– O que você está fazendo? – murmurou ela, do outro lado da vitrine no fim da tarde de quinta-feira, quando ele bateu à porta trancada.
– Estou trazendo flores para você – gritou ele de volta. – Abra.
– Não traga flores para mim.
Dando de ombros, ele sorriu para ela.
– Tarde demais.
– Estou falando sério.
– Como eu disse, tarde demais. Qual é, deixe-me entrar. Elas estão com sede.
Ela olhou para ele. Ao perceber pedestres parando para assistir ao show, ela deu um passo adiante e mostrou os dentes.
Cara, a mulher era picante quando ficava brava.
– Vá embora!
Ele balançou a cabeça, fazendo “tsc, tsc, tsc”. Então olhou para a mulher mais perto dele que havia parado para ver o que estava acontecendo.
– Consegue acreditar que ela não quer minhas flores?
Um adolescente e a namorada, que também tinham parado, cantarolaram juntos:
– Vamos ficar com elas!
A mulher mais velha, uma avó de cabelos grisalhos, franziu a testa:
– O que você fez?
Boa pergunta. Ele não estava totalmente certo do que tinha feito.
– Eu não a reconheci depois de passar dez anos sem
vê-la.
A vovó arqueou as sobrancelhas. Tirando Alfonso de seu caminho, ela marchou até a vitrine, esticou o dedo indicador e apontou para Anahi.
– Aceite as flores, garota boba. – Revirando os olhos e bufando sobre a juventude ser desperdiçada pelos jovens, ela saiu andando pela rua.
Anahi, ainda rosnando praticamente, destrancou a porta, abriu-a num tranco e agarrou o braço dele.
– Entre aqui e pare de fazer papel de bobo.
– Eu não estava fazendo papel de bobo – apontou ele. – Você estava fazendo com que eu fizesse papel de bobo.
– Você não precisa de muita ajuda para isso. Balançando a cabeça e sorrindo, ele murmurou:
– O que aconteceu à Anahi doce, amigável e ansiosa para agradar?
– Ela cresceu.
Ela arrancou o buquê da mão dele, fuçando atrás do balcão e pegando uma jarra para colocar as flores. Enquanto a observava, ele notou a fungada clandestina que ela deu nos botões, e o jeito como aprumou os ombros, como se perturbada pela própria fraqueza.
Alfonso não a seguiu, por mais tentado que estivesse.
Em vez disso, recostou-se no balcão de vidro, apoiando os cotovelos nele.
– As flores são uma oferta de paz.
– Estamos em guerra?
– Para mim, parece que sim desde que fui estúpido o suficiente para não reconhecer você naquela noite no Santori’s.
Ignorando-o, ela terminou de encher a jarra com água, fechou a torneira e enfiou as flores ali.
– Ainda não consigo acreditar que você está me punindo por isso.
– Não se iluda. Não estou punindo você por nada. Só não estou interessada em você, Alfonso.
– Sim, entendi. – Só que ele não entendia. De jeito nenhum ele estava pronto para admitir aquilo. Algo tinha feito Anahi colocar um muro entre eles… e ele iria descobrir o que era. – Mas não tem motivo para que não possamos voltar a ser amigos, tem? Já fomos amigos.
– Não. Não fomos. Você era o garanhão do universo e eu era a cadelinha com a imensa e humilhante paixonite por você. Você não pode achar mesmo que eu voltaria a esse ponto.
– Eu lhe digo uma coisa, Anahi – falou ele, ouvindo a
frustração na própria voz. – Não tenho certeza do que desejo de você. Eu só sei que não consigo suportar o fato de você nem mesmo olhar para mim.
Ela finalmente fez aquilo. Olhou para ele, encontrou o olhar direto dele. Ele viu uma confusão tempestuosa naqueles olhos azuis. Foi acompanhada pelo tremor daqueles lábios exuberantes e pela batida da pulsação no pescoço dela.
– Você gostava de mim – disse ele suavemente. – E nós nos saíamos muito bem ajudando um ao outro nas reuniões de fofocas da vizinhança disfarçadas de almoço de domingo. Podemos pelo menos tentar ser amigos?
Ela abriu a boca para responder. Fechou. Então, suspirando enquanto empurrava o vaso de flores para o centro do balcão, assentiu lentamente.
– Acho que sim.
Era um começo. Talvez não o começo que ele queria com ela… mas pelo menos era o começo de alguma coisa.
– Quer café? – Ela não soou particularmente entusiasmada ao fazer o convite.
Ele olhou para a cafeteira industrial, completamente limpa já para a noite, e balançou a cabeça, sem querer
dar trabalho a ela.
– Tenho uma cafeteira menor nos fundos.
– Parece bom.
Alfonso a seguiu pelo pequeno corredor entre a cafeteria e a cozinha, tentando se lembrar de que não era muito educado encarar longa e fixamente o traseiro de alguém que era apenas uma amiga. Não funcionou. Porque, embora usasse uma calça cáqui larga e um avental imenso, a mulher tinha formas incríveis. Cada passo fazia o tecido grudar às curvas, e o requebrado natural dos quadris dela o deixava tonto.
Amigos. É isso. E nada de amizade colorida.