ELE NUNCA devia ter ido até lá.
Nunca deveria ter entrado em uma salinha com uma mulher que já fazia a cabeça dele girar e o corpo retesar em expectativa. Uma mulher que ele deveria estar protegendo de sujeitos que já a haviam ameaçado.
Alfonso estivera lidando bem com as coisas até agora. Mesmo enquanto observava as dançarinas se apresentarem, enquanto estava observando a apresentação dela, ele se sentira no controle da situação. Sim, ela o afetava. Qualquer homem que não fosse afetado pela Rosa Escarlate só podia ter sido castrado ou ter nascido sem libido. Mas o efeito que ela causava era puramente físico, não mental, não emocional. Na cabeça dele, ele ainda só enxergava uma mulher. Desejava uma mulher. E essa mulher era Anahi Portilla.
Ele estava se sentindo tranquilo e confiante quando Harry o levara ao andar de baixo para conhecê-la. Um pouco daquela confiança desaparecera quando ele se
aproximara dela o suficiente para sentir o perfume sutil e delicado que ela usava, tão em desacordo com o ambiente e com a profissão dela. A tranquilidade dele pulara pela janela quando ela o conduzira ao pequeno camarim, onde ele se sentira como um urso preso em uma cabine telefônica.
E agora… isto… vê-la no espelho?
Loucura.
Ele a havia visto quase nua no palco e ela o surpreendera. Agora, de pertinho, ela o enlouquecia. Mesmo vestindo algo que poderia se passar por roupa em uma praia ensolarada, ela era tão sedutora quanto havia sido durante sua dança nua.
Ela era alta e curvilínea, delicada e de tirar o fôlego. Os seios fartos estavam contidos por um sutiã que abarcava a parte de baixo, mas deixava a parte superior quase nua. O decote caía sobre a costura e as pontas morenas e rijas dos mamilos investiam de encontro à renda branca, exigindo atenção.
Todos os homens no ambiente no andar de cima haviam visto os seios dela há alguns minutos, mas agora, de perto, Alfonso era capaz de apreciar verdadeiramente a perfeição deles. O quão perfeitamente eles se encaixariam nas mãos dele, o
quão deliciosos os mamilos dela seriam de encontro à língua dele.
Alfonso inspirou fundo, deixando sua atenção se voltar mais para baixo. O olhar roçou sobre o umbigo, sobre a cintura delgada. E se demorou nos quadris generosos destacados pelas marquinhas brancas, as tiras da calcinha, fixadas de cada lado. O elástico da calcinha patinava pela pele clara, de aparência frágil, logo abaixo do quadril. Um pequeníssimo tufo de belos cachos castanhos espiava por sobre o topo deles, a sombra escura atrás da seda branca sendo tudo o que ele podia ver do restante.
Aquilo era mais do que ela havia revelado na dança, e todas as células masculinas no corpo dele reagiram à visão gloriosa. O batimento cardíaco dele desacelerou, e ele engoliu em seco, a boca inundando de desejo. Sua ereção saltou em fúria contra o zíper para se libertar.
A bancada interferia no restante da visão, deixando-o dopado de curiosidade enquanto sua mente preenchia as lacunas com o que ele não estava vendo. Aquelas longas pernas. Ela possuía pernas que poderiam envolvê-lo duas vezes, pelo que ele conseguira reparar durante a dança.
Era fácil demais se imaginar erguendo-a sobre
aquela superfície robusta e longa, abrindo as pernas dela e então colocando uma cadeira para sentar-se entre elas. Ele a empurraria para trás, então colocaria os joelhos dela sobre seus ombros. Mergulhando a cabeça para uma exploração mais completa, ele provaria aquelas belas curvas e as dobras reluzentes que elas escondiam. Ele iria satisfazê-la completamente, devorá- la até o próprio rosto ficar molhado com a umidade da excitação dela. Ele acalmaria seu desejo e então se concentraria apenas nela, dando a si um longo tempo antes de olhar para cima para observar o prazer no rosto dela quando o orgasmo a atingisse.
Mas, na visão, ele não via o rosto mascarado de uma estranha. Era o rosto de Anahi. Aquela estranha o excitara. Anahi era a mulher que ele desejava para fazê- lo se sentir completo.
Ele precisava sair dali. Agora. Porque, mesmo com Anahi o dispensando, mesmo não tendo absolutamente nada entre eles, ela ainda era a mulher que ele realmente desejava. Aquela com quem ele sonharia esta noite, tendo se aliviado em uma ejaculação agora ou não.
Ele poderia ir para a cama com aquela estranha… e poderia até mesmo ser bom. Mas não daria fim ao
desejo dele. E com certeza iria complicar as coisas em seu novo emprego.
Logicamente, ele sabia de tudo isso. O bom filho dos Herrera que não conseguia se imaginar levando uma mulher como aquela para conhecer sua família tradicional já deveria ter se mandado dali há muito tempo.
Alguma coisa o fez ficar. Talvez fosse o outro Alfonso. Aquele que se tornara predatório no campo de batalha e entediado no mundo real. Aquele que fora dispensado pela mulher relutante que ansiava e que estava cara a cara com uma mulher disposta que ele desejava.
Os olhares de ambos se encontraram, os dela um tanto escondidos atrás daquela máscara que ela ainda usava. Os lábios estavam sensualmente curvados em um sorriso sensual e o queixo, erguido em puro desafio visual.
Alfonso não conseguia evitar. Ele começou a sorrir também, um sorriso contraído, perigoso, que poucos teriam reconhecido no rosto de um dos afáveis garotos dos Herrera.
– Não acho que o biombo funcione muito bem –
conseguiu dizer Alfonso, a voz gutural.
– Eu diria que depende de quais são minhas
intenções.
Mais esperto, ele perguntou:
– Se não é para lhe dar privacidade ao se trocar, para que você quer que ele sirva?
O sorriso se expandiu, um brilho de prazer aparecendo naqueles olhos escondidos.
– Talvez simplesmente aumentar a expectativa. É incrível como é muito mais excitante ver um pouco… mas não tudo.
– Você mostra quase tudo no palco.
– Quase – reconheceu ela. – Mas, se você notou, principalmente a pele e as pétalas, e só um pequeno vislumbre no final.
Ele cerrou o maxilar.
– Eu percebi.
– Aquilo fez você querer mais? O vislumbre deixou você com desejo de dar uma olhada… o que, por sua vez, deixou você ávido por um toque?
O que o deixaria insano por uma provada.
Ele não respondeu; não precisava. Ela viu a resposta no rosto dele. Como se cansada do jogo, ela saiu de detrás do biombo, ainda usando apenas três coisas: a calcinha minúscula, o sutiã sumário e a máscara de veludo vermelho que era maior do que as outras duas
peças.
– Por que você não tira isso? – perguntou ele, necessitando ver o rosto dela. Ele precisava encontrar nela algo que o desanimasse, assim ele poderia subir para onde o chefe o estava aguardando. Assim, ele poderia tirá-la cabeça e voltar a controlar sua libido.
Arqueando uma sobrancelha questionadora, ela apontou para o sutiã, ato que o surpreendeu, lhe arrancando uma pequena risada. Porque, diabos, sim, ele gostaria de vê-la sem o sutiã, bem de perto, mas sabia que não poderia deixar isso acontecer. Não se quisesse manter seu emprego. Não se quisesse ter o tipo de vida que seus irmãos possuíam.
Não se quisesse fazer as coisas funcionarem com
Anahi.
– Não. Estou falando disso. – Ele fez um meneio de cabeça em direção à máscara.
– Acho que não.
– Você realmente leva esse anonimato tão a sério?
– Mais do que você imagina.
Ela se aproximou mais e Alfonso honestamente não sabia o que o agradava mais: sentir o calor quando ela se aproximava, ou vê-la dos dois modos, ao vivo e refletida no espelho. A calcinha da mulher não era
apenas minúscula, era tipo tanga, e ele podia ver as curvas suculentas do traseiro dela no espelho. As mãos cerraram diante do desejo de preenchê-las com aquelas curvas.
Ela pegou a mão esquerda dele e a ergueu.
– Nenhuma aliança.
Ele balançou a cabeça.
– Então não tem ninguém… especial?
Ele hesitou um segundo antes de responder. Uma semana atrás, a resposta teria sido um “não” inequívoco. Agora ele não tinha tanta certeza. Alfonso se salvaguardou:
– Essa pessoa especial é uma questão que está no ar no momento.
Ela fez um beicinho reluzente e molhado contra o veludo vermelho que lhe envolvia a boca.
Ele queria mordê-lo. Sugá-lo e lamber a corpulência ali, e então colocá-la no colo e explorar todas aquelas curvas e ângulos delicados do corpo dela.
– Também estou solteira – murmurou ela, lambendo os lábios como se tivesse lido os pensamentos dele. – E, francamente, em meu ramo de trabalho não tenho muita utilidade para encontros e conversinhas para conhecer melhor.
Ele suspeitava saber para onde ela estava indo. Com alguma outra mulher, qualquer outra mulher, ele buscaria sinais, se perguntaria se ela estava tentando conquistá-lo. Mas essa seria muito franca sobre o que desejava.
Ela levantou a mão, trilhou as pontas dos dedos pelo ombro dele, as unhas arranhando o algodão da camisa dele. Ele sentia o toque em todos os lugares . O perfume dela o dominava. O calor dela gritava para ele em um convite sexual puro.
E ela deixou ainda mais claro:
– Quero fazer sexo com você.
O coração dele falhou. A calça encolheu na virilha e, se a mulher olhasse para baixo, saberia que ele poderia acolhê-la muito facilmente. Várias vezes, se ela assim o permitisse.
Antes que Alfonso pudesse dizer qualquer coisa, ela prosseguiu rapidamente:
– Apesar do que você possa pensar, já que acabamos de nos conhecer, não estou fazendo essa sugestão sutilmente. Conforme Harry poderia confirmar… Não tenho o hábito de deixar homens entrarem em meu camarim. Você é, na verdade, o primeiro com quem fiquei a sós desde que comecei a
trabalhar aqui.
Interessante. Ela soava como se estivesse preocupada se ele questionaria sua moral ou pensaria que ela não tinha valor. Ele havia conhecido mulheres desprezíveis. Mas, pela sua experiência, eram mulheres com baixa autoconfiança e autoestima mais baixa ainda, que se agarravam ao sexo com qualquer um em um esforço de alimentar seus egos e preencher seus corações vazios.
Ele já sabia que Rosa não era desse jeito. Ela era incrivelmente autoconfiante. Podia erguer um dedo e ter qualquer homem do andar de cima pronto a lhe oferecer qualquer coisa que ela desejasse… e ela sabia disso. Não precisava de devoção física para lhe alimentar a autoestima. Na verdade, ele suspeitava de que fosse a autoestima inabalável dela a responsável por fazê-la tirar a roupa em um ambiente lotado de homens e ainda assim permanecer tão completamente fora do alcance de todos eles.
Ela podia tirar a roupa para eles, atraí-los, seduzi- los… mas nunca se rebaixava a um nível que dissesse que ela sempre iria dar a eles o que desejassem.
Mas, agora, era exatamente o que ela estava fazendo. Oferecendo-se… para ele.
– Estou lisonjeado – disse ele, o tom rouco.
Ela o tocou, passando as pontas dos dedos pelo cós da calça dele, puxando a camiseta um pouquinho.
– Mas não vai acontecer. A mão dela parou.
– Você disse que não era comprometido.
– Essa não é a única questão.
– Você está atraído por mim.
Ele não podia negar algo tão óbvio.
– Nós trabalhamos juntos.
Dando de ombros de maneira despreocupada, ela se aproximou mais, deslizando um pé descalço entre os dele, de forma que sua perna roçasse a coxa dele.
– Trabalhar juntos é o que torna isso muito…
conveniente.