– sugeriu Michael enquanto o homem caminhava na direção de ambos, ou porque havia deixado suas coisas ali perto, ou talvez em resposta aos intensos sinais que Anahi estava lhe enviando mentalmente.
– Michael – disse por entre dentes, desejando subitamente estar de volta num avião rumo a Nova York. Ou enterrada na areia.
Qualquer uma das alternativas seria melhor do que esperar o que sabia que estava por vir.
– Não se atreva.
– Você disse “se atreva”? – Michael abriu um sorriso largo e totalmente malicioso. – Michael! – Anahi estendeu a mão sem demora para segurar o braço do irmão, mas não foi rápida o bastante.
– Oh, com licença – disse num tom educado enquanto se erguia elegantemente.
– Você tem um minuto? O nadador viril diminuiu o passo, caminhando na direção de ambos. Seus olhos
– sim, eram tão incríveis quanto todo o restante dele – passaram por Michael para se fixar em Anahi Seu olhar teve o efeito de um delicioso banho sensual, envolvendo-a com seu calor. Eram olhos de um intenso e maravilhoso verde Anahi poderia jurar que sentiu o mundo à sua volta oscilar. Ou talvez seus olhos estivessem simplesmente ofuscados pelo exemplo de perfeição masculina logo adiante.
– Sou Michael – disse o irmão, adiantando-se depressa com um sorriso efusivo para estender a mão.
Acenou com a cabeça na direção dela, acrescentando: – Essa é a minha irmã, Anahi.
– Alfonso – apresentou-se o homem numa voz possante e agradável que tinha apenas um quê de sotaque sulista. – Fiquei me perguntando se você gostaria de se reunir a mim, a nós, para tomar algo. – Michael inclinou-se para pegar uma garrafa de água mineral da caixa térmica, oferecendo-a.
– Seria um grande favor. Você pode ajudar a resolver uma discussão entre mim e a minha irmã. Alfonso lançou um olhar ao rapaz sorridente e à garrafa de água e, então, pousou os olhos na sereia sexy sentada descontraidamente numa cadeira de praia. Parecia um presente de despedida do verão passado, tão quente quanto a estação em si. Com uma bela cabeleira loira e pele dourada, deixou-o com água na boca. Em qualquer outra ocasião, não teria hesitado em promover uma aproximação. Mas em vez de oferecerem conforto, paz, as duas semanas anteriores tinham servido apenas para lembrá-lo da dor da perda. Para a tornarem pior. Havia ficado alguns dias no apartamento de Matheus Depois de ter acabado de retornar de uma visita à sua casa, Matheus havia sido uma péssima companhia. Silencioso, apagado, distante, mergulhado no tipo de humor sombrio que sempre o dominava quando lidava com a família. Assim, Alfonso escapara para a praia. O sol não havia ajudado. Nem tampouco o surfe. E tinha certeza de que conversar com estranhos seria igualmente inútil. Simplesmente dê uma desculpa e vá embora , disse a si mesmo.
– Que discussão? – ouviu-se perguntando em vez de seguir o próprio conselho.
– Anahi acha que um encontro quente equivale a um jantar e um cinema – disse-lhe o homem que o parou, baixando os óculos escuros de lentes avermelhadas pelo nariz para revirar os olhos com ar cômico.
– Entediante, não é? Na minha opinião, acho que tem mais a ver com um clube e dança. O que você acha? Com a garrafa de água mineral a meio caminho da boca, Alfonso fez uma pausa para encará-lo. O cara estava dando em cima dele? Tentado a rir, ele lançou um olhar perplexo à loira O sorriso que ela deu em resposta foi como um raio de sol que o tirou do buraco negro onde nem sequer se dera conta de que estivera escondido. – Ambas as coisas – disse com convicção. – Jantar e dança. Sou do tipo tradicional.
– Ah. – O sorriso do homem não diminuiu, nem a sua atitude mudou. Mas a maneira como meneou a cabeça deixou claro que entendera a mensagem de que não fazia o tipo de Alfonso em absoluto. – Então, acho que estamos num impasse. – Você terá que desculpar Michael – falou a loira .
– É do tipo que segue a linha “quem não arrisca não petisca”.
– Não posso culpá-lo por isso.
– Você é muito gentil – disse ela com um sorriso luminoso. Ao primeiro olhar, seus traços não tinham uma beleza tradicional. Eram marcantes demais. Olhos quase grandes demais para o rosto eram encimados por sobrancelhas escuras. O maxilar era forte, os lábios cheios continham uma curva sensual que instigou ainda mais a libido subitamente desperta dele. A tatuagem de uma rosa vermelha destacava-se no ombro com o cabo e as folhas se entrelaçando até o bíceps. O corpo, sexy o bastante para deixar um homem agradecido pelo verão e praias, era sensacional. Realçado por um pequeno biquíni lilás que lhe favorecia as curvas bem feitas, era um corpo que o fez desejar que a tivesse conhecido num outro momento. Um momento em que pudesse cobri-la com toda a atenção que merecia. Ele era o tipo de homem que construíra sua carreira fazendo a coisa certa. Que vivia de acordo com as regras. Não apenas fazia tudo de acordo com a sua cartilha, mas a checava duplamente para garantir que as regras que seguia eram exatamente como as escritas. Pragmático? Funcionava para ele. Ao menos, fora assim até então. A imagem de Phil passou por sua mente, desconcertando-o por um instante. A última coisa que vira do amigo foi seu sorriso largo, alegre, um momento antes do estilhaço ter atingido seu capacete. Phil havia seguido as regras. A equipe inteira as seguia, à risca. Ainda assim, haviam perdido um integrante. Assombrado pela lembrança, Alfonso desviou o olhar para o oceano, tentando reencontrar a paz. As águas azuis, porém, não tiveram o efeito balsâmico de acalmá-lo. Como que por vontade própria, seus olhos tornaram a pousar na loira estonteante. Ela não parecia ser do tipo que seguia regras. Talvez fosse exatamente o que ele precisava no momento.