NO FIM, Alfonso não precisou se testar para saber como ele lidaria ao observar Anahi tirar a roupa para outros homens. Porque, antes de ela subir no palco, Alfonso foi obrigado a lidar com uma dupla de punks que não compreendiam as regras de um lugar tão elegante como aquele. Um deles havia dado em cima de uma garçonete e o outro havia avançado em uma dançarina. Alfonso e Bernie agarraram os rapazes e os arrastaram porta afora, onde, cheios de coragem em função da
bebida alcoólica, ambos tentaram arranjar briga.
Talvez fosse a raiva residual que ele sentira ao ver sangue nos dedos de Anahi. Ou talvez a fúria que inundara sua cabeça diante da ideia de que poderia ter sido Anahi a dançarina agarrada pelo pilantra, mas, assim que o sujeito deu o primeiro soco, Alfonso reagiu severamente.
Ele havia brigado algumas vezes quando jovem, antes de se alistar no serviço militar e também enquanto servia. E era dolorosamente fácil derrubar um bêbado. A briga acabou quase imediatamente depois de começar. Bernie despachou o amigo do bêbado quase tão rapidamente quando Alfonso e ambos cumprimentaram um ao outro com um meneio de cabeça em agradecimento ao apoio.
– Valeu, cara – disse Bernie.
– Sem problemas.
Bernie sacudiu o cliente bêbado.
– Acho que é o mesmo pilantra que agarrou Rosa há um mês.
O queixo de Alfonso enrijeceu. Se o sujeito já não estivesse sob o aperto firme de Bernie, ele poderia ter encontrado um motivo para dar mais um soco. Mas ele era um lutador justo e não faria algo tão fora dos
limites.
A não ser que o sujeito se libertasse… então seria justo.
O sujeito não conseguiu se soltar; Bernie tinha mãos firmes e começou a repreendê-lo por assediar Rosa. Aquele incidente obviamente havia sido mais sério do que Alfonso havia sido levado a acreditar porque Bernie não se esquecera nem um momento dele.
Como as coisas chegaram ao ponto do confronto físico, Alfonso resolveu se resguardar, assim como ao segurança e à boate, e telefonou para a polícia. Ele queria aquele fato registrado agora, quando havia diversas testemunhas que tinham visto ambos atacarem as mulheres lá dentro, além da provocação no estacionamento.
Só que foi um azar Mark ter ouvido o chamado para a Leather and Lace e resolvido responder. Alfonso viu o irmão sair do carro sem identificação e vir caminhando com animação, sorrindo abertamente.
– Entrando numa briga sem mim?
– Só estou fazendo meu trabalho – respondeu Alfonso, tentando descobrir um jeito de fazer Mark ir embora sem entrar na boate. Se ele estivesse de plantão, não teria sido um problema: o irmão dele era um policial
bonzinho demais para entrar em uma boate de strip- tease enquanto estivesse trabalhando. Mas ele sabia quais eram os horários de Mark. De jeito nenhum ele estava trabalhando até tão tarde em um sábado. – O que você está fazendo aqui, afinal?
– Eu ouvi na radiofrequência. Noelle já estava na cama… aquela mulher vai dormir às 20h toda noite agora. Então pensei em dar uma passada aqui e ver se você estava bem.
– Você conhece este sujeito? – perguntou um dos policiais.
– É meu irmão mais novo – respondeu Mark, as covinhas reluzindo.
– Mais novo por dez minutos – disse Alfonso, balançando a cabeça.
Foi necessária uma hora para esclarecer as questões ali fora. Alfonso ficou perto da entrada, longe do palco, mas soube através dos clientes o que estava acontecendo lá dentro. Então soube quando Anahi se apresentou… e quando acabou.
Ela havia finalizado o primeiro número e não voltaria para o próximo por pelo menos uma hora ou duas. Tempo suficiente para Alfonso se livrar do irmão.
– Vamos lá, deixe-me pagar uma cerveja para você –
disse Mark, assim que os últimos carros da polícia saíram.
– Estou trabalhando.
– Tudo bem, então você paga uma cerveja para mim.
– Sem aceitar “não” como resposta, ele jogou o braço em torno do ombro de Alfonso e o puxou para a boate. – Vamos lá, eu nunca estive nesse lugar.
– Noelle provavelmente não iria gostar.
– Estou visitando meu irmão gêmeo no trabalho. Não há nenhum mal nisso, há?
– Depende se você me visitou com olhos vendados.
– Vou ficar de costas para o palco – disse Mark. – Sério, faz semanas que não conversamos. Eu sei que tem algo incomodando você.
O irmão estava certo. Eles andavam… desconectados. Não apenas por causa do que estava acontecendo entre Alfonso e Anahi, mas também porque Mark estava prestes a se tornar pai. Mark havia mudado. Tinha prioridades diferentes, falava uma linguagem diferente, enxergava o mundo de um jeito diferente.
Noelle e o bebê eram a família dele agora. Ah, claro, ele amava o restante dos Herrera, mas havia cruzado aquele limite de filho e irmão para se tornar marido e
pai.
Alfonso era o único irmão dos Herrera que não havia feito isso.
– Vamos nos sentar aqui – disse Mark, fazendo um meneio em direção a duas mesas baixas e redondas em uma sala externa entre o átrio e o salão principal. Eles estavam fora de vista do palco.
Alfonso não ficou surpreso. Mark era um bom marido. Assim como o restante dos irmãos.
– Tudo bem. – Gesticulando para uma das garçonetes, ele pediu uma club soda para si e uma cerveja para o irmão. Voltando à mesa, sentou-se de frente para seu gêmeo. – Não posso ficar sentado aqui por muito tempo, no entanto.
Mark se recostou na poltrona de couro.
– Confortável.
– Sim, é.
– O emprego tem bons benefícios?
Contendo um sorriso, Alfonso simplesmente confirmou com a cabeça.
– Eu sou casado; esses dias já se foram há muito. Conte um pouco.
– Conte você – respondeu Alfonso, antes de pensar melhor no assunto. – Conte-me como é isso.
Mark franziu a testa, obviamente confuso com a pergunta.
– Isso?
– Casamento. Como é estar amarrado, comprometido?
Aquelas covinhas marcantes que haviam encantado as garotas desde que ele tinha 2 anos reluziram nas bochechas de Mark.
– É a melhor coisa. Noelle é tudo que eu sempre quis.
– Sim, mas como você sabia o que queria? – murmurou Alfonso, enquanto pegava sua bebida, virando metade dela em seguida.
Rindo, Mark admitiu.
– Eu não sabia. Acho que foi mais o caso de conhecê-la, e saber, que qualquer coisa que eu porventura descobrisse querer para minha vida, ela seria parte dela. Todo o restante se encaixou em função dela.
De algum modo, aquilo fazia bastante sentido para Alfonso. Porque, embora ele estivesse pensando em dezenas de razões que explicassem por que ele e Anahi não podiam fazer a coisa funcionar, sendo que a primeira era o fato de ela não querer que funcionasse,
ele não conseguia evitar esperar que funcionasse. Porque, conforme Mark havia dito, ele suspeitava que ela fosse a mulher certa. Que, independentemente do que acontecesse na vida dele, qualquer que fosse a direção que ele tomasse, o que quer que escolhesse, ele queria que ela fizesse parte de tudo.
Surpreendentemente, o irmão não o pressionou para saber o porquê de ele estar fazendo tantas perguntas. Provavelmente não por que não se importasse, ou não suspeitasse que houvesse um motivo por trás. Mas porque conhecia Alfonso bem o suficiente para saber que pressioná-lo por respostas normalmente só o fazia se fechar mais.
Alfonso agradeceu a cortesia. E percebeu novamente o quanto havia sentido falta do irmão.
– Ei, Alfonso, temos um encrenqueiro no bar – disse uma mulher.
Olhando por cima do ombro, Alfonso viu uma das garçonetes, que estava revirando os olhos.
– A coisa está séria?
– Ainda não. Mas pode ficar se alguém não lidar direito com ele.
– Estarei lá em um minuto. – Voltando-se para o irmão, ele acrescentou: – Hoje é noite de lua cheia? Os
malucos estão à solta.
Mark se levantou.
– Sim, inclusive eu. Eu devo estar maluco por ficar aqui com você em vez de estar em casa na cama com minha esposa.
Sentindo-se melhor do que se sentira em horas desde o acidente de Anahi com a cadeira, Alfonso esticou os braços e agarrou o irmão para um abraço breve. Mark arregalou os olhos. Ele era o irmão expansivo, não Alfonso.
– Por que isso?
Alfonso balançou a cabeça.
– Não sei. Entregue à sua esposa.
– Tenho muitos abraços meus para entregar a ela – disse Mark, com um sorriso. – Mas agradeço mesmo assim.
O restante da noite passou rapidamente, com mais loucuras com as quais lidar. Alfonso não estava brincando: os malucos estavam à solta, e muitos tinham resolvido aparecer na boate. Os seguranças tiveram que expulsar mais sujeitos naquela noite em especial do que já haviam expulsado no mês anterior.
A única coisa positiva por estar tão ocupado é que
Alfonso perdeu a última apresentação da noite da Rosa
Escarlate. Ele nem mesmo tinha percebido que ela estava no palco até ouvir os aplausos, gritos e assobios intensos do público. Mas naquela hora ele estava do lado de fora, fazendo uma varredura no estacionamento para se certificar de que nenhum dos clientes indesejados havia resolvido voltar.
Felizmente, ninguém voltou. Mas ainda havia outros problemas com os quais lidar, como a conversa com Harry sobre a cadeira quebrada de Anahi. Ela havia chamado o fato de acidente… e poderia ter sido um. Mas ele não queria correr nenhum risco. Ele e Harry conversaram sobre instalar câmeras de segurança na área do porão da boate, para se conectar ao sistema já existente no andar de cima. O acidente de Anahi havia confirmado a suspeita que ambos possuíam.
Só por precaução.
Despedindo-se de Harry, Alfonso seguiu para o andar de baixo, olhando para o relógio. Já havia passado das
2h, a boate estava fechada, todo mundo estava saindo. Mas ele sabia que ela havia esperado. Ela não iria embora sem vê-lo. Em parte porque queria ver a reação dele à apresentação dela. E também porque sabia que ele a mataria caso ela fosse sozinha para o carro.
– Any? – perguntou ele, batendo levemente à porta do
camarim.
Ela abriu imediatamente.
– Oi. – Estava mordiscando o lábio e as mãos estavam entrelaçadas diante do corpo. Em vez de estar vestida para ir embora, ela usava apenas um roupão furtivo. Felizmente, no entanto, não estava usando máscara nem apliques no cabelo.
– Você está bem?
Ela assentiu, então olhou para ele através das pálpebras semicerradas.
– Hum, então…? O que achou? Ele a tomou nos braços.
– Não vi você dançar.
– O quê?
– Desculpe, havia outras coisas acontecendo.
– Eu soube que aconteceram alguns problemas.
– Sim.
Ela cerrou os punhos e os colocou no quadril. A pose rendeu coisas legais, como a abertura do roupão na altura do pescoço, que revelou as curvas suculentas dos seios.
– Você está me dizendo que simplesmente teve de lidar com um monte de crises nos momentos exatos em que eu estava no palco? E que foi simplesmente
coincidência?
Ela podia não acreditar, mas era verdade. Pelo menos ele achava que era. Alfonso supunha que pudesse ter feito a varredura no estacionamento alguns minutos antes ou depois do show dela. Ele não havia avaliado sua decisão antes. Mas agora, repensando a situação… bem, talvez algo dentro dele quisesse se certificar de que não teria de ver outros homens olhando para o lindo corpo da mulher que considerava ser dele.
– Você tem certeza de que vai ficar bem com isso?
– Ela empinou o queixo. – Não vou conseguir lidar com isso se você der uma de homem da idade da pedra e tentar me arrastar pelos cabelos de volta para sua caverna.