Fanfic: O brilho do teu olhar AyA [terminada]

CAPITULO II

Sábado, 25 de março.

Comprei os sapatos. São sensuais e muito caros, e usei o dinheiro que papai me mandou em meu aniversário. Oh, que vontade de usá-los na festa de Monty, hoje à noite! Usaria se Alfonso não estivesse lá. Será que mais alguém, além de George, nota que uso roupas diferentes quando ele está por perto? Talvez Christopher note. Mas tenho certeza de que Christopher conhece meu segredo. É provável que continue sendo uma "donzela" quando Alfonso se aposentar. E continuarei voltando para minha casa solitária.

Anahí teve tempo de sobra para escolher o que vestir para a festa. Tempo suficiente para chamar a si mesma de idiota, centenas de vezes.

Poderia estar jantando em um pequeno e lindo restaurante na companhia de Alfonso e, em vez disso, por orgulho, escolhera mordiscar um sanduíche de queijo e assistir a um programa de auditório na televisão. O fato que fora a opção mais sensata a tomar, não melhorava seu estado de espírito.

Aquele não era modo de conduzir sua vida. Desligou a televisão, abandonou o sanduíche pela metade, e foi verificar o guarda-roupa. Só porque não desejava se juntar à legião de fãs de Alfonso, não era motivo para evitar outros rela­cionamentos, pelo menos para agradar a mãe.

Talvez não pudesse competir com as charmosas e eston­teantes garotas de Alfonso, mas seu corpo magro çomo o de uma modelo, agradava a alguns homens. A maioria dos rapazes que Alfonso convencera a levá-la para casa, em di­versas ocasiões, tinham tentado um novo encontro. Alguns, até, eram bem persistentes...

Um pensamento terrível cruzou a mente de Anahí. Não! Alfonso não teria coragem de fazer tal coisa! Anahí corou de humilhação, ao pensar que o amigo poderia ter encorajado os outros para serem... agradáveis com o patinho feio.

Será que Alfonso só se oferecia para levá-la às festas pen­sando em lhe conseguir um namorado? Será que sua mãe lhe pedira para fazer aquilo? Com um suspiro, Anahí concluiu que era muito provável.

Podia até ouvir sua mãe dizendo: "Alfonso, há dúzias de bons rapazes trabalhando em seu banco. Pelo amor de Deus, arrume alguém para Anahí, antes que ela acabe ficando para titia..."

Pelo menos sua santa progenitora jamais atirara Alfonso em seus braços. Sem dúvida o considerava bonito demais, popular demais para o membro mais feio da família Puente.

Anahí pegou uma calça de seda. Pretendia usá-la com um suéter preto simples. Seria elegante e muito discreto. Se tivesse certeza, de repente, que Alfonso não compareceria à festa, poderia usar algo mais vibrante.

E, por que não usar, de qualquer modo?

Afinal, se Alfonso a considerava tão sem atrativos ao ponto de empurrar os amigos em sua direção, não faria diferença o que ela vestiria.

Oh! Por que tudo era tão complicado?

As lágrimas começaram a cair pelo rosto de Anahí sem que ela conseguisse evitá-las. Tentava usar de bom senso, mas amava Alfonso demais. Não se importava com sua carreira brilhante, seu cargo importante, o dinheiro, os carros velozes, a beleza máscula. Amava-o apenas por ser Alfonso.

Pensara que indo para a universidade tudo terminaria. Imaginara encontrar alguém que substituísse Alfonso em sua vida. Talvez não houvesse se empenhado o suficiente e, no íntimo, sabia não desejara encontrar outro. Porém, no momento presente, deveria lutar para vencer aquele sen­timento, antes que fizesse algo muito idiota.

Prometeu a si mesma tomar providências logo depois do casamento de Dulce, e enxugou as lágrimas.

Pararia de ficar sempre à disposição de Alfonso. Procuraria se ocupar com outras coisas. Poderia fazer tricô, por exemplo.

Anahí suspirou. Estava sendo patética! Muito bem. Poria fim naquela história de imediato. Durante a festa daquela noite, não esperaria que Alfonso a convidasse para dançar. Encontraria um namorado por conta própria.

Pintou as unhas em um tom forte de vermelho, enchar­cou-se de perfume e, em vez de prender os cabelos, deixou-os soltos e ondulados. Não eram os cabelos que apareciam nos comerciais de televisão, mas eram fartos e brilhantes.

Certa vez, tentara um corte bem curto, mas ficara pare­cida com um "poodle". Percebera que, se cortasse os cabelos, cada vez ficariam mais ondulados.

O som da campainha fez Anahí dar um pulo. Examinou o relógio; ainda não eram dez horas. Alfonso chegara cedo, e isso era um bom sinal.

- Chegou adiantado, Alfonso.

- Então vou tomar um drinque enquanto a espero - respondeu a voz no interfone.

Anahí apertou um botão e abriu a porta do prédio, en­quanto voltava ao quarto e pintava os lábios com batom vermelho, no tom das unhas.

- Há vinho na geladeira - gritou.

- Quer também, Anahí?

- Sim. - Bem que precisava se animar.

Anahí colocou brincos de prata muito exóticos e calçou os sapatos novos. Examinou-os por um instante e, depois, de modo covarde, substituiu-os por sapatos mais baixos.

Alfonso estava na cozinha, os ombros largos realçados pelo terno elegante e claro, e a camisa verde-escura.

Examinou-a de alto abaixo, observando a calça de boca larga, o suéter preto e curto, com detalhes prateados, que cruzava sobre os seios pequenos, amarrando atrás, na cintura, como uma blusa de ensaio de bailarina, e... não disse nada.

Achou que parecia uma menina pequena que estivera brincando com o estojo de maquiagem da mãe, mas guardou o comentário para si.

Porém Anahí leu tudo em seu olhar, e teve ímpetos de sair correndo e lavar o rosto com sabonete.

Por fim, Alfonso estendeu-lhe um copo com vinho, dizendo.

- Teve algum encontro especial? Não pôde jantar comigo lembra-se?

- Oh! Foi apenas um compromisso na galeria.

Era melhor que a desculpa se referisse a trabalho, pensou.

- Uma exposição? Poderia ter me avisado. Estou procurando um presente para dar a minha mãe, no aniversário dela.

- Verdade? E o que tem em mente?

- Não sei ao certo.

- Então - persistiu Alfonso -, era uma exposição?

- Não exatamente...

Alfonso ergueu uma sobrancelha em um gesto de interrogação, e bebericou o vinho, sem fazer comentários, mas deixando Anahí com a desagradável sensação de que não acreditara em nenhuma palavra que dissera.

Mas o que poderia ter dito?

- Não deve permitir que George Latimer a faça trabalhar tanto.

- Ele não faz isso, Alfonso. Adoro meu trabalho. Vamos?

Alfonso Herrera chegou à calçada e, com gesto automá tico, fez sinal para um táxi.

- Poderíamos ir caminhando - comentou Anahí.

- Se trabalhou até agora, merece ir de carro.

Mal dissera as palavras, ficou pensando por que usara o "se". Anahí tinha um ar de culpada e estava muito bonita, algo fora do comum. Se George Latimer fosse trinta anos mais jovem, suspeitaria de que estavam mantendo um romance.

Ridículo! Porém, aquela história de trabalhar até tarde era estranha.

Entraram no táxi e, mesmo no lusco-fusco, pôde ver o olhar brilhante de Anahí a seu lado. Ela ficara muito corada, como se tivesse algo a esconder.

Pensava conhecê-la muito bem, mas, afinal, o que fazia quando não estavam juntos?

Anahí nunca falava muito a seu próprio respeito. Ou, quem sabe, ele nunca perguntava? Não podia ser isso. Sabia lidar com as mulheres e conhecia Anahí muito bem.

Entretanto, a garota sentada a seu lado, naquele instante, era uma estranha.

Sempre pensara em Anahí como a irmã caçula de Christopher. Bom caráter, divertida, e que nunca se preocupava em sujar o vestido ou ficar descabelada.