– JURO, Camila você devia ter visto a expressão dele. Foi como se uma mulher tivesse dado um fora nele pela primeira vez. – Anahi nem mesmo olhava para a prima enquanto falava. Ela estava ocupada demais socando uma imensa bola de massa, imaginando o rosto de Alfonso Herrera enquanto o fazia.
Embora já tivessem passado quase 24 horas desde que ela o encontrara, Anahi não tinha parado de pensar nele. Que desgraçado por invadir o cérebro dela outra vez, quando ela se esforçara para esquecê-lo ao longo dos últimos anos! Desde que fora embora de Chicago para seguir seus sonhos de bailarina, ela ficara se convencendo de que a paixão por ele tinha sido uma coisa boba, infantil.
Vê-lo outra vez a fizera se lembrar da verdade: ela desejava Alfonso antes mesmo de compreender o que era
aquilo que ela queria. Agora que ela sabia o que significava o formigar entre as pernas e a lassidão nos seios, o desejo era quase doloroso.
– A vovó não dizia sempre que o segredo da massa folheada era não sová-la demais? – observou a prima, soando silenciosamente divertida.
Anahi a fuzilou, sentada do outro lado da cozinha da confeitaria, com um olhar.
– Você quer fazer isto?
Camila, que tinha um visual delicado e era bonita, colocou uma mecha de seus longos cabelos castanho- claros atrás da orelha.
– Você é a confeiteira. Eu sou a contabilista. – Ela deu um gole em sua enorme caneca de café.
– Então, por que você foi embora? Você o desejava desde sempre.
– Talvez. Mas eu não quero o sempre de um modo geral – lembrou à prima, enquanto enfarinhava o balcão e começava a trabalhar a massa com um rolo.
– Você sabe que não quero isto por mais tempo além daquele que sou obrigada. – Ela olhou ao redor da cozinha, onde estava trabalhando sozinha para finalizar os pedidos de sobremesas para os restaurantes clientes. Incluindo o dos Herrera.
Não que fosse ela a pessoa a entregar os pedidos deles… de jeito nenhum. O sujeito das entregas ficaria a cargo disso em breve.
– Eu sei. Você vai embora outra vez assim que o tio Gus estiver bem o suficiente para voltar ao trabalho. – Camila não soou muito feliz a respeito, o que Anahi compreendia. A prima doce e bem-humorada era filha única e praticamente fora adotada por Anahi e as irmãs. Elas cresceram muito próximas.
Anahi sentia falta dela também. Mas não o suficiente para permanecer ali. Assim que o pai se recuperasse, e a mãe não precisasse mais ficar cuidando dele em casa em período integral, Anahi iria embora para sempre. Se ela iria retornar a Nova York e tentar recuperar a carreira na dança, disso não sabia ainda. Mas seu futuro não incluía um cargo de longo prazo como a Garota da Farinha da Rua.
E também não incluía se tornar a amante de qualquer sujeito que os pais dela enxergassem como o motivo perfeito para Anahi ficar por ali e gerar bebês. Até mesmo um amante tentador como Alfonso.
– Então… como vai a vida? – perguntou ela à prima, desejando mudar de assunto.
– Como está o trabalho?
Camila se inclinou para frente, apoiando os
cotovelos no balcão.
– Acho que não sou muito boa. Meu chefe obviamente não confia em mim; há alguns arquivos que ele não me deixa nem mesmo olhar.
– Você não foi contratada para manter a contabilidade em dia?
Camila, que tinha ido trabalhar há três meses em uma loja local de carros usados logo ali na vizinhança, assentiu:
– Eles fazem uma bagunça. Mas, toda vez que peço para ter acesso aos registros antigos, ele praticamente dá tapinhas na minha cabeça e me manda voltar para minha mesa como uma boa garotinha.
Anahi presumia que a prima estivesse dizendo que o chefe lhe dava tapinhas na cabeça figurativamente. Porque, embora Camila não fosse esquentada como Anahi e as irmãs dela em nenhum aspecto, ela também não era fácil. Podia levar um tempo para perder a paciência, mas Anahi já havia vistos lampejos de raiva em sua prima irlandesa-italiana doce como açúcar. O chefe dela obviamente não tinha conhecido a verdadeira Camila ainda. Porque ela era a pessoa mais silenciosamente obstinada que Anahi já conhecera… conforme qualquer pessoa que já tentara vencê-la em
uma partida de Banco Imobiliário já havia atestado.
– Por que você não pede demissão?
A prima ergueu a caneca, inclinando a cabeça de forma que suas longas franjas caíram por sobre os lindos olhos cor de âmbar. Parecia que ela estava escondendo alguma coisa. E, se Izzie não estava enganada, aquilo era um rubor nascendo nas bochechas dela.
Um rubor. Caramba, Anahi nem mesmo sabia se ela s e lembrava de como era corar. A última vez em que as bochechas dela ficaram coradas por qualquer coisa além de maquiagem fora quando ela se queimara depois de ficar muito tempo se bronzeando no deque de um navio de um cruzeiro, há um ano.
Tentando esconder um sorriso, ela murmurou:
– Quem é ele?
A prima quase deixou a caneca cair.
– Hein?
– Ah, qual é, eu sei que tem um cara nessa história.
– Hum… bem.
– Pelo amor de Deus, você está olhando para uma mulher que costumava marcar dois encontros por noite, então simplesmente conte.
Rindo, a prima contou.
– Há esse novo vendedor.
– Um vendedor de carros usados? – perguntou Anahi ceticamente.
Franzindo a testa, Camila questionou:
– Você quer ouvir ou não?
Anahi fez uma mímica de “lábios selados” sobre a boca.
– O nome dele é Dean – continuou Camila. – Dean Willis. E Marty o contatou há cerca de um mês. Ele é tão fofo, tem cabelos louros desgrenhados e imensos olhos azuis… bem, presumo que sejam grandes. Eles parecem maiores por causa dos óculos grossos que ele usa.
Ela observava Anahi, como se esperando por um comentário. Anahi de algum modo deu um jeito de evitar fazer algum.
– Ele já vendeu mais carros do que qualquer um porque ele é simplesmente tão… calado. Fácil de conversar. Modesto. – Suspirando um pouco, Bridget acrescentou: – E tem o sorriso mais lindo do mundo!
Anahi nunca tinha ouvido a prima falar assim sobre um homem. Devia ser sério mesmo.
– Então… você saiu com ele?
Camila balançou a cabeça e suspirou novamente, só
que muito mais alto.
– Ele nunca nem mesmo notou que estou viva. Bufando, Anahi respondeu:
– Eu duvido disso. Você é adorável.
Camila exibiu o lábio inferior em um beicinho.
– Ursinhos de pelúcia fofinhos são adoráveis. Eu quero ser… outra coisa.
Sexy. Era obviamente o que Camila tinha em mente. Anahi espiou a prima, cogitando fazer uma transformação nela. Camila tinha o básico, só precisava destacá-lo um pouco. Mas Anahi não achava que Camila precisava de muita coisa. Ela era tão discretamente bela, tão delicada e feminina… e o sujeito seria um idiota por querer mudá-la.
Então, mais uma vez, ela havia conhecido uma tonelada de caras, e poucos deles eram inteligentes de fato.
– Então o convide para sair. Faça com que ele note você.
– Eu não conseguiria.
– Só para tomar um café. A prima mordeu o lábio.
– O que foi?
– Bem, ele me convidou para sair de fato uma vez,
mas fiquei tão afobada e nervosa que disse a ele que eu não bebia café.
Erguendo uma sobrancelha e olhando diretamente para a caneca de tamanho industrial diante do rosto da prima, Anahi resmungou:
– Mas não era um encontro – acrescentou Camila.
– Pelo menos, eu acho que não. – Soando frustrada, ela completou: – Talvez eu devesse fazer injeções de colágeno. Eu soube que homens gostam de lábios fartos.
Ridículo. A beleza de Camila era do tipo natural e não precisava de porcarias falsas como aquelas que Anahi vira outras dançarinas fazerem consigo mesmas. Mas, antes que pudesse dizer isso, ou ameaçasse arremessar a mão lotada de recheio de cheesecake de ricota em Camila caso ela fizesse algo tão estúpido, ela ouviu a campainha da porta da frente tocar.
Olhando para o relógio, Anahi conteve um xingamento. Eram quase 17h, uma hora depois do horário de fechamento. Ela deveria ter se esquecido de trancar a porta depois que seus funcionários de meio período foram embora, e algum cliente aparecera para fazer um lanchinho.
Ela duvidava que houvesse muita coisa sobrando
para servir. As manhãs eram o período mais movimentado, com clientela e transeuntes entrando para comprar doces e muffins. Durante o horário de almoço, quando a Natale’s servia sanduíches leves e saladas juntamente a sobremesas clássicas, eles ficavam lotados também. Desde que Anahi surgira com a ideia de oferecer internet wi-fi gratuitamente para todos com laptops, alguns clientes se sentavam a uma das mesinhas de café e permaneciam até a hora de fechar. Eles bebiam muito café… e comiam muitos doces. Por volta de 16h, normalmente o balcão da Natale estava vazio, conforme esse cliente tardio logo viria a descobrir.