Havia momentos no teatro, quando tudo se encaixava exatamente como deveria acontecer. Os trajes e cenário estavam perfeitos, a platéia extasiada e comprometida, e a interpretação sem esforço. Essa noite foi uma dessas noites. Cada ator estava pegando fogo. E eu... eu vivi outra vida naquelas duas horas no palco. Eu vivi na vergonha. Era uma emoção familiar a mim. Eu vivi na esperança quando chegou a informação da morte do meu marido. Eu sonhei com aquele talvez... talvez Hippolytus pudesse ser meu. Eu senti o horror quando minhas afeições não foram retribuídas e quando eu aprendi que meu marido não estava morto afinal de contas. Eu experimentei a dor do remorso quando Hoppolytus foi morto baseado em falsas informações. E depois finalmente, eu senti a aceitação, o desprendimento de admitir meus crimes, e foi quase como se eu pudesse sentir o veneno que Phaedra tomou, fluindo pelo meu corpo, alcançando o meu coração. Não foi até que eu tivesse desmoronado ao chão, que as últimas falas de Theseus fossem emitidas, e as luzes esmaecessem que eu realmente saísse disso. Os aplausos começaram no escuro, e meu fôlego ficou preso na minha garganta. Eu reprimi as lágrimas que vieram com a experiência de algo tão perfeito e poderoso quanto a interpretação que eu tinha acabado de fazer. Era sobre isso o que o teatro era – esse tipo de experiência. Nós nunca seríamos capazes de recriar isso de novo. Apenas as pessoas aqui essa noite
saberiam como foi esse espetáculo. Teatro é uma vez na vida... sempre. Era como as estrelas alinhadas, porque subitamente tantas outras coisas sobre a minha vida se tornaram óbvias. As coisas que me iludiram até agora estavam estendidas na minha mente. Tudo fazia sentido, e eu não podia esperar para ver Alfonso. Os bastidores estavam um tumulto quando nós deixamos o palco após nossos agradecimentos finais. Amigos e familiares enfileirados nos corredores entre a porta do palco e os camarins. Eric estava ali, sorrindo para nós, orgulhoso do espetáculo que nós tínhamos desempenhado. Eu o abracei primeiro, tão grata por ele ter me dado essa oportunidade, e por ele não ter me dispensado naquela primeira semana quando eu estava sendo horrível.
— Melhor trabalho que eu já vi você fazer, Any, Você deveria estar orgulhosa. Eu estava, Deus. Eu estava. Meu rosto pareceu dividido pelo meu sorriso. Alfonso estava atrás dele, e apesar de ter sido arriscado, eu o abracei também. Ele não me segurou muito, apenas o bastante para sussurrar, “Brilhante,” no meu ouvido. Depois eu me perdi na multidão. Eu estava pegajosa com suor, e meu vestido parecia tão pesado quanto outra pessoa se pendurando em mim, mas eu saboreei os abraços e agradecimentos que se derramavam sobre mim. E quando eu estava de volta ao camarim... Eu dancei. Todos nós dançamos. Maite ligou o seu Ipod, e nós celebramos enquanto nós retirávamos as camadas de roupas. Nosso camarim estava cheio com flores, as quais ajudaram a mascarar o suor. Quando nossas coisas estavam descartadas, vestidas com roupas de verdade, e nossa maquiagem artística removida e a verdadeira maquiagem reaplicada, nós fomos para a festa em outro lugar. Nós estávamos nos encaminhando para o SideBar, o único bar fechado no campus que permitia pessoas abaixo de vinte e um, uma obrigação onde todo o elenco estava indo. Eu fiquei surpresa em encontrar Christopher esperando do lado de fora do camarim quando nós saímos. Ele apareceu ao meu lado.
— Ei, eu posso dar a você uma carona ao SideBar? Isso era surpreendente, mas certamente agradável. Eu disse a ele.
—, Isso seria ótimo, mas eu estou planejando ir embora mais cedo. Eu estou muito cansada.
— Oh —, ele assentiu.
— Bem, você se importa se eu pegar uma carona com você, e eu irei encontrar outra carona para casa depois?
— Claro, está bom para mim. Nós caminhamos ao meu carro em silêncio, e eu balancei minas chaves para preencher o espaço com barulho. Eu liguei o carro, e imediatamente diminui o rádio.
— Então, quais são as novidades, Christopher? Ele mexeu no seu cinto de segurança. Nervoso. Ele não respondeu a minha pergunta, mas ao invés disso perguntou,
— Como estão as coisas com o Alfonso? Franzindo o cenho, eu saí do estacionamento, observando-o do canto do meu olho.
— Por que?
— Me desculpe. Isso é estranho? Eu não quis dizer que isso é estranho, eu estava apenas tentando ser amigável. — Ele pareceu tão desconfortável. Como nós tínhamos nos reduzido a isso? Eu disse —, Não é estranho, Chris, Desculpe. Eu só estou... um pouco cautelosa só isso. As coisas estão ótimas, realmente. Ele assentiu .
—, Bom. Isso é bom. Depois de gastar tanto tempo com Alfonso, eu tinha me esquecido como era lidar com caras que não diziam apenas o que eles estavam pensando.
— Apenas me conte sobre o que você quer falar, Chris, O que quer que seja, está tudo bem. Ele respirou fundo. Ele ainda estava nervoso, mas ele não estava mais se mexendo.
— Eu tenho uma pergunta, mas eu tenho bastante certeza que seja intromissão, e eu só não quero avançar nenhuma fronteira.
— Chris, eu sei que as coisas tem sido difíceis. Mas eu ainda considero você como um dos meus melhores amigos. Eu quero que você seja um dos meus melhores amigos novamente. Pergunte-me qualquer coisa.
— Vocês ficarão juntos após a graduação? Minha reação visceral foi.
—, Sim. — Mesmo embora nós não tivéssemos conversado sobre isso, não em muitas palavras. Nós implicamos isso, com certeza, com toda a “coisa de um mês”, mas nós realmente não tínhamos tido essa conversa de verdade. — Vocês vão ficar aqui? Ou se mudar para a Filadélfia? Ou outro lugar? Eu entrei no estacionamento, usando a busca por uma vaga como uma desculpa para reunir meus pensamentos. Essa definitivamente não era uma conversa que nós tivemos, sem importar o quanto eu tinha pensado sobre isso.
— Por que você pergunta? Ele bagunçou o seu cabelo, e eu resisti com a urgência de dizer, “Apenas desembuche isso já!”
— Bem... eu me inscrevi em uma escola de pós-graduação alguns meses atrás, antes... bem... antes de tudo. E eu realmente não tinha achado que eu fosse, mas eu fui aceito, e agora eu estou pensando que eu possa realmente gostar disso.
— Jura? Isso é ótimo, Chris!
— É a Temple, na Filadélfia.
— Oh. — Essa era a escola onde Alfonso estudou.
— E eu só não tinha certeza se vocês dois iam estar na Filadélfia, e se vocês achariam que isso seria estranho por eu estar lá, também. E se não for, eu achei que talvez nós pudéssemos ainda... você sabe, sair. Se estiver tudo bem para o Alfonso. Uma imagem começou a se formar na minha mente de como aquela vida poderia ser. Era um pensamento muito bom.
— Eu não sei se nós estaremos na Filadélfia ou não. Mas se nós estivermos... não, não seria estranho. E sim, nós iríamos sair. E Alfonso pode estar bem com isso ou não estar bem com isso; ele não decide o que eu faço. Eu fui sincera no que eu disse, Christopher, Eu realmente quero que nós sejamos amigos novamente. Ele sorriu, relaxou em seu assento, finalmente.
— Eu também.