Nós passamos dias dessa maneira embrulhados um no outro, entrando e saindo do sono, comendo e tomando banho quando nós sentíamos que nós podíamos. Era estranho pensar na doença como um oásis, mas é o que era. Quando nossas necessidades físicas triunfaram sobre nossos cérebros, nós não precisamos conversar, não sobre nosso relacionamento ou o que tinha desmanchado-o. Nós não precisamos resolver nada ou nos explicar. Eu nem sequer tinha que me preocupar em ser virgem ou na ideia de fazer sexo com ele. Nós embalamos um ao outro e encontramos a cura no silêncio, embaixo das cobertas, longe do mundo. Sábado, nós estávamos bem o bastante para ficar mais tempo fora da cama, comer comida de verdade, assistir a TV...e conversar. Nós estávamos deitados no sofá, minhas costas no seu peito, seu braço aconchegado ao meu redor. Nós deveríamos estar assistindo a TV, mas sua testa estava pressionada no meu pescoço, e eu estava interrogando-o sobre os primeiros dias da minha doença.
— O que Eric disse quando você ligou para ele?
— Ele não estava chateado, se é o que você está perguntando.Metade do elenco está doente agora, eu acho. Ótimo. Nosso espetáculo ia ser uma droga se nós estivéssemos exaustos todo o tempo. Nós podíamos chamá-lo como uma peça experimental – Letargia da Phaedra. Eu fiz outra pergunta.
— O que ele disse sobre você tomar conta de mim? Sua testa ergueu-se do meu pescoço.
— Ele não sabe. Ele me disse para colocar você na cama, e você ficaria bem. Ele sugeriu que eu usasse seu telefone para ligar para sua Mãe. Isso teria sido horrível. Conhecendo minha mãe, ela teria perguntado a ele quando ele planejava fazer o pedido logo após ela descobrir o seu nome.
— Mas você ficou.
— Eu não podia apenas deixar você. Eu disse a Eric que eu não estava me sentindo bem também, e eu fiquei com você.
— Mas por que?
— Você realmente tem que perguntar? — Eu tenho.
— Eu o tinha ouvido, todas aquelas semanas atrás, naquela ligação telefônica, o ouvi dizer que ele não se importava, que eu era apenas um inconveniente. Qualquer que fosse a razão por ele ter ficado... eu precisava ouvi-la. Ele disse.
—, Bem então, se nós estamos fazendo isso, eu vou fazer da maneira certa. Ele tentou sentar atrás de mim, mas nossa posição no sofá estava cômoda, e nós dois ainda estávamos um pouco fora de si, então nós terminamos emaranhados, ele praticamente em cima de mim. Eu ainda estava presa de lado, espremida embaixo dele. Ele tentou sair de cima de mim, mas ainda me fez lembrar uma tartaruga de costas. Finalmente, ele desistiu, e se levantou apenas o bastante para que eu pudesse me virar de costas, e depois ele se abaixou mais gentilmente em cima de mim. Apesar do fato de nós termos dormido na mesma cama por uma semana, isso ainda era íntimo, ainda excitante, ainda aterrorizante. Ele se manteve suspenso em seus cotovelos o máximo que ele podia, mas ele estava fraco, então seu peso ainda se pressionava em mim. Eu gostei disso.
— O que eu estava dizendo, mais uma vez? — Ele perguntou. — Oh, certo, que eu posso estar me apaixonando por você. Eu pisquei. Depois pisquei novamente. Eu pisquei-pisquei-piscando meu caminho através de uma multidão de emoções em meros segundos – choque, descrença, excitação, medo, luxúria, incerteza, e se estabeleceu em algo... algo muito grande para nomear. Havia uma galáxia dentro de mim – complexa e infinita e miraculosa e frágil. E no centro estava meu sol. Alfonso. Amor. Os dois eram como sinônimos para mim agora. Ele estava apaixonado por mim? Por mim? Um roçar da sua mão me tirou daquele universo, e de volta àquele momento.
— Você poderia deixar um homem louco com esse tipo de silêncio.
— Eu amo você, também. — Eu disse. Depois eu me lembrei que ele não tinha propriamente dito aquelas três palavras. Ele tinha dito que ele estava se apaixonando por mim. E ainda havia um posso ali. Merda.
— Eu quero dizer... o que eu deveria ter dito era que eu sentia o mesmo. Eu apenas estou me apaixonando, também. Porque já estar amando você é muito rápido. Isso seria loucura. É demais, certo? É demais. É muito rápido. Então... eu não estou amando você. Eu não. Não que você não seja adorável, é só que há uma diferença entre se apaixonar e estar amando. E nós estamos no primeiro e não no segundo, ainda não. Então, eu também posso estar me apaixonando por você. É isso o que eu quis dizer. É tudo o que eu quis dizer.— Eu estava desmoronando. Seus olhos estavam suaves e imutáveis e não dando nenhuma dica, então eu continuei transmitindo incoerência. Finalmente, ele me beijou, rapidamente, mas pareceu como uma pontuação, como se eu pudesse finalmente parar de falar. Eu suspirei.
—, Você deveria fazer isso antes de eu começar a falar como louca. Ele riu e me beijou novamente, um pouco mais longo dessa vez.
— Eu gosto da sua conversa de louco. Melhor ainda, eu amo a sua conversa de louco. Está decidido. Eu não estou mais me apaixonando. Eu definitivamente amo você. Não é demais, é?— Seu sorriso era ofuscante e tão sarcástico que eu dei nele um beliscão rápido no braço. Ele nem sequer teve a decência de parecer pesaroso. Ele apenas me beijou, pressionando todo o seu peso em mim, e esse era o melhor tipo de “demais”.
Eu sempre pensava demais, demais na minha cabeça, como Eric disse. Mas desde que eu conheci Alfonso, eu tinha uma vergonhosa tendência a parar de pensar completamente. As coisas que saíam da minha boca como uma resposta eram quase sempre vergonhosas, mas algumas vezes...elas funcionavam. Algumas vezes, dizer a primeira coisa que vinha a mente era bom. Algumas vezes simples e honesto funcionava melhor. Eu esperava que esse fosse um desses momentos.
— Eu sou virgem —, eu disse a ele. — É por isso que eu fugi naquela noite que nós nos conhecemos. Eu não tinha um gato. Eu não estava com Christopher. Eu só estava com medo. Ele parou no meio do beijo no meu pescoço. Depois, lentamente, como o delocamento-lento-de-placas-tectônicas ergueu sua cabeça. Ele olhou fixamente para mim, para dentro de mim, através de mim. Eu resisti com a urgência de esconder meu rosto, de fugir gritando, de dar outras ridículas desculpas envolvendo algum outro tipo de animal. Eu sussurrei.
—, Você poderia deixar uma mulher louca com esse tipo de silêncio. Ele reagiu – foi pequeno – a pele entre suas sobrancelhas se enrugou.
— Deixe-me entender isso direito... você não tinha um gato? Você conseguiu um gato apenas para que você não tivesse que me contar que você era virgem? Eu pressionei meus lábios para impedi-los de tremer. Eu assenti. O olhar no seu rosto estava em algum lugar entre o choque a diversão. Ele estava boquiaberto. Era a melhor palavra. Sua boca tinha estado completamente aberta.
— Você disse que amava minhas loucuras —, eu o relembrei.
— Eu amo. Eu amo você. É só que... honestamente? Eu estou aliviado.
— Você está aliviado que eu sou virgem? O que, você achou que era uma pessoa promíscua?
— Eu nunca pensaria que você era uma promíscua.— Era completamente inapropriado achar a forma como ele dizia “promíscua” adorável?— Mas eu sabia que você estava escondendo algo. Eu estava preocupado que houvesse alguma outra razão de você não querer estar comigo. Eu estive paranóico sobre isso por meses.
— Você esteve paranóico? Eu ouvi aquela ligação telefônica onde você disse que eu era um inconveniente. Você estava planejando mudar de emprego por minha causa. Eu ficava petrificada se eu alguma vez olhasse para você por muito tempo ou entregasse o quanto eu sentiria a sua falta se você fizesse as malas e partisse. —
Sobre o que você está falando? Eu nunca estive planejando partir.
— Eu ouvi você. Naquele dia que eu passei no seu escritório. Você estava no telefone com alguém na Filadélfia, e você disse que nós tínhamos terminado, que isso tinha sido apenas uma inconveniência... Ele manteve uma mão nos meus lábios.
—, Anahí agora eu irei parar a sua conversa maluca. Enquanto a nossa situação é algo exceto conveniente, você nunca foi um inconveniente para mim. E eu não teria partido nem mesmo se eles me despedissem. Eu estava muito enamorado por você.— Eu resisti com a urgência de corrigir o seu uso do passado. Ele está enamorado por mim. Ele me ama. Deus, isso era tão bom. Muito bom, eu poderia tatuar isso em algum lugar no meu corpo. Ele soprou um fôlego, e as mechas loiras na sua testa dançaram em resposta.
— A ligação telefônica realmente era sobre algo que aconteceu antes de eu partir da Filadélfia. É parte do por que eu parti da Filadélfia. Eu me lembrei daquele dia há muito tempo que eu tinha perguntado por que ele partiu da Filadélfia, ele mudou de assunto muito efetivamente me beijando. Eu não tinha me importado naquele momento. Talvez se eu tivesse, as coisas teriam acontecido diferentemente. Ele se deslocou saindo de mim, mais uma vez ficando de lado próximo a mim. Ele mal olhou para mim enquanto dizia .
—, Eu tinha uma amiga, Jenna. Nosso relacionamento era muito como o seu relacionamento com Christopher. Nós nos tornamos amigos durante e escola de graduação, e mesmo embora eu soubesse que isso era uma má ideia, nós tentamos ser mais. Eu gostava dela, mas como amigo, e nada mais. Quando eu terminei a relação – bem, foi um desastre. Nós estávamos trabalhando em um espetáculo juntos. Nós fazíamos muitos trabalhos nos mesmos teatros, assim como os antecipados ensaios de Phaedra – nós arruinamos com tudo que nós fizemos juntos. Como resultado, eu estava tendo problemas em encontrar trabalho e a maior parte dos nossos amigos tinha ficado do lado de Jen, então quando Eric me ofereceu um fora de casa, eu corri. Eu estava tão envergonhado no início. Eu ia parar. Eu ia desistir. E eu tinha perdido uma boa amiga no processo. A ligação telefônica que você ouviu era sobre a Jen. É o que estava terminado. E é por que eu tinha sido tão duro com você e com Christopher. Eu estava aterrorizado que você corresse para ele, mesmo embora eu soubesse que vocês fossem apenas amigos. Eu estava assustado que você cometesse os meus erros que eu cometi. Sinto muito. Eu lidei com tudo isso muito mal. Se eu tivesse contado a você quando você perguntou, poderia ter entendido— Foi a minha vez de pará-lo com um beijo. Eu me virei de lado, e o puxei contra mim. Eu derramei cada emoção equivocada naquele beijo – a incerteza que eu senti sobre seus sentimentos, o medo da minha virgindade, o remorso por todo o tempo que nós tínhamos perdido. Eu libertei todas essas coisas, e as despachei com o beijo.
— Eu entendo agora —, eu disse a ele. — É tudo o que importa.
— Eu amo você —, ele disse. Eu nunca ficaria cansada disso.
—, Você pode dizer isso mais uma vez? Para que eu possa ter certeza que não é a doença confundindo o meu cérebro? Eu o beijei, suavemente. No nosso estado corrente, suavidade era praticamente tudo o que nós podíamos gerir.
— Eu amo você, Alfonso. Era chocante o quanto não assustada eu estava. Não mais.