Fanfic: Fanfic sem Título

Capítulo 6
Amor a Segunda Vista

     Ao chegar em casa entramos aliviados por termos conseguido escapar - com vida - daquele brutamontes. Notei pelo barulho que minha mãe estava no banho. Achei ótimo, pois se ela estivesse aqui eu teria muito que explicar. Deitei-a no sofá com cuidado e pus uma almofada em sua cabeça para fazer de travesseiro.

-Você está bem? Quer alguma coisa? - eu disse expressando bastante preocupação.
-Não obrigada. Eu estou bem - disse ela bem mais tranqüila. Logo ela indagou:
-Você está bem? Não está ferido? Ele te jogou contra o muro de tal forma que cheguei a pensar que você tivesse morrido!
-Não se preocupe, está tudo bem comigo - apesar de eu não ter gostado da forma como ela se lembrou de mim; derrotado contra o muro!
-Você tem certeza? - ela insistiu - ele pareceu ter te pegado de jeito. Dificilmente alguém teria saído ileso daqueles ataques!

    Com cara de "eu te salvei" retruquei um pouco embaraçado:

-Eu não sou tão fraquinho assim quanto pareço viu?! Não sou eu que sou fraco, ele é que era muito forte!

     Rimos da situação parecendo termos esquecido por um tempo breve todo o trágico episódio.

-Desculpe. Eu não quis te desfavorecer - disse ela querendo desfazer o mal entendido.
-Tudo bem. Eu vou viver - nesse instante, ela deixou escapar um sorriso desviando toda a minha atenção para seus lábios. Com toda aquela correria eu nem tinha percebido o quanto ela era linda!

     Seus cabelos eram dourados como o sol, longos e lisos, parecendo como fios de seda. Seus olhos castanhos eram brilhantes como estrelas e sua face era tão bela e radiante quanto um enorme campo florido na primavera. Seu sorriso me encantava de tal maneira que me desliguei de tudo ao meu redor. O mundo havia parado para que eu pudesse apreciar toda aquela beleza postada diante de mim. Foi então que subitamente recebi um chacoalhão.

-Ei! Tá me ouvindo?
-O que? Hã? -disse totalmente desnorteado.
-Eu perguntei qual o seu nome?
-Desculpe. É, meu nome é Arex, quer dizer, Alex - ela realmente havia mexido comigo - E o seu?
-Me chamo Júlia. Mas todos me chamam de Julinha. Por causa do meu tamanho.
-Tamanho?
-É, sou baixinha.
-Ah sim! - eu tinha que parar com esse meu jeito de abobado! Eu não queria parecer um idiota na frente dela. Ela era linda demais, com certeza, seus 1,60m não me incomodavam nenhum pouco! Ficamos por alguns segundos naquele silêncio desconfortante, desviando nossos olhares acanhados pela situação embaraçosa.

-Eu preciso ir pra casa - ela disse expressando como se ela estivesse incomodando.
-Pode ficar descansando o tempo que precisar! Não se preocupe com nada. Fique a vontade. Você deve estar se sentindo fraca ainda.
-Eu estou bem. Só preciso dormir um pouco.
-Você quer ligar para seus pais virem te buscar?
-Na verdade, eu moro com minha avó.
-Bom, então eu te acompanho até a sua casa. Onde fica?
-Eu moro no final da rua. Não precisa se incomodar, eu posso ir sozinha, não é muito longe.
-Mas eu faço questão! - eu só queria ficar mais tempo com ela. Ela então olhou para minhas mãos encarando minhas luvas com um olhar incógnito.
-Sabe - ela disse com a voz meio trêmula - o que era aquele homem?
-Deve ser só um bandido vagabundo - mas minha resposta não pareceu convencê-la.
-Quando aquele homem tocou em minha cabeça, senti como se estivesse morrendo. Como é possível? - confesso que naquela hora eu não sabia o que dizer a ela. Eu tinha que esconder a verdade dela, mas o problema é que ela viu coisas demais.
-Olha só, Julinha, talvez você... - ela me interrompeu.
-Por que você usa essas luvas? - a pergunta que eu estava temendo! Xeque-mate! Como explicar a ela?
-É porque... porque... Eu tenho a mão muito ressecada e... - me interrompeu mais uma vez.
-Você espera que eu acredite nisso? - ela disse um pouco irritada - Eu vi quando aquele homem te lançou contra o muro e uma pessoa normal jamais faria aquilo. Quando ele encostou em mim senti como se estivesse morrendo e vi quando você tirou sua luva e ao encostar nele deu aquela explosão. Posso te afirmar com toda convicção que o que vi hoje não é normal!

     Fiquei espantado! A danada argumentava muito bem! O problema é que eu estava sem saída com suas perguntas e eu não sabia o que dizer. Eu não queria lhe dizer a verdade, eu não poderia dizer que sou uma aberração. Eu estaria pondo minha segurança e a dela própria em risco. Já estou até imaginando o padre e os fanáticos religiosos vindo em minha casa para me exorcizar achando que sou filho do demo.

-Não vai me dizer? - disse ela já impaciente. -Julinha, você passou por uma situação aterrorizante e de grande estresse, você deve estar exausta. O que você viu pode nem ter sido real, às vezes você fantasiou tudo isso pelo trauma que passou.

-Você está ousando me dizer que eu tive alucinação? - disse ela visivelmente irritada.
-Eu não diria alucinação, eu diria que...
-Escuta aqui. Eu não sou louca! Sei muito bem o que vi. Se você não vai me dizer, eu vou descobrir sozinha.

     Ela então se levantou do sofá e foi embora bastante brava. Fiquei ali parado na porta de casa, a vendo subir a rua em direção a sua casa, pensando se eu tinha feito a coisa certa. Na hora tive minhas dúvidas, mas foi melhor assim. Não teria como eu ser amigo dela. Eu já tinha decidido que eu me afastaria de pessoas que viessem a ser meus amigos. Eu não queria colocar a vida de ninguém em risco por conta da minha maldição. Amigos! Esse é um luxo do qual eu não poderia ter.

     Por mais que eu tenha gostado dela eu jamais poderia ficar com ela, não daria certo. Jamais poderia beijá-la e tocá-la como uma pessoa comum. Tenho uma vida amaldiçoada. Uma vida privada de sentimentos e emoções humanas. Não posso me apaixonar por ela. Seria um sofrimento que eu não saberia lidar. Só fiquei preocupado que ela disse que iria descobrir sozinha. O que será que ela estaria planejando? Se ela descobrir que sou uma aberração não vou conseguir suportar o fardo da rejeição e preconceito. Pensando bem, não sei qual seria sua reação, porém, devo esperar o pior.

     Eu dizia isso tudo com muito pesar. Como eu gostaria que fosse diferente. Como eu gostaria de ter uma vida normal. Seria tudo tão mais fácil! Preciso esquecê-la. Tirá-la dos meus pensamentos. E do jeito que ela saiu daqui - tão brava - acho que não vou voltar a vê-la; vai ser melhor assim para esquecê-la.

     Entrei em casa e fechei a porta. Minha mãe estava vindo em minha direção.

-Chegou agora?
-Não. Quer dizer sim, acabei de chegar.
-E onde você foi? - eu não queria trazer preocupações para a minha mãe. Se eu falasse tudo o que tinha acontecido ela enfartava!
-Eu estava dando uma volta na praça da igreja.
-Sei. No local das mortes misteriosas. O que você foi fazer lá? É perigoso ficar sozinho à noite naquelas redondezas.
-Mãe, eu to cansado. Vou para meu quarto.
-Tudo bem, mas amanhã vou querer saber dessa estória direitinho mocinho! A propósito, seu jantar está no seu quarto.

     Como assim meu jantar? Ela só pode estar falando de uma cotia. Fui para meu quarto e de fato havia uma cotia lá. Suguei as energias dela e deitei em minha cama plenamente recarregado. Estava sem sono e não demorou muito para a minha mente ser invadida por pensamentos referentes à Júlia. Fiquei surpreso ao me pegar pensando nela. Mas depois uma lembrança me chamou mais a atenção. Aquela mulher misteriosa que me ajudou contra o vampiro brutamontes. Afinal quem era ela? O que ela estava fazendo ali? Por que ela me ajudou?

    O mais estranho é que ela apareceu e desapareceu como mágica! Será que ela é uma vampira energética? Bem, pra fazer o que ela fez com certeza ela não é uma mulher comum. Amanhã com certeza vou tentar descobrir quem é essa mulher. Vou à igreja novamente esperando encontrá-la mais uma vez; só espero que o brutamonte não esteja lá de novo. E nem a Julinha...

     Fiquei tanto tempo em meus pensamentos que nem havia visto que já estava amanhecendo. Então na mesma hora resolvi dormir.

Continua....