NA PRIMEIRA noite de trabalho no Leather and Lace, Alfonso apareceu de mau humor. Ele estivera de mau humor há dois dias, desde que Anahi Portilla arruinara seus esforços para se aproximar mais dela.
A mulher era inacreditável. Dez anos atrás, ela poderia muito bem publicar um anúncio na tribuna declarando sua devoção a ele. Agora, não daria bola para ele nem se fosse o último homem do planeta.
Droga, ela estava agressiva. Será que ela sempre tinha sido daquele jeito? Alfonso havia imaginado que Anahi se parecesse com Maite, pela irmã que ela havia sido. Mas, considerando que ele nunca a enxergara como mulher, apenas como uma criança bonitinha e apaixonada, ele nunca havia notado de verdade. Até agora.
Ah, sim, agora ele notava. Ele havia notado tudo nela. E ainda não iria desistir. Não quando ela era a primeira coisa na qual ele pensava todas as manhãs e a estrela de seus sonhos todas as noites.
Especialmente desde aquele beijo incrível que eles compartilharam.
Quem teria imaginado que aquela garotinha bonitinha e chatinha com uma queda óbvia por ele iria se provar a mulher mais sensual e adorável que ele já conhecera? Ele suspeitava ser capaz de beijá-la por horas. Agora sabia um pouco mais. E poderia beijá-la pela eternidade.
Depois que ela pedira que ele saísse da confeitaria na outra noite, ele resolvera jogar sujo, indo diretamente até Maite para pedir a ela que lhe desse o telefone da irmã. A cunhada tinha ficado feliz em favorecê-lo. Ela também fora mais do que sincera sobre o modo como Anahi se sentia com relação a Alfonso nos velhos tempos.
Não que Alfonso precisasse dela para lhe contar sobre isso. Ele sempre fora bem ciente da situação… assim como todo mundo.
– Não mais – murmurou ele, enquanto estacionava sua caminhonete, que havia adquirido assim que retornara, há duas semanas, atrás da boate. Ele franziu a testa, perguntando-se o quanto estava sendo idiota agora por estar decepcionado por uma garota que tinha sido muito apaixonada por ele quando criança não lhe
dar bola mais. Provavelmente bem idiota. Mas não podia evitar.
Saber que a pequena Anahi tinha sido louca por ele fora uma constante durante a adolescência. Um fato. Simplesmente mais um pedaço da realidade dele. Certamente nada que ele jamais tirara vantagem ou utilizara para constrangê-la. Tinha sido algo simplesmente… bonitinho, pensar que havia uma garota por aí rabiscando o nome dele no caderno da escola. Inocente. Singelo.
Deus, ele odiava o fato de aquela garota não olhar para ele agora! Principalmente porque achava não ter feito nada para merecer a frieza dela. Não, ele não a havia reconhecido. Mas também não tinha reconhecido o garoto que entregava jornais e que agora administrava uma banca de revistas na esquina. Ou alguns dos caras com quem já havia jogado basquete no colégio St. Raphael.
Mark, no entanto, achava que ele merecia o desprezo, sim. E não porque não a havia reconhecido, mas porque havia contado com os sentimentos de infância dela para lhe dar uma vantagem com a Anahi adulta.
Diabos, talvez ele estivesse certo. Talvez Alfonso não
devesse tê-la provocado, não devesse ter se mostrado tão seguro com relação a ela. Ele conhecia mulheres o suficiente para saber como elas se sentiam quando a conquista era tomada como certa. Ele devia tê-la levado para jantar antes de beijá-la como se necessitasse do ar nos pulmões dela para continuar vivendo.
Então ele precisava recomeçar com Anahi. Começar lentamente, do mesmo jeito que faria com qualquer outra mulher que tivesse acabado de conhecer.
Poderia não ser fácil. Porque ela já o havia afetado mais do que qualquer mulher que já conhecera. Ele sonhara com ela durante a semana, pensara nela, desviara de seu caminho para passar pela confeitaria na esperança de trombar nela.
– A mesa foi virada, definitivamente – murmurou ele em voz alta, quando passou pela entrada reservada aos empregados nos fundos da boate.
– O que, provavelmente, é o que ela quer.
Sim, ela poderia estar jogando com ele por vingança. Mas, de algum modo, Alfonso não achava que fosse esse o caso.
Ela não fora capaz de esconder seus sentimentos atrás daqueles olhos verdes incrivelmente
expressivos. Embora o tivesse mandado embora depois do beijo, ela ainda o desejava. Mas algo a estava impedindo de fazer qualquer coisa a respeito.
Ele só precisava descobrir o que era.
– Alfonso, você chegou bem na hora! – O dono da boate, um sujeito robusto e amável com uma gargalhada gostosa de Papai Noel, saiu de seu escritório e estendeu a mão.