– COMO ESTÁ se sentindo, Rosa? Melhor? – Segurando a porta dos fundos da Leather and Lace aberta para ela no início da noite de sábado, Harry a observava atentamente, como se preocupado se ela não estava bem para dançar esta noite.
Anahi teve de parar por um instante para se perguntar qual o motivo daquilo. Então ela se lembrou. Droga. Havia telefonado no domingo anterior alegando estar doente. Provavelmente deixara Harry em apuros.
– Estou bem, Harry – disse ela enquanto passava por ele, entrando no prédio, esperando que ele fechasse e trancasse porta atrás dela. A segurança havia melhorado ali desde que Alfonso fora contratado. – Desculpe pelo último domingo.
Harry acenou despreocupadamente.
– Ei, não se preocupe, algo ruim deve ter acometido vocês três para deixar todas derrubadas.
– Nós três? Harry assentiu.
– Leah passou mal na noite de sábado.
– Eu me lembro.
– Ela voltou no domingo à noite, ficou aqui durante duas horas, passou mal de novo e precisou ir embora. Jackie também.
Jackie era a companheira de camarim de Leah. O que quer que estivesse pairando por ali, obviamente havia atingido as duas.
Anahi estava prestes a abrir a boca para confessar que realmente não tinha ficado doente… tinha sido simplesmente covardia. Mas, antes que pudesse fazê- lo, a porta dos fundos foi destrancada do lado de fora e aberta outra vez. Ela soube antes mesmo de vê-lo que Alfonso havia chegado.
Ela reconheceu seu calor másculo e cálido. E seus mamilos enrijeceram. Ah, sim, definitivamente era Alfonso.
O olhar dele imediatamente caiu sobre ela, quente e apreciativo. Ela havia precisado sair cedo da cama naquela manhã para ir trabalhar na confeitaria. Mas, pouco antes de sair, ele sussurrara o quanto estava ansioso para vê-la naquela noite no camarim… o qual agora, ele se certificara disso no fim de semana anterior, tinha uma tranca.
Ela passou o dia tendo calafrios, pensando naquela primeira noite em que ele estivera lá, quando a vira nua no reflexo do espelho. Hum.
– Alfonso - disse Harry, com um meneio de cabeça. Ele ficou revezando olhar entre ambos. – Nada de máscara, Rosa?
Sorrindo, ela balançou a cabeça.
– Concluí que confio nele.
Alfonso retribuiu o sorriso, ambos compartilhando uma intimidade silenciosa que excluía Harry, embora ele estivesse bem ao lado. Finalmente, no entanto, Alfonso interrompeu o olhar e se dirigiu ao chefe:
– Está tudo bem até agora? Harry assentiu.
– Foi uma semana meio parada. Ontem foi a noite de sexta mais devagar que já tivemos há um bom tempo. – Olhando para Anahi, ele acrescentou: – Mas aposto que a multidão vai uivar ao ver você.
– Você está com baixa de pessoal outra vez? – perguntou ela, perguntando-se se Harry iria precisar que ela fizesse uma apresentação de dança extra.
Ele balançou a cabeça.
– Tudo mundo está aqui, firme e forte.
– O que você quer dizer? – perguntou Alfonso,
franzindo a testa.
Harry começou a explorar sobre as dançarinas doentes, o que fez Anahi sentir culpa outra vez. Principalmente quando ele lamuriou sobre o quanto tinha sido complicado dizer a Delilah, sua esposa “aposentada”, que ela não estava em boa forma para substituí-las. Ui. Ela não iria querer ver a expressão da ruiva durante aquela conversa.
Outra coisa que ela não queria fazer era ter de olhar Alfonso nos olhos e admitir que havia telefonado alegando estar doente em vez de encará-lo no fim de semana anterior. Ela imaginou que ele soubesse disso, mas particularmente não sentia necessidade de confirmar o fato.
Pedindo licença, Anahi seguiu para seu camarim. A porta não estava trancada, mas ela notou a tranca imediatamente, a qual não estava lá no fim de semana anterior.
– Sujeitinho sorrateiro – sussurrou ela com um sorriso, quando jogou a bolsa e as chaves sobre a bancada. Ela conseguia pensar em diversas maneiras maliciosas com as quais Alfonso poderia ajudá-la a matar o tempo entre as apresentações.
É claro, sendo o cara durão que ele era quando
estava em serviço, ela suspeitava que ele fosse resistir. Tudo bem. Anahi se achava muito boa na tarefa de vencer a resistência dele.
Tendo passado o dia inteiro no trabalho, ela queria relaxar antes de subir ao palco. Chutando os sapatos, ela puxou a cadeira de debaixo da bancada de maquiagem e se sentou.
Ouviu um estalo imediatamente, mas não registrou o que era até a cadeira quebrar debaixo de si, fazendo-a cair violentamente.
– Filho da mãe – rebateu ela, enquanto estava deitada no chão. A parte de trás da cabeça havia esbarrado na parede de concreto do outro lado quando ela caíra. Ela esfregou o local, chocada ao ver algumas manchas de sangue fresco na ponta de seus dedos.
– Anahi? Você está bem? O que foi esse barulho? –
perguntou Alfonso, assim que irrompeu no cômodo.
Ele abriu a porta com tanta força que quase a atingiu. Um centímetro mais, e ela teria levado um pedaço da porta de carvalho no meio da cara.
– Ai, meu Deus. – Ele agachou ao lado dela imediatamente. – Você está machucada.
– Está tudo bem – insistiu ela, sentando-se lentamente.
Ele pôs a mão sob o braço dela para ajudá-la.
– O que aconteceu?
– Minha cadeira quebrou – confessou ela, quase constrangida. Nunca havia superado completamente o pavor da garota gordinha de quebrar uma cadeira em público.
– Isso é sangue nos seus dedos? – perguntou ele, a voz tão tensa que quase estalava.
Ela levou os dedos à cabeça outra vez.
– Sim, esbarrei minha cabeça na parede quando caí.
– Você precisa ir ao hospital. – Ele se levantou e a ergueu também. – Vamos lá, vou levar você agora.
– Não, Alfonso, não preciso. Eu não bati minha cabeça, juro. Só esbarrei quando estava caindo.
Ele franziu a testa, obviamente sem acreditar nela.
– Veja você mesmo. Eu juro, não é nada, só um arranhão. – Ela se virou, inclinando a cabeça para que ele pudesse ver o ponto de onde o sangue saía.
Alfonso tirou o cabelo dela do caminho gentilmente. Anahi o observou através do espelho, vendo a expressão desvairada no belo rosto. E o jeito como ele cerrava o queixo enquanto a examinava carinhosamente.
Ele estava preocupado com ela. Verdadeiramente temeroso por ela.
– Viu? – perguntou Anahi suavemente.
– Parece mesmo um arranhão – admitiu ele.
– Que bom.
– Mas isso não significa que você não está machucada em outros lugares. Deus, Anahi, o que diabos aconteceu?
Ela gesticulou em direção aos restos da cadeira, em pedaços aos seus pés.
– Desabou assim que sentei. – Olhando para ele, ela acrescentou: – Nada de piadas sobre traseiros grandes.
Ele revirou os olhos.
– Até parece. – Afastando-se, ele passou as mãos pelos braços dela. – Tem certeza de que não se machucou em mais nenhum lugar?
Ela estava machucada em todos os lugares. O quadril a estava matando no ponto onde havia batido no chão. Mas felizmente ela não havia pousado sobre o joelho avariado.
– Estou bem.
Alfonso balançou a cabeça, murmurando alguma coisa, então se abaixou para examinar os pedaços da cadeira. Era uma cadeira de rodinhas resistente, que deslizava facilmente quando Anahi precisava alcançar alguma coisa na bancada. Porém, havia desabado em vários
pedaços.
– Isso não faz nenhum sentido. – O tom dele foi seco, profissional. – Como poderia simplesmente desabar assim?
– Não faço ideia. Talvez estivesse apenas defeituosa.
Alfonso nem mesmo olhou para cima. Ele estava fuçando a pilha, pegando alguns parafusos e analisando-os atentamente.
– Rosa? Alfonso? Está tudo bem? Alguém ouviu um estrondo.
Olhando para a porta, ele viu Harry Black e, logo atrás dele, um dos seguranças. Ambos olharam para ela com olhos arregalados, então para Alfonso e depois para a cadeira quebrada.
– Você está bem, querida? – perguntou Harry.
– Posso ajudá-la? – perguntou Bernie, seu autointitulado cão de guarda.
– Estou bem. Foi só um pequeno acidente.
– Ela poderia ter se machucado seriamente –
vociferou Alfonso.
– Mas não me machuquei – murmurou ela, tentando acalmar os três.
Alfonso estava como um leão protetor, Harry como um
ursinho paternal. E Bernie como um imenso urso pardo que havia sido cutucado por uma vara. Todos pareciam igualmente chateados.
– Tudo bem, eu juro. Foi só um acidente. Agora, se não se importam, Harry, você poderia conseguir outra cadeira? Eu preciso me arrumar para continuar com o espetáculo. – O homem mais velho assentiu e saiu, levando Bernie consigo.
Olhando para Alfonso, ela acrescentou:
– Você precisa trabalhar também, se certificar de que tudo está seguro e protegido para eu me apresentar.
Ele se levantou lentamente, os olhos fixados aos dela.
– Você está realmente preocupada com alguma coisa ou está tentando se livrar de mim?
Anahi lhe ofereceu um sorriso pretensioso, pôs a mão sobre o peito dele e o empurrou em direção à porta.
– Estou tentando me livrar de você. Tenho de estar no palco em uma hora, e com você aqui exalando todo esse material másculo e sensual vou ficar tentada a testar aquela tranca e seduzir você.
Os olhos dele brilharam. Porém, o franzir de testa permaneceu.
– Você não vai me seduzir a ponto de me fazer
esquecer que você poderia ter se ferido.
– E você não vai me intimidar para eu me esquecer de que tenho um trabalho a fazer.
Ele segurou o rosto dela, e Anahi não pôde evitar se aninhar na mão dele, amando a aspereza da pele contra a dela.
– Eu nunca intimidaria você a fazer qualquer coisa, Anahi.
Eles ainda não haviam conversado sobre o emprego dela. Eram amantes secretos oficialmente há duas noites selvagens e repletas de paixão, e ela ainda não havia tido a oportunidade de ao menos perguntar a Alfonso se ele iria ter algum tipo de problema machista com a dança dela. Agora ele havia aberto a porta para a pergunta.
– Você vai ficar bem lá em cima, assistindo ao meu show?
Ele roçou o polegar no maxilar dela.
– Eu adoro assistir ao seu show. Mordiscando o dedo dele, ela murmurou:
– Eu quis dizer, você vai ficar bem assistindo a todo mundo me observando?
Ele cerrou o maxilar e os olhos escuros brilharam. Mas ele não recuou. Em vez disso, aproximou-se mais,
inclinando a cabeça dela para trás tão docemente, tão carinhosamente, que ela soube que ele ainda estava preocupado com a possibilidade de ela estar machucada.
– Anahi,não posso prometer nada porque não passei por isso ainda. Mas deixe-me dizer uma coisa… Eu conheço e desejo a Anahi real… e seus dois lados. A Rosa e a mulher que você se torna quando sai desse lugar todas as noites de domingo. Estou nessa com vocês duas.
Sem dizer mais nada, ele se abaixou e cobriu a boca de Anahi com a dele, beijando-a com doçura e ternura. Então, com mais uma carícia no rosto dela, ele se virou e saiu.