Então, aparentemente, Anahi finalmente iria conseguir o que desejava. Ele… fora da vida dela.
– EI, ALGUÉM lhe enviou flores.
Anahi hesitou, a mão na maçaneta de seu camarim. Uma das outras dançarinas, uma jovem loura com sorriso doce e sorriso matador, aproximou-se dela.
– Estava na porta dos fundos quando cheguei. Tinha seu nome no envelope. Coloquei no seu camarim.
A primeira reação de Anahi foi um calafriozinho quando a imagem do rosto lindo de Alfonso lhe preencheu a mente. Mas ela rapidamente se dissipou. Alfonso não fazia ideia de que ela trabalhava com ele todas as noites dos fins de semana.
Que bom. Porque, se ele descobrisse agora, depois de ela ter feito um sexo incrível com ele, ele iria ficar louco. Mais do que louco: irado. Especialmente pela insistência dela em fazer da coisa um encontro único.
Deus, ela desejava muito que não fosse coisa de uma noite só. Ainda ficava trêmula, fraca e úmida ao pensar naquele interlúdio maravilhoso na van. Fora a experiência sexual mais intensa da vida dela.
Mas não deveria ser repetida. Nunca.
Não como Anahi. Nem mesmo como Rosa Escarlate. Porque, agora que ele já a havia possuído nua em seus braços, era totalmente possível que ele a reconhecesse como Rosa. Dançar e interagir com ele no trabalho já
seria complicado o suficiente. Se ela permitisse que ele se aproximasse, do mesmo jeito que ela o convidara para entrar em seu camarim naquela noite, de jeito nenhum ela seria capaz de manter seu segredo.
Então conte a verdade a ele.
A ideia tinha seu mérito, e Anahi sabia disso. Um lado dela realmente queria contar… não era fácil manter uma vida dupla sem poder conversar com ninguém a respeito. Ele escutaria… ela sabia que ele escutaria. E ela até mesmo suspeitava que ele não iria julgá-la a respeito do que ela estava fazendo. Considerando as coisas que ele havia dito sobre se sentir tão encurralado pela própria família e suas expectativas, ela achava que ele poderia até mesmo compreender. Um pouco.
Mas contar a ele, trazê-lo à sua vida alternativa, significaria envolvê-lo mais profundamente na vida real. Todos os segredos compartilhados seriam mais uma corda amarrada ao corpo dela, segurando-a, arrastando-a de volta ao mundo que ela lutava tanto para escapar.
Se ele soubesse que ela era Rosa, não haveria motivos para eles não poderem se envolver mais, pelo menos no trabalho. Aquilo, no entanto, um caso secreto
e sórdido conduzido nos camarins e armários da Leather and Lace, não seria o suficiente para ele. Ela sabia do fundo de sua alma. Ele se insinuaria na vida diária dela, começaria a enredá-la nas cordas de um relacionamento e a faria se apaixonar ainda mais por ele… e aí seria muito mais difícil abandoná-lo.
Não. Ela não podia contar a ele.
– Rosa? Você me ouviu?
Percebendo que a outra dançarina estava aguardando com expectativa pela reação dela com relação às flores, Anahi assentiu:
– Sim, obrigada, Leah.
– Sem problema. Era pegar ou tropeçar nela – disse ela, com um sorriso animado. Sem a maquiagem de palco e as lantejoulas, a jovem parecia tão doce e faceira que um casal a teria contratado para ser babá de seus filhos.
Ela havia sido uma das primeiras dançarinas a se tornar amiga de Anahi quando ela aceitara o emprego na Leather and Lace. As outras demoraram um pouco para se aproximar, especialmente Delilah, a esposa de Harry, que tinha sido a estrela da casa há alguns anos até se casar com o chefe. Agora ela era uma espécie de guardiã das outras… e não tinha gostado do fato de
Anahi não ter se interessado por suas regras e normas. E não tinha gostado especialmente do fato de não ter conseguido convencer Harry a fazer escutá-la… e do fato de a Rosa Escarlate ter se tornado imensamente popular.
Todas as outras se aproximaram, no entanto, especialmente quando começaram a ganhar mais dinheiro em todos os fins de semana que Anahi se apresentava.
– Como você entrou nesse emprego, Leah? –
perguntou ela.
A garota deu de ombros.
– A história típica. Meus pais se divorciaram, meu pai se mudou para algum lugar no oeste. Minha mãe se casou com um idiota que tentou me tocar depois que ela desmaiou na noite de núpcias.
Anahi esticou a mão e a colocou no ombro da outra instintivamente.
– Sinto muito.
– Ei. Eu sobrevivi. Eu o golpeei no pulso com um garfo e fugi. Nunca mais voltei.
– Você… – Ela não sabia como continuar sem parecer que estava julgando. Era só que parecia tão triste pensar naquela mulher jovem fazendo aquilo,
dançando na Leather and Lace, como única conquista profissional. Para Izzie, era um trabalho de meio período para permanecer em forma e salvar sua sanidade. Algumas mulheres dali, no entanto, não viam outro futuro para si.
– O quê?
– Você acha que vai fazer outra coisa quando se cansar disso?
Leah assentiu, os cachos louros balançando em torno do belo rosto em formato de coração.
– Consegui meu diploma de supletivo no ano passado e vou fazer faculdade. Estou planejando me tornar enfermeira.
– Que bom para você.
Ouvindo passos no andar de cima, Anahi olhou para o relógio de pulso. Eram apenas 18h, portanto ainda faltavam algumas horas para sua primeira apresentação. Normalmente, Alfonso aparecia mais tarde do que isso. Mas, ao ouvir a voz masculina grave lá em cima, ela enrijeceu imediatamente.
– Nosso guarda-costas sexy está lá em cima.
– Droga – murmurou Anahi, rodopiando imediatamente. – Trave-o se ele vier aqui para baixo, tá?
– Você ainda está jogando o “ninguém pode me ver”
com ele?
Anahi confirmou.
– Eu não quero que ele me veja. Por favor, me ajude.
A mulher lhe ofereceu um sorriso imenso.
– Tudo bem… em troca de uma daquelas flores que seu admirador secreto enviou para você.
– Vou fazer melhor – disse Anahi, quando abriu a porta do camarim. Ela pegou o vaso e enfiou o buquê nas mãos da jovem. – Você pode ficar com todas. Apenas não deixe que ele se aproxime da minha porta.
Ou Leah era fiel à sua palavra, ou Alfonso ainda não havia se arriscado a descer. Qualquer que fosse o caso, Anahi tinha privacidade pelos 20 minutos seguintes. Tempo suficiente para verificar se suas extensões capilares estavam presas no lugar e colocar a máscara. Só depois que ela a colocou em posição é que se lembrou de que havia se esquecido de pôr os cílios postiços.
– Maldito Harry por não me dar uma tranca – murmurou ela, olhando para a porta fechada. Se tirasse a máscara para colocar os cílios, arriscaria ser flagrada por Alfonso. Não, ele não havia exatamente desviado seu
caminho para ficar a sós com ela travestida de Rosa Escarlate, mas ela não podia contar que sua sorte duraria para sempre.
Franzindo a testa para o próprio reflexo, ela fez uma avaliação breve, perguntando-se se realmente precisava dos cílios. Os olhos haviam desaparecido. Ela se parecia com o Marquês de Sade.
– Preciso dos cílios – murmurou ela.
Ela colocava os cílios falsos nas pálpebras há anos, provavelmente conseguiria fazer isso… bem, não vendada, mas mascarada.
– Claro – sussurrou ela, quando se inclinou em direção ao espelho. Pegando um cílio, ela passou cola especial nele e então cuidadosamente se posicionou no buraco do olho da máscara e o aplicou. – Um já foi – disse, enquanto piscava rapidamente, muito orgulhosa de si.
O segundo foi um pouco mais complicado, principalmente porque era difícil enxergar com o olho que já tinha um cílio pesado. Mas ela deu um jeito. E, um instante depois, quando ouviu vozes no corredor, ficou muito feliz por não ter aproveitado a chance e tirado a máscara.
– Alfonso, como vai, querido? – disse uma voz
feminina. Bem alto.
Deus a abençoe, Leah.
– Preciso conversar com a Rosa. – Ele pigarreou. – Quero dizer, preciso conversar com todas vocês, e com a Rosa.
Hum. Ainda muito covarde para encontrá-la a sós. Ela silenciou tal pensamento rapidamente. Aquele
homem tinha o corpo mais incrível e poderoso que ela já havia visto. Ele não tinha medo de nada.
Além disso, recusar-se a vê-la a sós era exatamente o que ela precisava que ele fizesse. Mesmo que não fosse o que ela queria que ele fizesse.
Apertando a faixa do roupão, ela segurou a maçaneta e abriu a porta. Alfonso olhou imediatamente, enrijecendo quando a viu ali.