A MULHER tinha farinha nos cabelos. Tinha cheiro de amêndoas. O avental estava manchado com cobertura e chantili. Corante alimentício sujava a ponta de dois de seus dedos.
E ela estava absolutamente deliciosa.
As notas de sabor exalandao de Anahi não eram capazes de competir com o perfume inato, cálido e feminino do corpo dela, que tomou os sentidos de Alfonso de assalto de um jeito que nenhum ataque direto conseguiria. Embora estivessem em um restaurante lotado, cercados por clientes e membros da família dele, Alfonso só sentia a presença dela. Ele havia sido atraído para ela, capturado em um mundo íntimo que ambos criaram no instante em que seus olhares se encontraram.
– Seu nome é Alfonso – disse ela, como se estivesse se certificando. A voz foi um pouco áspera, os olhos se semicerrando.
Preocupado com a possibilidade de ela ter um ex de
mesmo nome, ele respondeu:
– Atenderei a qualquer coisa da qual você quiser me chamar.
– Qualquer coisa?
Ele assentiu, incapaz de desviar a atenção daquele bocadinho de farinha nos cabelos dela. Gostaria de erguer e mão e limpá-lo. E então enterrar os dedos naqueles cabelos castanhos volumosos, soltar o rabo de cavalo, formando uma cortina sobre os ombros dela. Ele cerrou os dedos em punho junto às laterais do corpo face à necessidade de enveredar aquelas madeixas em suas mãos e puxar o rosto dela para o dele para um beijo enlouquecedor.
Ela possuía o tipo de boca que implorava para ser beijada. Uma que prometia prazer. Deus, fazia muito tempo desde que ele realmente beijara uma mulher do jeito como gostava de fazer. Lentamente. Profundamente. Como uma exploração exaustiva de todas as curvas e fendas.
Recentemente, a vida sexual dele estivera limitada pela proximidade e sua condição de militar na ativa. Ele não tivera qualquer tipo de relacionamento em anos. E o sexo que tinha feito normalmente era rápido, coisa de uma noite só, em que o beijo lento e
indulgente não entrava em pauta.
Ele poderia beijar a boca daquela mulher por horas. Alfonso não compreendia por que estava tão atraído por
ela. Tudo o que ele sabia era que estava atraído por ela de um jeito que não ficara por ninguém há muito tempo. Não apenas porque ela era linda com o avental e aquele rabo de cavalo desgrenhado. Mas por causa do olhar saudoso e solitário que ela ostentara mais cedo, que dizia que ela não pertencia àquele lugar e sabia disso. Exatamente o mesmo olhar que ele exibia ultimamente.
– Você é solteira? – perguntou ele, desejando uma confirmação.
Ela assentiu, o movimento fazendo o rabo de cavalo dela balançar. Os cabelos captaram o reflexo de uma vela na mesa mais próxima, os fios brilhando em um véu de marrons e dourados que fizeram o coração dele tinir de encontro aos pulmões.
– Qual é o seu nome? – perguntou ele finalmente. Ela arqueou uma sobrancelha fina.
– Ainda não entramos em acordo sobre o modo como vamos chamar você.
Ele se virou, ficando mais perto dela, quando um grupo adentrou o restaurante. A morena deslizou ao
longo da parede, ficando longe do restante das pessoas. Alfonso a seguiu, irresistivelmente atraído pelo perfume e pelo mistério nos olhos dela.
– Acho que você tem um Alfonso no seu passado…?
– Aham.
– E não deu certo?
– Acho que posso dizer que não.
– Um término ruim?
– Não. Nós nunca namoramos. – Ela deu um meio- sorriso. Não havia alegria nele, apenas uma diversão enfadada. – Ele mal notava minha existência.
– Então ele era um idiota.
O outro canto da boca de Anahi se arqueou; desta vez a diversão genuína reluziu claramente.
– Ah, sem dúvida.
– Ele não merecia você.
– Com certeza não.
– Você está melhor sem ele.
– Ninguém sabe disso melhor do que eu. – Ela soava mais divertida agora, como se estivesse baixando a guarda.
– Chega de falar dele – disse Alfonso.
– Se você não gosta do meu nome, chame-me pelo meu sobrenome. É Herrera.
Ele a observou aguardando um arroubo de surpresa, um mirar de olhos para a placa na janela, anunciando o nome do lugar.
Estranhamente, ela não reagiu de jeito algum.
– Acho que já determinamos como eu deveria chamá-lo. Você mesmo se autodenominou.
Confuso, Alfonso apenas aguardou.
– Idiota – falou ela, batendo a pontinha do dedo no próprio rosto, como se pensando no assunto. – Embora, honestamente, o título não capte sua essência totalmente agora. Poderia ter bastado anos atrás, mas, hoje, acho que vamos ter que ficar com… completo babaca.
Alfonso ficou boquiaberto. Mas a morena sensual não tinha terminado:
– A propósito, aquele número de telefone que você queria? Aqui está, você pode querer anotar… 0-800- não-vai-rolar.
E, sem mais uma palavra, ela empurrou o peito dele, afastando-o de seu caminho, e então saiu pela porta. Alfonso ficou parado ali, encarando as costas dela em choque total.