Fanfic: O brilho do teu olhar AyA [terminada]

- Deixe disso, garota! - Alfonso também se levantou. - É a única mulher que conheço com quem posso falar sem rodeios porque tem bom senso. - Examinou Anahí de alto abaixo. - Exceto quando se trata de roupas. Você se veste como sua avó. Bem... como dama de honra, não vai ter que mostrar as pernas.

- E o que há de errado com minhas pernas?

- Nada, até onde consigo me lembrar. Faz tanto tempo que não as exibe... Apenas lembrei que tem joelhos salientes. Talvez seja por isso que insista em mantê-los cobertos. Só usa calça comprida, jeans, saias longas... - Voltou a sorrir de modo encantador. - Não vai querer que minta e diga que vai ficar linda de amarelo, vai?

Anahí pensou que gostaria muito de ouvi-lo mentir, pelo menos uma vez na vida, mas sempre eram francos um com o outro.

- Somos amigos - continuou Alfonso -, e amigos não mentem entre si.

Sim, eram amigos, meditou Anahí. Talvez Alfonso não a cortejasse com rosas nem a levasse a restaurantes caros, po­rém, pelo menos, não a abandonava depois de alguns meses.

Se desejava fazer parte permanente da vida de Alfonso, as coisas precisavam continuar assim.

Ela, na verdade, era uma peça vital na vida do amigo. Ele lhe contava tudo. Sabia coisas a seu respeito que, tinha certeza, nem seu irmão sabia.

Anahí era boa ouvinte e sempre estava à disposição, nos intervalos em que Alfonso ficava sem namorada. Então, saíam para almoçar, ou ele a acompanhava a alguma festa.

Em geral, nessas festas, acabava encontrando uma garota interessante e arrumava um outro rapaz para levá-la para casa. Alguém confiável e maçante. Depois passava semanas aborrecendo Anahí e perguntando pelo novo "namorado".

Anahí suspirou:

- Não, Alfonso, não quero que minta para mim. - Consultou o relógio. - Tenho que ir experimentar o vestido. É muito decotado, e as outras garotas têm colos bonitos para exibir. - Use um daqueles sutiãs que levantam o busto.

- Usa-se isso quando existe o que levantar. Alfonso não insistiu.

- Não se preocupe, Anahí. Tudo dará certo. - Mudou de assunto. - Monty vai dar uma festa no sábado. Vou buscá-la às oito horas, e poderemos jantar antes.

Jamais ocorria a Alfonso que ela poderia ter outro com­promisso. Por um momento, teve vontade de dizer que já tinha programa para sábado, mas não conseguiu.

- Venha me buscar às nove e meia - respondeu, ten­tando parecer difícil.

Alfonso franziu as sobrancelhas, repetindo, surpreso:

- Nove e meia? Tão tarde assim?

- Na verdade, às dez horas será melhor. Lamento, mas o jantar ficará para outra vez.

- Tem certeza de que pode ir à festa?

O tom de voz era preocupado, e Anahí se sentiu vingada. Alfonso perguntou:

- Não está namorando alguém, está? Você é minha ga­rota, sabe disso.

- Nada disso. Sou sua amiga. Há uma grande diferença. Mas, de qualquer modo, pretendo ir à festa de Monty e agradeço a carona.

Alfonso precisava saber que, de vez em quando, ela não estava à disposição, ponderou Anahí. Não importava se teria que ficar em casa comendo um sanduíche, em vez de jantar em um belo restaurante.

Então, contente por ter lançado uma sombra no bom hu­mor de Alfonso, deu-lhe a face para beijar, sentindo a exci­tação que os lábios dele lhe provocavam.

Seria tão fácil prolongar o almoço com sobremesa e café... mas Anahí não era de ferro, e fazer o papel de irmãzinha às vezes era muito cansativo.

Além disso, não ficar sempre junto a Alfonso era o único motivo, talvez, de ele não se cansar de sua companhia.

- Obrigada pelo almoço. Vejo-o no sábado.

De modo brusco, Anahí saiu do restaurante, sem olhar para trás. Naquele dia fora muito difícil fingir, mais difícil que o habitual. Alfonso estivera muito vulnerável, mais do que sempre.

Teria sido tão fácil desistir da prova do vestido e sugerir que dessem um passeio no parque, de braços dados... Depois o convidaria a ir a seu apartamento com a desculpa de mos­trar-lhe o novo computador, e lhe serviria café e conhaque...

O problema é que conhecia todas as pequenas fraquezas de Alfonso muito bem. Naquele dia, vulnerável porque fora abandonado por uma namorada inteligente, sua auto-estima estaria arranhada e talvez tivesse a fantasia de descobrir o que Anahí Puente escondia sob as calças compridas, as saias longas, todas as roupas nada sensuais que ela insistia em usar quando se encontravam.

E então, se algo acontecesse entre os dois, na semana seguinte, Alfonso conheceria uma garota bonita e elegante, e tudo terminaria, inclusive a amizade.

Não haveria mais almoços, nem os passeios nas manhãs de domingo quando ele passava por sua casa para irem pescar ou levar os cachorros a passear.

Não existiria mais nada, a não ser uma sensação de mal­estar todas as vezes em que se encontrassem por acaso.

E, pior que tudo, Anahí teria de fingir que não se impor­tava, porque se o irmão Christopher soubesse da verdade, jamais perdoaria Alfonso por fazê-la sofrer.

Embora de vez em quando Anahí achasse que um romance com Alfonso a faria esquecer aquela obsessão, tentava vencer a tentação. Podia ser boba, mas não era estúpida.

A última coisa que desejava na vida era se curar daquela mania.

- Mais café, senhor?

Ante a pergunta do garçom, Alfonso balançou a cabeça em negativa, guardou o cartão de crédito e, de modo im­pulsivo, saiu apressado, esperando alcançar Anahí para que pudessem atravessar o parque juntos.

Anahí costumava caminhar muito, e sempre usava sapa­tos baixos e confortáveis ou botas, mesmo em Londres.

Era tão agradável ficar em sua companhia... Sempre fora, mesmo quando era uma menina, seguindo ele e Christopher por todos os cantos.

Alfonso franziu o cenho. O que havia de errado com ama­relo? Qual o problema em ser apenas "bonitinha"? E, pen­sando bem, o que havia de errado com uma pata?

Da calçada, pôde vê-la caminhando muito à frente, os cabelos balançando, enquanto atravessava o parque. Era tarde para alcançá-la.

Alfonso deu de ombros. Ora! Iria vê-la no sábado. Mas... às dez horas? O que Anahí tinha de fazer até às dez da noite?

Chamou um táxi.

Apenas vestindo a roupa de baixo e vendo seu reflexo em uma impiedosa seqüência de espelhos, Anahí sentia-se péssima, quase grata por poder se cobrir com o veludo ama­relo, apesar de aquela cor não combinar com sua tez nem com seus cabelos loiros.