CAPÍTULO UM
DURANTE AS duas primeiras semanas após ter retornado do Oriente Médio, Alfonso Herrera genuinamente não se importara com o jeito como sua família se preocupara com ele. Houvera uma série de churrascos de boas-vindas no pequeno quintal da casa geminada onde ele havia sido criado. Houvera até mesmo jantares maiores na pizzaria da família, que havia sido sua segunda casa enquanto ele crescia.
Fora arrastado para casamentos da família pela mãe e para a cozinha do restaurante pelo pai. Tivera bebês molhados e pegajosos colocados em seu colo pelas cunhadas, e fora coberto de cerveja pelos irmãos, que queriam saber detalhes de tudo o que ele havia visto e feito em outro continente. E ele bebera várias rodadas de drinques erguidos em brinde a ele por quase estranhos que, o tendo elogiado devidamente como patriota, queriam ir além e discutir a política da bagunça toda.
E fora aí que ele colocara limites. Não queria
conversar a respeito. Após 12 anos na Corporação, vários deles na ativa no Iraque, estava cansado. Não queria reviver as batalhas, feridas ou dias de glória, nem mesmo com os irmãos, e certamente não justificaria sua escolha em se alistar às forças armadas a pessoas que nunca nem mesmo conhecera.
Aos 18 anos, recém-saído do Ensino Médio, sem qualquer interesse na universidade e muito menos nos negócios da família, alistar-se na Marinha parecera um jeito legal de passar alguns anos.
Que rebelde idiota ele fora! Estúpido. Despreparado. Imaturo.
Ele rapidamente aprendera… e amadurecera. E, ao mesmo tempo em que não se arrependia dos anos passados servindo seu país, algumas vezes desejava poder voltar no tempo para socar aquele moleque de 18 anos e acordá-lo para a realidade que iria enfrentar.
Realidade como esta: voltar para casa, para um mundo que ele não reconhecia. Para uma família que há muito optara por seguir a vida sem ele.
– Tudo certo com você? – perguntou seu irmão gêmeo, Mark, que estava sentado diante dele em uma baia de bar, bebericando uma cerveja. Todos os irmãos tinham o hábito de parar no restaurante da família
depois do trabalho algumas vezes por semana.
– Estou bem.
– Sentindo o molho marinara correr em suas veias outra vez?
Nick riu.
– Você acha que o Papà ao menos percebeu que existem outros tipos de comida?
Mark balançou a cabeça. Esticando a mão para a cesta de pães, serviu-se de um palitinho de pão.
– Você acha mesmo que mamãe já tentou cozinhar para ele outro tipo de comida?
– Bem pensado. – Os pais combinavam bem em sua certeza de que qualquer outra comida além da italiana era imprópria para consumo.
– Ela ainda está reclamando porque você não vai voltar para casa?
Assentindo, Alfonso pegou um palitinho de pão para si. Pelo seu murmúrio, ele não trocaria a comida do pai por nada… especialmente o bandejão interminável que ele tinha de tolerar no serviço militar.
– Ela parece pensar que eu seria feliz morando em nosso velho quarto com o pôster na parede da Demi Moore em Proposta indecente. É como entrar em uma maldita fenda no tempo.
– Você sempre preferiu Até o limite da honra.
Alfonso apenas suspirou. Mark raramente levava alguma coisa a sério. Nesse aspecto, ele não tinha mudado nada. Mas todo o restante certamente mudara. Durante os anos que ele passara fora, as poucas visitas ao lar não permitiram que Alfonso se mantivesse mentalmente alinhado aos seus comuns. Em sua cabeça, quando deitava em sua cama de lona se perguntando se haveria um dia no qual a areia não iria se infiltrar em cada superfície das roupas dele outra vez, os Herrera eram o mesmo bando grande e barulhento com o qual ele crescera: dois pais trabalhadores e um monte de crianças.
Eles não eram crianças mais, no entanto. E a Mamma e o Papà haviam desacelerado bastante ao longo dos anos. O pai havia entregado a gestão diária do Herreras ao irmão mais velho de Alfonso,Tony e ficava na cozinha bebendo chianti e cozinhando.
Um dos irmãos era promotor público. Outro, um empreiteiro de sucesso. A única irmã deles era recém- casada. E, o mais chocante de tudo para Alfonso. Mark, o gêmeo dele, estava prestes a se tornar pai.
Casado, domesticado e reproduzindo… isso descrevia as vidas felizes dos cinco outros irmãos
Herrera E cada um deles parecia achar que Alfonso deveria fazer exatamente a mesma coisa.
Alfonso concordava com eles. Pelo menos, havia concordado com eles enquanto estava vivendo a rotina diária em um lugar onde nada era garantido, nem mesmo a vida dele. Parecia perfeito. Um sonho pelo qual poderia lutar ao fim do serviço militar. E agora estava ao seu alcance.
Ele só não tinha certeza se ainda o queria.
Não duvidava que seus irmãos fossem felizes. As conversas deles eram repletas de gracejos, casas, carros utilitários e conversas sobre bebês que todos pareciam adorar, mas Alfonso simplesmente não acompanhava. E não tinha certeza se um dia acompanharia… apesar de saber que deveria.
Eu vou acompanhar.
Pelo menos, ele esperava que acompanhasse.
O fato de ele estar entediado até a alma ao ajudar no Herreras e de ainda não ter conhecido nenhuma mulher adequada que fazia seu coração bater mais depressa, muito menos uma com quem ele gostaria de escolher nomes de bebês, era meramente produto da própria readaptação à vida civil. Ele se reenquadraria. Em breve. Não havia dúvidas sobre isso.
No entanto, tinha que evitar ir atrás da única mulher que ele vira recentemente que não apenas fizera seu coração acelerar, mas também lhe oferecera uma experiência quase sexual dentro de um ambiente lotado. Porque de jeito nenhum ela era adequada. Era uma stripper. Uma com a qual estaria trabalhando muito em breve agora que havia concordado em aceitar o trabalho como segurança em um clube chamado Leather and Lace.
Obrigando-se a afastar a visão da dançarina sensual de seu cérebro, Alfonso se concentrou no tipo de mulher normal que ele conheceria algum dia e que poderia lhe inspirar reação semelhante.
Ele estava tendo ajuda para encontrá-la. Todo mundo, aparentemente, queria que ele encontrasse a mulher “perfeita” e, por acaso, todos a conheciam. A mais recente, sua cunhada, que o convidara para jantar e coincidentemente tinha chamado a melhor amiga solteira para ir também, ficaria olhando para a cadeira vazia de Alfonso
– Você tem ideia do quanto estou feliz por sua esposa estar grávida?
– Sim, eu também – respondeu Mark, ostentando o mesmo olhar cheio de vida desde que começara a
contar a todo mundo que Noelle estava esperando um bebê. – Mas eu quero saber por que você está tão feliz.
– Porque isso significa que ela não vai ter tempo para arranjar encontros para mim com a última amiga/cabeleireira/vizinha solteira dela ou simplesmente com qualquer mulher que passar.
Mark teve a audácia de sorrir largamente.
– Isso não é engraçado.
– Sim, é. Eu tenho visto as mulheres que eles têm jogado em cima de você.
– Você também tem me visto jogá-las de volta para eles.
Assentindo, Mark bebeu um gole da cerveja.
– Não importa se ela é loura, morena, ruiva ou careca. Qualquer mulher solteira que estiver viva é empurrada em cima de mim.
– E católica – apontou Mark.
– As escolhas de mamãe, sim. Mas nenhuma delas faz meu tipo.
Impassível, o irmão perguntou:
– Mulheres?
– Vá se ferrar – respondeu ele. – Quero dizer, tenho algumas preferências.
– Grandes…
– Além disso – rebateu Alfonso
Mark cedeu:
– Tudo bem, estou brincando. O que você de fato
quer?
Aquela era a pergunta-chave, não era? Alfonso não fazia ideia do que queria. Supostamente deveria ser alguém que o fizesse desejar aquilo ali. Aquele estilo de vida sossegado de interior-na-cidade-grande.
– Não sei se sirvo para todas essas coisas que vocês têm.
Quando Mark arqueou uma sobrancelha, Alfonso acrescentou:
– Eu não estava criticando. Vocês todos parecem felizes. Os casais nesta família não parecem tão…
– Entediantes?
– Acho que sim.
– Obrigado – respondeu o irmão secamente.
– Sem ofensas. Mas vocês são exceção, não a regra. Mark murmurou:
– São muitas exceções, então.
E eram. Isso significava que Alfonso era um azarado. Quantos casamentos ótimos e felizes poderia haver em uma única família?
Mas ele não iria deixar de tentar. Estivera dizendo a
si durante os últimos três anos de ativa no alistamento que, uma vez que estivesse livre, uma vez que estivesse em casa, iria ter o tipo de vida que o restante de sua família possuía. Os sonhos que aquele estilo de vida normal e feliz que o sustentaram durante alguns dos combates mais perversos que ele já vira. Ele não iria desistir deles agora. Nem mesmo se, repentinamente, pareciam um pouco adormecidos.
– Encare, eles não vão descansar até você sossegar.
– Como você? – perguntou ele, levantando uma sobrancelha. Seu irmão gêmeo era um policial linha- dura de Chicago que dificilmente poderia ser descrito como “sossegado”. O sujeito era tão durão quanto aparentava, apesar de seu senso de humor pateta, às vezes.
– Sim. Como eu.
Alfonso revirou os olhos.
– Sossegado é algo que você, com certeza, não é. – Ele olhou para os cortes nos nós dos dedos do irmão.
Mark sorriu, dando uma piscadela.
– O cara resistiu à prisão.
– Noelle sabe disso?
O sorriso desapareceu.
– Não. E, se contar a ela, vou socar você.
– Eu gostaria de ver você tentar.
Recostando-se e cruzando os braços, Mark assentiu.
– Acho que você é capaz de fazer o mesmo agora que os fuzileiros o deixaram mais durão e musculoso.
Era uma discussão antiga e amigável entre eles o fato de Alfonso ter herdado o físico esguio e alto da mãe, tal como Luke e Joe. Mark e Tony se assemelhavam ao pai, de peito largo.