Alfonso ESTAVA ciente da respiração de Anahi. Como se pudesse persuadi-la a relaxar, respirou junto com ela, de maneira suave, serena. Depois de alguns minutos, percebeu que estava adormecida. Foi quando se permitiu relaxar. Devia dormir. Os alarmes do perímetro estavam ligados. Se algo mais pesado que neve passasse por ali, ele saberia. Ainda assim, hesitou. Não conseguia confiar a segurança de Anahi a máquinas e dispositivos. Por um segundo, deixou que a frustração por estar daquele lado, afastado da ação, tomasse conta dele. Não fora feito para ficar de braços cruzados, só à espera. Nem mesmo com uma linda mulher. Com o relógio de pulso programado para despertá-lo dali a meia hora, obrigou-se a relaxar no catre. De olhos fechados, tentou tirar tudo,especialmente a mulher dormindo a um metro de si,de seus pensamentos. A fim de mantê-la a salvo, tinha de estar em sua melhor forma, física e emocional. E, para tanto, precisava dormir. Não conseguiria conciliar o sono, com certeza, se a imaginasse completamente despida, a não ser pelas botas de couro de combate. Foram as botas que o ajudaram. Concentrou toda a atenção nelas e, lentamente, foi se entregando ao sono. Estava quase adormecendo, porém, quando ouviu algo. Num instante, havia saltado para fora do catre. Estreitou uma soluçante Anahi nos braços.
– Está tudo bem,doçura – acalentou-a, afastando-lhe as mechas úmidas de cabelo do rosto. Através da tênue luminosidade dos monitores, viu que os olhos dela estavam aterrorizados.– Não há mais nada com que se preocupar. Estou aqui. Resgatei você.
– Abrace-me – implorou Anahi, segurando-o com tanta força pela cintura enquanto ele continuava sentado na beirada do catre dela que o deixou com menos ar.– Não me solte.Não permita que nada aconteça.
– Estou abraçando você.– Para assegurá-la do fato, correu as mãos pelas costas dela, para baixo e para cima, por sobre o suéter grosso.
– Abrace-me com mais força. Nunca senti tanto medo, Alfonso.Quando fecho os olhos,vejo a imagem dele.Vejo o sadismo naquela cara de rato nojenta enquanto me ameaçava.Jurou que deixaria seus homens fazerem coisas horríveis comigo.Uma onda de fúria tomou conta de Alfonso,sobrepujando a frustração e quase o levando a perder o controle.
– Você está a salvo – garantiu mais uma vez, beijando-lhe o cabelo.
Não soube se foi porque Anahí precisou ver sua expressão para ficar mais calma, ou se foi uma reação ao beijo. Mas ela afastou o rosto de seu peito e recuou um pouco no catre. Apenas o bastante para se entreolharem. Para sentirem o hálito quente de um no rosto do outro. Alfonso sabia que devia soltá-la agora. Estava a serviço ali. Numa missão. Havia jurado protegê-la. Droga, o próprio pai dela o escolhera para levá-la de volta para casa sã e salva. Todos os motivos – e havia vários – para soltá-la e manter a devida distância inundaram sua mente. Fitou os olhos dela, viu o calor que continham e que o chamava, tocando algo em seu coração que o deixou sem chance de resistir.
– Apenas para avisar você com antecedência, isto é um grande erro e eu lamento muito. Anahi franziu a testa, mas, antes de poder perguntar o significado das palavras, Alfonso beijou-a. Foi como despertar de um pesadelo e descobrir que estava a salvo, envolta por segurança e prazer. Como voltar para um lar. Enquanto ele lhe cobria os lábios com os seus e intensificava o beijo, ela se sentiu realmente bem pela primeira vez em meses. Os lábios dele eram tão macios, tão doces. O corpo tão quente e sólido enquanto os braços musculosos a estreitavam mais, fazendo-a sentir-se protegida, desejada. Queria mais. Precisava dele com um anseio desesperador. Com ele, estava a salvo, sentia-se como alguém por inteiro outra vez. Correspondeu ao beijo com ardor, acompanhando os movimentos ritmados dos lábios sensuais que estimulavam os seus. Diante daquele toque mágico, as horríveis imagens dos quatro dias anteriores se dissiparam como fumaça, sendo levada pelo vento. Estar nos braços de Alfonso era como estar no paraíso, pura e simplesmente. Era como se nada pudesse amedrontá-la, nada pudesse atingi-la enquanto ele estivesse perto. Lentamente, ele afastou os lábios e recuou ligeiramente. Anahi o agarrou pelos ombros, tentando impedir que se movesse, que a deixasse.
– Você estava chorando – disse ele, enxugando-lhe gentilmente com a ponta dos dedos as lágrimas que ela nem sequer percebera que haviam rolado por seu rosto. Afundou, então, a mão em seu cabelo, segurando-lhe a nuca com delicadeza. Deus do céu, aquilo não era nada sexy, pensou Anahi.Chorar e soluçar no meio de um pesadelo. De cenho franzido, deixou que os ombros caíssem, enquanto despertava das brumas sexuais.
– Foi por isso que me beijou? Porque eu estava chorando? Alfonso hesitou. Anahi pôde ver que ele estava refletindo, ponderando o passo seguinte. A maneira mais fácil, ou a verdade. Podia facilitar as coisas para ele. Afinal, o homem a salvara de um lunático fedorento. Mas ela queria mais, queria... Bem, que Alfonso tornasse a apertá-la com os braços, que a possuísse com todo o arrebatamento; queria senti-lo dentro de si enquanto seus corpos formassem um só.
– Beijei você porque não consegui resistir – disse Alfonso, massageando-lhe o couro cabeludo com a mão, desmanchando- lhe a trança, afagando-a de uma maneira que a fez querer ronronar feito um felino.– Mas eu deveria ter resistido. A tensão ruim que havia começado a se formar desvaneceu-se. Uma onda de alegria invadiu Anahi, iluminando ainda mais seu sorriso. A excitação se espalhou por seu íntimo diante da expectativa de sexo e graças aqueles dedos maravilhosos que continuavam se entrelaçando sensualmente por entre seus cachos, massageando-lhe a cabeça, fazendo-a ansiar por mais.
– Por quê? – sussurrou ela, correndo as mãos pelas costas de Alfonso agora, deliciando-se com os contornos dos músculos bem definidos sob a camiseta. As suas próprias razões para não tornar a se envolver estavam a anos-luz dali no momento. Era melhor se concentrar nas razões dele. Dessa maneira, poderia ajudá-lo a esquecê-las a fim de passarem ao que realmente ambos queriam no momento.
– Porque você é você e eu sou eu.
– Ah. – Anahi não conseguiu conter o riso.– Isso diz tudo. Alfonso curvou os lábios de leve, mas não sorriu. Estudou-a com um olhar perscrutador, em vez disso, do tipo profundo, que podia enxergar até através da alma.
– Você é a filha do almirante. Eu sou um fuzileiro. Você está em busca de um relacionamento transparente, franco. Eu vivo nas sombras. Você é a vítima que está sob a minha proteção. Eu sou o encarregado da missão de levá-la de volta para casa em segurança. Como se as palavras dele tivessem aberto o zíper na aba da tenda, as garras gélidas da realidade envolveram Anahi. Parou de lhe afagar as costas, deixando que as mãos caíssem lentamente até seu catre. Estavam mesmo em lados completamente opostos, ao que parecia, afinal.
– Bem, essas são razões sólidas – admitiu num tom muito sério. Como podia argumentar em face às próprias justificativas que dera até então? Se ambos já as conheciam tão bem era porque havia sido convincente o bastante quando as dera, certo? Soltou um profundo suspiro, desejando poder acreditar que estivera sendo radical demais. Na fisionomia de Alfonso via a mesma frustração, a mesma relutância que a dominavam. Soltou-a de seus braços, embora não se levantando da beirada do catre ainda. Ela estremeceu, sentindo de imediato a falta do calor do corpo dele. Quis enfiar-se debaixo das cobertas novamente, mas isso significaria colocar distância entre ambos, afastá-lo de si. E, com ou sem sexo, queria – precisava – que Alfonso ficasse a seu lado pelo máximo de tempo que conseguisse.
– Sim, são razões sólidas e perfeitamente boas para mantermos as coisas como devem ser. – Alfonso endireitou as costas e correu a mão pelo cabelo curto, deixando-o um tanto espetado. Deu um sorriso tenso. Anahí só conseguiu sorrir de volta porque podia ver que aquele tipo de tensão se espalhava pelo corpo inteiro dele e se evidenciava mais na maneira como o tecido da calça camuflada se esticava na parte da frente. Sentia seu próprio coração disparado e estava um tanto ofegante, enquanto um zunido surreal ecoava em seus ouvidos.
Era como estar sedenta diante de uma fonte fresca e cristalina de água e não poder beber, faminta diante das mais tentadoras iguarias e não ter permissão para provar nenhuma. Literalmente com água na boca, correu os olhos demoradamente pelo corpo incrível dele.
– Sim, manter as coisas como devem ser – concordou distraída.
– É necessário – disse Alfonso num tom um tanto brusco, fazendo-a dar-se conta de repente de que ele só afirmava aquilo porque era a coisa certa a fazer.
– Somos dois adultos inteligentes, com maturidade o bastante para saber controlar nossas vontades. – Anahi correu a ponta dos dedos pela coxa dele, deleitando-se com os músculos que podia sentir, mesmo através do tecido grosso da calça de militar. Lentamente, os dedos foram chegando mais e mais perto da impressionante ereção. Ele estreitou os olhos, pensando rápido, calculando. Como se estivesse tentando encontrar um meio de ambos reverterem a situação em proveito próprio. Despidos , de preferência.
– Apenas porque há esta coisa entre nós – disse, sacudindo a mão no espaço entre os dois, como se houvesse um campo magnético ali –, não significa que temos que ceder a ela – tentou argumentar.
– É claro que não – concordou Anahi, soltando um riso tenso, enquanto os mamilos latejavam, sensíveis e pesados, a cada vez que roçavam o tecido da camisa sob o suéter com sua respiração acelerada.
– Afinal, não somos animais.
– Não. Não somos animais – concordou Alfonso, olhando-lhe os seios arfantes, moldados pelo suéter, com uma evidente expressão de desejo, o que só fez com que os mamilos ficassem ainda mais rijos.
– Sabemos muito bem que não devemos entrar em algo que já entendemos que é ruim para nós.
– Ruim demais – disse ela ofegante, erguendo o olhar da frente da calça dele para lhe encontrar os olhos carregados de paixão.
– Ruim mesmo...
– Assim sendo, vamos fazer sexo selvagem, incontrolável, certo? – Alfonso estendeu a mão para lhe roçar o mamilo latejante com a ponta dos dedos, de maneira provocante, fazendo-a ansiar para que intensificasse o toque. – Oh, sim. Ande e livre-se dessas calças logo! – ordenou ela, poupando tempo e arrancando o suéter por cima da cabeça. Ao mesmo tempo, Alfonso despiu a camiseta de manga longa e começou a desatar os cordões dos coturnos especiais para neve. Aliás, o que havia com os calçados militares, afinal?, perguntou-se Anahi, acompanhando-lhe os gestos com um olhar expectante, impaciente com a demora. Evidentemente, quem quer que os tivesse criado, não estivera com sexo rápido em mente. Pela primeira vez desde que haviam se conhecido, Alfonso demonstrou falta de elegância ao saltar num pé só, em seu empenho para se livrar o mais depressa possível do calçado. Sem querer perder tempo, Anahi respirou fundo e despiu a camisa de tecido térmico por cima da cabeça depois do suéter. Sem sutiã, uma vez que jogara fora tudo que estivera usando durante dias naquele maldito cativeiro, a pele de seu torso se arrepiou instantaneamente.