Veja bem, relacionamentos baseados em atração sexual não duram. Explodem, quentes e intensos e, então, se apagam com a mesma rapidez que começaram. – Christopher se inclinou para frente sobre a mesa e suas palavras soaram tão sinceras quanto o ar veemente em seu rosto.
– É melhor embasar um relacionamento em emoções mais sólidas e duradouras, como amizade e interesses semelhantes. Temos os mesmos valores, os mesmos objetivos na vida. Isso importa mais do que meia dúzia de orgasmos insignificantes. Bem, claro.
Se fossem insignificantes, Anahi podia lhe dar razão. Quem precisava disso?, pensou perplexa.
– Somos cientistas que nos especializamos em saúde sexual – prosseguiu Christopher .
– Inserir os elementos físicos no nosso relacionamento não será problema. E quando fizermos isso, será de uma maneira bem pensada, prática e comedida. Exatamente como deve ser entre dois cientistas inteligentes focados num relacionamento a longo prazo.
Ora, isso não era sexy ? Anahi esvaziou o copo de margarita , percebendo que o amargor da romã se igualou ao de sua boca. Era a impressão que passava? A de uma mulher que se contentaria com praticidade e comedimento. Na cama? O último lugar onde seria comedida era na cama... Christopher devia ter notado sua inquietação, pois sacudiu a cabeça, como se quisesse impedi-la de dizer algo.
– Pense a respeito – sugeriu, apertando os dedos de leve antes de tornar a pegar o garfo.
– Nesse meio tempo, não se preocupe conosco. Acabe de se instalar no seu apartamento, aproveite o fim de semana. Talvez queira rever os lugares que costumava frequentar. Seria divertido, certo? Você não tem um evento de família para ir neste fim de semana?
– A festa de aposentadoria do meu pai, no domingo – assentiu ela, contraindo o rosto mentalmente. Como isso poderia ser divertido? A única coisa pior teria sido uma câmara de torturas... Contendo um suspiro, fez um sinal para o garçom, pedindo outra margarita .
– Simplesmente esqueça esse assunto por ora. Deixe que o seu subconsciente trabalhe nisso. Vou esperar um pouco antes de voltar a falar a respeito. Christopher pareceu tão sincero, tão gentil que Anahi sentiu um aperto no peito por ter de deixar a situação clara. Afinal, não iria mudar de ideia e, quanto antes ele conseguisse aceitar isso, melhor, pois, desse modo, poderiam retomar a amizade da maneira como fora de início. Suspirando, enfim, e, não vendo outra escolha, entreabriu os lábios para dizer que já tomara sua decisão. Como se adivinhasse sua intenção, Christopher apressou-se a dizer: – Enquanto isso, já lhe contei sobre a onda mais recente de manifestações de malucos que o instituto está recebendo? – A brigada das mulheres amargas está protestando contra o sexo outra vez? – Ela decidiu ceder no momento, deixando-o mudar de assunto. Isso fazia parte da arte da comunicação. Interpretar os sinais a fim de saber quando falar ou quando deixar o barco correr à espera de uma ocasião mais oportuna.
Levando em conta a maneira como ele contornou o assunto, se recusou a ouvir e usou uma linguagem corporal evasiva, era melhor que ela deixasse a questão de lado. Por enquanto. Christopher fez um gesto de assentimento.
– Oh, ouvimos protestos da brigada de mulheres praticamente toda semana. Mas, desta vez, foi algo diferente. Um europeu queria nos oferecer uma verba para estudar raiva e agressão.
– Existem muitos estudos nessa área – comentou Anahi e sorriu para o garçom enquanto ele substituía seu copo vazio pelo novo drinque.
– Não com o foco de se usar mensagens subliminares e manipulação de ondas cerebrais para incitar raiva.
– Incitar? Os congestionamentos de trânsito da cidade já não são o bastante para isso? Depois de franzir a testa por um instante, Christopher sorriu e, então, sacudiu a cabeça.
– Ao que parece, não. Esse cavalheiro ofereceu uma grande soma de dinheiro. Tanto que cheguei a ficar tentado. Mas é claro que estamos tão envolvidos com o projeto atual que nossa reputação ficaria abalada se o deixássemos a esta altura. Ora, ainda bem que ele estava preocupado com a reputação profissional. Anahi não gostou nem um pouco da ideia de que Christopher e o foco do instituto pudessem ser comprados. Segurou o garfo com tanta força que deixou a marca na mão, mas conseguiu conter a raiva e se abster de um comentário mordaz. Deixando o fato de estarem saindo juntos, a amizade e o restante de lado, ele ainda era o seu chefe. Chamá-lo de ganancioso e mercenário não seria nada sensato. Havia aceitado o cargo no instituto porque queria ajudar as pessoas. Porque sabia o poder que a satisfação sexual podia oferecer e acreditava realmente que todos mereciam uma chance de desfrutar esse tipo de prazer. Não para ganhar dinheiro para quem quer que tivesse mais verba a investir. Seus pensamentos se voltaram para o moreno sexy e bonito que vira na praia à tarde. Enquanto se permitia relembrar a imagem das nádegas dele, tão firmes e sólidas por baixo da sunga, a raiva se desvaneceu. Aquele era o tipo de homem que inspirava fantasias e deixava uma mulher bastante ciente de sua própria feminilidade. Mas para mulheres com problemas na área, quer resultantes de condicionamento ou de abuso, esse deleite estava fora do alcance. Era uma pena que não tivesse tido a chance de descobrir se, na realidade, o moreno estonteante era tão sedutor e irresistível quanto nas fantasias. Poderia ter chamado isso de incentivo ao trabalho.
Ou apenas de sexo incrível.