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Autor(a): Angelzinha22k

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