–Christopher , PENSEI muito a respeito disto que quero lhe dizer. – Anahi manteve a voz baixa para tentar manter a conversa entre ambos em privacidade, oculta do restante dos clientes que jantavam no restaurante. Após sua conversa com Michael na praia naquela tarde, havia se dado conta de que teria que lidar com o assunto antes que começasse a trabalhar na semana seguinte.
– Valorizo a nossa amizade. É muito importante para mim. Mas acho que não devemos arriscá-la tentando transformá-la em algo mais. Depois de proferir palavras tão constrangedoras, ela conteve a respiração e aguardou a resposta de Christopher.
Os sons ao redor pareceram subitamente amplificados: garfos batendo em pratos, os passos dos garçons no piso cerâmico e até o ruído das tortillas ainda quentes sendo colocadas no molho. Sem que o sorriso se apagasse do rosto bonito, Christopher passou o guardanapo pelos lábios e, então, sorveu um gole de água. Estava ganhando tempo para lidar com a própria reação, percebeu Anahi pesarosa.
– Sei que vamos ficar bem. O nervosismo é natural antes de se dar um grande passo num relacionamento. Não deixe que isso preocupe você.
Não. A expectativa era natural. A excitação também. E, com certeza, o nervosismo, caso estivessem em circunstâncias do tipo “Ele vai gostar de me ver nua?” e “Ele estará disposto a posições criativas?”. Mas aquela inquietação, a vontade de correr, a voz ao fundo de sua mente gritando “não”? Nada disso era normal. O que precisava dizer para deixar seus sentimentos claros? Não queria magoá-lo. De qualquer modo, precisava esclarecer a situação. Após a sua reação de manhã ao “moreno sexy da praia”, como ainda se referia em seus pensamentos ao pedaço de mau caminho chamado Alfonso não haveria meio de aceitar um relacionamento sem sexo. A química, o desejo, a paixão eram fatores fundamentais. Tivera de se conter para não perseguir o homem pela praia, atirar-se aos pés dele e lhe implorar que a deixasse compensá-lo pelo comportamento estranho do irmão. Uma massagem completa naquele corpo viril seria uma boa maneira. Ora, havia ficado tão excitada pensando nele que acabara tendo dois orgasmos no chuveiro enquanto se preparara para sair para jantar. Era evidente que o subconsciente estava lhe enviando uma forte mensagem de que ela e Christopher não se destinavam a ser um casal. Mas ele não estava dando atenção ao seu subconsciente. Nem às suas palavras, aliás. O que isso dizia sobre a sintonia de ambos? Christopher tinha o costume de acreditar que bastava ignorar algo de que não gostava para que o problema gerado acabasse desaparecendo. Tendo tentado isso por vezes o bastante e ainda com os pais para provar que não ia dar certo, ela podia ao menos ser compreensiva.
– Querida, nós sempre nos divertimos muito juntos – disse Christopher animadamente, sacudindo o garfo no ar como meio de indicar que era desnecessário se preocupar. O cabelo loiro escuro reluzia com os reflexos dos lustres coloridos, em formato de piñata , e os dentes perfeitos faiscavam.
– Formamos um ótimo par. Estamos em total sintonia. Nossos interesses, objetivos, valores, todos se encaixam. Isso é o que conta, certo? Anahi obrigou-se a curvar os lábios num sorriso de assentimento. Porque, naquele aspecto, ele estava certo. Ambos estavam em sintonia e se divertiam juntos. Mas não era o bastante.
– Isso tudo é importante. – Deixando de lado as enchiladas que mal havia tocado, buscou a mão dele em cima da mesa, cobrindo-a com a sua.
– Mas essas são coisas que formam uma forte amizade. Não uma... Anahi não conseguiu prosseguir. Ansiou por dizer tudo que a estava incomodando, mas as palavras custavam a sair. Assim, sorveu um gole de sua margarita de romã – a terceira – e se perguntou o que fazer. Como poderia dizer que não tinha absolutamente nenhum interesse sexual por ele? Havia se especializado na arte de avaliar mensagens subliminares na parte central do cérebro que controlava reações sexuais. Estava prestes a começar num cargo que exigia pleno envolvimento, tanto nos bastidores tanto como porta-voz; teria de falar em público sobre como reparar e estimular reações sexuais. Como poderia trabalhar com indivíduos submetidos a testes e esperar que pessoas que sofreram trauma sexual confiassem nela e quisessem que as ajudasse se não conseguia nem sequer falar sobre as suas próprias necessidades sexuais?
– Ouça – disse Christopher entrelaçando as mãos de ambos.
– Sei o que está preocupando você. Aquela chama mítica não está ardendo entre nós. Você acha que deveria haver alguma energia, alguma manifestação física de atração. Anahi teve de se conter para não atirar as mãos no ar e dizer “Eureca”!
– E você não acha isso? – Havia trabalhado por tempo o bastante na área da saúde sexual para saber que havia homens que não conseguiam ter desempenho algum. Outros tinham a libido tão fraca que não se interessavam por sexo. Não achava, porém, que Christopher se encaixava nessa categoria. Era um estudioso e aficionado por trabalho, com certeza. E um tanto deslocado socialmente às vezes. Mas se tivesse problemas, não os esconderia. Se fosse o caso, faria o próprio diagnóstico e mergulharia num tratamento, usando a si mesmo como caso de estudo durante os testes.
– A nossa espécie foi feita para ter ligações sexuais. – Ela resolveu mudar a abordagem do assunto para o campo científico, em vez de mantê-lo no pessoal, e relaxou de imediato.
– Você conhece as estatísticas tão bem quanto eu. As chances de um relacionamento romântico durar sem sexo são mínimas.