– Deve ser difícil ser um homem que não faz jogos num ambiente como este. – Fez um gesto ao redor, indicando as luzes, o bar e a pista de dança apinhada mais além.
– Aqui, como na vida, quase todos estão sempre fazendo um jogo de algum tipo. Ele olhou ao redor do bar com uma expressão neutra. Como se estivesse um tanto perdido. Como se não tivesse certeza de como fora parar ali. Parecia magoado com algo, notou Anahi com um aperto no peito ao estudá-lo melhor. Quis abraçá-lo com força. Deixá-lo descansar a cabeça em seus seios enquanto lhe afagasse o cabelo. Seus mamilos endureceram como se ela estivesse se preparando para fazer exatamente isso. O que acontecera para deixá-lo tão magoado? Talvez, se o encorajasse a conversar, acabasse se abrindo. Desabafando a fim de poder começar a superar o problema, qualquer que fosse. Suando e recém-saído da pista de dança, um sujeito tentou passar por Anahi para pedir um drinque junto ao balcão. Ela se espremeu entre o corpo de Alfonso e a banqueta. Agora, não era a música que reverberava por seu corpo. Era desejo – quente, intenso, premente. Não havia nada de errado nisso. Era uma mulher de carne e osso com uma apreciação saudável de sua sexualidade. Isso não significava que iria tomar alguma atitude em relação à sua poderosa atração por Alfonso Talvez. Alfonso observou a loira sexy de perto, refletindo sobre seu comentário. Não gostava de pensar em si mesmo como alguém que fazia jogos. Mas ela estava com a razão. Quase todos faziam jogos de um jeito ou de outro. Ora, os militares chamavam os seus de jogos de guerra. Testes ferrenhos de homem contra homem. Ou até de homem contra si mesmo. Os exercícios de resistência e força não eram espécies de jogos? E as reflexões em que estivera mergulhado quando aquela loira surgira do nada para abordá-lo sem a menor sutileza? Haviam sido um jogo, puro e simples, as tentativas de convencer a si mesmo que havia exagerado a dimensão do impacto que Anahi lhe causara. Que ela não era tão sexy, bonita e atraente quanto se lembrava. Mas e agora que estava bem ali à sua frente outra vez? O impacto era o mesmo, se não ainda maior, atingindo-o em cheio, surpreendendo-o, exigindo uma reação imediata. A personalidade dela era tão convidativa e exuberante quanto a aparência. Cachos longos e loiros, pele dourada e olhos azuis e expressivos acima de um corpo capaz de deixar um homem de joelhos para lhe dispensar todas as atenções possíveis. Ao relembrar a maneira como a vira na praia, com todas as curvas deliciosas de seu corpo realçadas por um minúsculo biquíni lilás, sentiu o fogo do desejo se reavivar. E agora estava sedutora de um jeito diferente num vestido turquesa solto de decote alto, mas que lhe deixava os ombros à mostra e de comprimento até um pouco abaixo da coxa. As pernas quase totalmente expostas eram sensacionais, longas e bem torneadas acima de saltos muito altos.
– E então – disse Anahi após uma longa pausa, um tanto ofegante, fazendo-o perguntar-se no que estivera pensando. Em que tipos de jogos. E se o incluíra em seus devaneios. Talvez nu.
– E então – repetiu ela, pigarreando e lhe lançando um sorriso amigável, mas não de flerte.
– O que traz você a um clube como este? Não me parece o seu tipo de lugar.
– Por que não?
– Os frequentadores são da Marinha, na maioria – explicou ela, fazendo um gesto ao redor.
– É um ponto de encontro de soldados e marinheiros. Muita gente o evita, a menos que esteja a serviço na base naval de Coronado. Alfonso franziu a testa antes de tomar um gole de sua cerveja.
– Acha que não pertenço a este lugar? Não soube como avaliar aquilo. Havia entrado para a Marinha no dia seguinte à formatura do ensino médio e achara seu ninho. Seu lugar no mundo. Com os fuzileiros, encontrara uma família, um lar. Nunca quisera ser outra coisa.
– Oh, eu não sei. Você tem o corpo e a, bem, energia para ser um marinheiro – comentou Anahi num tom de provocação enquanto o percorria de alto a baixo com um brilho de admiração nos grandes olhos azuis. Provando que estava vivo e em plena forma, o corpo dele reagiu de imediato. Com uma ereção ganhando forma…
– Mas? – indagou ao notar que ela prolongou um pouco o olhar quando lhe observou o jeans. Mais alguns segundos e notaria o efeito que lhe exercia.
– Mas você não tem aquele tipo de coragem arrogante que geralmente associo a soldados – disse ela, ainda ofegante, encontrando-lhe, enfim, o olhar.
– Coragem arrogante, hein? Isso é um pré-requisito, algo que vem junto com o uniforme? – Ele sorriu amplamente. Matheus tinha razão. Talvez estivesse esgotado. Gostou mais do som daquilo do que de ficar mergulhado em pesar. E por qualquer que fosse o motivo, gostou do fato de que Anahi não soubesse que era um marujo. Com ela, não era o tenente Herrera, fuzileiro condecorado pela Marinha americana, rádio operador, linguista e companheiro de equipe de elite. Não era uma arma constantemente aperfeiçoada, um combatente altamente treinado. Não era um soldo militar, ou o integrante de uma lista de oficiais. Era apenas um homem. E isso era algo tão estimulante.
– Acho que a coragem arrogante já faz parte do pacote, é algo intrínseco. Mas é provável que um uniforme ajude.
– E você gosta de uniformes? – Ele devia ter imaginado. A maioria das mulheres gostava. Nem sequer ia além para saber o que havia por trás do uniforme. Muitos dos rapazes não se importavam. Tiravam proveito de qualquer isca que funcionasse. Alfonso era mais seletivo, porém. E ficou estranhamente decepcionado em saber que Anahi não era. O barman entregou-lhe outra cerveja gelada, recolhendo a anterior. Alfonso meneou a cabeça num gesto de agradecimento e levou o gargalo da garrafa aos lábios, determinado a tirar um pouco do gosto amargo da boca.
– Não faz o meu estilo, na verdade. A sede prontamente esquecida, ele baixou a garrafa devagar.