Ele falou primeiro:
– Então… você me perdoa?
– Sim, claro, não foi nada de mais – respondeu ela, dando de ombros de maneira forçada.
Um sorriso ínfimo se formou nos lábios maravilhosos dele e os olhos verdes brilharam.
– Nada de mais? Você pareceu bem furiosa. Droga. Ele percebera.
– Eu não estava furiosa. Estava mais para…
divertida.
– Claro. Foi por isso que fiquei com um hematoma no peito bem onde você me empurrou.
O queixo dela caiu e ela imediatamente começou a cuspir negações. Então viu o enorme sorriso dele.
– Você é um idiota.
– E um babaca – respondeu ele, o sorriso desaparecendo, embora a piscadela tenha permanecido.
– Eu realmente falo sério, Any, desculpe por não ter reconhecido você. – Dando a volta no balcão para vê-la melhor, ele lançou um olhar vagaroso sobre ela. De baixo para cima. E então para baixo outra vez. – Mas você precisa me dar um desconto. Está bem diferente.
– Não sou mais viciada em bolinhos – rebateu ela.
– Você não era gorda.
– Eu era uma bolinha de meias cor-de-rosa. Ele balançou a cabeça.
– É que você estava com rostinho de criança da última vez que a vi. Uma menina. Agora você está… crescida.
– Absolutamente certo.
Ele não disse nada por um momento, ainda a observando enquanto se inclinava contra o balcão. A posição fazia a camiseta cinza dele se grudar mais aos ombros e peito, destacando o tamanho dele. Deus, ele era grande! Mas, ainda assim, era estreito nas cinturas e esbelto nos quadris. Foram os quadris que capturaram a atenção dela, o jeito como o jeans desbotado e sem o cinto caía, o tecido macio abraçando os ângulos e contornos do corpo dele.
Realmente não era justo um homem ser tão perfeito.
– Então… sobre nossa conversa na noite passada. Quando olhava para ele, dominada pelo calor dele,
ela mal conseguia se lembrar do próprio nome. Muito menos de qualquer conversa.
– Hein?
– O que você diz? Vai me dar seu telefone?
Deus, o que ela não teria dado para ouvir aquelas palavras dele há dez anos! Ou, diabos, até mesmo dois
meses atrás… se ela por acaso tivesse dado de cara com ele na Times Square e ele tivesse proposto um encontro sensual de uma noite só em nome dos velhos tempos. Ninguém em Chicago jamais teria de saber o que houvera. Ela teria pulado sobre a oferta como um apostador em cima de um bilhete de loteria gratuito.
– Acho que não.
– Vamos lá, você sabe que pode confiar em mim. Não sou um estranho perseguindo você. Nós nos conhecemos desde que éramos crianças.
Diabos, ele a conhecia desde que ela era criança. Desde a época em que o conhecera, Anahi só enxergara o homem sensual, quente e glorioso. Mesmo que ele não tivesse mais do que 14 anos.
– Só uma noite, em nome dos velhos tempos?
Ele era tão tentador. Porque os velhos tempos dos quais ela se recordava eram aqueles quentes das fantasias dela. E o incidente no casamento. Ele acabara entre as pernas dela em ambos os casos.
– Bem…
Ele se movimentou novamente, aproximando-se mais, como se percebendo que ela estava vacilante. Repousando a mão sobre o balcão, perto da dela, ele murmurou:
– Sem pressão. Podíamos simplesmente pegar uma pizza.
Ela se remexeu, acabando com qualquer hesitação em potencial. A última coisa que pensaria em fazer seria uma refeição em público com Alfonso Herrera no restaurante da família dele. Não quando a irmã dela poderia ficar sabendo e contaria aos pais deles, que começariam a criar esperanças a respeito de Anahi permanecer segura junto ao ninho, do mesmo jeito que eles ansiavam desesperadamente quando ela tinha 18 anos.
Sair de casa depois de concluir a escola havia sido uma luta. Ela era adulta, legalmente livre, mas mesmo assim precisara praticamente fugir para correr atrás de seu sonho de dançar profissionalmente. Especialmente porque era a única das filhas dos Portilla que havia herdado o dom paterno na cozinha.
Provavelmente porque amava demais comida, conforme evidenciado por todas as fotos com cara de porquinho tiradas no jardim de infância ao Ensino Médio.
O pai dela ficara arrasado por ela não desejar trabalhar com ele. Mas ela sabia que precisava fugir e aproveitar a oportunidade enquanto podia, ou arriscar
se arrepender pelo restante de sua vida.
Então Anahi fora embora. Pegara um trem, determinada a permanecer longe até alimentar seu sonho de ser uma bailarina profissional com tudo que tinha a oferecer.
Conseguir fazê-lo no Radio City Music Hall não acalmara os temores dos pais por ela estar “sozinha no mundo”. Na verdade, apenas os aumentara, uma vez que perceberam que era improvável agora que ela fosse retornar um dia.
Se eles soubessem o quanto a vida dela havia sido louca nos primeiros anos que passara sozinha, todos os temores seriam justificados. Como qualquer garota boazinha mantida sob rédeas curtas, ela sentira enorme prazer em quebrar todas as regras, uma vez que estava livre e era capaz de tomar decisões por conta própria. Especialmente quando tinha homens ao redor e dinheiro para fazer o que quisesse.
Fora bem louco. E também imprudente… Então, nos últimos dois anos, ela sossegara. Parara de festejar, de namorar, de desperdiçar dinheiro. Ela agora tinha uma boa reserva de dinheiro… a qual esperava utilizar para reestabelecer a vida em Nova York. Havia sido abordada sobre voltar a trabalhar no Radio City, como
coreógrafa dessa vez. E sabia que provavelmente receberia a mesma oferta de outra companhia de dança moderna.
Ou poderia dar aulas. Podia abrir a própria escola de dança… tinha dinheiro para, pelo menos, iniciar os negócios. Aquilo estava entre as coisas que ela andava cogitando fazer quando voltasse à realidade.
Os pais dela, entretanto, dariam qualquer coisa para que ela ficasse ali e nunca voltasse para a outra vida, aquela que não os incluía em ocasiões além dos telefonemas semanais e visitas duas vezes ao ano. Namorar abertamente um sujeito da cidade, um amigo da família, iria aumentar as esperanças deles de forma injusta e dolorosa. Então ela não podia fazer isso.
Antes que pudesse dizê-lo, no entanto, Alfonso se aproximou. Ficou próximo o suficiente para parar o coração de Anahi.