Ele tanto não queria se sentir atraído por ela que a expressão dele disse tudo. Saber que ele não desejava mais ninguém fez Anahi, a confeiteira com quem ele havia feito amor de forma incrível há alguns dias, ficar imensamente feliz.
– Preciso conversar com você e com todas as outras garotas no camarim por alguns minutos – falou ele. Sem esperar para ver se ela iria, Alfonso deu meia-volta e foi em direção à sala.
Dando de ombros, Leah o seguiu. Anahi também. Uma vez que estava lá dentro, Anahi percebeu que todas as outras dançarinas, nove ou dez delas, já estavam presentes, incluindo Delilah com sua pilha de um metro de cabelo ruivo no topo da cabeça e dez centímetros de maquiagem na cara.
Em variados estados de nudez, todas as outras dançarinas praticamente lamberam os lábios quando Alfonso entrou no cômodo. Ela não podia culpá-las. Em seu modo guarda-costas durão, ele ficava incrivelmente sensual. Não havia nenhum traço do bonzinho que a havia ajudado a entregar os doces da confeitaria. Ou do amante sensual que lhe dera mais orgasmos em uma sessão de amor do que ela tivera em todos os seus relacionamentos anteriores.
No lugar disso havia um homem franzindo a testa, quase fazendo uma careta, todo vestido de preto, parecendo não apenas ameaçador, mas perigoso. E absolutamente delicioso.
– Chamei todas vocês aqui para discutir sobre sua segurança.
– Vamos discutir sobre seu traseiro – brincou uma das dançarinas.
– Eu prefiro falar sobre os ombros.
– Eu voto pelo pê…
– Senhoritas – disse outra voz, assim que Harry entrou no camarim. Revirando os olhos, ele lançou um olhar de desculpas para Alfonso. – Por favor, continue, Alfonso.
Alfonso voltou aos trilhos, atingindo-as sobre a necessidade de uma segurança mais rígida no local. Embora estivesse falando com todo mundo, ele olhava para Anahi tantas vezes que ela sabia ser ela a estar na mente dele.
Não havia nenhum motivo para isolá-la. Bem, não ha v i a muitos motivos. Sim, ela havia tido alguns clientes insistentes. Um sujeito havia investido em cima dela sobre o palco há algumas semanas. Outro invadira o camarim. E havia alguns espreitadores de estacionamento que tinham sido perseguidos por um dos seguranças, Bernie, que estava cuidando dela desde a primeira noite. Muito tempo antes de Alfonso ter entrado em cena.
Neste emprego, ela não esperava nada diferente. Mas Alfonso foi implacável em seu sermão. Ficou falando sobre como todas precisavam cuidar uma da outra, reportar qualquer coisa suspeita. Blá, blá, blá. Anahi se dispersou em algum lugar entre “fazer uma rota
diferente do trabalho para casa toda noite” e “ir ao banheiro sempre acompanhada”.
Aquele último conselho rendeu um “eu acompanharei você ao banheiro, Alfonso” de uma das garotas, um olhar feio de Delilah e mais um suspiro paciente de Harry.
Finalmente, no entanto, a reunião acabou e as outras dançarinas correram para terminar de se arrumar. Anahi rapidamente saiu do camarim, esperando que Alfonso não a visse. Ela estava a cerca de dez passos de seu camarim, quando percebeu que ele a havia seguido.
– Rosa, espere um minuto.
Ela congelou, mas não se virou.
– Estou particularmente preocupado com você. O elemento “quem está por trás da máscara” coloca você em maior risco. Algum maluco pode resolver tentar descobrir por si só.
Ela olhou por cima do ombro.
– Obrigada pelo aviso. – Agora caia fora.
Antes que ela pudesse desviar o olhar outra vez, viu uma carranca intensa se formar no belo rosto de Alfonso.
– O que diabos…? – murmurou ele, encarando o rosto dela.
Temendo que ele a tivesse reconhecido, ela ergueu
as mãos rapidamente para se assegurar de que a máscara ainda estava no lugar. Estava tudo certo… mas Alfonso ainda estava olhando para ela, piscando, confuso.
– O quê? – rebateu ela. Lembrando-se no último minuto de que precisava baixar a voz para o sussurro sensual com o qual ele passara a ser familiar, ela reformulou: – Tem algum problema?
Ele a tocou. Anahi recuou imediatamente, quase tropeçando nos próprios pés. Se não tivesse se apoiado na parede, teria tropeçado.
– Cuidado – murmurou ele, ainda franzindo a testa. – Não seria bom para o meu currículo se alguém que eu deveria estar protegendo tropeçasse e quebrasse o pescoço.
Certo. Ele precisava protegê-la.
Não olhar para ela. Não observá-la. Não lhe golpear as defesas a cada flexão de seu corpo, a cada lufada de seu perfume forte que preenchia a cabeça dela sempre que ele estava por perto.
Deus, aquilo era difícil. Muito mais difícil do que havia sido no fim de semana anterior, quando ela não havia dormido com ele. Quando ela não sabia do que ele era capaz.
– Você tem alguma coisa no seu… é…
Dando de ombros desconfortavelmente, ele a tocou de novo. Desta vez, ela ficou parada. Pelo menos até ele puxar os cílios dela com força suficiente para lhe arrancar a pálpebra do rosto.
– Ai! – berrou ela, dando um tapa na mão dele.
A mão dele ainda estava presa aos cílios quando ela o estapeou, então ela só terminou por se machucar mais. Assim que a mão dele se afastou, ele levou os cílios consigo, arrancando-os da pálpebra.
– Pensei que fosse um inseto – disse ele, com um sorriso sem graça.
Ela arrancou os cílios falsos dos dedos dele.
– Um inseto? Você pensou que eu tivesse um inseto na cara?
– Não é como se você tivesse como saber, se o colocou usando essa máscara idiota na cara. Por que você a usa quando não está no palco, afinal?
Ai, Deus. Uma pergunta que ela definitivamente não era capaz de responder.
– Você não precisa manter essa representação de mulher misteriosa para a equipe, precisa? Então, por que não a tira e relaxa? – Passando uma das mãos pelos cabelos curtos espetados em frustração, ele
disse: – Ou pelo menos coloque os malditos cílios postiços com mais cuidado.
Ela quase rosnou de raiva. Ele era o motivo pelo qual ela havia colocado os cílios através do buraquinho dos olhos da máscara.
– Quero uma tranca no meu camarim – sussurrou ela asperamente.
Ele olhou para a maçaneta.
– Você não tem uma?
– Não. – Pensando rapidamente, ela acrescentou: – E é por isso que mantenho a máscara o tempo todo. Não tem nenhum lugar aqui que ofereça total privacidade. Um repórter que escreveu um artigo sobre a boate há algumas semanas veio rastejando um dia, tentando tirar uma foto minha sem a máscara.
Alfonso se aproximou, avolumando-se acima dela, queimando-a com seu calor. Colocando as mãos na parede, uma de cada lado de Anahi, ele a prendeu ali.
– Quem é ele?
Anahi mordeu o lábio, tentando com todas as suas forças não atirar os braços em volta dos ombros dele e as pernas em torno da cintura dele. Ou empurrá-lo de modo que parrasse de encará-la inquisitivamente, de ver seus olhos… Como ele era capaz de não
reconhecer os olhos dela? Como ele era capaz de ficar tão perto e não conhecer o cheiro do corpo dela?
Era bom que ele não reconhecesse, e ela sabia disso. Mas também estava começando a perturbá-la.
– Foi só um repórter qualquer – murmurou ela.
– Você teve algum problema com ele desde então?
– Não, ele não voltou desde que a matéria foi publicada. Dá para relaxar?
– Diga-me se você o vir. – Então, olhando intensamente para ela, Alfonso recuou lentamente, libertando-a da prisão formada pelos braços dele. Um olhar estranho surgiu no rosto dele, como se de repente ele tivesse percebido o quão próximo eles estiveram e não tivesse ficado feliz por isso. Pigarreando, ele acrescentou: – Desculpe se machuquei seu olho.
– Tudo bem. – Afastando-se dele, ela seguiu em direção ao próprio camarim, aliviada por ter escapado do escrutínio dele. Que bom que ele havia deixado que ela saísse; porque, quanto mais ele ficasse tão perto, mais furiosa ela iria ficar por ele não reconhecê-la.
Especialmente porque a máscara nunca iria evitar que ele não fosse reconhecido por ela.
Hum. Homens. Tão dolorosamente desatentos.
– Espero que você esteja me levando a sério – disse
ele, aquele tom rude e sem brincadeira retornando à voz, o pedido de desculpas obviamente concluído.
– Estou, estou. – Ela praticamente mordeu as palavras entre os dentes cerrados, pronta para socá-lo se ele não calasse a boca e a deixasse se acalmar. E consertar seus cílios postiços.
– Nada mais de correr para seu carro sozinha para pegar algo que você esqueceu.
– Sim, Sua Majestade.
– Nada mais de voltar lá para cima e se socializar perto da hora de fecharmos.
Ela raramente fazia aquilo, de qualquer forma. Rodopiando, Anahi ofereceu a ele uma reverência intensa e rebateu:
– Captei, chefia.
Então, determinada a não ouvir mais nenhuma palavra, deu meia-volta e saiu caminhando a passos largos rumo ao camarim, batendo a porta atrás de si.