ROSA ESCARLATE viu o homem de cabelos escuros vestido de preto no instante em que espiou pelas cortinas no palco. E, no instante em que o viu, reconhecendo-o imediatamente por causa da altura e do
poder de seu corpo nas sombras, seu coração começou a bater mais forte.
Ele havia voltado. Por ela.
Era a primeira noite em que ela estava de volta à boate desde o último domingo à noite, quando o vira pela primeira vez durante sua performance mais recente no palco. Inexplicavelmente, ela suspeitava que fosse a primeira noite de volta dele também. Quando perguntou para as outras dançarinas a respeito dele, todas negaram ter visto tal sujeito na boate durante as últimas cinco noites.
Ela o havia atraído de volta. E, exatamente como ele, o pensamento de que ele pudesse estar ali na multidão outra vez esta noite havia conseguido atraí-la também.
Não que ela precisasse de muita coisa para atrair alguém. Ela amava o que fazia. Certamente ganhava vida enquanto se movimentava sob um holofote. O fato de as roupas estarem caindo do corpo enquanto ela o fazia era totalmente circunstancial.
Ela sinceramente não se importava.
– Ele voltou – sussurrou ela, quase saltitando na ponta dos pés, tão empolgada que mal conseguia se manter de pé.
Não apenas empolgada. Aliviada.
Porque, embora o tivesse visto apenas a distância, já se sentia incrivelmente atraída por ele. Ele havia sido uma distração maravilhosa do outro homem que vinha ocupando seus pensamentos ultimamente.
O único que ela não podia ter.
Ela começou a sorrir, sentindo-se, pela primeira vez em dias, um pouco otimista. Trabalhar na boate era sua única saída, sua única fuga da vida que quisera tanto evitar ao retornar para Chicago. Ela amava aqueles finais de semanas secretos, pecaminosos.
E, agora que havia percebido que havia outro homem, mais um, capaz de lhe causar um tipo de desejo instantâneo e ávido dentro dela, Anahi Portilla sentia que aqueles fins de semana iriam simplesmente demorar a chegar.
– Você não é o único homem em Chicago, Alfonso Herrera – sussurrou ela, enquanto a equipe terminava de limpar o palco para seu número solo que era sua marca registrada.
Quando ela vira o anúncio pedindo dançarinas para uma boate de Chicago destinada a cavalheiros pela primeira vez, Anahi não se iludira sobre as implicações do cargo. Ela não era uma jovem bailarina ingênua que aparecera para um teste de dança só para ficar chocada
diante da ideia de tirar as roupas para um monte de homens.
Anahi havia tirado suas roupas para muitos homens. Algumas vezes, até mesmo para grupos deles.
Não era como se as Rockettes dançassem vestidas com um monte de peças. E, durante os três meses em que atuara com Companhia de Dança Moderna de Manhattan, ela fizera duas performances de nu artístico.
A dança que ela fazia no Leather and Lace não era exatamente artística. Mas ela não ficava exatamente nua também. Afinal, nunca tirava sua calcinha fio- dental.
Sim, sua plateia em Chicago estava atrás de excitação sexual em vez de estímulos culturais. Mas, honestamente, a julgar pelo modo como alguns aficionados por dança moderna vinham para os bastidores e tentavam conquistar as dançarinas, ela imaginava que as motivações eram, em essência, exatamente as mesmas.
Dançar era dançar. Após o prognóstico terrível que recebera após a cirurgia por causa do ligamento cruzado anterior torcido, ela não se importava com o local onde estava se apresentando, ou com o que estava vestindo ao fazê-lo.
Honestamente, agora, depois de ter sentido o gostinho, ela percebeu que não poderia ter escolhido local melhor. Porque ali, escondida, atrás de uma máscara de veludo vermelho, ela estava livre para ser tudo que Anahi Portilla da famosa confeitaria da Rua Taylor não era.
Sexual. Desinibida.
Livre.
Antes de ela ao menos arrastar a mente para ficar em prontidão, foi apresentada à plateia e a música começou. Anahi seguiu para o placo, dançando para si e somente para si, como sempre fazia, deixando as pétalas caírem pelo caminho. Ela permanecia acima de tudo, alheia até mesmo ao dinheiro que estava sendo arremessado ao palco; a equipe iria recolhê-lo quando ela terminasse. Ela também ignorava os arfares e olhares ávidos da multidão.
Exceto o olhar ávido de um homem. O dele ela queria ver, embora fosse se mostrar tarefa difícil, com ele parado na área mais escura do lugar e com ela quase cega pelo holofote. Mas, quando a coreografia a obrigou a se movimentar para a direita, na frente do palco, mais perto do bar e dele, ela arriscou e deu uma olhada.
E quase caiu do palco.