A LEATHER and Lace empregava alguns seguranças corpulentos para observar as portas e ficar atrás da multidão durante as apresentações. A presença deles servia principalmente para inspirar intimidação e manter o público sob seu melhor comportamento. E eles faziam bem o trabalho, principalmente o mais alto, Bernie, cuja estrutura musculosa escondia um sujeito com risada gostosa e ótimo senso de humor.
Alfonso, no entanto, tecnicamente não era um deles. Seu trabalho envolvia mais do que expulsar beberrões desordeiros ou separar brigas. Ele estava ali para se assegurar de que ninguém tocasse nas dançarinas. Especialmente Rosa. E os seguranças eram o reforço dele.
Ele se movimentava normalmente pelo local durante as apresentações, algumas vezes em meio ao público, algumas vezes nos bastidores, outras no andar de baixo. Mantinha um perfil discreto, os olhos sempre examinando a multidão, procurando pelo primeiro sinal
de problema.
Esta noite, ele estava perto da pista de dança, em um canto escuro à esquerda do palco. Não sabia dizer o motivo. Não era como se esperasse que alguém da primeira fila fosse saltar e tentar agarrar Rosa ou uma das outras. Sim, já havia acontecido. Mas normalmente não até pelo menos a segunda parte, tarde da noite, quando os fregueses já haviam consumido mais do que algumas doses de uísque top de linha. E quando eles se esqueciam do tamanho dos seguranças, ou do quão estúpidos eles iriam se sentir por ter de telefonar para as esposas para serem tirados da cadeia.
Esta noite, Alfonso estava bem perto do palco porque queria manter sua atenção presa a ela.
Algo havia acontecido mais cedo, algo que ainda o estava enlouquecendo. Ah, ela já o enlouquecia em diversos aspectos, principalmente por causa daquela sexualidade flagrante que escorria dela. Mas isso não tinha nada a ver com a atratividade dela ou com a reação de Alfonso a isso.
Era algo mais. Algo que ele não conseguia definir. Desde que ele e Rosa trocaram palavras do lado de fora do camarim, uma voz estava sussurrando na cabeça dele dizendo que havia algo que ele não estava
enxergando. Alguma verdade que ele havia negligenciado.
Ele reprisara toda a conversa, pensando em cada palavra, perguntando-se o que parecera tão estranho ali. Além do fato de ela ter agido como uma total espertinha a respeito das dicas de autodefesa que ele a pedira para seguir, eles não entraram em confronto. Não fora desagradável de maneira nenhuma, exceto quando ele quase rasgara a pálpebra dela acidentalmente.
Então, por que você está tão tenso?
Boa pergunta. Ele estava tão tenso quanto uma bola de elásticos, o maxilar cerrando, as mãos em punho. O coração não estava mantendo o ritmo de sempre, estava acelerado, como se a adrenalina tivesse tomado o corpo dele.
Quando eles a apresentaram, algo inundou de fato o corpo dele. Uma consciência exaltada. Talvez adrenalina também.
Ela não o viu quando iniciou, e dali Alfonso tinha uma visão perfeita de todos os movimentos dela. Ela estava usando o mastro esta noite, aproveitando para mostrar sua força e flexibilidade. Isso sem mencionar o convite a todos os homens na plateia para imaginarem-se como
o objeto no qual ela se contorcia, aquele abarcado por suas pernas incrivelmente longas.
Ele tensionou, então afastou o lampejo de ciúmes. Não era da conta dele o que Rosa fazia… na vida profissional ou pessoal.
Ela começava a remover as pétalas agora, e elas voaram pelo palco, uma delas até mesmo flutuando para tão perto dele que ficou a apenas 30 centímetros de distância de sua posição no canto. Algo o fez dar um passo adiante, pegar a pétala. Se era para devolver a ela, ou guardar como uma lembrança, ele não sabia dizer. Manuseando-a levemente, ele a enfiou no bolso e continuou observando.
Àquela distância ele tinha uma visão muito boa da Rosa Escarlate… a visão de uma cintura moldada feita para as mãos dele. De pernas flexíveis que ele quase podia sentir em torno de seus quadris. De dedos longos que se enredariam facilmente nos cabelos dele. Um pescoço delicado para mordiscar. Seios redondos exuberantes para abarcar. E, quando ela removeu as pétalas que cobriam aqueles seios, a boca dele se encheu d’água ao se imaginar sugando aqueles mamilos sombreados, como seixos.
Cada pedacinho dela era familiar… aos olhos dele, e
o restante de seu corpo. Ele sabia como seria prová-la, tocá-la, ouvir seus gemidos suaves de prazer.
Ouvi-la…
A voz dela. Aquela voz. Aquele corpo.
– Ai, meu Deus – sussurrou ele, certo de que havia perdido a cabeça, mas incapaz de afastar o pensamento. Porque, enquanto observava a artista desaparecer atrás da cortina após a dança, ele enxergava um rosto familiar atrás daquela máscara. Um rosto que ele via em seus sonhos todas as noites.
O rosto de Anahi.
– Não pode ser – murmurou ele, cambaleando de volta à sombra. Ele atingiu a parede no canto e deslizou para baixo, de modo que suas mãos pousassem sobre os joelhos. Inspirando algumas vezes, ele manteve a cabeça abaixada, pensando em tudo o que sabia sobre Anahi Portilla. E sobre Rosa Escarlate.
Ela havia tido aulas de dança durante a infância, ele se lembrava desse fato. Havia ido a Nova York para se tornar uma artista. No palco. Ela não havia dito exatamente que era atriz.
Meu Deus, será que ela era stripper em alguma boate luxuosa de Manhattan? E quando ela fora obrigada a retornar a Chicago depois do derrame do
pai, será que ela escolhera a mesma profissão ali… usando máscara para não haver possibilidade de ser reconhecida?
Os corpos de ambas eram tão parecidos… Como ele pudera não ter notado? Bem, ele nunca tinha visto Anahi nua até duas noites atrás, então não poderia saber que as pernas dela eram tão longas e flexíveis como as da dançarina. Que seus quadris eram fartos o suficiente para deixar um sujeito excitado só de pensar em colocar as mãos neles. Que os seios eram grandes, empinados e convidativos.
Ela havia escondido muita coisa atrás do avental. Tanto que ele não tinha registrado que Anahi e Rosa eram da mesma altura, tinham a mesma estrutura. Ou que as cores de cabelo eram semelhantes… O comprimento do de Rosa obviamente originado por algum tipo de aplique ou peruca.
Agora fazia sentido. Mas ainda assim parecia impossível. Absolutamente inacreditável que aquela Anahi bonitinha, a irmã caçula de Maite – a garota que caíra em cima dos biscoitos, pelo amor de Deus – era a mulher que estava enlouquecendo todos os homens de Chicago de luxúria.
Incluindo ele. Principalmente ele.
Naquele instante, ele soube que era verdade. Estava reagindo a Rosa e a Anahi exatamente do mesmo jeito desde o instante em que vira cada uma delas. Com desejo puro, indissoluto, com base em absolutamente nada senão instinto e química.
Elas eram a mesma pessoa. O corpo dele soubera daquilo imediatamente. O cérebro finalmente o acompanhara.
De algum modo, ele conseguiu permanecer à margem e finalizar seu trabalho ao longo da noite até a boate fechar, às 2h. Permaneceu no andar de cima, enviando um dos rapazes para o andar de baixo algumas vezes para fazer uma varredura diante dos camarins. Ele ainda não confiava em si para descer e confrontá-la.
Caso o fizesse, poderia ser ruidoso. E nenhum dos dois poderia estar pronto para retornar ao trabalho depois que tivessem a briga explosiva que Alfonso suspeitava que fossem ter.
Definitivamente iria ser uma explosão, e provavelmente não pelos motivos que Anahi suspeitaria. Sim, o incomodava o fato da irmã de sua cunhada estar trabalhando como stripper. Mas ele não era puritano, nem era de fazer julgamentos. Ele a vira em ação… Ela
não era apenas boa, era ótima.
Já como alguém que foi, e poderia ser outra vez, amante de Anahi, ele não estava feliz. Não podia negar isso. Mas, mais uma vez, não tanto por causa dos outros homens olhando para ela, mas sim porque ela estava trabalhando em um campo muito arriscado. Colocando-se em perigo.
O real motivo por ele estar furioso era porque ela havia mentido para ele. Tinha sido doloroso, deixando- o correr atrás de Anahi de dia enquanto Rosa perseguia ele à noite. A mulher quase o enlouquecera… Pelo quê? Algum jogo perverso? Uma onda de poder?
Ele não sabia. Só sabia que queria respostas. E, quando a boate finalmente fechou e todo mundo começou a dispersar, ele desceu, determinado a consegui-las.
Alfonso sabia que ela ainda não havia saído, pois estava observando o carro dela no estacionamento, que esvaziava conforme todo mundo ia embora. Ela normalmente saía muito mais cedo, pois sua última apresentação se dava por volta da meia-noite. E não levava muito tempo para se arrumar, já que não se dava ao trabalho de tirar a máscara antes de entrar no carro e dirigir para longe. Obviamente em benefício dele.
Mas ela ainda estava lá. Então ele só podia presumir uma coisa: ela estava aguardando no camarim, ou se escondendo na esperança de ele ir embora primeiro. Ou se preparando para a chegada dele.
Porque ela certamente sabia que ele havia descoberto. Tudo o que ela precisava fazer era procurar por ele na plateia durante a segunda parte do show e enxergar a fumacinha saindo da cabeça dele. E o fogo queimando nos globos oculares.
Indo até a porta fechada, ele se lembrou do que ela havia dito sobre não ter tranca. Ele deu uma batida de advertência, então adentrou sem aguardar por um convite. Não era como se ela tivesse algo a esconder… Ele vira o corpo dela, como Anahi e como Rosa.
– O que você pensa que está fazendo? – perguntou ela, olhando para ele do outro lado do cômodo, onde estava vestindo um casaco. Ela estava vestida casualmente, com uma calça larga aparentemente confortável e uma camiseta. Se não estivesse usando a máscara, ela se pareceria exatamente com uma vizinha qualquer.
Como Anahi.
Deus, que idiota cego ele fora por não ter enxergado antes. Os olhos eram os mesmos, embora os de “Rosa”
fossem sombreados pela máscara. Aqueles lábios não podiam ser negados. A forma da mandíbula, o comprimento do pescoço. Tudo em Rosa Escarlate era Anahi sob um microscópio da sensualidade. Tudo em Anahi era Rosa Escarlate com ornamentos de uma moça boazinha.
– O que você quer, Alfonso?
– Você está atrasada – murmurou ele, entrando e fechando a porta atrás de si.
– Hum, sim, acho que sim – respondeu ela.
– Você normalmente não fica até a hora de fechar.
Ela inclinou a cabeça para trás, empinou o queixo, exibindo uma valentia direta. Iria tentar blefar, afinal não tinha certeza se havia sido flagrada.
– Uma das outras dançarinas ficou doente e teve que ir embora. Eu não tinha certeza se Harry iria precisar de mim para cobri-la.
Ele não tinha precisado. Alfonso sabia disso. Se ele tivesse de assistir à “Rosa” em uma terceira performance no palco, teria perdido as estribeiras. Ele não sabia como tinha sido capaz de se segurar para não subir lá e confrontá-la bem em frente ao público.
Ela ficou em silêncio, apenas o observando. Aguardando. Alfonso não disse nada, optando por não se
entregar ainda. Ele queria ver o que ela faria. O quão longe Anahi iria para manter seu segredo.
Deus, o fato de ela não confiar nele o matava. Ele não tinha ilusões sobre o motivo de ela usar máscara, para começar. Os pais dela ficariam chateados se descobrissem. Ele conseguia até perceber por que ela havia ficado calada nas primeiras vezes em que ele trabalhara lá, antes de ela saber que poderia confiar nele.
Mas agora ele era o amante dela. Ela havia confiado seu corpo a ele. E deveria ter lhe confiado seu segredo.
– Bem – disse ela –, acho que é hora de ir embora.
– Já? – murmurou ele, se recostando na porta fechada, bloqueando a fuga dela. Ele cruzou os braços e a encarou. – Mas esta é a primeira vez que ficamos a sós em um bom tempo.
Ela lambeu os lábios nervosamente. Alfonso quase sentiu a língua úmida na própria boca e precisou se obrigar a manter a tranquilidade.
– Está tarde.
– Eu sei. Também está quase deserto. Você e eu provavelmente somos os últimos aqui – disse ele. Observando-a atentamente, ele viu o jeito como ela engoliu em seco quando a verdade lhe abateu. Eles
estavam praticamente a sós naquele prédio enorme. Ninguém iria ouvir se ela resolvesse gritar por ajuda.
Como se Alfonso um dia fosse machucá-la. Era mais fácil ele cortar o próprio braço. Aquilo não significava, no entanto, que ele não tinha a intenção de atormentá-la o máximo que conseguisse.
Ela estava tensa, tremendo, o corpo inteiro fazendo movimentos minúsculos. E ele sabia o motivo. Ele podia simplesmente tirá-la de sua angústia e confrontá- la sobre a mentira, mas algo o fez tensioná-la um pouco mais. Talvez o jeito como ela o estava tensionando. Talvez fosse apenas porque ele gostasse de ver a vibração intensa da pulsação dela no pescoço. E ouvir a respiração alta e entrecortada que ela não conseguia conter.
Ele gostava de vê-la em desvantagem pela primeira vez. E também sabia como deixá-la assim mais de uma vez.
– Então, Rosa – disse ele, finalmente se aprumando e chegando mais perto –, que tal termos nossa primeira conversa de fato?
Ela deslizou para trás, tentando aumentar o espaço entre eles outra vez, mas não pôde ir longe antes de bater no biombo. Alfonso pressionou, chegando ainda mais
perto, implacável em seu silêncio, a abordagem de um perseguidor.
– Tenho pensado muito nisso.
– Tem? – sussurrou ela. – Eu não, de jeito nenhum. Que mentirosa.
– Mesmo? Porque acho que, pelo jeito como você me olha, você tem pensado muito no assunto. – Erguendo um braço, ele o colocou no topo do biombo, bloqueando-a com seu corpo. Eles estavam próximos o suficiente para ele sentir o roçar da calça dela.
– Preciso ir.
– Preciso que você fique. – Trilhando o contorno delicado do pescoço dela com a ponta de um dedo, ele acrescentou: – Mudei de ideia a respeito de seu convite.
Ela ficou boquiaberta.
– Você não quer dizer…
Ele fechou a boca de Anahi, deslizando o polegar pelo lábio inferior. Aquele lábio farto suculento que ele havia provado na outra noite e que queria mordiscar agora.
– Você é muito atraente, Rosa.
– Mas…
– Não consigo tirar meus olhos de você.
Embora ela tivesse suspirado ao toque dele, o corpo também enrijeceu. Ela cerrou os punhos. Obviamente não sabia se deveria derreter ou explodir. Era tudo o que ela podia fazer para não rir.
– Você estava tão totalmente contra isso – disse ela, num sussurro quente. – Por que agora?
– Homens podem mudar de ideia também. Eu só tenho pensado em você durante semanas.
Ela levou os punhos aos quadris. A sensualidade desapareceu. Ela pareceu indignada, beirando a raiva.
– Ah, é mesmo?
– Definitivamente. – Ele pôs uma das mãos no ombro dela, sentindo a flexão dos músculos. Então massageou suavemente, afastando a tensão furiosa, sabendo que seu ato só iria trazê-la toda de volta outra vez. – Quero tocar você, em todos os lugares.
Ela estremeceu sob a mão dele.
– Quero provar você. – Sabendo como fazê-la enlouquecer, tanto de luxúria quando de fúria, ele se inclinou para mais perto. Levando a boca à lateral do pescoço dela, ele lhe deu um beijo de lábios entreabertos na nuca, lambendo levemente a pele, provando a quantidade ínfima de sal devido à dança enérgica. – Ah, Rosa, você sabe o que quero fazer com
você?
Ela apenas gemeu, sem dizer nada.
– Eu gostaria de esfregar algo delicioso e melado em cima de você, então lamber de todas as fendas doces do seu corpo.
Pronto. Anahi/Rose afastou seu desejo parcial, seu olhar parcialmente preocupado, e reagiu com fúria devastadora. Ela ergueu um dos punhos e foi em direção ao rosto dele. Se Alfonso não estivesse preparado, poderia ser acertado bem no queixo. Por ser quem era, ele desviou do golpe agarrando a mão dela no ar.
Ele não soltou, segurando-a apertado enquanto ela lutava para se soltar.
– Que droga, Alfonso Herrera – cuspiu ela, se esquecendo completamente de seu sussurro sensual.
– Qual é o problema, querida? – rebateu ele. – Tem medo de receber um pouco de sexo oral? – Deslizando um braço pelos ombros dela, ainda lhe agarrando o punho, ele acrescentou: – Ou só gosta de oferecer em vez de receber?
– Coloque qualquer coisa na minha boca e eu arranco com os dentes.
– Ohhh, durona. Eu gosto disso. – Trilhando a abertura no tecido aveludado com o dedo, ele
acrescentou: – Eu não conseguiria encaixar nada na sua boca com esta coisa no seu rosto. Principalmente meu pênis, como você sabe muito bem. – Ele pressionou o corpo com força de encontro a ela, empurrando-a na parede, prensando-a. Porque, ao mesmo tempo em que as atitudes dela e suas enganações contínuas o deixavam louco de raiva, sua proximidade o deixava louco de desejo.
Ele estava superexcitado por causa dela, irado de desejo.
Ela choramingou e parou de se contorcer por um segundo, os quadris dando pinotes contra os dele em resposta… Uma vez, então de novo. Ela levantou uma das pernas ligeiramente, inclinando a pélvis para que a protuberância dele a atingisse bem no ponto onde ela mais precisava.
– Ai, Deus – murmurou ela. – Entendi, você tem muito a oferecer.
Ela disse aquilo em tom sussurrado, acalmando-se, e
Alfonso quase gemeu diante da determinação dela.
Ela ainda não havia se permitido acreditar que aquilo já havia ido longe demais, que era o fim de seu disfarce. Anahi havia perdido a cabeça diante da ideia de que ele faria com outra mulher as mesmas
brincadeiras pecaminosas e sensuais que havia feito com ela na outra noite na van. E reagira com fúria, mesmo que momentaneamente, sincera.
Agora, ao perceber isso, ela estava quase desesperada para se convencer de que era capaz de recuperar a situação. Estava esperando que ele não estivesse falando com Anahi, que sabia em primeira mão o que ele tinha a oferecer, já que o havia recebido em seu corpo na outra noite. E que, em vez disso, ele estivesse falando com Rosa, que naquele exato instante estava sentindo o tamanho do membro dele pressionado contra ela.
Abaixando-se para o lado, ele agarrou a perna dobrada dela, segurando a coxa para puxá-la a fim de encaixá-la melhor. Ela gemeu quando os corpos se uniram mais intimamente. Ele conseguia sentir o calor dela, a umidade através da calça fina dela e da própria roupa. Ela estava úmida e excitada, corada e pronta.
E, ainda assim, era teimosa demais para tirar a máscara e recebê-lo em condições francas, diretas.
– Então você está pronta para fazer esse tipo de jogo? – murmurou ele quando roçou nela, inalando seus pequenos gemidos de prazer.
– Não gosto de ser maltratada – murmurou ela,
através de respirações roucas. A pulsação frenética no pescoço dela e o tom desesperado na voz acusaram a mentira da declaração. Ela gostava. E muito.
Ele mordiscou o lábio inferior dela levemente.
– Sim, você gosta.
Ela começou a balançar a cabeça, mas ele a beijou, investindo a língua contra a dela, amando a sensação sedosa da boca quase tanto quanto odiava o roçar da máscara contra seu rosto. Aquela máscara fora o que finalmente o chamara à razão. Ele não queria uma mulher mascarada, ele queria uma mulher de verdade. Uma que confiasse nele e ostentasse honestidade. E coragem.
Ele já estava farto. Estava farto de mentiras, farto da enganação. Até mesmo farto de atormentá-la.
Então baixou a perna dela.
– Acho que terminamos.
Ela cedeu contra a parede. Mesmo com a máscara, Alfonso conseguia ver o jeito como os olhos dela se arregalaram em choque. E mágoa.
– O quê?
Não era fácil recuar, manter as mãos longe dela. Ignorar o calor na salinha e o cheiro dominante de desejo sexual preenchendo a cabeça dele. Mas ele o
fez.
– Mudei de ideia.
Dando as costas para ela, ele deu um passo em direção à porta. Então a ouviu sussurrar:
– Seu filho da mãe, você sabe.
Ele pôs a mão na maçaneta. Olhando por cima do ombro para encontrar o olhar dela, ele falou baixinho:
– Sim, Anahi, eu sei. E saiu.
PELA PRIMEIRA vez em quase três meses trabalhando na Leather and Lace, Anahi alegou estar doente em um domingo à noite. Ela disse a si que era uma covarde umas dez vezes seguidas. Mas aquilo não mudou o jeito como se sentia.
Ela não conseguia encará-lo. Não depois do que havia acontecido no camarim no sábado.
A raiva dele era inegável. A vingança, compreensível.
Mas a mágoa dele, aquele vislumbre de tristeza no rosto dele quando ele a olhou por cima do ombro antes de sair pela porta… fora um soco no estômago, de fato.
Ele a estava perseguindo incansavelmente durante a semana e finalmente a fisgara naquela noite na van.
Não tinha sido nada além de honesto com relação ao que estava passando: com a família, na vida, com relação à atração por ela.
E ela estava mentindo para ele desde o primeiro instante. Mentindo sobre seu emprego secreto, mentindo sobre seus sentimentos por ele. Mentindo sobre o que realmente desejava.
Diabos, ela até mesmo estivera mentindo para si mesma sobre os dois últimos itens. Estava negando os sentimentos por ele, embora eles existissem desde que ela conseguia se lembrar. E ela fingira que não estava morrendo fisicamente por ele quando tal ideia a consumia a todo instante.
Até mesmo os pais dela notaram seu humor quando ela foi visitá-los no domingo. Ela se esforçou tanto para colocar um sorriso no rosto, principalmente perto do pai, que agora estava começando a se parecer com seu velho “eu”. Mas a mãe notou imediatamente que havia algo errado e a questionou a respeito.
Ela disfarçou… jurando que estava tudo bem.
Mais uma mentira para incluir na lista. Ela estava se tornando um tanto adepta da coisa. E, honestamente, se odiava por isso.
– Você merece se sentir assim – disse ela a si
mesma assim que se sentou na confeitaria fechada, algumas noites depois. Era sua hora de paz outra vez, quando os funcionários do café há haviam ido embora, porém a equipe da noite da cozinha e os ajudantes da entrega ainda não haviam chegado. Ela estava bebericando um enorme e engordativo cappuccino coberto não apenas com chantili, mas com um espiral de caramelo. Sentindo-se um lixo absoluto.
– Any? – chamou uma voz. Feminina.
Virando-se no banquinho, ela viu a prima Camila adentrar pela entrada de funcionários nos fundos.
– Ei – murmurou Anahi.
– Andei ligando para cá.
– Normalmente não atendo o telefone depois do expediente.
Camila franziu a testa.
– Estou falando do seu celular.
– Eu desliguei. – Anahi soprou a bebida fumegante. – Tem mais se você quiser beber um também.
Camila olhou longamente para a caneca e para o creme fresco e pôs mãos à obra. Permaneceu calada enquanto preparava o cappuccino, mas Anahi viu as olhadelas preocupadas da prima em sua direção.
Quando Camila terminou, polvilhando sua bebida
quente com canela, ela sentou em um banquinho do lado oposto do balcão.
– Você está um desastre. Não está dormindo.
– Obrigada. E você está certa. Não estou dormindo. Camila suspirou.
– Nem eu.
Finalmente, olhando com seriedade para a prima, ela viu os círculos escuros sob os lindos olhos e o abatimento na boca normalmente sorridente. Era uma combinação incomum. Camila não era do tipo animada, constantemente palhaça, mas era sempre silenciosamente alegre. E o rosto dela refletia aquilo.
Não hoje, no entanto.
– O que houve?
– Eu odeio os homens.
– Estou ouvindo – murmurou Anahi, embora não apoiasse honestamente. Ela não odiava Alfonso, de jeito nenhum. Só odiava aquele olhar de decepção dele. Odiava o jeito como o havia feito se sentir.
Inferior. Frágil.
Sim, ela havia tido um motivo para manter sua identidade escondida da maior parte do mundo. Mas, uma vez que havia deixado Alfonso deitá-la no piso daquela van e fazer coisas com ela que levariam uma
boa garota católica desmaiar de choque, todas as máscaras deveriam ter sido removidas.
– Eu não entendo os homens.
Sentindo que a prima estava falando de um sujeito em particular, Anahi deixou de lado a própria angústia emocional.
– O que está acontecendo?
– É aquele cara do trabalho que mencionei há algumas semanas. Dean.
– O novo vendedor? Camila assentiu.
– Eu finalmente saí com ele para tomar um café um dia, meio que pensando que era nosso primeiro encontro. Mas obviamente eu entendi completamente errado. Ele deixou claro que só estava interessado em conhecer uma colega de trabalho. E não me chamou para sair de novo.
Anahi franziu a testa, sem gostar do olhar de tristeza no rosto de Camila
– Você deixou claro que está interessada?
– Eu saí com ele, não saí?
– Sim, mas você deixou claro que o estava enxergando como mais do que apenas um colega de trabalho?
– Como eu deveria fazer isso?
– Não sei… flertando, sorrindo, encostando nele casualmente. Todas as armas típicas do arsenal romântico feminino.
– Eu… não acho que tenha feito isso. Nós conversamos principalmente sobre trabalho… pelo menos quando eu não estava reclamando do meu senhorio.
– Então ele pode nem mesmo saber que você está interessada nele daquele jeito. O que significa que você precisa fazer com que ele saiba, para ver se ele pularia em cima de você ou recuaria em sinal de autopreservação.
Camila piscou.
– Autopreservação?
– Alguns homens não tomam a iniciativa com uma mulher a menos que tenham certeza de que ela esteja interessada. Isso exige muita autoconfiança.
Autoconfiança como a de Alfonso. Tinha sido preciso uma grande quantidade dela para ele continuar a ir atrás de Anahi enquanto ela continuava a dispensá-lo.
– É isso que você faria? Tornaria a coisa mais óbvia?
– Sim, eu faria isso.
A prima murmurou alguma coisa, então pigarreou.
– Você sabe, eu consideraria que você está certa. Mas tem algo em Dean que me faz achar que ele não é tão bonzinho e tímido quanto parece.
Anahi enrijeceu instantaneamente.
– Ele fez alguma coisa com você?
– Fez? Ai, Deus, não. Ele não olhou para mim desde o dia em que saímos juntos. Mas houve uma ou duas vezes que o flagrei olhando para mim… com esse, ai, Deus, soa tão estúpido, mas sinto que ele me olha quase avidamente quando pensa que não estou vendo.
– Avidez é bom. Se vem de alguém que você quer que a deseje. – Não simplesmente uma sala repleta de homens excitados por uma dançarina nua. Às vezes, a plateia a irritava ao extremo. Algumas vezes, parecia que dançar nua sozinha seria melhor do que dançar nua em frente a uma multidão. É claro, ela seria paga para isso. Uma desvantagem, definitivamente.
– Não se ele esconde constantemente. E tem mais, algumas vezes ele simplesmente se mostra tão mais áspero, mais durão, do que a figura do vendedor legal, calado e de fala mansa. É quase como se ele estivesse se esforçando muito para se comportar da melhor forma.
Anahi não gostava do jeito como aquilo soava. Caras que se esforçavam tanto para se comportar da melhor forma costumavam ser muito maus durante seu comportamento nem-tão-melhor-assim. Ela expressou isso para Camila que dispensou suas preocupações.
Embora tivessem conversado um pouco mais, Anahi não conseguiu manter a mente focada em nada. A prima notou sua distração e tentou fazê-la conversar a respeito, mas ela não estava pronta para fazê-lo.
Não que não confiasse em Camila para guardar seu segredo. Ou temesse que a prima fosse ficar chocada. Mas a verdade era: não parecia certo escolher Camila para conversar a respeito daquilo. Não quando Alfonso fora o primeiro a notar o que estava estava fazendo nas noites dos fins de semana.
Ela desejava conversar com ele. Ela o desejava. Ponto.
Só não sabia se era tarde demais para procurá-lo. A julgar pelo modo como ele irrompera de seu camarim na noite de sábado, ela temia imensamente que fosse tarde.
FOI NECESSÁRIO cada grama de força de vontade que
Alfonso possuía para evitar ir à confeitaria dos Portilla
naquela semana. Algo dentro dele insistia para ir até lá e confrontar Anahi agora que ele se sentia pelo menos moderadamente calmo. Diferentemente do jeito como se sentira na boate na noite de sábado.
Algo mais exigia que ele mantivesse distância, que a deixasse descobrir o que diabos ela queria dele e lhe desse a pista quando estivesse pronta. Talvez ele a acolhesse. Talvez não. Aquilo dependia totalmente do que ela queria: ele na vida dela, ele fora da vida dela? Um caso secreto, ou público? Um amante… um amigo?
Havia muitas possibilidades diferentes. Ele, honestamente, não tinha certeza por qual estava esperando mais. A única coisa que sabia querer era que Anahi abrisse o jogo a respeito de tudo. Aí eles poderiam pensar no restante.
Ele presumia que isso fosse levar algum tempo. Considerando que ela havia faltado ao trabalho alegando estar doente no domingo à noite, ele tinha a sensação de que ela iria evitar o confronto pelo máximo de tempo possível. Mas, a menos que ela desistisse de trabalhar na boate, não iria ser capaz de evitá-lo para sempre.
Desistir de trabalhar na boate. Ele não podia negar que sua primeira reação tinha sido querer que ela
desistisse.
Ele não queria outros homens olhando para Anahi. Não queria outros homens fantasiando com ela. E, principalmente, não queria ninguém ficando obcecado por ela… obcecado o suficiente para persegui-la, ameaçá-la ou machucá-la.
Uma vez que havia se acalmado, Alfonso percebeu que compreendia perfeitamente por que ela havia ido trabalhar na Leather and Lace. Provavelmente pelos mesmos motivos que ele havia ido trabalhar lá.
Cada pedacinho dela estava deslocado naquele velho-novo-ambiente, assim como ele. Encaixando-se tanto quanto ele.
Encaixando-se… Diabos, a atividade que ele estava exercendo agora era uma prova de que ele não se encaixava. Era quinta-feira à noite e ele estava segurando uma sacola de papel. Caminhando para seu prédio, os olhos examinando todos os lados na esperança de não trombar com seus pais ou com outro parente mais velho que iria delatá-lo.
Comida chinesa para viagem provavelmente era motivo para a mãe dele chamar um exorcista. Principalmente depois que ele recusara mais uma quentinha cheia de calzones e lasanha do Papà naquela
noite. Se ele comesse mais um pedacinho de massa, iria explodir como o marshmallow gigante no filme Caça- Fantasmas.
– Complicado – murmurou ele, a boca se enchendo d’água por causa do cheiro do frango Kung Pao no pacote. Isso sem mencionar os rolinhos primavera, o arroz frito… Ele havia comprado o suficiente para alimentar um exército.
Alfonso conhecia um pouco sobre missões clandestinas. O suficiente para saber que, quando você estava em uma, devia realizar o máximo possível logo de cara, na esperança de retardar um possível retorno. E uma sacola enorme de comida significava mais sobras. O suficiente para durar uma semana ou mais, o que significava não precisar mais fazer excursões secretas perigosas ao restaurante do senhor Wu durante algum tempo.
A menos, é claro, que ele tivesse alguma companhia inesperada para o jantar. Companhia feminina. Como a mulher que estava bem na porta do apartamento dele, a mão posicionada para bater à porta.
– Anahi? – murmurou ele assim que saiu do elevador, perguntando-se não apenas como ela havia entrado no prédio, mas também como ela havia descoberto onde
ele morava.
Ela girou, os olhos arregalados e brilhantes. Não havia batido ainda, o que significava que ela não havia exatamente se preparado para dar de cara com ele. Ele a havia pegado de guarda baixa.
Alfonso tentou não se perguntar o que aquilo significava, tentou permanecer casual. Tentou não notar o quão curvilíneo e convidativo o corpo dela ficava naquela camiseta e minissaia sensual.
Seria como não notar um terremoto sacudindo sua casa. Ela simplesmente era linda demais para ser ignorada.
Como eles continuaram a se encarar, ele finalmente murmurou:
– Oi.
– Oi.
Ficaram calados por um momento. Longo o suficiente para ele notar os borrões sombreados sob os lindos olhos castanhos e a palidez nas bochechas dela. Ela estava praticamente criando um buraco no lábio inferior enquanto tentava pensar no que dizer.
Ele não conseguiu evitar sentir pena dela… Pelo menos sentir pena daquele lábio lindo antes de ela fazer um buraco de tanto mordê-lo. Trocando o pacote de
lado, ele foi até a porta e levou as chaves à fechadura.
– Está com fome?
Ela olhou para o pacote.
– Não é pizza?
– Não. Comprei ovos foo young, lo mein e alguns pratos diferentes de frango. Você escolhe.
– Ai, Deus, dê-me comida – exclamou ela, seguindo- o apartamento adentro com um sorriso no rosto.
Uma vez lá dentro, ela jogou a bolsa sobre o sofá, um móvel grande que dominava a pequena sala de estar do apartamento minúsculo. Ele não se importava… Comparado a dividir uma tenda com mais 20 caras, aquilo era puro luxo. Escolhera o lugar porque era limpo e em andar alto, com uma bela vista da universidade a algumas quadras dali. E ele mal tinha começado a mobiliar o local, imaginando que iria adquirir as coisas mais importantes primeiro.
Um sofá de couro grande, confortável e reclinável. Uma televisão imensa para assistir ao futebol. Ele podia viver só com aquilo por um tempo… Mais a cama enorme e confortável que dominava o quarto.
Uma corrente de calor o atingiu ao pensar naquela cama. Ele havia imaginado Anahi ali tantas vezes. Havia sonhado em tê-la ali tantas vezes.
Agora, ali estava ela. Tão perto que ele conseguia sentir seu perfume e ouvir sua respiração. Como uma fantasia transformada em realidade.
– Minimalista, hein? – perguntou ela, quando olhou diretamente para o sofá e a TV de tela grande.
– Estou ajeitando.
Ele não conseguia acreditar no quanto soavam casuais. Como dois velhos amigos se reunindo para jantar. Considerando que nas duas últimas vezes que estiveram a sós eles estavam ou brigando ou praticamente rasgando as roupas um do outro, ele pensou que fosse uma pegadinha muito boa.
– Eu, bem, queria…
– Depois – murmurou ele, sem querer iniciar a discussão deles. – Estou com fome. Vamos comer primeiro.
O alívio tomou o lindo rosto dela quando Anahi o seguiu até a cozinha. Quando colocou algo sobre o balcão, ele percebeu que ela não havia vindo de mãos vazias.
– Oferta de paz. – Apontou para uma embalagem com seis garrafas de cerveja.
– Estamos em guerra? – perguntou ele, repetindo a pergunta que ela uma vez fizera a ele.
– Temos brigado bastante.
Sim, de fato. E ele, por exemplo, estava cansado disso.
Pegando algumas tigelas, pratos e talheres, Alfonso espalhou todas as caixas de comida sobre a pequena mesa da cozinha, e ambos se serviram, misturando tudo.
– Onde vamos…
– Se importa se for no chão? – perguntou ele.
Dando de ombros, ela o seguiu até a sala, observando enquanto ele sentava diante do sofá, esticando as pernas, com o prato no colo. Não era tarefa tão simples para ela, já que estava de saia.
Alfonso se obrigou a se concentrar na comida, e não nas pernas longas e sensuais tão perto dele das dele no chão. Pegando o controle remoto da TV, ele apertou o botão de ligar, então colocou em um canal que tocava música de relaxamento. Era um som ambiente, preenchendo o silêncio que ficava cada vez mais denso enquanto eles comiam… conforme eles se aproximavam mais da conversa que ambos sabiam estar prestes a ter.
Quando terminaram, ele levou os pratos à cozinha. Ela o seguiu, guardando o restante da comida. Alguns
instantes depois, não havia nada para se fazer: nada de jantar, nenhum prato para lavar… nada senão encarar um ao outro.
– Não quero fazer isso – disse ele, surpreendendo a ambos.
– Fazer o quê?
– Brigar com você. Discutir. Seja lá como você queira chamar.
Ela balançou a cabeça.
– Também não quero. Mas preciso lhe contar…
preciso colocar isso para fora.
Cruzando os braços, ele se recostou no balcão da cozinha e esperou.
– Tudo bem.
Ela fechou os olhos, então falou de maneira apressada:
– Desculpe por ter sido desonesta com você sobre eu ser a Rosa Escarlate. No início eu não confiava em você… eu não confiava em ninguém. Tenho certeza de que você sabe que meus pais não ficariam felizes com o que estou fazendo, e não quero fazer nada para piorar a saúde do meu pai.
– Eu compreendo isso. – Ele compreendia mesmo. Fazia total sentido para ela seguir incógnita em seu
emprego ousado. – Mas, uma vez que você e eu…
– Eu sei. – Ela passou uma das mãos pelos cabelos castanhos, que estavam soltos sobre os ombros esta noite, em vez de presos no rabo de cavalo de sempre. – Eu deveria ter lhe contado imediatamente. Em vez disso, eu entrei em pânico e afastei você.
– Sim. Devo dizer que me senti muito humilhado quando descobri. Eu devia ter reconhecido você.
– Eu sou uma artista. Eu sei interpretar outra pessoa.
– Sobre isso… Quando você começou nessa linha de trabalho?
– Tirar a roupa não é minha linha de trabalho. Dançar é. Eu dançava com as Rockettes até um ano atrás.
– Você era uma daquelas garotas que ficam dando chutes altos?
Ela olhou feio para ele.
– É mais difícil do que parece.
– Certo. É uma vida difícil dançar com quebra-nozes gigantes e o Papai Noel. – Ele levantou as mãos rapidamente. – Estou brincando. Você deve ter sido muito boa para conseguir se juntar a elas.
– Eu era – disse ela, com total confiança. – Mas fiquei entediada e fui para uma companhia de dança
moderna em Manhattan. Então veio a lesão. Então veio o derrame de papai. Agora estou aqui.
O universo dela em uma casca de noz.
– E agora o quê? – indagou ele, sabendo que aquela era a resposta que ele realmente desejava. Para onde ela iria a partir dali? Em qual ponto ela o enxergava se encaixando naquilo tudo?
– Não sei. Neste momento, estou ganhando tempo, tentando descobrir o que quero. – Com o maxilar enrijecendo, ela prosseguiu: – Mas não é a confeitaria, não é a vizinhança. Não é a vida de Maite.... uma reprise da vida da minha mãe. E não é a vida de minha irmã Mia como uma advogada durona com toneladas de atividades e nenhuma felicidade.
– Eu compreendo – murmurou ele.
Fazendo um meneio positivo com a cabeça, ela falou:
– Tenho certeza de que compreende. Se alguém compreenderia, esta pessoa é você. – Com a tensão sumindo de seus ombros, Anahi cruzou a pequena cozinha, cobrindo a distância entre ambos com alguns poucos passos. Colocando a mão no peito dele, ela olhou para cima, os olhos reluzentes. – E é por isso que preciso repetir isso: desculpe, Poncho. Por favor, diga que
vai me perdoar.
Ele hesitou, então ofereceu um breve meneio de cabeça. Parecendo aliviada, ela começou a afastar a mão, porém ele a cobriu com a dele, não permitindo que ela se fosse.
– Para onde nós vamos a partir de agora? Ela hesitou, então ele a pressionou:
– Não podemos ser apenas amigos.
– Não podemos ser um casal.
Os olhares se sustentaram, e ambos disseram as mesmas quatro palavras ao mesmo tempo:
– Nós podemos ser amantes.
Alfonso gargalhou quando Anahi sorriu. Agarrando a camisa dele, ela passou os dedos até a base do pescoço dele.
– Para onde eu gostaria de ir agora é para seu quarto para ver se está mobiliado melhor do que a sala.
Levando a mão dela à boca, ele lhe deu um beijo cálido na palma.
– Ah, está, meu anjo. Pode apostar que está.