Fanfic: Acaso do Destino | Tema: Levyrroni

Palácio de Londres.

A princesa Maite Perroni examinou a carta lacrada que deixou na escrivaninha do avô. Enviara cópias idênticas às irmãs, Dulce, em Baraka, e Anne, na Grécia. Subitamente o envelope com o selo dourado do palácio pareceu lúgubre na escrivaninha do avô. Ficaria tão magoado, pensou, sentindo as lágrimas brotarem. Ele não compreenderia. Entretanto, nem ela entendia por que tamanho desespero para fugir de Londres, e da atenção da imprensa. Mas nunca julgou agra­dável viver na berlinda e, desde a morte da avó, tudo piorou. Pio­rou muito. A mídia não lhe concedeu a privacidade do luto. Documentava cada aparição, as visitas semanais ao túmulo da avó, o fulgor das lágrimas ao deixar o cemitério real.  Não sobrava tempo para disfarçar o sofrimento. A morte da avó deflagrou dores que deviam estar sepultadas dentro dela desde o falecimento dos pais, há 18 anos. E aquelas fotos nos tablóides, as reportagens sensacionalistas, "Morte da Rainha Vitória Abala a Princesa Caçula", só agravaram a sua confusão. Na realidade, não sabia o que sentir. Tampouco sentiu. Nos últimos seis meses, desde o funeral da avó, esgotara toda emoção, toda coragem. Como viveria uma vida pública quando sequer sabia quem era? Maite apanhou o envelope, os dedos roçaram o antigo mata-borrão de couro, há mais de cem anos na família, e lágrimas inun­daram-lhe os olhos. Maite amava o velho mata-borrão, o charmoso gabinete do avô, tudo no ancestral palácio de pedras calcárias, e compreendia por que devia casar e permanecer aqui - Dul casou com o sultão e não retornaria a Londres, e Anne desposou um plebeu grego e ele não iria se tornar rei - todavia ela não cogitava assumir mais responsabilidades, sem primeiro recobrar a compostura. O palácio parecia tão vazio sem a avó, pois mesmo adorando o avô, era ela quem sempre a aconselhava. E sem a avó aqui, não poderia suportar. Suportar a solidão e a incerteza do futuro, em­bora Maite soubesse que era hora de superar a perda. Mesmo que significasse enfrentar a tristeza sozinha.

Maite largou a carta onde estava.

Desculpe-me, Vovô.

Você só vai passar um ano fora, disse a si mesma, encaminhan­ do-se à porta. Voltará em 12 meses, casará com o Príncipe William Levy e a vida continuará conforme o planejado. Contudo, seis horas, depois ao acomodar-se no assento de um pequeno avião, de óculos escuros e chapéu enterrado na cabeça, ainda tentava afugentar a culpa e concentrar-se no lado positivo do que havia feito. Teria 12 meses para prantear a morte da avó, sem ser alvo dos paparazzi. E por um breve instante Maite desejou viajar como princesa - esquivando-se pelos salões privativos e escondida pelos ombros largos dos seguranças e guardas de aeroporto. Contudo o problema não era esse, concluiu Maite, puxando o co­bertor felpudo até os ombros. Era impossível ser a Princesa Maite sem as câmeras, a vigilância e os protocolos reais. E, como Princesa Maite Perroni, todos gostariam de saber tudo a seu respeito. Mas sabiam apenas o que a mídia informava. Ignoravam o quanto ansiara por uma chance. Por liberdade. Anne, a irmã mais velha, dizia que liberdade de escolha de­certo não representa uma garantia, quando seu sobrenome é Perroni e sua ascendência remonta ao século XIII. Mas Maite não queria ser uma Perroni. Tudo o que desejava era ser uma pessoa normal. Anônima. Independente. Auto-suficiente.

Por um ano seria uma Mai qualquer.