CURIOSO. CERTA vez, Alfonso pensara que fazer um sexo absolutamente enlouquecedor com uma mulher a tornaria mais amigável. Pelo menos mais acessível.
Não. Hum-hum. Não Anahi Portilla . Porque minutos depois do incrível momento de amor nos fundos da van de entrega, ela estava sendo fria com ele outra vez, tentando agir como se nada tivesse mudado entre eles.
Depois de um sexo daqueles, ele meio que esperava ser convidado a entrar para beber uma xícara de café… se não uma sobremesa. Ah, ele nunca iria olhar para uma bomba folheada de creme do mesmo jeito outra vez.
Mas ela não o convidara para entrar. Não respondera quando ele perguntara se ela queria comer em algum lugar. E, nos dias que se seguiram, não retornara os telefonemas dele. Nem mesmo o olhara nos olhos nos últimos dias.
A mulher o estava matando, realmente estava. Quando ele finalmente a confrontou na calçada em
frente à confeitaria na tarde de sexta-feira, ela eclodiu:
– Foi coisa de uma noite só, Alfonso. Foi fabuloso, eu adorei, mas não vai acontecer de novo. Porque, se acontecer, aí você vai me perturbar mais para que eu vá comer uma pizza com você, ou visitar sua família, e então a vizinhança inteira vai ficar parabenizando a coitadinha da Anahi por finalmente ter fisgado seu homem.
Ela entrou sem dizer mais uma palavra. Não precisava fazê-lo. Ele entendeu o recado em alto e bom som. Ela havia adorado o sexo, só não queria toda a coisa que vinha junto com o relacionamento sexual. Ou com qualquer relacionamento que fosse.
Ele pensou em propor que simplesmente agendasse um encontro semanal para o sexo na van estacionada atrás da loja, suspeitando que poderia tê-la naquelas condições caso ele a quisesse.
Mas ele não a queria naquelas condições.
– Diabos, admita, você a quer em qualquer condição
– murmurou ele em voz alta, enquanto entrava pela porta dos fundos do Herrera`s naquela tarde. Ele nem mesmo tinha percebido que havia alguém ali, até ver o irmão, Joe, que havia acabado de estacionar sua caminhonete em uma das vagas vazias do beco.
Felizmente Joe não ouviu Alfonso conversando sozinho e não precisou ligar para o hospício.
– Ei, ia sair? – perguntou Joe, enquanto saía do carro e colocava as chaves nos bolsos. – Eu iria levar você para tomarmos aquela cerveja que você me deve.
– Não sou uma companhia muito boa agora –
admitiu ele.
Joe, que era o mais gentil de todos os filhos dos
Herrera, jogou o braço em torno dos ombros de Alfonso.
– Então que hora melhor do que essa para dividir uma cerveja com seu irmão?
Ele estava certo.
– Tudo bem. Mas aqui não – disse ele, olhando para a porta fechada da cozinha. – Eu realmente preciso de um lugar tranquilo.
O sorriu de Joe desapareceu e ele imediatamente pareceu preocupado.
– Está tudo bem? Algum problema?
– Nenhum problema. Só uma overdose de família.
– Saquei. Vamos lá, vamos para o outro lado da rua. Seguindo Joe até o bar da vizinhança, na esquina, Alfonso pediu duas cervejas e pagou a conta. Se Mark estivesse sentado diante dele, Alfonso sabia que ele estaria fazendo piadas curtas para incitar o irmão a
contar o que tinha em mente. Lucas estaria fazendo seu interrogatório de promotor. Tony iria chantageá-lo com o peso de sua responsabilidade de irmão mais velho para tentar incitá-lo a falar. Lottie iria tagarelar tanto que Alfonso iria dizer qualquer coisa para fazê-la calar a boca.
Joe apenas ficou observando. Escutou. Aguardou.
– Obrigada mais uma vez por me indicar àquele trabalho – disse Alfonso finalmente, preenchendo o silêncio. O bar estava bastante vazio; estava cedo demais para receber os frequentadores do fim de semana, que se dedicariam a uma longa noite de bebedeira e jogos de dardos.
– Como está indo lá?
– Muito bem. Só trabalhei nos últimos dois fins de semana, mas o dinheiro é bom.
– Você ainda não contou ao restante da família? Alfonso balançou a cabeça.
– Só para o Mark. Joe assentiu.
– Provavelmente é melhor assim. Eu sei que Papà e Tony estão falando sem parar sobre você entrar nos negócios do restaurante.
Sim, eles estavam em cima dele também. Alfonso não
conseguiu evitar um franzir de testa intenso. Porque ele não se enxergava administrando uma pizzaria nos próximos seis meses, muito menos pelo restante de sua vida.
– Tudo bem, Alfonso, ninguém pode obrigar você a fazer qualquer coisa que não queira.
– A culpa vai longe – murmurou ele.
– E eu não sei? Mas a culpa não impediu você de se alistar. E não me impediu de pegar um martelo e aprender construção. Não impediu Mark de empunhar uma arma ou Lottie de… bem, de fazer o que quer que ela esteja fazendo.
– Como se casar com um sujeito que matou alguém?
– perguntou Alfonso secamente, ainda desacostumado à ideia de seu novo cunhado, Simon, ter matado uma mulher, mesmo que em legítima defesa.
– Não vamos falar disso – disse Joe, com um suspiro. – Ela está feliz e ele é louco por ela.
Verdade. O casamento recente de Lottie e Simon havia contribuído para a taxa de felicidade conjugal de
95 por cento da família Herrera.
– O ponto é: você pode viver sua vida do jeito que quiser, e ninguém vai tentar impedir. – Como se percebendo que havia deixado Alfonso, com um dilema
maior, ele acrescentou: – Exceto pela choradeira de Mamma. A qual todos já estamos acostumados e que você pode superar. Você só precisa descobrir o que quer fazer e correr atrás.
Boa ideia. E, ultimamente, Alfonso estava descobrindo o que desejava fazer, especialmente desde que estava trabalhando na boate.
– Um velho amigo meu do emprego está montando algo junto com uns outros caras. Estão falando sobre abrir uma empresa de segurança.
– Guarda-costas profissionais? – perguntou Joe, parecendo surpreso.
– Tenho conhecimento militar para isso e gosto do que estou fazendo na boate.
Joe sorriu.
– Especialmente quando as pessoas que você está protegendo são muito agradáveis aos olhos.
– Como se você um dia já tivesse olhado para outra mulher.
A piscadela do irmão confirmou isto.
– Eu não sou você. Você é o solteiro. Você já conheceu alguém, bem… interessante?
Alfonso sentiu um calor subir pelo seu pescoço. Porque aquela era uma pergunta cheia de significado. Ele
definitivamente havia se interessado pela Rosa Escarlate. Mas agora que havia ficado com Anahi.. provado, consumido, feito amor com ela… ele sabia que não queria nenhuma outra mulher. Mas não sabia muito bem como explicar aquilo a Joe sem dar pistar sobre o que havia acontecido com Anahi. Ela nunca o perdoaria se aquele pequeno boato viesse a conhecimento geral.
– Acho que sim.
– A estrela da boate? – Joe bebericou sua cerveja. – Eu soube que ela é única.
Pigarreando, Alfonso se recostou na baia.
– Ela é.
– Houve mais algum problema com ela? – Joe soou apenas casualmente interessado, mas Alfonso subiu a guarda imediatamente.
– Problema?
– Ameaças, malucos tentando agarrá-la? Alfonso se aprumou no assento.
– Não. Do quê você está falando?
– Harry nem mesmo disse a você porque o contratou?
Ele tinha dito, mas apenas de maneira geral. Alfonso não percebera que Rosa havia sido ameaçada de fato.
– O que você sabe?
– Só as coisas que os caras ficavam cochichando quando estávamos trabalhando na boate. Que houve alguns incidentes que perturbaram Harry e assustaram as dançarinas. Especialmente a dançarina principal.
Harry Black não havia contado quase nada sobre quaisquer ameaças específicas. Rosa havia contado ainda menos. Por que eles o contratariam e então se reservariam a não lhe fornecer toda a informação necessária para ele executar seu trabalho? Ele não compreendia.
– Talvez, quem quer que estivesse causando problemas, tenha sido pego e a ameaça tenha sido eliminada – murmurou ele, especulando em voz alta. – Porque não recebi nenhum tipo de ordem específica.
Joe manteve o olhar sobre sua cerveja, evitando encarar Alfonso por algum motivo. E isso fez o outro se perguntar sobre o nível do interesse de seu irmão com relação à stripper.
Alfonso desconsiderou imediatamente qualquer suspeita de Joe estar interessado na mulher. Ele era casado com a professora de jardim de infância mais sexy que havia, e adorava ela e a filha deles. Além disso, de todos os Herrera, que foram criados sob a
chancela de que trair equivalia a um pecado mortal, Joe era o último a, provavelmente, se desviar.
– Bem, se eu fosse você, eu ficaria bem próximo da atração principal da Leather and Lace. Acho que ela é um alvo em potencial mais do que ela ou Harry gostariam de admitir. – Balançando a cabeça, Joe acrescentou: – Há alguns sujeitos realmente doentes lá fora que gostam de perseguir mulheres vulneráveis.
Sentindo-se no limite de repente, Alfonso assentiu, ansioso para chegar à boate e questionar Harry Black. Ele não queria confrontar Rosa particularmente, não a sós, mas uma coisa era certa: ele havia sido contratado para executar uma função, que era protegê-la. Estava na hora de impedir que sua reação física à mulher interferisse na execução de seu trabalho.
E já havia passado da hora de ele impedir que seus sentimentos por Anahi Portilla consumissem tanto de sua atenção a ponto de ele nem mesmo perceber que um maníaco pudesse estar ameaçando alguém que ele havia sido contratado para proteger.
Aquilo precisava terminar. Começando agora.