Tentando recobrar o controle sobre a libido e o súbito fogo que o consumia, Alfonso concentrou-se no cenário ao redor. Alguns metros antes da beira da água, um amontoado de grandes pedras marcava o fim da praia. Acima da duna que havia ao lado, uma ampla tenda branca abrigava a maior parte dos convidados da festa de casamento. Agora, uma música romântica ecoava dali até a espuma branca que se formava suavemente sobre as ondas.
– Gostaria de se sentar? – perguntou ele, fazendo um gesto na direção das pedras.
– Ou já quer voltar? Anahi mordeu o lábio inferior, e ele desejou poder fazer isso no lugar dela. A pele acetinada reluziu, úmida, sob as pequeninas luzes brancas da tenda. Sabendo que, se a puxasse para si, como gostaria, estaria acabando com a noite, obrigou-se a ser paciente e deixá-la decidir.
– Podemos sentar por alguns minutos – concordou Anahi, enfim. Aguardando que ela se acomodasse nas pedras lisas, observou-a ajeitar os sapatos no chão a seu lado, perguntou-se o que estaria pensando. O que a fizera decidir ficar.
– Então você adora seu trabalho – comentou Alfonso, apoiando o quadril na pedra, de modo que ficou em parte de frente para ela e em parte de frente para o mar.
– Pelo que mais tem paixão? Anahi brincou com folhas finas e altas do pouco de mato que crescia entre as pedras. Pareceu triste de repente, embora estivesse com os olhos baixos e ele não pudesse ter certeza. Mas foi como se tivesse lhe tocado em algum ponto sensível sem saber. Antes que o assunto tomasse outro rumo, ela ergueu os olhos intensos para fitá-lo.
– Sabe, acho que não tenho tido paixão em relação a nada além do trabalho há um longo tempo. Aprendi bem cedo que a minha paixão exuberante por certas coisas na vida era um problema. Assim, canalizei-a. Foquei no mais importante. Primeiro, na escola, depois na minha carreira. Suas palavras foram ditas num tom corriqueiro, mas tão triste. Ele não pôde deixar de se sentir um tolo por ter mergulhado em autocomiseração da maneira como fizera. Por ter tentado se esconder em vez de ter continuado a enfrentar a vida como ela. Deveria lhe perguntar sobre o passado. Descobrir o que a magoara tanto, como superara isso. Confortá-la para lhe dar chance de desabafar. Mas a simples ideia lhe pareceu mais dolorosa do que qualquer quantidade de munição ou de tortura por parte do inimigo poderia ter sido. Sentimentos, emoções, abrir o coração. Pareciam atitudes passivas. Era um homem de ação. Assim, passou para a segunda alternativa e a outra maneira de oferecer conforto. Seu corpo vibrou silenciosamente. Ergueu-lhe a mão, admirado com sua suavidade. Dedos longos e esguios estremeceram. Viu-a respirar fundo enquanto retesava a mão e, então, erguia o queixo. O corpo dele reagiu prontamente, desafiando o controle que sempre mantinha com tanta facilidade.
– Dedicar-se apenas ao trabalho não é algo bom, não importando quanto uma pessoa goste do que faz – comentou.
– Deve dividir essa paixão. Espalhá-la entre outras coisas. Talvez um hobby.
– É bom ter um hobby – concordou Anahi num tom manso, com uma expressão paciente e divertida ao mesmo tempo. Como se ele fosse o menino que a estivesse entretendo com suas palavras inteligentes. Não exatamente a imagem que quisera transmitir.
– Mas acho que eu gostaria de ter paixão em relação a outras coisas também – acrescentou, e suas palavras quase foram encobertas pelo som das ondas quebrando na areia. Ou seria o som do coração descompassado dele? Anahi se deu conta de que estava em apuros. Afundando depressa, até o pescoço, gritando por socorro. Conhecia os sinais. O coração estava disparado e os pés formigavam, avisando-a a correr. A expectativa a envolvia por inteiro, deixando-a com o estômago em nós. Pairando entre o pavor e o desejo. A esperança e o medo se entrelaçavam, tornando-lhe impossível saber qual dos dois deferia seguir. A mente gritava-lhe em alerta, mas o corpo desejava aquele homem. Com todo o ardor. Seus mamilos endureceram contra a frente do vestido, e um calor úmido espalhou-se entre suas coxas. Teve de fazer um tremendo esforço para não vencer a pequena distância entre ambos e se estreitar naqueles braços fortes, correr os lábios e a ponta da língua por seu pescoço másculo. Não tinha dúvida de que as sensações seriam fantásticas. Contendo-se antes de se abanar com a mão para tentar esfriar a pele febril, lutou desesperadamente para manter o controle. Era o momento de arranjar um pretexto e ir embora. Da maneira como as emoções formavam um turbilhão em seu íntimo, tinha poucos minutos para escapar antes de acabar sucumbindo. De fazer algo realmente estúpido. E passara muitos anos evitando incluir ações estúpidas ao seu repertório. Orgulhava-se disso. Mas uma parte marota de sua mente sussurrou-lhe que havia sido boazinha por tempo demais. Merecia ser um pouco levada. Ao menos um pouquinho, de vez em quando. Principalmente agora. Então, Alfonso inclinou-se para frente, fazendo com que ficassem ainda mais próximos nas pedras onde estavam sentados. Ela arregalou os olhos. O pulso ficou tão acelerado que a deixou com a cabeça zonza.
– Sei que é cedo demais – disse ele numa voz um tanto rouca que a arrepiou de imediato –, mas preciso provar o gosto dos seus lábios.
Toda a racionalização anterior de Anahi se desvaneceu, junto com sua resistência. O desejo levou a melhor, percorrendo-a por inteiro. Quando ele lhe roçou os lábios com os seus, não se preocupou com mais nada, nem com uma possível estupidez cometida, nem com o fato de estarem numa praia pública. O hálito de Alfonso era quente, seus lábios macios. Os dedos gentis que correram pela pele acetinada de seu ombro como um sussurro eram a doçura personificada. Sentiu-se como uma princesa de um conto de fadas sendo beijada pela primeira vez pelo príncipe. E ele era incrível. De dar água na boca, roubar o fôlego, disparar o coração.
Delicioso... E era evidente que não tinha o menor problema em ir em busca do que queria, compreendeu ela conforme as carícias em seu ombro nu se acentuaram. Estremeceu com o contato daqueles dedos firmes e hábeis em sua pele. Ficou com a respiração em suspenso quando ele deslizou a mão mais para baixo, roçando, mas não tocando realmente as curvas no início de um dos seios. O coração batia tão forte que se admirava por não o estarem ouvindo. Queria muito aquele homem. Como nunca quisera tanto nenhum outro em sua vida. Havia se comportado durante anos demais. Sempre ponderara suas atitudes cuidadosamente, jamais magoando os outros. Mergulhara de cabeça na carreira, determinada a fazer algo na vida de que se orgulhasse. Havia um homem que a queria em sua vida. Um homem bom, gentil, com quem podia conversar por horas a fio sem nenhum assunto do qual quisesse fugir. Mas queria mais. Queria um homem que a mantivesse acordada a noite inteira gemendo de prazer. Que a enlouquecesse de desejo, que a levasse às nuvens como jamais sonhara. Queria orgasmos. Muitos, muitos orgasmos. Mesmo que fosse apenas por uma noite. E aquela, compreendeu, era a chave. Uma noite de paixão e loucuras. Uma noite de sexo quente, delicioso, com um homem que satisfizesse cada desejo seu... Um homem que a fazia derreter. Uma noite seria espetacular. Uma noite seria o bastante.
– Isto é loucura – sussurrou contra os lábios sedutores de Alfonso.
– Concordo – disse ele, traçando-lhe o contorno do lábio inferior com a língua e, então, mordiscando-o. Quando a ouviu soltar uma exclamação surpresa, deu-lhe um beijo mais suave.
– Mas certas loucuras são deliciosas... Sem dúvida. Anahi abraçou-o pelo pescoço, apoiando-se no peito sólido e musculoso dele, soltando um gemido de deleite. Aquele contato era bom demais... Alfonso recuou, enfim, estudando-a com olhos intensos. Como se estivesse tentando enxergar dentro de seu coração, através de sua alma. Como se estivesse desvendando todos os seus segredos, descobrindo cada desejo. Em seguida, abriu um sorriso sensual, satisfeito. Como se tivesse se dado conta de como tornar cada um daqueles desejos uma realidade. Ali estava, de repente, uma perspectiva assustadora . E mais assustador ainda era o fato de saber que Alfonso era perfeitamente capaz daquilo. Oh, como o queria. Ansiava por arrancar-lhe a roupa e correr as mãos por seu corpo rijo, viril. Por tocar, provar. Sentir. Oh, como queria senti-lo… Entregar-se com abandono às sensações naquela noite. Desfrutá-las. Viver.
– Já quis alguma coisa que sabia que não deveria ter? – perguntou numa voz quase inaudível sob o som das ondas do mar. Traçou-lhe os contornos do lábio inferior com a ponta do dedo e, então, com um suspiro, sustentou-lhe o olhar.
– Algo que soube que era melhor nem sequer cogitar, mas que o deixou tentado demais?
– Não. Devia ter imaginado . Sem poder evitar, Anahi soltou um riso e pousou a fronte no ombro dele, fechando os olhos. – Mas sei como é querer tanto alguém – disse Alfonso numa voz tão séria e intensa que a fez erguer a cabeça para olhá-lo. Ele afagou-lhe o rosto com ternura e, então, afundou os dedos em seu cabelo ruivo. Segurando-lhe a cabeça com gentileza, olhou-a nos olhos. Anahi estremeceu, seu coração tornando a disparar. O olhar dele era hipnótico. Penetrante. O luar banhava-lhe o rosto másculo e bonito, dando-lhe um ar misterioso e quase mágico. Como se tivesse saído de uma das fantasias dela, enviado pelo universo como recompensa por ter sido uma boa menina por tanto tempo. Uma chance de ser levada apenas brevemente e, então, voltar ao seu comportamento exemplar. Queria Alfonso, queria explorar aquela deliciosa e forte química que havia entre ambos. Ele afagou-lhe o couro cabeludo suave e sensualmente, com os dedos entrelaçando-se em seus cachos. As sensações que a dominavam eram maravilhosas. O corpo vibrava, os sentidos estavam aguçados. Era como se cada toque fosse amplificado, excitando-a como nunca. Mais do que imaginara possível.
– Não acha melhor conversarmos sobre isto? – perguntou numa tentativa desesperada de ser prática e lógica. – Para termos certeza de que sabemos o que estamos fazendo?
– Doçura, eu garanto que sei perfeitamente o que estou fazendo. Como se quisesse provar o que dizia, ou apenas silenciá-la, Alfonso segurou-lhe a nuca, posicionando-lhe o rosto em sua direção. Entrelaçou a língua com a dela, exigindo uma resposta, encorajando-a a liberar toda a paixão. Anahi abraçou-o ainda mais pelos ombros e sua mente desistiu da batalha para ser racional, deixando-se mergulhar nos prazeres oferecidos. Para que ficar conversando a respeito? Quem precisava de mais esclarecimentos quando a comunicação entre seus corpos era mais do que clara? Nirvana sexual , era o que o corpo dele prometia. O dela só pôde responder com expectativa.