Porém, após muitos anos fazendo exercícios físicos pesados no alistamento, Alfonso não era mais o “irmãozinho” de ninguém.
– Acho que eu poderia dar conta de você.
– Acho que você poderia dar conta de qualquer um. Então, por que você não vem até a delegacia para conversar com meu tenente?
– Não estou interessado no seu trabalho, mano. Já aguentei regras e normas o suficiente por hora. – Eles haviam conversado sobre tal possibilidade algumas vezes desde que Alfonso voltara para casa, mas ele não pretendia ceder naquela questão. Havia cumprido sua pena nos campos de batalha no Iraque, e não queria aumentá-la em Chicago.
– Sim, tudo bem – disse Mark, olhando em volta do restaurante lotado. – Estou vendo por que isto aqui
mexe muito mais com você.
Alfonso seguiu o olhar do irmão e sufocou um suspiro. Porque Mark estava certo. Ajudar na pizzaria não era um problema no curto prazo, afinal ele tinha ajudado a gerir o lugar quando estava no Ensino Médio, dedicando mais tempo do que qualquer um dos irmãos. Mas ele realmente desejava se tornar um sócio nos negócios junto ao seu irmão Tony, conforme costumava dizer… e conforme a família estava esperando?
Parecia impossível. Mas Mark era o único que compreenderia isso.
– Vou entrar no ramo da proteção – admitiu ele.
– Você vai produzir camisinhas em massa? – Mark soou completamente inocente, embora seus olhos cintilassem com seu bom humor de sempre.
– Mal posso esperar para contar ao seu filho sobre o delinquente juvenil que você era. Como quando você colocou a revista Playboy na gaveta da escrivaninha do Padre Michael quando estava na sexta série.
– Acredite, meu filho vai saber que o papai está na ativa assim que tiver idade suficiente pensar em surrupiar chocolates em lojas. Agora, qual é a desse seu trabalho com proteção?
– Vou trabalhar meio período como guarda-costas.
– Está brincando? – disse Mark, soando surpreso.
– Joe fez uma reforma em uma boate no subúrbio da cidade e ficou amigo do dono. Acontece que eles precisavam de pessoal extra na segurança, então ele arranjou uma entrevista. Fui lá no domingo à noite para conversar com eles.
– Aposto que Meg adorou ver nosso irmão mais velho Joe reformando uma boate.
Assim como o restante, Joe tinha um casamento feliz. Alfonso sabia que ele nem mesmo iria olhar para outra mulher.
– Então – perguntou Mark –, por que uma boate precisa de um guarda-costas?
Alfonso sabia exatamente por que aquela boate precisava de um guarda-costas após assistir à apresentação de uma dançarina chamada Rosa Escarlate. A estranha sensual habitara os sonhos dele e mais do que algumas de suas fantasias desde que ele a vira no palco, revelando seu corpo incrível enquanto ainda permanecia, de algum modo, tão acima daquilo tudo. Ele imaginava que homens com menos autocontrole poderiam tentar fazer mais do que fantasiar com aquela mulher.
– As dançarinas atraem muita atenção indesejada –
disse ele, sem querer entrar em mais detalhes. Não porque ficava constrangido sobre seu emprego, mas porque não queria começar a conversar sobre a dançarina envolta em pétalas de rosa e sobre o efeito que ela causava nele.
Alfonso não precisava daquele tipo de distração em sua vida. Uma stripper sensual definitivamente não se encaixava no estilo de vida certinho dos Herrera que ele ficava dizendo a si que desejava. Nem um pouco. Portanto, trabalhar com ela iria ser um embuste.
Mas ele já havia lidado com desafios maiores. Além disso, conhecê-la, conversar com ela, acabaria com a beleza daquela rosa. Fantasias intensas eram feitas para mulheres intocáveis, misteriosas, desconhecidas. Era, conforme ele viera a acreditar enquanto estava vivendo no Oriente Médio, parte do fascínio das mulheres veladas daquela cultura. O desconhecido sempre construía altas expectativas.
Rosa Escarlate logo deixaria de ser uma desconhecida. Ele veria o rosto que tinha ficado escondido atrás da máscara e os segredos dela seriam revelados. Então ela se tornaria muito menos intrigante.
Querendo tirá-la da mente até o instante inevitável, quando ele começasse a trabalhar, Alfonso mudou de
assunto:
– O lugar está movimentado.
– Então por que você não está lá aceitando ordens de mulheres que gostariam de jantar você, com aquele atrevimento todo delas?
– Até mesmo os empregados têm uma noite de folga de vez em quando.
Ele lançou um olhar entediado pelo cômodo. Uma fileira de clientes estava junto ao balcão, esperando para levar os pedidos para viagem. Todas as mesas estavam ocupadas. Garçonetes iam para lá e para cá em movimento constante, todas supervisionadas pela Mamma. Nada captou a atenção dele… até ela aparecer. E então ele não conseguiu desviar o olhar.
Ela fez o coração dele parar, do mesmo jeito que a dançarina havia feito, embora ambas não pudessem ser mais diferentes.
A estranha parou junto à porta, recostando-se contra a parede. Sem olhar para ninguém, os olhos dela permaneciam concentrados sobre algum ponto lá fora. A postura dela ostentava um desinteresse cansado, como se ela estivesse ausente da tagarelice dos clientes em volta. Ela estava distante, sozinha, perdida no próprio mundo de pensamentos.
Deslocada.
Aquilo, tanto quanto a aparência dela, captou a atenção de Alfonso diretamente. Porque ele também sabia como era não se encaixar naquele mundo barulhento da família, amigos e vizinhos que se conheciam há anos.
Ela era solitária, independente, fato que o interessava.
E a aparência dela o deixou simplesmente sem fôlego.
Dali de onde estava sentado, ele tinha uma visão ideal do perfil dela. Os cabelos volumosos e castanho- escuros caíam de um rabo de cavalo casual, destacando as maçãs do rosto salientes e o queixo delicado. O rosto parecia macio, a pele, lisa e delicada. Embora os lábios estivessem entreabertos, ela não parecia estar sorrindo. Ele suspeitava de que ela estivesse suspirando de vez em quando, mas, se de infelicidade ou de tédio, ele não sabia dizer.
Vestida casualmente com jeans e camiseta, ela também usava um enorme avental de padeiro sobre as roupas. Aquilo tornava a conferência de suas formas impossível. Mas, a julgar pelo comprimento daquelas pernas, embaladas a vácuo na calça jeans desbotada e apertada, ele imaginava que era espetacular. Com uma
mochila leve pendurada em um ombro, ela parecia ter parado para pegar uma pizza no caminho do trabalho para casa, assim como todos na fila.