– Olá? – chamou uma voz.
Agarrando uma toalha, Anahi limpou as mãos e a jogou sobre o ombro.
– Já volto – disse à prima, enquanto seguia pelo pequeno corredor até o café. – Desculpe, estamos fechados para… – As palavras morreram nos lábios de Anahi quando ela viu quem estava do outro lado do mostruário de vidro, tão lindo que ela quase cobriu os olhos para se proteger de toda a glória dele.
– Eu sei. – Ele deu de ombros levemente. – Mas a porta estava destrancada, então pensei que poderia
aproveitar a oportunidade para vê-la caso você estivesse aqui.
Alfonso estava parado dentro do café sombrio, iluminado pelo sol de fim de tarde que adentrava pela vitrine da frente. A luz refletia nos olhos verded dele, conferindo-lhes um brilho dourado que parecia irradiar calor. Ela podia senti-lo dali.
– Você me encontrou – murmurou ela.
– Você não precisou exatamente deixar uma trilha de migalhas, doçura… este lugar está aqui há séculos.
– Não me chame de doçura – rebateu ela. Ele estendeu as mãos, as palmas expostas.
– Desculpe.
Mandando o próprio coração continuar a bater normalmente, Anahi atirou a toalha no balcão, então cruzou os braços para encará-lo.
– Você está tentando me dizer que sabia que eu estaria aqui porque você sabia quem eu era? Tente outra vez.
Alfonso pigarreou, desviando o olhar. Encolhendo-se envergonhado de um jeito fofo, ele disse:
– Não, eu não reconheci você no início.
Então ele a reconhecera depois que ela fora embora?
– Mark me disse quem você era.
O babaca.
– Desculpe por não ter reconhecido você. Faz muito tempo.
Não tempo suficiente para que ele fosse apagado da mente dela, isso era certo. Ela reconheceria Alfonso Herrera se trombasse nele vendada durante um apagão. Porque o perfume dele estava gravado em seu cérebro. E o corpo dela reagia de um jeito instintivo toda vez que ele estava por perto, de um jeito que não reagia a mais ninguém, nem mesmo a homens de quem ela fora íntima.
Ele a deixava trêmula, desejosa, fraca e ávida, tudo ao mesmo tempo. Sempre deixara, por algum motivo desconhecido.
– Sim. Faz muito tempo – murmurou ela, passando para lavar as mãos na pequena pia atrás do balcão.
Droga, ela odiava o fato de ele deixá-la perturbada. Já havia conhecidos outros homens bonitos. Havia ido para a cama com outros homens bonitos. Talvez nenhum deles fosse tão forte e másculo, ou tão sensual. Mas ela havia saído com atores e milionários lindos que desejavam mostrar que saíram com uma dançarina profissional capaz de levar a perna acima da cabeça. Nenhum deles a afetara do jeito como este, que ela
nunca nem mesmo beijara, a afetava.
– Preciso correr, Any – disse uma voz. – Não quero… atrapalhar.
Anahi quase tinha se esquecido de que Camila estava na cozinha. Ao ver o sorriso no rosto da prima, ela suspirou de maneira frustrada e longamente. Pretendia utilizar Camila como um pretexto ou, no mínimo, como um cinto de castidade de 1,65 metro, para mantê-la longe de atitudes estúpidas, como espalhar recheio de cheesecake sobre o corpo inteiro de Alfonso e então lamber tudo lentamente.
Mas a prima a estava socorrendo, antes de seguir em direção à saída.
– Bom ver você, Alfonso – disse ela.
Os três caíram então em uma conversa breve e casual, como a maioria das pessoas que havia crescido na vizinhança normalmente fazia. Exceto que Anahi ainda não tinha redescoberto aquela camaradagem com todas as pessoas com quem tinha crescido. Enquanto os dois conversavam, Anahi tentava recuperar a tranquilidade, obrigando-se a olhar para aquele sujeito do mesmo jeito que olhava para todos os outros. Como nada especial.
Sem chance. Ela não conseguia fazê-lo. Ele era
especial.
Aquilo tinha que ser porque ele havia sido o primeiro homem que ela desejara. E o fato de nunca tê- lo fizera a intensidade da atração crescer. Sem um ápice, sem a explosão quando finalmente o possuísse e então o tirasse da cabeça, ela permaneceu em um processo lento de fervura do desejo por Alfonso durante anos.
Então o possua e tire-o da sua cabeça.
Ah, a ideia era tentadora. Muito tentadora. Parte dela desejava desesperadamente convidá-lo para ir com ela ao hotel mais próximo e tomá-la até ela não conseguir nem fechar as pernas mais. Se ela tivesse garantias de que ele o faria, e que então se esqueceria do ocorrido, sem nunca esperar um repeteco e que nunca, nunca, contaria uma palavra a ninguém, ela cogitaria seriamente.
Mas não seria assim. Nem em um milhão de anos. Ela sabia que ele nunca nem mesmo a beijaria quando ela era menor de idade, nem mesmo se ela o sequestrasse e o mantivesse preso. O que, para ser honesta, ela havia feito… no casamento.
Ele era um Herrera. Com toda a carga que o nome ostentava. A criação dele, a família e o próprio código
moral significavam que ele nunca teria um encontro sexual descompromissado com a irmã caçula de sua cunhada. A filha do amigo do pai dele. A garota que morava no fim do quarteirão. De jeito nenhum.
Ele era o tipo de sujeito que teria de estar namorando a mulher com quem dormia. Namoro, no estilo da vizinhança, com mãozinhas dadas, partidas de minigolfe, pizza no restaurante da família dele e doces no restaurante da família dela. Pacote completo. Que piada! Não que ele a tivesse convidado para sair de fato. E se convidasse? Bem… aquilo poderia tê-la empolgado certa vez… anos atrás, quando ela realmente achava que a confeitaria, a família e o bairro de Little Italy eram todo o mundo do qual precisava. Agora, no entanto, aquilo só a deixava triste porque, conforme ela já havia percebido, namorar Alfonso era igual a se amarrar. E amarras poderiam muito bem sufocá-la.
– Bem, vejo você amanhã – disse Camila, assim que saiu.
Anahi nem mesmo notou que Camila e Alfonso tinham acabado de conversar. Amaldiçoando a prima para que continuasse a socorrê-la, Anahi pigarreou, prestes a dizer a ele que precisava voltar ao trabalho.