Fanfic: Além dos Nossos Sonhos | Tema: Textos, Cronicas e Historias.
Eu observei atentamente os movimentos repetitivos de Davi. Suas mãos estavam repousas sobre uma enorme pilha de papeis espalhados ao seu redor; quando vi sua expressão determinada, decidi me sentar ao seu lado em meio aos inúmeros papeis rabiscados.
- Você não precisa me ajudar.
Ouvi o pedido de Davi, porém eu continuei vasculhando a quantidade de folhas que havia depositado próximo a mim. Deixei o tom suave de sua voz adentrar meus ouvidos, e todos os detalhes de suas palavras foram nitidamente observados pelos meus sentidos atentos.
- O que foi? – Davi perguntou enquanto eu percebia os minutos que havia deixado minhas mãos repousadas ao redor de meu corpo.
- Nada. – eu respondi.
Imaginei como minhas bochechas deveriam estar rosadas, pois eu já era capaz de sentir a queimação em cada parte do rosto depois de notar o tempo em que estive atribuída em meus únicos pensamentos.
- Você parou. – comentou Davi, mantendo-se concentrado nos papeis em suas mãos.
Ele não havia olhado em meus olhos naquela noite, e após fazer essa pequena observação senti uma pontada da realidade que eu relutava em acreditar. Foi horrível admitir o quanto ele é diferente de como eu imaginei que seria após conhecê-lo melhor. Minhas únicas conclusões se baseavam no fato de ter me enganado friamente em relação a Davi, ou no fato de nunca tê-lo conhecido realmente.
- Você pediu para eu parar. – justifiquei.
- Não achei que fosse fazer. – ele disse, e depois olhei rapidamente para seu rosto naturalmente pálido e o vi sorrir de maneira rápida.
Nos minutos seguintes tentei me concentrar na tarefa junto de Davi, mas diria que não foi fácil; nossos dedos se roçavam com uma frequência assustadora, e quanto mais rápida eu procurava pelo emblema prateado em uma daquelas inúmeras folhas, mais papeis eram descartados na tentativa de encontra-lo.
Permaneci quieta enquanto pensava na possibilidade de ir dormir. Onde eu estava era possível ver a cama bagunçada no cômodo adjacente, porém não me sentia disposta em relaxar, e muito menos em me manter isolada em qualquer lugar longe de Davi.
- Luzes. – o ouvi dizer repentinamente, enquanto se colocava em pé com a mesma urgência que captei nos meus movimentos seguintes.
Meus olhos vagaram pelas janelas entreabertas da minúscula sala procurando por um sinal obvio que fizesse sentido à única palavra de Davi; mas eu apenas encontrei um amontoado de escuridão pela extensão do lado de fora.
- Eu vi luzes. – ele disse novamente, depois caminhou em direção a sua mochila depositada em um canto da sala.
- Talvez você achasse...
- Tenho certeza. – Davi me interrompeu antes que qualquer palavra pudesse fazer sentido.
- Certo.
Seus olhos repousaram em mim rapidamente, mas foi o suficiente para eu ver um traço de impaciência em seu olhar, e além de qualquer emoção sendo contida em sua expressão, eu vi a mesma determinação de outrora.
Dei alguns passos à procura de minha mochila e quando a encontrei em cima do velho sofá eu vi pelo canto do olho Davi me encarando em silencio. Fingi não notar seu olhar à medida que vasculhava cada compartimento interno da bolsa a procura de uma lanterna e uma faca.
Pressionei o cabo da faca após mantê-la rente ao meu corpo.
- Eu vou. – disse a Davi enquanto notava a tensão em seus olhos claros.
Seus dedos trêmulos seguravam uma pistola Beretta; vi o quanto seu corpo estava rígido ao lado da porta. Uma leve pontada de suor era visível em seu pescoço e sob a pouca luminosidade da sala era possível notar sua expressão tensa.
- Cuidado Izabelle. – ouvi Davi sussurrar à medida que meus dedos tocavam a maçaneta fria e empurrava lentamente a porta de madeira.
- Você pode vim também. – disse a ele após descer rapidamente os degraus da velha casa e olhar para trás em uma tentativa de manter Davi realmente seguro.
- Claro. – ele sussurrou enquanto adentrava o ar silencioso da varanda; a luz do teto iluminava as maças pálidas do seu rosto.
Tirei a ideia de observa-lo por mais alguns segundos. Em vez disso, dei mais alguns passos para a entrada da floresta e adentrei o espaço ao redor da casa.
Ouvi minha respiração pesada enquanto circulava em meio à quantidade de árvores; alguns galhos arranhavam a pele descoberta dos meus braços e dos ombros fazendo com que eu sentisse - logo em seguida – uma leve queimação. Ouvi os passos de Davi sobre as folhas secas caídas em meio a terra, e seus resmungos à medida que caminhávamos a procura de algo.
O ar estava gelado ao nosso redor. E estava literalmente escuro em todas as direções em que olhávamos; a pouca luz que proporcionava uma luminosidade em nosso caminho vinha da única lanterna em minhas mãos.
- Não há nada. – eu afirmei.
Olhei para o caminho bifurcado que continuava a se abrir em nossa frente. Parei de caminhar e em seguida iluminei o rosto de Davi com a lanterna. Notei o quanto seus olhos estavam fundos e como estava acinzentada a pele ao redor de suas pálpebras.
- Eu sei o que vi. – ele disse.
Seu tom de voz demonstrou segurança. Não a mesma confiança de minutos atrás; algo em sua atitude me fez entender que talvez ele estivesse certo sobre algo está acontecendo ao redor da casa, pois minha intuição também sussurrava um pedido de alerta.
- Fomos longe o suficiente. – disse eu enquanto apontava silenciosamente o caminho que havíamos feito e que agora parecia ter ficado para trás, em outra dimensão. – Vamos voltar.
- Não. – Davi respondeu.
Notei a hesitação em sua voz. Em meio à escuridão senti os pelos dos meus braços se eriçarem automaticamente enquanto tentava – com sucesso – adiar a leve onda de medo que se apoderava de mim.
- Como não? – perguntei, encarando incrédulo, o rosto de Davi.
Quando virei novamente a fim de observa-lo em meio à negritude da floresta, apenas vi seus movimentos rápidos em minha direção.
- Davi. – sussurrei enquanto ele arrancava de minhas mãos a lanterna.
- Olhe.
Ele apontou a luz fraca na direção seguinte, onde mais e mais árvores rodeavam o bosque a nossa frente, mas não foi à extensão do caminho que chamou minha atenção. Uma intensa camada de fumaça acinzenta se abria em meio ao musgo; os fragmentos pálidos circundavam rente ao chão, formando uma cortina de vapor ao nosso redor.
- Izabelle.
Davi gritou de repente após virar a lanterna rapidamente em minha direção. No momento em que entendi sua ordem silenciosa virei meu corpo a tempo de ver um rosto desconhecido atrás de mim.
Cabelos escuros emolduravam a expressão fria da mulher, seus olhos totalmente negros avistaram os meus e vi uma fúria quase invisível em seu olhar nada amigável. Uma onda de adrenalina fez com que meus reflexos fossem capazes de desviar de um ataque rápido da mulher.
A luz da lanterna iluminou a lâmina em minhas mãos e sobre ela pude ver um brilho misterioso e assustador. A mulher também segurava uma faca; notei quando ela investiu um golpe usando-a com uma agilidade surpreendente. Porém eu desviava de seus movimentos com uma habilidade ainda melhor, o que fez com que eu conseguisse investir golpes certeiros em sua direção.
Cortei seu braço em uma linha reta; foi possível ver o sangue escorrer do machucado. Porém a mulher continuou avançando em minha direção, e eu continuei desviando e atacando nos momentos mais convenientes. No segundo golpe, onde acertei seu estomago com a faca, consegui mantê-la imobilizada por um tempo suficientemente longo para mata-la.
- Corra. – Davi gritou.
Ele passou por mim com passos rápidos. Enquanto continuava com o mesmo ritmo acelerado, ouvi atrás de mim vozes baixas e galhos se partindo à medida que eram pisoteados.
Chegamos a uma parte da floresta onde era possível ver as janelas entreabertas da casa que estávamos ocupando. A luz fraca do interior juntamente com a da varanda demonstravam o quanto a velha casa parecia solitária e silenciosa com toda escuridão ao seu redor.
Davi se apressou em subir os degraus da varanda, porém o impedi ao segurar firmemente seu braço.
- Não. – disse a ele.
O obriguei a seguir um caminho alternativa comigo, após notar minha intuição sucumbindo ao medo repentino que passei a sentir.
Senti a pele aquecida de Davi sobre minha mão enquanto o puxava com uma urgência indistinta. Apoiei minhas costas na madeira que rodeava o lado de fora da casa e segui em poucos passos até encontrar a janela entreaberta na lateral. Respirei fundo algumas vezes antes de observar silenciosamente o interior da sala.
- Alguns demônios. – disse eu.
Davi arfava ao meu lado. Desejei que ele sentisse grande parte de minha calma, mas era visível em seu olhar a onda de medo que o consumia conforme ouvia minhas palavras.
Olhei novamente pela janela e vi os olhos negros de dois homens; suas pálpebras eram envolvidas por uma escuridão tenebrosa.
- Eu posso cuidar disso. – disse Davi, e depois manteve sua arma junto a si com uma segurança inesperada; o vi carregar com projeteis de bala a cartucho da pistola.
- Não. – disse a ele enquanto o obrigava a continuar encostado na parede sem criar qualquer plano de ataque. – Não quero estrago.
Davi revirou os olhos de maneira impaciente para mim, porém continuou mantendo sua arma apontada para o chão, sem fazer qualquer movimento que não fosse permitido.
- O que vamos fazer? – ele perguntou, e depois acrescentou em um sussurro: - Nossas coisas estão lá.
- Eu sei. – respondi enquanto me colocava de pé minuciosamente, torcendo para que nenhum rosto do interior da casa pudesse me notar. – Vou conseguir tudo de volta. Eu prometo.
- Qual seu plano? – Davi perguntou; quando parei de andar e olhei em seus olhos por uma fração mínima de segundo, consegui captar grande parte de seu medo.
Coloquei minhas mãos sobre seus ombros e o empurrei rapidamente até sentir suas costas tocarem a superfície dura da madeira. Pressionei seu corpo contra a parede e o ouvi lamentar com um gemido de dor.
- Quero que você fique calmo. – disse a ele; fiz o possível para não aperta-lo com tanta força.
[continua no proximo capitulo]
Autor(a): luanagc
Este autor(a) escreve mais 2 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)