QUANDO Camila voltou à concessionária na segunda- feira de manhã, procurou por Ted, perguntando-se se ele teria coragem de aparecer.
Ele não apareceu. Aquilo era bom. Nem Dean. Aquilo não era bom.
Ela esperava que Ted tivesse sido afugentado, ou por Dean ou pelas consequências das próprias atitudes estúpidas.
E esperava que Dean não tivesse sido afugentado e estivesse apenas preso no trânsito.
Camila havia passado a noite de domingo inteira se perguntando o que iria dizer a ele, como iria escalar aquela barreira que subira entre eles depois que ele a beijara tão apaixonadamente no escritório. Não servira de nada. Ele não estava lá.
O dia dela passou arrastado, com a mesma ladainha com Marty a respeito dos registros das finanças. Ela encontrou problemas e os considerou desimportantes. Um dia normal de sua vida.
– Vou largar esse emprego – murmurou ela, naquela
tarde.
Em breve. Talvez ela até mesmo desse o aviso prévio hoje. Afinal, só tinha permanecido ali para ver se algo iria ocorrer entre ela e Dean Willis. A julgar pelo dia anterior, parecia claro que nada aconteceria.
O máximo que ela fez foi abrir um documento em branco no computador para digitar a carta de demissão. Daria um aviso prévio de duas semanas, embora não tivesse outro emprego em vista. Tinha uma reserva suficiente para ficar desempregada por um tempo. E, se não arranjasse logo um novo emprego na área contábil, apostava que Anahí a contrataria para trabalhar na confeitaria, ao menos para pagar o aluguel.
Mas, antes que ela digitasse algo mais além da data, ouviu uma agitação, berros vindo do showroom. Primeiro pensou que Ted tivesse voltado e estivesse fazendo um escândalo. Mas então havia diversas vozes, todas gritando juntas.
Ela pegou a bolsa e a jogou debaixo da mesa, então se perguntou se devia se enfiar lá embaixo também… aquilo podia ser um assalto. Mas, quando a porta do escritório foi aberta, e ela viu um policial uniformizado, não o fez.
– Tem alguém aqui com você? – vociferou o
policial.
– N-não. Só eu.
– Você precisa vir comigo, senhora.
Atordoada, Camila seguiu o policial, vendo todos os outros funcionários sendo conduzidos por outros policiais. Todos estavam reunidos à porta de entrada, e Marty estava berrando alto o suficiente para quebrar os vidros das janelas.
Todo mundo estava falando, exigindo respostas. Todo mundo, exceto Camila.Ela não precisava falar. Porque, no segundo em que viu Dean Willis, vestido com um uniforme de polícia perfeitamente ajustado ao corpo, conversando com outros homens uniformizados lá fora, ela soube o que estava acontecendo.
Ele não era vendedor de carros.
– Senhor, você pode ligar para seu advogado em breve – disse um dos policiais, tentando acalmar Marty.
Funcionou por um breve segundo, até Dean passar pela porta. Quando Marty o viu com o restante dos investigadores, ele começou a vociferar e a lutar contra o policial que tentava algemá-lo. Mais um se juntou a ele para ajudar e ambos levaram o homem furioso.
Dean olhou para a direção dela uma vez. Seus belos
olhos azuis estavam glaciais. O sorriso, ausente. O cabelo louro desgrenhado estava lambido na cabeça e partido de lado: conservador, profissional. E as roupas estavam impecáveis, até os sapatos pretos reluzentes.
Ele poderia ser uma foto viva de um agente do manual do FBI.
O restante do dia passou como um furacão. Ela foi questionada incessantemente… nunca por Dean, que se manteve distante, mas pelos colegas dele. Aparentemente havia um motivo para Marty não querer que Camila se empenhasse nos livro das finanças. Eles nunca deveriam passar por um balanço. Porque, se a polícia estava certa, a Marty Honesto Carros Usados estava recebendo e lavando dinheiro para sujeitos muito mal encarados.
E ela caíra bem no meio da confusão.
Ao fim do dia, Camila estava totalmente exausta. Pronta para desabar, a garganta irritada de tanto responder a perguntas. Ela não pedira um advogado, colaborara inteiramente, acreditando que era o que uma pessoa inocente deveria fazer. E havia passado as últimas quatro horas na sala de reuniões, verificando meses de extratos bancários e livros com um contador do FBI, observando passo a passo enquanto eles
montavam o caso contra o chefe dela.
No início, Camila lamentou um pouco por Marty. Mas não muito. Principalmente quando ela flagrou trechos de conversas, revelando de onde vinha o dinheiro. Na opinião dela, todo mundo que lavava dinheiro conseguido através da venda de drogas a jovens merecia o que acontecera com ele. Ela só lamentava o fato de aquele nojento tê-la arrastado para tamanha sordidez.
Ela estivera com Dean apenas brevemente, quando fora levada às lágrimas devido às perguntas implacáveis do contador. Dean apareceu do nada, pondo-se atrás do outro policial e vociferando: “Ela não é uma suspeita, é uma testemunha. Trate-a como tal.” Então, com um olhar demorado e equilibrado para Bridget, ele saiu outra vez para retomar o trabalho junto aos outros investigadores.
Finalmente, quando estava quase escurecendo lá fora, Camila ouviu que podia ir para casa. Ela seria chamada para ajudar novamente, e muito provavelmente para testemunhar, mas por enquanto estava livre.
Livre. Ótimo. Estava livre para ir para casa, recapitular aquele dia horroroso, as últimas semanas
terríveis, e pensar no quanto havia sido boba.
Dean a havia usado. Fingira interesse para poder investigar o caso de lavagem de dinheiro feita por Marty. Ele a tocara feito um instrumento musical, obviamente enxergando a escriturária calada e doce como um alvo fácil.
Ela odiava aquele filho da mãe com uma emoção que nunca havia sentido por ninguém.
A raiva a guiava rua abaixo enquanto ela caminhava da concessionária até seu apartamento nos arredores. Normalmente, quando fazia a caminhada para casa, apertava a bolsa ao lado do corpo e observava constantemente algum perigo iminente. Aquela não era uma parte muito perigosa da cidade… mas, sendo uma mulher andando sozinha, ela não dava chance ao destino. Esta noite, no entanto, Camila praticamente desafiava qualquer um a mexer com ela. Ela se sentia capaz de partir para a violência física.
– Camila, espere, por favor! – chamou uma voz. Embora tivesse continuado a caminhar, ela espiou
por cima do ombro para ver quem tinha chamado. E
quase tropeçou quando percebeu que era Dean.
– Fique longe de mim – rebateu ela, acelerando o passo.
Ele acelerou também, perseguindo-a até alcançá-la.
– Dá para parar? Estou berrando seu nome por duas quadras.
– Você não é muito esperto para captar as coisas, não? – ironizou ela. – Não quero falar com você.
– Você precisa me deixar explicar.
– Não preciso deixar nada – disse ela, embora finalmente tivesse parado para encará-lo. – E você não precisa explicar. Eu entendi, está bem? Você estava trabalhando disfarçado. Eu era o alvo fácil. É claro que você viria atrás de mim por todos os meios à sua disposição.
– Não foi bem assim.
– O diabo que não foi.
– Apenas… acalme-se e deixe-me explicar. Eu não queria magoar você, e definitivamente nunca tive a intenção de me envolver pessoalmente com você.
– Você quer dizer que isso não era parte do procedimento?
– Não, não era. Mas eu fiquei preocupado. Desde o início eu tinha certeza de que você estava no meio de algo sobre o qual não sabia. – Ele pôs uma das mãos sobre o braço dela. – Eu estava preocupado com você.
Ela se desvencilhou da mão dele.
– Claro que estava. Tenho certeza de que sua preocupação foi o motivo pelo qual você me chamou para sair. E seus temores de que eu estivesse sendo usada pelo meu chefe para ajudar a esconder o dinheiro foram o único motivo para você me beijar ontem.
Ele fechou os olhos, inspirou profundamente, como se para buscar controle, e tentou outra vez.
– Perdi meu distanciamento no que dizia respeito a você.
Aquelas foram as primeiras palavras ditas por ele que de fato a fizeram parar. Porque ele as havia sussurrado com voz rouca, como se contra sua vontade. Como se não quisesse admitir a fraqueza.
E ela acreditou nele.
Não que fizesse alguma diferença.
– Bem, que pena para você então – disse ela, empinando o queixo, surpresa por sua voz não ter nem mesmo tremido. – Porque nunca mais quero ver você. – Ela começou a caminhar outra vez.
– Camila, eu sei que você está chateada agora. Mas quero consertar as coisas com você. Logo, quando você estiver…
– Quando eu estiver o quê? – perguntou ela, girando outra vez. – Quando eu estiver mais calma? Bem, vá
sonhando, querido. Porque não vai acontecer. Nunca.
Dean a encarou, mas não tentou detê-la desta vez, quando ela se virou de novo para começar a andar. Ele tinha, no entanto, mais uma coisa a dizer, como se fazendo um juramento.
– Não vou desistir.
– Bem, que pena para você – rebateu ela, orgulhosa de si por estar sendo tão forte… e chateada por ter perdido algo que suspeitava poder ter sido muito especial.
– Camila.,,,,,
Desta vez, ela não se virou. E não precisou imaginar o que Anahí faria.
Camila sabia o que ela queria fazer.
Então, sem parar, ela ergueu a mão, fez um meneio de desprezo e continuou andando.
Desculpa a demora trabalhos da Faculdade tavamais me deixando sem tempo..... ♡♡♡♡