Alfonso assentiu enquanto ambos observaram Harry se afastar. Bem, Alfonso observou Harry. Anahi observou Alfonso.
Ela não havia notado no início, estava exausta demais, mas Alfonso parecia tenso. Os músculos do pescoço dele estavam duros como pedra, o maxilar estava projetado rigidamente. Sob a camiseta preta pecaminosamente apertada, os ombros largos estavam enquadrados em postura militar e as mãos estavam cerradas nas laterais do corpo.
Interessante.
Se ela tivesse que adivinhar, diria que ele não estava particularmente feliz em conhecê-la. Era como se ele desgostasse dela abertamente… o que não fazia muito sentido.
O único motivo que ele poderia ter para já não gostar dela era tê-la reconhecido de algum modo. Tê-la encarado nos olhos, revelados por trás da máscara, e ter visto algo familiar. Ou ter ouvido alguma nota na voz dela que já tivesse ouvido. Ele certamente não parecera feliz com a Anahi-confeiteira quando ela praticamente o
expulsara da confeitaria na outra noite, e imaginara que ele tivesse se convencido de que ela era, na melhor das hipóteses, uma irritante, e, na pior, uma provocadora completa.
Mas se ele olhara para ela e enxergou apenas uma completa estranha… De que ele poderia não gostar nela depois de conhecê-la durante dois minutos? Alfonso não era do tipo que julgava as pessoas. Ela não conseguia enxergá-lo trabalhando ali se ele tivesse algum tipo de problema com mulheres tirando a roupa.
Além disso, o desgosto dele parecia pessoal, direcionado apenas a ela. Ele estava perfeitamente bem com Harry.
– Então hoje é sua primeira noite? – perguntou ela, mantendo o tom grave e rouco. Ela soava sensual, excitante, mas isso não podia ser evitado. Ela precisava disfarçar a voz, pelo menos até ter certeza se Alfonso a reconhecera. Ou se tinha sido avisado pelo irmão.
– Sim.
– Gostou da boate?
Ele deu de ombros, evasivamente.
– Vamos lá, você não está chocado, está? Imagino que tenha estado em lugares assim no mundo todo.
Ele semicerrou os olhos escuros.
– Como sabe que viajei pelo mundo?
Opa! Isso foi estúpido. Ela simplesmente entregara sua mão de cartas.
– Quero dizer… você tem um tipo militar, com o cabelo e esse estilo de soldado com roupa toda preta. Estou certa?
Ele assentiu uma vez, nem um pingo irredutível.
Anahi precisou se obrigar a não reagir a todo aquele calor masculino intenso e latente. Alfonso estava adoravelmente sexy quando estivera flertando com ela e tentando conquistá-la. E incrivelmente sensual quando a seduzira com seu beijo.
Agora… quando estava todo misterioso, profissional, estava absolutamente devastador. Perigoso, quase, e, embora ela nunca o tivesse temido, não pôde evitar um pequeno calafrio.
Se ele escolhesse beijá-la agora, não seria com persuasão doce e sensual. Seria com uma fome crua, avassaladora.
Ela queria aquele tipo de beijo dele.
– Vi você aqui no último fim de semana – disse ela, sem nem mesmo perceber que estava admitindo tal coisa até as palavras deixarem sua boca. Aquilo provavelmente não era inteligente. Ela precisava manter
a vantagem ali, e deixar Alfonso sabendo que ela estivera ciente da presença dele desde a primeira olhada não era um bom jeito de fazer isso.
– Vim para conversar com Harry sobre o emprego.
– E você me observou dançar. – Ela o desafiava a negar.
Ele meneou a cabeça uma vez. A mandíbula enrijeceu.
– Gostou?
– Você é talentosa.
Ah, se ele ao menos soubesse…
– Você não… está desconfortável perto de mim, está? – perguntou ela, tentando não rir. – Quero dizer, tendo visto tanto de mim…?
Ele balançou a cabeça. Os ombros tensionaram.
– Isto é um trabalho, senhorita…
– Rosa serve.
– Como quiser. O ponto é, quero manter você… todas vocês… em segurança. O que significa que precisamos implementar alguns novos procedimentos de segurança. – Alfonso soava impessoal, mas todos os movimentos ou flexões do corpo dele gritavam que seu tom era uma mentira. Ele definitivamente estava reagindo a ela, e Anahi apostaria dinheiro que aquilo
nada tinha a ver com ele saber a verdadeira identidade dela.
Se ele soubesse quem ela era, nunca permaneceria rígido e inflexível, tentando manter a atitude profissional. Ele também a estaria seduzindo, terminando o que havia começado no outro dia, ou mais, estaria dando um sermão por ela estar fazendo algo tão fora do papel de uma boa garota italiana da vizinhança.
Não. Ele não sabia quem ela era. De jeito nenhum. Então, por que estava sendo tão duro e áspero, isso ela realmente não sabia.
– Você gostaria de entrar enquanto me troco? – perguntou ela, gesticulando para a porta fechada atrás de si. Tinha uma estrelinha cafona de papel alumínio grudada nela, uma brincadeira das outras dançarinas, que se mostraram notavelmente receptivas depois de uma semana ou dias. Considerando que a clientela havia aumentado significativamente desde que ela estava dançando ali, Anahi imaginara que todas estivessem se beneficiando do “mistério” da Rosa Escarlate.
Ele hesitou apenas por um instante. Então assentiu.
– Claro.
Disse.
Abrindo a porta, Anahi entrou e o conduziu atrás da porta.
– Desculpe pela bagunça.
O espaço estava cheio de coisas, e um espelho
cercado por luzes brilhantes cobria uma parede inteira. Uma bancada longa e robusta, grudada na parede, percorria a extensão do cômodo, reduzindo o espaço no piso a um corredor de cerca de um metro. A bancada estava coberta com maquiagens e produtos para cabelo. Isso sem mencionar as calcinhas fio-dental e adesivos de mamilos.
Ele os viu aquilo e corou, desviando o olhar rapidamente. Remexendo-se desconfortavelmente, ele recuou um mínimo, mas foi detido pela porta, que Anahi havia fechado atrás dele.
Um músculo latejou na bochecha e ele cruzou os braços imensos apertadamente. Com os pés levemente separados, parecia um capitão robusto e impassível parado no convés de um navio. Inacessível, indestrutível, imperturbável.
Só que ele não era inacessível. Porque ela notara aquele olhar para suas roupas íntimas sensuais e cintilantes. E a reação dele a elas.
Foi então que Anahi começou a captar uma vaga ideia
do que o estava perturbando. Não era uma questão de gostar ou não gostar dela. Ou de tê-la reconhecido ou não.
Ele a desejava. Ele simplesmente sabia disso.
Alfonso queria fazer sexo com uma estranha, uma stripper, e não gostava de ver aquela característica em si. Ele não gostava daquela fraqueza. Ela podia praticamente ouvir os pensamentos dele agora; afinal, tinha sido criada exatamente nos mesmos moldes que ele.
Não era bom. Não era legal. Não se encaixava na imagem saudável da vizinhança da infância.
Era, no entanto, muito honesto. E, apesar do jeito como ele se sentia a respeito, Anahi gostava muito daquilo. Aliás, ela adorava o fato de ele desejá-la. Não tanto quanto adorava o fato de ele ter desejado Anahi, a garota invisível, mas bem perto disso.
Tentando esconder o sorriso, ela foi até um biombo e deslizou o roupão de seda pelos ombros. Atirando-o por cima do biombo, murmurou:
– Você não está… desconfortável aqui comigo, está? Ele não respondeu no início. Olhando para o espelho, ela viu o reflexo dele… o viu balançar a
cabeça. Então ele pigarreou, respondendo em voz alta:
– Estou bem.
Ele estava virado para a parede, longe do biombo, longe do espelho, o que provavelmente era uma coisa boa, considerando que o reflexo percorria todo o espaço, até a parede oposta… mesmo do lado de dentro do biombo.
Se ele olhasse naquele espelho, a tela iria se provar completamente supérflua. Ele havia visto cada pedacinho dela… exceto o rosto ainda mascarado.
Ela se demorou trocando de roupa.
– Isso é bom. Se você vai trabalhar aqui, creio que vai ter que se acostumar a ver muita coisa de nossas colegas de trabalho. – Ela lambeu os lábios e quase ronronou quando acrescentou: – Muito mais do que veria em um emprego normal.
– Não fico chocado tão facilmente – murmurou ele.
Vire-se e veremos.
Mas ele não se virou. Que droga!
– Podemos conversar sobre sua rotina, sobre como conduz seu trabalho, a que horas normalmente chega?
Abaixando-se, ela tirou a calcinha fio-dental, e então se aprumou e a pendurou sobre o biombo, respondendo às perguntas dele enquanto se despia. Não tirou os olhos dele em nenhum momento, aguardando para que
se virasse, imaginando como ele arregalaria os olhos e como o queixo cairia quando percebesse que podia ver todos os movimentos dela através do espelho.
Ele permaneceu na mesma posição; no entanto, o lampejo de movimento deve ter chamado a atenção do olhar dele. Porque o olhar dele se deslocou, rapidamente, quase imperceptivelmente, mas ele definitivamente olhou.
Ela observava o reflexo dele, vendo o jeito como o corpo dele tensionava cada vez mais. As calças pretas destacavam a rigidez das coxas musculosas e daquele traseiro firme. Embora ele não tivesse emitido som algum, baixou a cabeça e a balançou lentamente, o desespero emanando dele, ainda que permanecesse completamente calado.
O triunfo a dominou quando ela percebeu o que estava acontecendo. Ele estava louco por ela. E desesperado para resistir a ela.
Anahi continuou a fazer hora enquanto vestia uma calcinha minúscula, não muito maior do que o fio- dental que acabara de descartar. Então acrescentou um sutiã de renda combinando, com decote baixo, quase nos mamilos. Não era o tipo de lingerie que alguém esperaria de uma confeiteira… era o tipo de coisa
sedosa que ela usava sob as roupas para lembrá-la de que ela não era uma doce aspirante a Betty Crocker.
Em meio a tudo aquilo, Anahi foi cuidadosa para não deslocar a máscara. Ela também foi cuidadosa para manter as extensões capilares presas por grampos. Elas levavam seus cabelos castanho-escuros na altura dos ombros até o meio das costas, e acrescentavam mechas avermelhadas que combinavam bem com sua apresentação de dança. Se ele a reconhecesse, o jogo chegaria ao fim. E, agora, Anahi estava gostando demais daquele jogo para permitir que terminasse.
Particularmente porque havia começado a enxergar exatamente agora como ele poderia ser jogado.
Sem regras. Sem restrições. No anonimato completo. Na figura da Rosa Escarlate, ela poderia tê-lo, possuí-lo, completamente livre das repercussões que iria cercá-la caso ela ousasse fazer tal coisa como Anahi Portilla. Ela poderia fazer um sexo incrível com ele, o suficiente para tirar o desejo profundamente enraizado que sentia por ele de seu organismo para sempre, e então ir embora, sem ninguém jamais saber da verdade.
Incluindo, se ela tivesse muito sorte, ele.
A pergunta era: será que ela conseguiria esquecer? Captando um movimento, Anahi percebeu que Alfonso
finalmente tinha se virado. Ele estava segurando a maçaneta da porta do camarim, a boca aberta como se estivesse prestes a dizer que estava saindo. Então ele olhou em direção ao espelhou e a viu.
As defesas de Alfonso desabaram. Ele pareceu totalmente indefeso quando a devorou completamente com os olhos. Um desejo visível, primitivo e urgente emanou dele em ondas quase tangíveis.
E naquele momento Anahi soube que era capaz, de fato, de esquecer. Ela finalmente iria ter o homem que havia desejado durante metade de sua vida.