Anahi NÃO viu ou teve notícias de Alfonso durante longos seis dias. Os dias mais longos da vida dela.
Desde que ela havia saído do escritório de Harry, no domingo à noite, Alfonso aparentemente acatara seriamente o pedido dela para deixá-la em paz, porque foi exatamente o que ele fez. Ele não tentou telefonar, não apareceu na confeitaria, nem mesmo passou despreocupadamente perto da loja e fingiu não vê-la.
Quem fez isso foi ela, no Herrera`s mas Anahi não o viu em lugar algum.
– Por que você não luta para ficar comigo? – sussurrou ela, enquanto dirigia para o outro lado da cidade na noite de sábado, a caminho do trabalho. – Por que você me deu ouvidos e me deixou em paz?
Por que você disse a ele para deixá-la em paz?
Boa pergunta. E Anahi já estava se esquecendo da resposta, embora tivesse parecido sem importância no domingo.
Sim, ela ainda estava chateada por ele ter ido
repentinamente de colega de trabalho aprobativo para amante reprovador no que dizia respeito à dança dela. Mas talvez eles pudessem ter feito funcionar. Talvez ele não tivesse reagido tão mal ao vê-la no palco.
Talvez… diabos, talvez ela o amasse o suficiente para desistir do emprego e nunca se arrepender por isso.
Mas ele não lhe dera a chance de fazê-lo.
Durante os seis dias que passou sem ver Alfonso, Anahi ficou questionando muitas das escolhas que havia feito. Após acusar Alfonso de também viver uma mentira, ela percebeu que estava cansada de também viver uma durante todo o tempo. Então, de fato, começou a compartilhar seu segredo. Até então, só com as irmãs e com a prima, mas era um começo.
E elas foram notavelmente solidárias. Até mesmo Maite, que dissera, para surpresa de Anahi, que adoraria vê-la dançando. Honestamente, era como se um peso tivesse sido tirado dela, e Anahi resolveu começar a pensar em um jeito de conciliar o emprego noturno e o diurno. Lentamente… pouco a pouco. Mas ela teria de encontrar um jeito de fazê-lo.
Porque, se Alfonso um dia voltasse de fato a procurá- la, ela gostaria de tentar encontrar um jeito de conciliar
todos os aspectos da vida de ambos.
Apresentar-se na boate outra vez… aquilo causara mais estresse. Anahi não podia negar uma leve tremedeira quando chegou à Leather and Lace na noite de sábado. Era a primeira vez que voltava lá depois do domingo anterior, a noite da confissão de Delilah, assim como a prisão dela. Ela não havia conversado com Harry desde então e estava preocupada com a situação que o velho sujeito estava enfrentando.
Bernie estava aguardando perto da porta dos fundos.
– Olá, Rosa – disse ele, sem sorrir. Obviamente o clima ali ainda estava austero.
– Oi. Harry está por aí? Ele balançou a cabeça.
– Ele não tem aparecido muito. – Sacudindo mais a cabeça, ele completou: – Eu queria que ele largasse aquela bruxa e voltasse ao trabalho; essa boate não vai se administrar sozinha.
Anahi não falou nada. Ela sinceramente não queria pensar no que faria se estivesse no lugar do chefe. Ele amava a esposa… as verrugas e tudo o mais. Deveria ser criticado pelo que fizera? Talvez. Mas não era dever dela julgar.
Os camarins e o camarim coletivo estavam bastante
silenciosos para uma noite de sábado, e qualquer conversa entre as dançarinas estava sendo realizada num tom mais baixo. Tudo bem. Anahi não se sentia muito sociável. Só havia uma pessoa que ela desejava ver… só que ela não sabia o que diria a ele quando o encontrasse.
Sinto saudade de você. Eu o amo. Por favor, ame- me como sou e vamos fazer isso funcionar.
Todas as opções acima.
Ele não apareceu. Ela não o viu no andar de baixo, e ele certamente não foi ao camarim. Anahi se arrumou fazendo tudo mecanicamente, tensa e ansiosa… a troco de nada.
Assim que estava pronta para subir no palco, ela se perguntava seriamente se havia cometido um erro ao ir para lá. Seu coração não estava ali. Não esta noite.
– O show deve continuar – lembrou-se, assim que subiu as escadas e se posicionou nos bastidores.
Ela gostaria de pensar que estava dando o máximo de si à sua plateia, mas, assim que começou a remover as pétalas de rosas no ritmo da música, percebeu que seu coração não estava ali. Seu coração estava em pedacinhos, espalhado aos pés de Alfonso Herrera. Onde quer que ele estivesse.
Normalmente, Anahi ignorava a plateia quando se apresentava. Fazia parte de seu “apelo misterioso”, conforme Harry descrevera logo depois de ela começar a trabalhar ali. E ele estava certo.
Esta noite, no entanto, algo captou a atenção de Anahi. Ou melhor, alguém. Normalmente todos ficavam quietos quando ela se apresentava, incluindo as garçonetes. Mas agora alguém estava vindo dos fundos do salão diretamente até o centro da nave que dava para o palco.
Era um homem. Um homem de cabelos e olhos verdes.
Um homem conhecido de cabelos e olhos verdes.
– Ai, Deus – sussurrou ela, atrapalhando-se um pouco.
Porque era Alfonso. Um Alfonso que ela nunca tinha visto. Embora estivesse usando seu uniforme de cara durão
em serviço, composto por calça e camiseta preta, ele estava carregando um buquê de rosas. Um imenso buquê. Também estava sorrindo, os olhos grudados aos dela, aparentemente sem se importar por ela estar dançando quase nua no palco diante de um monte de estranhos.
E, pela primeira vez em toda sua carreira de
bailarina, Anahi fez algo totalmente antiprofissional. Ela cometeu o pecado original. Parou no meio da apresentação.
– Alfonso – sussurrou ela.
Ele havia chegado à beira do palco, cuja altura batia mais ou menos no meio da coxa, e estava olhando diretamente para ela. O olhar dele… ai, Deus, aquele olhar. Ele estava sorrindo abertamente, adorando-a com seu olhar.
Ele não apenas parecia solidário, ele parecia absolutamente extasiado.
– Oi, Anahi – disse ele, a voz baixa, íntima, só para eles dois.
A música esmoreceu lentamente até silenciar. A plateia começou a cochichar. Um homem gritou alguma coisa como “sai da frente”, mas foi censurado por vários outros, que obviamente queriam ver o que iria acontecer.
Anahi também gostaria de saber.
– Oi – sussurrou ela. – Hum… o que você está fazendo?
O sorriso dele se abriu mais.
– Observando você.
– Percebi.
– Você está maravilhosa. Ela mordiscou o lábio.
– Obrigada.
– Eu seria capaz de vê-la dançar todas as noites e seria um homem feliz com isso.
– Quem não seria? – gritou alguém de uma mesa próxima.
Alfonso não desviou o olhar nem um minuto, não se distraiu. Em vez disso, ergueu o buquê e ofereceu a ela. Anahi o recebeu, levando as flores ao rosto mascarado e cheirando a fragrância inebriante que permeava dos botões vermelhos.
– São lindas.
– Imaginei que rosas fossem suas flores.
– Boa escolha. – Rindo um pouco, ela perguntou: – Há algum motivo para você tê-las me dado aqui? E agora?
Ele assentiu.
– Eu queria que você soubesse o quanto tenho orgulho de você e o quanto amo ver você dançar. Não importando quem esteja aqui.
Ele disse. Ele verbalizou. Exatamente o que ela precisava ouvir.
– Ah, Alfonso, Mesmo?
Ele assentiu.
– Mesmo. Tenho mais a dizer. Mas não aqui. – Ele olhou por cima do ombro para os homens que estavam olhando de soslaio para eles. – Algumas coisas não devem ser feitas diante da plateia. – Então ele a fitou outra vez. – E a outra coisa que quero dizer não pode ser dita enquanto você estiver usando essa máscara.
Ela estremeceu, tomada pela expectativa. Ah, como ela esperava saber o que ele queria dizer! Como esperava que envolvesse uma conversa sobre um futuro! E muitas citações da palavra amor.
– Encontro você lá embaixo em dois minutos e meio
– disse ele. – Cronometrei sua música… é isso que falta para acabar sua apresentação.
– Combinado – respondeu ela com um sorriso enorme, enquanto agarrava as flores e se afastava lentamente da beirada do palco. Ela pôs as flores perto da cortina, onde poderia recuperá-las facilmente depois.