Eu era uma terrível mentirosa. Minhas orelhas provavelmente pareciam como se eu gastasse uma hora na mesa bronzeadora.
— Não é nada. É só algo que aconteceu na Sexta quando eu estava... como vocês pessoas Britânica dizem isso? Ébria? Sorvada? Ele se sentou para trás, longe de mim, mas deixou suas mãos fechadas nas costas do meu assento.
— Você dormiu com ele?
— O que? Não! Ele não se inclinou de volta na minha direção, mas seu aperto na cadeira se afrouxou. Um dos seus nódulos roçou contra meu braço.
— Bom.
— Alfonso.... — Ele estava indo para aquele lugar que nós não deveríamos ir. Ele sorriu atrevidamente.
— O que? Só porque eu não posso ter você agora, não significa que eu estou bem com ele tendo você. Meu cérebro deu cambalhotas com aquela locução agora novamente, mas eu forcei meus pensamentos para longe disso.
— Eu vou fingir que eu não acabei de escutar você se referir a mim como uma propriedade que tem um dono.
— Nós não podemos ser donos um do outro? Se cérebros pudessem ter orgasmos, eu tenho certeza que foi essa sensação que eu tive. Eu não deveria gostar disso, mas havia possessão nas suas palavras que estava ecoando nos seus olhos escuros, e causou arrepios descendo na minha coluna até meus dedos ficarem anestesiados com seu vazio. Eu não podia responder a sua pergunta, então eu perguntei uma própria.
— O que aconteceu com você? Eu achei que você tivesse prometido para mim que nós não faríamos isso novamente. Ele colocou suas mãos através do seu cabelo, seus cachos saindo de formas adoráveis que fizeram meu estômago dar vira-voltas.
— Eu não sei. Eu só... eu estava enlouquecendo pensando sobre vocês dois juntos.
— Nós nos beijamos. Nada mais. Ele se encolheu para trás como se eu dissesse que Christopher e eu estivéssemos nos casando ou tendo uma casa cheia de filhos. Eu não podia olhar para o seu rosto. Fazia-me querer fazer coisas insanas. Eu me repeti —, Foi apenas um beijo. Não significou nada.
— Eu não quero que ninguém mais beije você.
— Alfonso.... — Eu estava começando a odiar o tom de aviso na minha própria voz. Se ele continuasse pressionando assim, eu não seria capaz de dizer não por mais tempo. Eu ia me jogar nele, mais provavelmente no mesmo momento em que Eric voltasse.
— Eu sei que eu não estou sendo justo. Eu estou sendo um completo cretino, realmente. Eu continuo dizendo a mim mesmo para deixar você em paz, mas a verdade é... que eu não tenho certeza se eu posso. E agora que eu sei que você não está com Christopher...
— O que você está dizendo? A porta dos fundos chiou, e eu percebi o quanto perto nós estávamos. Meu coração tamborilando como uma corda de violão arrancada, eu dei um espaço de alguns assentos antes que Eric re-entrasse no lugar. Ele sustentava seu caderno triunfantemente.
— Achei! E eu trouxe um script de verdade para você, Any, para que você não tenha que usar os secundários. Eu lutei para acalmar meu coração quando Eric me entregou a peça. Não olhe para Alfonso. Não olhe para ele. Não importava... eu estava super-consciente dele. Mesmo se eu me movesse várias fileiras para longe dele, eu estava certa que eu saberia toda vez que ele se deslocasse ou respirasse ou olhasse para mim. O pequeno livro parecia bom em minhas mãos, ainda quente do aperto de Eric, e eu tive que resistir com a urgência de começar a despejar as palavras que cada segundo me distraiam de Alfonso. A Gestora de Palco, Alyssa, que era um ano mais nova do que eu, entrou na sala para anunciar que nós já estávamos prontos para começar quando Eric estivesse. Ele assentiu para ir adiante, e então se virou para mim.
— Any, nós vamos começar com Hippolytus. Eu vou fazer com que eles interpretem seus monólogos mais uma vez, depois eu mandarei você lá para cima. Apenas apegue-se com o que você esteve fazendo no seu monólogo. Interprete o objetivo, que você o quer, mas sua vergonha, seu medo é o seu próprio obstáculo.
Eu olhei para Alfonso. Deveria ser bastante simples. Alyssa entrou novamente, Jeremy caminhando calmamente no seu rastro. Ela sentou-se na mesa técnica, ele ficou no meio do palco, seus ombros para trás, seu queixo erguido. Ele parecia bem. Eu sorri com orgulho para ele. Nosso pequeno secundarista.
— Oi Jeremy. Eu gostaria começar vendo você no seu monólogo mais uma vez, só para começarem as coisas. Em seguida nós veremos como você trabalha com Any. Jeremy limpou sua garganta. Pausou por um momento. Eu amava aquele momento anterior. Era o peso da antecipação e esperança. Era como mergulhar de um penhasco, sabendo que o que vinha a seguir era aterrorizante e bonito e um objetivo de vida. Aquele momento... era viciante.
Eu me deixei correr longe demais. Eu vejo que minha razão cedeu à violência. Havia desespero na interpretação de Jeremy quando ele começou, mas ele soou jovem. Ele parecia jovem. Quando ele falou, suas palavras e suas emoções saíram com pressa. Como se uma vez que ele tivesse começado sua confissão de amor por Aricia, não havia como parar o derramamento. Minha alma, tão orgulhosa, está finalmente dependente. Por mais do que seis meses, desesperada, envergonhada, Tendo ao longo a ferida com a qual eu estou mutilado. Eu me endureço em direção a você, e a mim mesmo, em vão... Eu não tinha percebido até então que ambos, Hippolytus e Phaedra estavam apaixonados e envergonhados.Phaedra por causa de quem ela amava, e Hippolytus porque ele amava. Eu podia ver a vergonha na atuação de Jeremy, corroendo-o, e eu me perguntei se é o como eu tinha parecido na minha audição... se é como eu me parecia cada vez que eu pensava em Alfonso. Presente, eu fujo de você: inexistência, eu encontro você novamente . Os olhos de Alfonso estavam em Jeremy, olhando de volta ocasionalmente para as anotações que ele estava escrevendo no bloco de notas no seu colo. Aquela última fala estava ecoando pela minha cabeça como música, uma melodia que fica presa e não dá a você nenhum descanso. Presente, eu fujo de você. Mas sem importar a distância entre nós, eu continuo voltando para ele. Tudo continua voltando para ele. Eric se levantou do seu lugar e disse.
—Bom. Bom. Vamos ver você com a Any. Eu arranquei meus olhos de Alfonso e me atrapalhei com o script. Eu caminhei em direção ao palco, meus joelhos um pouco fracos, e meus pés de alguma forma trôpegos. Por mais que eu amasse Jeremy, estava evidente para mim em minutos que ele não era Hippolytus. Pela primeira vez, ele não era o herói, o bonito jovem homem que poderia virar do avesso o coração de Phaedra. Ele era mais como um menino. Ele tinha a paixão, mas algumas vezes até isso não era suficiente. Nós passamos por mais dois garotos que eram também deficientes – ambos em convicção. Aquelas audições foram rápidas. Em seguida foi a vez de Christopher. Eu sempre achei que a melhor habilidade de Christopher era sua voz. No palco, assumia seu baixo estrondo que sem importar o volume sustentava poder. E com a peça que era tanto sobre o texto e o lirismo nas falas – sua voz era perfeita. Era sempre difícil ler o rosto de Eric, mas ele definitivamente pareceu mais feliz com Christopher do que ele ficou nas duas audições anteriores. Quando as coisas ruíram foi quando Christopher e eu interpretamos no palco juntos. Nós estávamos fazendo a cena onde Phaedra revela pela primeira vez seus sentimentos por Hippolytus. Eles estavam conversando sobre a morte de Theseus – marido da Phaedra e pai de Hippolytus. Hippolytus nunca gostou da sua madrasta. Ele não sabia que ela o tratava mal, para que ela pudesse mais facilmente manter sua distância porque ela o amava até mesmo antes de Theseus supostamente morrer. Nós passamos bem pela sessão sobre a morte de Theseus, mas eu estava quase na metade do meu monólogo onde eu declarava meus sentimentos quando Eric saiu da mesa e para cima do palco.
— Pare, pare. Christopher, o que você está fazendo?
Christopher pareceu aturdido, e talvez à beira de vomitar.
— Me desculpe?
— Você a despreza. Quando a revelação dos sentimentos dela desponta em você, você deve estar horrorizado, enojado, até mesmo zangado.
— Claro, senhor.
— Então porque você se parece como um filhotinho doente de amor que retorna a afeição dela? Como se eu não estivesse canalizando culpa o bastante por essa interpretação, eu senti o peso da minha própria culpa adicionada. Isso era minha culpa. Isso não era sobre a peça. Era sobre mim. Ele manteve seus sentimentos presos por tanto tempo, mas eu percebi desde àquela festa, desde que eu o beijei, que tudo estava perto da superfície. Ele usava sua esperança como um casaco de inverno, camadas e mais camadas em cima
dele todo. Eu não olhei para ele enquanto ele e Eric conversavam, porque eu não estava certa se eu podia impedir que a pena saísse do meu rosto, e ele odiaria ver isso. Então, eu olhei para Alfonso ao invés disso. Seu rosto estava deformado. Mesmo embora ele estivesse cerca de quatro metros e meio longe de mim, eu senti como se eu estivesse vendo-o de muito longe. Ele apenas olhou para mim por um momento mais longo, antes do seu olhar pular para Christopher e seu cenho franzido se aprofundou. Depois de alguns segundos, ele encontrou meus olhos novamente, e sustentou-os ali com seu olhar. Havia algo diferente no seu olhar, algo mudado, algo que fez meu coração bater mais forte e o cabelo formigar na superfície da minha pele. Christopher e eu terminamos nossa cena sem mais incidentes. Não foi a interpretação mais forte que ele poderia ter dado, mas eu achei que ainda era a melhor até agora. Embora eu fosse imparcial, eu imagino. Eu deveria ter ficado feliz que meu amigo tivesse problemas em até mesmo atuar em ter nojo de mim. Mas no fundo da minha mente, um pensamento estava plantado, suas raízes se cavando mais fundo apesar das minhas tentativas de empurrá-lo para longe. Se ele soubesse da razão verdadeira de eu ter dito talvez... se ele soubesse o que estava nos mantendo separados, ele provavelmente não teria nenhum problema em me desprezar. Eu estava um pouco desfocada do início ao fim do próximo teste. Tanto que Eric decidiu que era hora de dar um intervalo. Precisando de ar fresco, eu escorreguei para fora, pela Saída de Emergência (a qual nunca era utilizada), e eu soube antes que eu ouvisse a porta guinchar abrindo novamente atrás de mim que Alfonso me seguira.
— Você está indo bem —, ele disse. Eu soprei um rápido fôlego. Poderia ter sido uma risada, se eu tivesse mais energia.
— É, isso é por que você está aqui fora tentando me fazer sentir melhor.
— Minhas razões por estar aqui fora são inteiramente egoístas. Eu continuei achando que eu poderia me acostumar com ele dizendo coisas assim, sua franqueza. Eu nunca me acostumava.
— Você estava certo. Você está agindo como um cretino completo. Aquele pequeno calor que havia nas minhas palavras acabou quando ele sorriu. Ele deu a volta para ficar ao meu lado, olhando para fora em algum ponto distante no campus.
— Eu continuo achando que essa peça é uma visão. É tanto como nós.
— Eu sou a mãe cheia de luxúria nessa situação ou você? Seus olhos voltaram para mim, mergulhando e explorando as curvas e linhas do meu corpo.
— Oh, essa definitivamente sou eu —, ele respondeu. — Phaedra continua dizendo que ela está sendo egoísta. Que ela se odeia por isso, mas ela faz do mesmo jeito. Ela não pode negar para si o que ela quer, mesmo se isso traga a sua ruína e a dele.
— E você aprendeu alguma coisa do nosso paralelo literário?
— Não muito. Eu continuo achando que ela faria isso repetidamente se houvesse uma chance... uma chance que isso pudesse dar certo. Mesmo se em 99 de 100 vezes na estória acabar mal, vale a pena se ela conseguir apenas uma vez um final feliz.
— Escute, Alfonso, enquanto esse paralelo que você está desenhando é adorável, especialmente com esse sotaque, eu estou um pouco cansada de metáforas, e ser comparada à estórias de amor condenadas. Apenas diga o que você quer dizer. Eu estive confundindo textos antigos a noite toda. Eu não quero ter que decifrar você, também.
— Eu estou dizendo que eu estava errado. — Ele deu um passo mais perto, e minha exaustão fugiu, substituída com eletricidade sob minha pele. — Eu estou dizendo que eu gosto de você. Eu estou dizendo que eu não dou a mínima que eu sou o seu professor. Então ele me beijou. Eu o empurrei para trás antes que meu coração e mente se deixassem levar. O prazer que me atingiu depois do beijo já estava encerrado, então pareceu como um eco. E mesmo embora eu fosse aquela que o afastou, eu sentia a sua falta.
— Alfonso, isso é loucura.
— Eu gosto de loucuras. A pergunta era... eu gostava? Essa era a coisa mais louca que eu já tinha feito, e estava tanto me aterrorizando e me excitando. Eu recuei, precisando de distância para pensar, para acondicionar o meu cérebro ao redor da sanidade. Havia tantas formas para isso terminar mal. Mas então, em seguida, pela primeira vez na vida, eu achei minha própria vida mais interessante do que a estória de um personagem em uma página. E Deus, eu queria saber como terminava. E Eric não tinha dito que eu era melhor quando eu fazia escolhas arrojadas. Ele estava falando sobre atuar, mas isso não se confirmava para a vida, também? A mão de Alfonso roçou sobre minha testa, depois empurrou meu cabelo para trás.
— Apenas pense sobre isso. Oh, eu iria pensar sobre isso. Praticamente seria tudo o que eu poderia pensar. Ele pressionou um rápido, quase não beijo na minha testa e me deixou do lado de fora, meus pensamentos em uma desordem e meu coração uma bagunça.