Fanfic: O brilho do teu olhar AyA [terminada]

- Precisa se valorizar mais, Anahí. - A mãe acompanhou as palavras, sacudindo a cabeça com desânimo. - Não se importa com a impressão que dá? Deveria seguir o exemplo de Sarah.

A irmã de Anahí, Sarah, e o marido estavam sentados na sala de estar, como duas estátuas, assegurando-se que os filhos, muito bem vestidos, não se sujassem.

- Vamos à igreja para o ensaio do casamento de Christopher, mamãe. Não a um desfile de modas. Posso ajudá-la na cozinha?

- Não é necessário, Anahí. Está tudo sob controle. Vamos subir e verei o que posso fazer com seus cabelos.

Anahí lançou um olhar de súplica para o pai. David Puente pigarreou e olhou para o relógio.

- Acho que vou dar uma volta.

A esposa fez um gesto impaciente com a mão, dispen­sando-o, enquanto subia correndo com Anahí, e passava a examiná-la, como um tubarão faminto.

Vinte minutos depois, Margaret Puente deu-se por ven­cida e permitiu que Anahí fizesse sua trança habitual.

- É culpa de seu pai.

- O quê, mãe?

- Toda sua família tem cabelos impossíveis. Christopher e Sarah puxaram a mim, graças a Deus, mas você... – A sra. Puente suspirou. - Precisa fazer algum tratamento nesses cabelos, antes do casamento.

- Sim, mamãe. Dulce me deu o telefone do seu cabe­leireiro. Ele virá para pentear todas as damas no dia do casamento, mas quer me ver primeiro, pois já sabe que meu caso é difícil. Marquei a primeira hora na segunda-feira para um teste.

- Ainda bem. - Margaret não parecia convencida. Re­lanceou um olhar aborrecido para a saia cinzenta e sem graça que a filha usava.

- Não é tarde para mudar, você sabe. Essa saia é tão feia e comprida... Tenho um conjunto cor-de-rosa que ficaria perfeito.

Cor-de-rosa! Amarelo! Anahí pensou que bastaria colocar um pouco de chantilly na cabeça e ficaria parecida com um sundae. Suspirou.

- Já me convenceu a me vestir de dama de honra, mãe. Isso não basta? Por favor.

A mãe tentou se dominar e, depois, deu de ombros, fin­gindo não se importar. Perguntou:

- Como são os vestidos das damas de honra?

- Lindos! - exclamou Anahí.

Qualquer assunto era válido na tentativa de mudar de assunto. E os vestidos eram mesmo bonitos, se fossem para morenas. Quem sabe, pensou, devesse comprar um sutiã que levantasse o busto, conforme Alfonso sugerira. Ele devia entender dessas coisas.

Não possuía encantos naturais, porém, pelo menos, po­deria dar uma pequena alegria à mãe.

Naquele instante o irmão Christopher chegou a casa, e a sra. Puente saiu correndo para recebê-lo, já esquecida dos problemas com Anahí.

- Olá, mana.

Christopher a abraçou e deu um sorriso irônico, ao conseguir se desvencilhar da mãe. Sussurrou para Anahí:

- Veja se não a deixa ficar o tempo todo atrás de mim.

- Sem problemas. Onde está Dulce?

- Deixei-a em sua casa. Vai à igreja com os pais. E você? Sozinha?

- Bem, na festa de ontem conquistei um rapaz lindo. Mamãe o teria adorado, mas, infelizmente Alfonso o desa­provou e mandei-o embora.

Ante o olhar surpreso do irmão, acrescentou:

- Já foi casado duas vezes.

- Oh! Percebo. Bem, Alfonso sempre foi muito protetor a seu respeito.

Anahí sentiu as faces em fogo. Pressentia que Christopher era a única pessoa no mundo que conhecia seus sentimentos a respeito de Alfonso. Disfarçou:

- Bem, afinal não tem uma irmã caçula para dar ordens. E você sempre dividiu tudo com ele.

Christopher riu.

- Nem tudo! Se quiser uma esposa, terá de procurar a sua.

- Não quer.

- Só fala da boca para fora. O que acontece é que ainda não encontrou a mulher certa, só isso.

- Percebo. É uma boa desculpa para procurar sem parar, namorando todas que encontra.

Os dois irmãos caíram na risada, e Anahí filosofou que era apenas aquele pensamento de que Alfonso nunca iria casar, que lhe dava um pouco de tranqüilidade.

Porém, e se Christopher estivesse certo? Sentiu um aperto no coração. E se um dia Alfonso surgisse com uma esposa? Porque isso um dia iria acontecer, não adiantava se iludir.

- É hora de irmos - disse Margaret Puente, saindo da cozinha. - Anahí, vai usar um chapéu?

- Eu? Não.

- Que pena! Nada como um chapéu para disfarçar ca­belos rebeldes. Vou lhe conseguir alguma coisa...

Anahí tratou de passar o braço no do irmão e partir em direção ao portão, antes que a mãe insistisse com aquele idéia. - Vamos, Christopher Puente, solteirão conquistado.

- Anahí!

Voltou-se ao reconhecer a voz da mãe de Alfonso, Jen­nifer Herrera. Soltou o braço de Christopher que ia ao en­contro do amigo, e correu pelo gramado em direção da se­nhora, beijando-a.

- Estou contente em revê-la, Anahí.

- Como vai, Jennifer?

- Bem. Alfonso me disse que lhe deu uma carona hoje pela manhã. Você não tem carro?

- Não vejo por que se moro em Londres. Apesar de que, se vou começar a viajar para participar de leilões, terei de comprar um. Na semana que vem irei a Wye Valley, em uma casa de campo. Uma interessante coleção de peças orientais será leiloada. Quem sabe possa ir também, Jennifer?

- Não poderei, é uma pena. Existe uma peça lá que será leiloada, mas tenho medo de fazer lances pelo telefone, baseada apenas na fotografia que vi.

- Poderei examiná-la para você e telefonar de lá. Isto é, se confia em meu conhecimento. Ficarei feliz em fazer lances por você. Devo-lhe muito por ter me arrumado esse emprego.

Jennifer riu.

- Bobagem! Fui eu quem fiz um favor ao George. Como vai ele?

- Levou um fora, Alfonso? Acho que a moça teve bom senso e foi embora antes de ser dispensada.

- Janine? - Alfonso soou desinteressado e deu de om­bros, um tanto aborrecido por perceber que todo mundo estava se divertindo com o fato de ter sido abandonado pela primeira vez na vida. Continuou: - Foi inevitável. Ela é um amor, mas, como toda mulher, começou a desejar uma casa confortável e dois ou três filhos em volta.

Christopher riu.

- E daí?

- Para mim, essa hora ainda não chegou. Ou, talvez, nunca chegue. - Mudou de assunto. - Estou um pouco preocupado com Anahí.

- O que há de errado com minha irmã?

- Não tenho certeza, Christopher. Ela nunca fala muito de si mesma, já notou? A maioria das garotas tagarela sem parar sobre com quem estão saindo, onde estiveram...

Alfonso olhou para frente, observando Anahí conversar em tom animado com sua mãe. Sem dúvida discutiam sua paixão comum por porcelanas.

- Você a vê tanto quanto eu. - Christopher parou de andar.

- Sim, é verdade, minha irmã é muito reservada. E o que o incomoda?

- Não sei explicar direito. Mas ontem a levei à festa de Monty Sheringham. Convidei-a para jantar primeiro, mas Anahí disse que estaria ocupada até às dez. Disse que ia trabalhar.

- E você não acreditou?

- Não parecia ter estado trabalhando. Parecia... animada, diferente... Tive a sensação de que havia um homem nessa história. Chris, acha que Anahí pode estar namorando alguém?

- Namorar? Quer dizer, um caso com um homem casado, que precisa ser escondido? Anahí? - Christopher soltou uma gargalhada. - Está maluco?

- Parece pouco provável, mas que mais poderia ser? Se tudo fosse às claras, e Anahí o tivesse levado à festa, ou preferido ir a outro lugar com ele...

- Alf...

Christopher o interrompeu, como se fosse dizer alguma coisa que só ele soubesse.

- O quê?