Fanfic: O brilho do teu olhar AyA [terminada]

CAPÍTULO V

Segunda-feira, 27 de março.

Por quê, afinal, Christopher e Dulce resolveram se casar? Nin­guém mais se casa hoje em dia. Por que não resolvi ir esquiar? Poderia ter quebrado um braço ou uma perna, e estaria imobilizada... quem sabe, quebraria só o nariz. Quem iria querer uma dama de honra com ataduras no nariz? Entretanto, seria doloroso... mas não tanto quanto ir ao cabe­leireiro. E porque Alfonso me beijou?

- Bem isso vai ser fácil.

Sentada em um salão todo cor-de-rosa em Mayfair, e evitando olhar para o reflexo de seu rosto no espelho, com olheiras sob os olhos e os cabelos muito cacheados, Anahí piscou diversas vezes.

- Fácil?

Jamais alguém dissera que penteá-la era algo simples.

O cabeleireiro sorriu-lhe no espelho.

- O segredo é não brigar com o tipo de cabelo, mas aproveitar o efeito ao máximo.

- Mas não gosto de cabelos crespos. Quero um penteado que os deixe lisos, macios, como nos anúncios de xampu na televisão.          

Dessa vez o cabeleireiro riu de verdade.

- Sim. E eu gostaria de ter um metro e oitenta de altura e parecer com Alfonso Redford. Precisamos tomar partido dos pontos fortes que temos, menina, e você tem cabelos fartos e saudáveis.

- E encrespados.

- E com cachos - acrescentou o homem. - Aprenda a gostar deles.

Gostar? Isso jamais passara pela mente de Anahí. Desde que se conhecia por gente, ouvia dizer que seus cabelos eram um desastre. Tentara alisamentos, usara todo os condicionadores disponíveis no mercado...

O cabeleireiro notou sua surpresa e disse:

- Vou deixá-la se acostumar com a idéia.

Todos os cabeleireiros costumavam falar com Anahí de modo carinhoso, como a esperar que ela se conformasse com o resultado, quando falhassem em ajeitar seus cabelos.

Mas aquele homem ali parado era cheio de confiança e a deixava relaxada.

Entregou-se a seus cuidados, deixando que aparasse um pouco a ponta dos cabelos e os lados. Por fim, com os dedos, ele os massageou, e declarou-se satisfeito.

- Isso é tudo?

Não parecia nada diferente, exceto que a cabeleireira já não dava a impressão de ser uma vassoura de pêlos, mas algo planejado e bonito. Anahí perguntou:

- Não vai colocar rosinhas?

- Hoje não. No dia do casamento veremos como aplicar uma ou duas flores pequenas, e será tudo. Você está linda!

Anahí pensou que era muita bondade do cabeleireiro. Só esperava não parecer ridícula, ao lado das belas morenas.

- Gostaria de ser assim confiante.

- Não precisa, querida. Basta que saibam que você se penteou comigo. As fotos sairão nas revistas de moda e, pro­meto, não a deixarei entrar na igreja sem estar perfeita. - Sorriu, retirando o avental que cobria Anahí. - Nesse meio tempo, pare de usar elásticos e de prender os cabelos para trás. E seria bom ter uma boa noite de sono na véspera do casamento ou usar um corretivo para amenizar essas olheiras. Lembre-se, as pessoas precisarão reparar em seus cabelos.

- Tudo bem.

Por um instante, o cabeleireiro pareceu divertido ao ver a indiferença de Anahí. Outras garotas teriam pulado em seu pescoço, agradecidas.

- Peça a minha recepcionista para aconselhá-la sobre o corretivo facial.

Anahí obedeceu. A moça do salão de beleza sabia lidar com olheiras, mas nada havia a fazer contra a insônia.

Anahí sentia as pálpebras pesadas enquanto folheava o catálogo de vendas, tentando concentrar-se e esquecer o bei­jo de Alfonso, conforme. tentara fazer por toda a noite anterior, sem sucesso.

Acordou sobressaltada, quando a cabeça bateu sobre a mesa.

Por um momento não se lembrou de onde estava. Então, passou as mãos sobre os olhos e olhou para o relógio. Hora do almoço. Talvez uma volta pelo parque a ajudasse.

Alfonso voltara a se concentrar em Samuell Jaycobs, no do­mingo à noite, e descobrira que o sr. Jaycobs fundara uma empresa de importação no século dezenove, com o propósito de lançar no mercado artefatos orientais, e morrera sem deixar herdeiros quando seu navio afundara nos mares da China.

A empresa que levava seu nome continuara e ainda im­portava obras de arte do Oriente. Entretanto, duvidava de que Anahí estivesse apaixonada por uma firma, mesmo que lidasse com artigos orientais.

Riscando de modo definitivo o nome de Samuell Jaycobs, viu-se perdido.

Já eliminara as três possibilidades. Connrad Peterson ja­mais parecera um provável candidato a amante secreto de Anahí mas, de qualquer modo, Alfonso checara.

Parecia ser um colecionador famoso, fato pelo qual, sem dúvida, Anahí guardava seu nome na agenda, porém o mo­tivo real de sua fama estava longe de ser exótico.

Peterson tivera que fazer um acordo de divórcio milionário com a ex-esposa que o encontrara tendo um romance com outro homem.

Alfonso maldisse o amigo Christopher. Por que ser tão zeloso e não revelar quem era o namorado da irmã?

Alfonso imaginou se Dulce sabia quem era. Mas não podia telefonar e ir perguntando, sem mais nem menos... precisava de uma boa desculpa. Ou, melhor ainda, um motivo para se encontrarem.

- Dulce, aqui é Alfonso. Gostaria de saber se pode me fazer um favor. Preciso de alguns metros do veludo amarelo igual ao que suas damas de honra vão usar.

- Como sabe sobre o veludo amarelo? Era um segredo de Estado!

- Não direi a ninguém. Mas preciso do tecido.

- Isso é chantagem. E para que precisa?

- Para fazer uma surpresa para Anahí.

- Espero que seja uma surpresa agradável.

- Juro que sim! Pode deixar o veludo em meu escritório esta tarde? Então lhe darei uma xícara de chá com biscoitos e contarei meu segredo.

- Farei o possível, mas é bom que sua desculpa seja boa, Alfonso.

Antes do almoço, Alfonso enviou uma caixa para Anahí, com um bilhete.

- Mary - disse à secretária -, vou sair por alguns minutos. - Tem uma conferência e o almoço. - Voltarei a tempo.

- O que é isso?

Anahí olhou, desconfiada, para o embrulho sobre sua es­crivaninha, ao voltar da prova definitiva do vestido, trazendo a enorme caixa debaixo do braço.

George deu de ombros.

- Um motorista de táxi entregou há dez minutos. Há um bilhete.

Anahí reconheceu a letra do remetente e tentou fazer o coração se acalmar. Há muito parara de construir castelos no ar a res­peito de Alfonso, mas depois do beijo, não conseguia evitar. Leu:

"Querida Anahí,

Fui informado de que o padrinho deve tomar conta de todas as damas de honra, não apenas das bonitas, por isso tentei me assegurar de que não perdesse o almoço por causa da prova do vestido.

Alfonso.

P.S.: Obrigado pelo lanche da noite."