– ENTÃO… COMO vai você, irmãozinho? – Alfonso ouviu uma voz feminina perguntar assim que ele se sentou em uma baia no Herrera`s no dia seguinte. Era início da tarde de domingo e a multidão que ia à igreja ainda não
havia aparecido para o tradicional almoço de domingo, então ele aproveitou a calmaria par almoçar. Olhando para cima, viu a cunhada, Maite, irmã mais velha de Anahi.
Elas não se pareciam muito. Maite era bonita, especialmente para uma mãe de três filhos de 30 e poucos anos, mas ela não tinha o visual extravagante de Anahi. Seu rosto era doce, não dramático; a boca, delicada, não sensual. Não tinha o corpo incrível de Anahi. Nem havia herdado o desejo da irmã de fugir dali.
Maite personificava o mundo no qual havia crescido. Trabalhava no negócio dos pais, havia estudo ali na região. E se casado com um rapaz italiano que morava no mesmo quarteirão. Tinha ido trabalhar nos negócios da família dele. E logo começara a produzir um monte de bebezinhos italianos que eram a cara do pai.
Embora ambos fossem cabeças-duras e voláteis, e tivessem ficado conhecidos por berrar na rua quando se exaltavam, Tony e Maite eram absolutamente loucos um pelo outro. Eles tinham o tipo de casamento que qualquer um gostaria de ter. O tipo que ele teria sorte em ter… assim que descobrisse se realmente desejava
aquilo.
Sem saber que o que ele queria estava se provando um verdadeiro incômodo, transformado em algo ainda mais incômodo pela distração muito sexy chamada Rosa Escarlate. Ele fora capaz de evitá-la durante o restante da noite anterior, enquanto trabalhava na boate, mas todas as vezes que os olhos deles se encontravam, ela o fazia se lembrar de que sabia que ele estava atraído por ela.
– Alfonso? – incitou Maite. – Está tudo bem?
– Estou bem. Onde estão os garotos? – perguntou ele, olhando por cima do ombro dela em busca de seus sobrinhos mais velhos, ou o carrinho com o mais novo.
– Eu passei pelos fundos… Tony Jr. e Mikey estão na cozinha com o pai. – Ela levantou a voz, sem nunca tirar os olhos da porta vaivém que dava para a cozinha.
– E é bom não estar dando doces do jarro do avô se quiser viver mais um dia.
Da cozinha, veio o som da risada grave de Tony. Alfonso apostaria dinheiro que os garotos já estavam ligadões por causa do pote secreto de balas de goma do avô.
– E o bebê?
Maite franziu a testa, olhando em direção à porta do
restaurante.
– Deve chegar a qualquer momento. É complicado trazer os meninos sem Tony aqui para me ajudar. De jeito nenhum que eu poderia lidar com os três. Então ele ficou com a tia Any. – Sorrindo aliviada, Maite fez um sinal com a cabeça: – Aí estão eles.
Algo naquela cena de Anahi empurrando um carrinho de bebê restaurante adentro fez o estômago de Alfonso se contorcer. Não porque ela parecia uma mãe nata… mas porque ela parecia triste. Nitidamente desconfortável.
Ele teve que rir. A mulher era tão diferente de todo mundo ali! Talvez fosse por isso que ele não conseguia tirá-la de sua cabeça.
– Ei, Any, como vai indo com meu principezinho?
– Ele vomitou no meu cabelo. Duas vezes.
Maite se precipitou e pegou o garoto de 3 meses no carrinho, aninhando-o bem pertinho de si.
– Awwww, o que você fez com ele?
– Eu disse a ele que, se vomitasse em mim outra vez, eu o levaria ao zoológico e o jogaria na jaula dos ursos – murmurou Anahi. – O que você acha que fiz com ele?
Mite deu tapinhas nas costas do bebê.
– Tudo bem, a tia Any só esta mal-humorada porque
não tem um rapazinho legal a quem aninhar… muito menos quatro, como a mamãe tem.
Alfonso quase engasgou com a água que bebia com aquela provocação. Se Maite estivesse encarando a irmã, teria visto o raio mortal que havia saído dos olhos de Anahi. Aparentemente ela o ouvira… porque de repente aquele raio mortal se virou em direção a ele.
Alfonso estendeu as mãos, as palmas expostas, em um gesto universal de paz:
– Não me jogue em uma jaula de ursos.
O olhar furioso dela desapareceu e ela deu um meio- sorriso.
– Não me provoque.
– Cuidado, Alfonso – avisou Maite, ainda concentrada no bebê –, nossa Any não é a doçura da qual você se lembra. Você não vai querer se meter com ela.
Ah, sim, ele queria se meter com ela. Meter as mãos nos cabelos dela e a língua na boca de Anahi, e os braços em volta do corpo, e as pernas entre as coxas dela. Principalmente, queria se enveredar na vida dela… e que a vida dela se enveredasse à dele. Pelo menos o suficiente para ela lhe dar uma chance de recuperar parte daquele interesse que ela outrora sentira por ele.
Antes que Anahi pudesse dizer qualquer coisa, a porta se abriu e mais membros da família entraram. Os pais dele e o irmão Joe, com a esposa e o bebê a tiracolo, seguiam na frente. Havia amigos da vizinhança logo atrás. Em seguida, muitos primos, tias e tios, os quais vinham ao restaurante todos os domingos para uma grandiosa refeição familiar.
O corpo inteiro de Anahi ficou tenso, o que Alfonso pôde perceber a um metro e meio de distância. Ela não queria fazer parte daquilo, não se sentia parte daquilo. E Alfonso, mais do que qualquer um no ambiente, compreendia. Então, sem dizer uma palavra, ele se levantou, pegou a mão dela e a puxou para sua mesa.
Ela resistiu.
– O que…
– Venha, vai ficar tudo bem – sussurrou ele quando a puxou para se sentar ao seu lado. – Vou lhe dizer quem reconheço, você me diz quem você reconhece e vamos enfrentar isso juntos.
Ela o encarou, os olhos arregalados, a boca tremendo. Assemelhando-se a um cervo preso numa armadilha, ela parecia prestes a fugir. Parecia incapaz de lidar com alto tão inócuo, porém doloroso, como uma reunião de vizinhança.
– Tudo bem – repetiu ele. – Você consegue.
Foram necessários mais alguns segundos, mas aquele olhar repleto de pânico começou a desaparecer dos olhos dela lentamente. Assim que os amigos da família e vizinhos a cumprimentaram, Alfonso a sentiu começando a relaxar ao lado dele. Ela até mesmo papeou um pouco, sorrindo para pessoas que não havia visto em anos.
Tudo seguiu bem. Bem até o minuto em que alguma senhora do quarteirão bateu palmas, e então beliscou a bochecha de Anahi:
– Ah, vocês formam um casal lindo! – exclamou ela.
– Finalmente você arranjou um namorado, Anahi Portilla. Todos aqueles anos, e você finalmente conseguiu fisgá-lo!
Todo mundo ficou em silêncio, virando-se imediatamente em direção a ela. Principalmente Maite. E os pais de Alfonso.
– Droga – murmurou Anahi. O rosto dela ficou vermelho como os vinhos chianti que o Papà tanto adorava.
Alfonso colocou uma das mãos sobre a perna dela, embaixo da mesa. Porém, Anahi a afastou. E com uma breve despedida para a irmã e para a família, e uma
olhadela para Alfonso, ela saiu do restaurante a passos largos, sem olhar para trás. Nem mesmo uma vez.