A EXPLOSÃO de raiva de Anahi era como uma obra de arte. Primeiro, os olhos dela faiscaram como um fogo escuro. Depois, estreitou-os como se estivesse tentando decidir onde esmurrá-lo. Alfonso não se importaria. Mereceria o que recebesse. Afinal, agira como um cretino.
– Venha. Lá fora – disse ela, meneando a cabeça na direção da saída. Sem saber se a ouvira direito, Alfonso franziu o cenho, confuso, enquanto Anahi abria caminho entre ele, a banqueta do bar e os três sujeitos que bloqueavam seu caminho. O grunhido dele se perdeu em meio ao barulho do clube. Com ela de salto alto, os lábios estavam próximos o bastante para beijá-la. Os seios, cheios e macios debaixo daquele vestido leve, roçavam seu peito. Percebeu que não era um gesto deliberado. Era experiente o bastante para saber. Mas foi um gesto sensual, que o deixou excitado como nunca.
– Venha – disse ela novamente, mas, dessa vez, acenando com a mão para chamá-lo. Ainda atônito, mas com o lado racional de seu cérebro a mil, devido à sensação dos seios dela deslizando junto a seu peito, Alfonso seguiu-a. Com o olhar acompanhando-lhe os movimentos dos quadris, enquanto rumavam na direção da saída, não a perdeu de vista, nem mesmo quando desviou brevemente seu caminho até onde os amigos esperavam.
– Estou de saída – disse, acenando com a cabeça na direção das costas de Anahi. Matheus seguiu-lhe o gesto, ergueu as sobrancelhas com ar impressionado e fez um gesto positivo com ambos os polegares.
– Fico contente em ver que você está usando bem o seu tempo – disse com um sorriso largo antes de rumar para o centro do barulho do clube para se divertir ao seu estilo habitual. Alfonso não se sentiu mal em dispensar o amigo por ora. E uma vez que o tenente-comandante estava usando uma camiseta com dizeres que anunciavam aos quatro ventos que era um membro dos fuzileiros navais em letras garrafais, também não experimentou culpa alguma por não fazer apresentações. Por um instante, ocorreu-lhe que, se reunir a Matheus e ao restante dos rapazes, talvez fosse mais sensato do que seguir Anahi até a saída do clube. Aqueles homens eram treinados para lhe darem cobertura. Mas certas missões tinham de ser conduzidas sozinho. Saindo pelas portas do clube para o ar quente da noite, concedeu-se um momento para se adaptar à ausência do barulho. Nada melhor do que o silêncio, com um pouco dos sons do oceano ao fundo, para relaxar. Anahi estava parada um pouco além da entrada do clube, no início da construção pintada de branco, onde um caminho de madeira se curvava na direção do oceano. Com os punhos cerrados junto aos quadris, respirou fundo, ainda com os dentes cerrados, os olhos faiscando.
– Tem certeza de que quer tirar satisfações comigo em particular por insulto? – perguntou ele antes de lhe dar chance de dizer algo. Abriu seu sorriso mais charmoso para indicar que sabia o que o aguardava e que não protestaria contra a furiosa retaliação.
– Não quer testemunhas? – Na verdade, achei que você estava precisando tomar um pouco de ar. Você sabe, para tirar a idiotice causada por testosterona na sua cabeça antes que pudesse fazer um comentário ainda mais imbecil. – Então, com a fúria se dissipando dos seus olhos, Anahi riu. Riu? Onde fora parar a raiva e indignação? Era como mercúrio, mudando tão depressa que ele tinha dificuldade em acompanhá-la. E, Deus do céu, como era tentadora... Era sexy e divertida, dona de tanta energia que o fazia sentir-se vivo novamente. Não tinha certeza de que queria se sentir assim outra vez, contudo. Talvez fosse melhor ideia dar meia volta e tornar a entrar no clube. Ou pegar a caminhonete e ir embora, pensou, tocando as chaves no bolso.
– Não que você não mereça ouvir um sermão. – Ela deu de ombros, chamando a atenção involuntariamente para os braços bem torneados que dourara ao sol pela manhã na praia.
– Mas acho que alguém que é esperto o bastante para saber que fez um comentário crasso não deve tê-lo feito sem um bom motivo. Alfonso arqueou as sobrancelhas, perguntando-se como se esquivaria dessa.
– Acertei em cheio, não foi? Você está aborrecido com algo e aqui apareço eu, uma completa estranha, me intrometendo e especulando como se tivesse o direito de atrapalhar a sua privacidade. Assim, você me deu o troco. Nada mais natural.
– Você é de verdade?
– Por quê? Porque não tive um ataque de nervos. – Anahi inclinou a cabeça para o lado, e os cachos longos roçaram-lhe os cantos do rosto.
– Acha mesmo que as mulheres são fáceis de ser enquadradas em categorias?
– Acho que foi nesse ponto que entrei em apuros – disse Alfonso pensativo. Ainda não acreditava muito na história de que não havia jogos envolvidos ali. Mas sentia-se estimulado o bastante para querer ver se ela era capaz de fazê-lo mudar de ideia.
– Quer dar uma caminhada? Ela estreitou os olhos para observá-lo e, então, olhou para o caminho estreito de tábuas que levava à praia. Mulheres sensatas não passeavam com estranhos e, portanto, Alfonso entendeu. Mas como havia uma festa acontecendo na praia, o que parecia um casamento ou algo assim, Anahi deve ter concluído que havia gente o bastante ali para estar segura ao seu lado. Ainda assim, lançou-lhe mais um olhar com um ar pensativo. Como se estivesse ponderando algo além da segurança. Por um momento, agiu como se houvesse o risco de ele tirar um machado de junto às costas, ou algo semelhante. Em seguida, ergueu o queixo e abriu um largo sorriso.
– Claro. Tão logo chegaram ao trecho onde as tábuas de madeira davam lugar à areia acetinada, ela se apoiou num pé para retirar o sapato e, depois, fez o mesmo com o outro. Incerto sobre quando se tornara um cavalheiro, Alfonso segurou-lhe a mão para ajudá-la a manter o equilíbrio. Seus dedos eram delicados, macios. Quentes e fortes. Os tipos de dedos que produziriam sensações incríveis de encontro à sua pele nua. Baixando-lhe o zíper e envolvendo sua ereção. Acariciando, guiando... Droga! Tão logo a viu descalça, não apenas recolheu a mão como colocou uma distância segura entre ambos. A mulher era uma tentação.
– Não vai tirar o seu calçado também?
– Não. – A fim de pôr um fim na conversa, seguiu pela praia, e os tênis afundaram na areia, que entrou até nas meias. Não importava. Teve a sensação de que era melhor não se livrar de nenhuma peça sequer do seu vestuário. Embora não tivesse a lábia de Matheus nem seu rosto refinado, as mulheres sempre o haviam paquerado. Paquerar de volta era algo que sempre dependia de três coisas. O momento certo. Se ele tivesse acabado de sair de uma missão e precisasse descarregar a energia acumulada. Ou se estivesse prestes a iniciar uma missão, o que lhe dava o pretexto incontestável para encerrar o breve relacionamento. Química. Muitos dos rapazes com quem servira saíam com qualquer ser que se movesse. Para aumentar a quantidade de garotas na sua lista de conquistas, pela emoção barata, para massagear o ego. Por qualquer que fosse a razão. Alfonso não mantinha contagem de conquistas, não buscava emoções baratas, nem sentia a menor necessidade de massagear o ego. O que queria era química. Paixão. Algo quente e intenso, como era o restante de sua vida. O mais importante a levar em conta, no entanto, nessa questão de envolvimentos, era a perspectiva de compromisso. Os anos de treinamento como fuzileiro naval haviam aguçado seus instintos, e os anos evitando compromisso lapidaram sua habilidade de discernir as intenções de uma mulher – mesmo que ela própria as desconhecesse. O momento certo e a química não importavam nada se a perspectiva de compromisso da mulher fosse voltada para longo prazo.