Fanfic: O brilho do teu olhar AyA [terminada]

A costureira, com um punhado de alfinetes presos à boca, tentava ajeitar o vestido. Por fim, anunciou:

- Por hoje está feito. Pode vir na semana que vem?

- Posso subornar a senhora para que estrague o vestido, jogando café ou tinta sobre ele?

A mulher pareceu surpresa.

- Por quê? Não gostou?

- Com o tom de minha pele? Jamais teria escolhido amarelo.

- Bem, existe uma primeira vez para tudo.

- Sim. E última também.

- É apenas diferente. Com a maquiagem certa, ficará uma bonita dama de honra.

Beleza era o grande sonho da mãe de Anahí, mas não desejava dar a impressão de querer competir com as outras damas de honra.

- Anahí! Chegou cedo!

Dulce irrompeu porta adentro, acompanhada pelo séquito das demais damas de honra.

- Não, querida. Você é quem se atrasou.

- Verdade? Meu Deus! Fomos fazer limpeza de pele. Deveria ter vindo também.

Anahí matutou que o comentário podia dar dupla inter­pretação, mas concluiu que Dulce não desejara ser indeli­cada. Nada havia de malicioso ou maldoso em Dulce e, apesar de ter consciência das falhas em sua silhueta, Anahí sabia que nada havia de errado com sua pele, embora o nariz e a boca fossem grandes demais...

Retornou à galeria de arte quase sem fôlego.

- Ora, Anahí, aí está você!

Sim, e era provável que lá permanecesse por toda a vida, como a eterna amiga e acompanhante eventual de Alfonso Herrera. Tratou de recobrar o ânimo. Sentir pena de si mesma de nada adiantaria.

- Desculpe, George. Avisei que talvez fosse me atrasar.

- Avisou?

George Latimer tinha quase setenta anos e, apesar de conhecer artefatos orientais como ninguém, nos últimos tem­ pos sua memória deixava a desejar.

- Tive que fazer a prova do vestido de dama de honra.

- Oh, sim! E foi almoçar com Alfonso Herrera. Anahí parou em meio ao gesto de pendurar o paletó. Dis­sera que iria almoçar "com um amigo", mas não mencionara o nome de Alfonso.

Olhou para George com ar de interrogação.

- Suas roupas a denunciaram, querida.

- Verdade?

- Está coberta do pescoço aos tornozelos com a roupa mais sem graça que já vi. Diga-me uma coisa: tem medo de que ele a seduza dentro do restaurante se usar algo mais revelador?

A expressão surpresa de Anahí não o enganou. Sua me­mória podia não ser das melhores, mas nada havia de errado com seus olhos. E ser observador era um predicado essencial em sua profissão.

- George, não sabia que conhecia Alfonso.

- Já nos encontramos algumas vezes. Conheço a mãe dele, mulher encantadora e grande conhecedora de antigui­dades. Você sabe disso. Quando disse que procurava por uma assistente, ela sugeriu seu nome.

Anahí sentou-se.

- Não fazia a mínima idéia, George.

Jennifer Herrera sempre fora amável, e sentia pena da adolescente magricela sempre em volta de seu belo filho. Anahí dizia adorar os livros sobre antiguidades para poder voltar à casa dos Herrera com freqüência.

Isso influenciara seus estudos e até acabara se formando em Belas-Artes.

É claro que deixara de ir visitar Jennifer com regularidade depois que flagrara Alfonso beijando Lorraine Summers.

Naquela época tinha dezesseis anos, parecia um feixe de ossos e tinha uma cabeleira que lembrava uma vassoura felpuda. De nada adiantava sua mãe tentar alisar aqueles cabelos rebeldes.

Todas suas amigas, naquele tempo, haviam começado a se transformar em lindas moças, belos cisnes, enquanto ela continuava sendo um patinho feio. Mas não se importara mui­to, pois as amigas que tentavam se aproximar de Alfonso só recebiam um sorriso irônico. Eram muito jovens para ele.

Anahí se contentava em ficar sentada e pescar a seu lado por horas seguidas. Sentiu-se premiada no dia em que Alfonso a presenteou com uma vara de pescar velha e a ensinou a usá-la.

Aquele presente e o beijo que lhe dera na véspera do Natal causaram-lhe emoções que prevaleceram até o mês de junho, quando o vira beijar Lorraine Summers, e des­cobrira que a carícia que recebera fora apenas um gesto de afeição e amizade.

Beijos podiam variar muito...

Lorraine tinha um corpo com curvas sensuais e cabelos sedosos.

Depois disso, Anahí só fora visitar Jennifer Herrera quando sabia que Alfonso não estaria em casa.

Mas de vez em quando o via. Christopher fora fazer um curso nos Estados Unidos, mas mesmo assim, Alfonso costumava aparecer na casa dela para fazer uma visita. Então, Anahí lhe preparava sanduíches e café.

Suas lembranças foram interrompidas com o comentário de George Latimer:

- A mãe de Alfonso se preocupa com ele.

- Por quê? Ele é um sucesso em todos os sentidos.

- Do ponto de vista financeiro, sim. Mas, como qualquer outra mãe, Jennifer gostaria de vê-lo bem casado e com uma família.

- Então terá que esperar muito. Alfonso é um feliz sol­teirão. Tem um apartamento em Londres, um Aston Martin na garagem e a companhia da garota que desejar para esquentar sua, cama. Não vai abrir mão de tudo isso para montar casa no subúrbio, ter uma caminhonete e passar noites em claro por causa do choro de bebês.

George não rebateu, mas perguntou:

- Então é por isso que se veste assim quando vai se encontrar com ele?

Anahí sabia como George Latimer era astuto.

- Somos bons amigos, e é assim que desejo que as coisas continuem. Não quero que me confunda com uma de suas garotas.

- Percebo.

Anahí não estava gostando das atenções que George lhe dirigia naquela tarde, portanto tratou de ir para sua sala, pondo um ponto final naquela conversa.

- Quer uma xícara de chá, George? Depois poderemos examinar aqueles catálogos. Acho que era por isso que es­tava me esperando mais cedo.

George Latimer olhou para o grosso catálogo como se nunca o tivesse visto antes.

- Oh, sim! Há uma ótima coleção de cerâmica para ser leiloada. Gostaria que tomasse conta disso.

Anahí sentiu uma onda de satisfação ao ver como George confiava nela. O senhor idoso continuou:

- Mas, já que vai tomar conta dos interesses da galeria, peço que se afaste de Alfonso Herrera enquanto estiver com essa incumbência. - Olhou-a por sobre os óculos, e explicou: - Use seu conjunto vermelho com a saia curta quando comparecer ao leilão de arte. Gosto dele.

- Não sabia que tinha tanto interesse em minhas roupas, George.

- Sou um homem e aprecio coisas bonitas. Por acaso tem sapatos de salto bem alto para usar? Fará bela figura no leilão.

- Estou chocada, George! É a coisa mais sexy que já ouvi na vida. Na verdade, vi uns pares de sapatos que ado­raria comprar. Posso cobrar como despesas a serviço?

- Bem, só se prometer usá-los também quando se en­contrar com Alfonso Herrera para o almoço. Precisa ser sexy também para ele.

- Nesse caso, terei que calçar meus velhos sapatos de salto baixo. Que pena!