Sim. O almirante era um homem intimidante.
– Não se estresse com isso – aconselhou-a Michael num tom gentil, obviamente acompanhando-lhe o rumo das reminiscências.
– Nossa mãe está radiante com a sua volta e o nosso pai vai acabar cedendo eventualmente. Talvez não gostem dos temas que você vai abordar, mas o prestígio por você aparecer na TV e o fato de saberem que você estará participando de festas grandiosas e bilionárias como uma socialite vão acabar dobrando os dois de uma vez.
– Claro, desde que ignorem a parte em que vou falar em público sobre sexo. – Ela soltou um suspiro. Por mais que quisesse agir de uma maneira dura e desprovida de emoções em relação aos pais, havia uma parte de si que ainda ansiava – com o desespero de uma criança pequena – por aprovação. Mas não mudaria o seu jeito de ser para obter isso.
– Dá quase para sentir pena deles. – Michael riu.
– Não somos exatamente o seu ideal de filhos perfeitos, certo? Para facilitar as coisas para os dois, quando vou encontrá-los para o almoço de domingo, finjo ser heterossexual. Não é nada fácil para o modelo principal da Sassy’s Fancy, uma revista só para homens. No mês passado, mencionei o meu ensaio fotográfico para a Calvin Klein e parecia que eu havia tentado cantar o garçom, ou algo assim, porque os dois quase engasgaram à mesa.
– Talvez eles se concentrem mais, em vez de na parte relacionada ao sexo em si, no fato de que este projeto de pesquisa ajudará potencialmente vítimas de abuso a superarem seus medos – ponderou Anahi Quando o irmão a olhou como se tivesse passado diretamente de ingênua a iludida, ela enrugou o nariz.
– Bem, chega de falar em quanto deixamos os nossos pais orgulhosos. – Michael sacudiu a mão no ar, dando a entender que deviam ignorar tanto o assunto em questão quanto a culpa que Anahi começava a demonstrar.
– O que está se passando entre você e o dr. Certinho?
– Você sabe muito bem que o sobrenome de Christopher é Uckermann – corrigiu-o ela pela enésima vez, seguindo a deixa dele e inclinando-se para pegar o filtro solar. Ao contrário de muitas loiras não tinha problema para se bronzear. Tinha tendência a sardas, porém, se tomasse sol demais.
– E não sei o que está se passando entre nós para ser franca. Ele é um amor de pessoa. Inteligente, agradável e com grande capacidade de se comunicar, de dialogar. Um homem que gosta de conversar sobre sentimentos. O que é melhor do que isso?
– Alguém que faça você sentir coisas sobre as quais vale a pena falar? – arriscou Michael num tom sério. Sim. Ela deu um suspiro. Exatamente.
– Quando foi que ficou tão esperto? – Lançou um olhar curioso ao irmão. Esparramado sobre uma toalha de praia turquesa, parecia bonito, e francamente vaidoso demais, para oferecer reflexões tão profundas. Atlético, era um homem que ganhava a vida mantendo a boa aparência.
– Querida, apenas porque não sou um gênio como você não significa que não sou inteligente.
E não era a pura verdade! Uma onda de contentamento tomou conta de Anahi Até poderia ter recusado a oferta de trabalho que a levara de volta a San Diego. Mas não se tratava apenas do emprego dos seus sonhos como também da chance de morar perto do irmão novamente. Não houvera como resistir. Haviam crescido como filhos de militar e a única coisa estável na vida de ambos tinha sido o fato de poderem contar um com o outro. E embora ela não buscasse muito a estabilidade nos tempos atuais, precisava de amor. Precisava sentir-se importante. Especial. Ainda que fosse apenas para uma pessoa – mesmo que essa pessoa fosse seu irmão. Como se tivesse sido instigado pelas palavras de Michael, seu olhar foi até o mar, à procura do belo espécime masculino outra vez. Ali estava um homem que faria uma garota sentir coisas sobre as quais valeria a pena falar. Deixou que a visão do corpo dele, forte e confiante enquanto vencia as ondas, a acalentasse. Que a fizesse esquecer a tensão e as preocupações. O moreno, então, saiu da água. E um tipo novo de tensão tomou conta dela. Ao mesmo tempo, todos os pensamentos coerentes se desvaneceram. Cada célula do seu ser se concentrou, como um raio laser, no corpo dele. O corpo espetacular... Músculos bem definidos, desde o topo da cabeça sexy até os pés másculos e bem feitos. O homem era uma obra de arte. Não parecia do tipo obcecado pelo físico, cujo único objetivo era esculpir os músculos, mas era dono de um porte atlético natural. E irradiava puro magnetismo. Por ele, se sentia sexualmente atraída. Com ele, podia se imaginar facilmente suplicando por mais…
- Sabe, posso ter questionado seu bom senso e o seu corte de cabelo ao longo dos anos – comentou Michael pensativo –, mas nunca vi defeito na sua visão. Aquele é um homem e tanto.
– É razoável – desdenhou Anahi como se seu corpo não estivesse em brasa só em olhar para o moreno.
– Razoável? Apenas razoável ? – replicou o irmão num tom indignado, como se ela tivesse insultado todos os homens bonitos do mundo. – O que Nova York fez a você? Disse que não está num relacionamento, mas ainda está sentada aqui. Por que não vai até lá fazer uma tentativa?
– Porque é justamente o contrário. Eu estou num relacionamento.
– Não seria pensando em manter ou não um relacionamento?
– Seja como for, tenho que continuar pensando até chegar a uma decisão antes de fazer alguma maluquice – retrucou ela.
– Como dar em cima de um completo estranho só porque é bonito.
– Esse seria o melhor motivo para dar em cima dele, o fato de ser bonito. A menos que não seja o seu tipo.
– Acho que ele não é o seu – Anahi riu, admirando o nadador sexy. Um homem que irradiava tanta energia sexual, que a fazia se perguntar quantas horas seriam necessárias para tentar suas dez posições favoritas do Kama Sutra seria gay? Isso seria um crime contra todas as mulheres.