– Eu diria que isto não deu muito certo. – Mark parou atrás dele, observando, assim como Alfonso,
enquanto a morena marchava rua abaixo como se tivesse acabado de dar uma surra em alguém.
Bem, tinha dado mesmo. A saber, nele. Ele só não sabia por quê.
– Não me diga.
– Vejo que você não perdeu seu jeito com as mulheres.
– Cale a boca. – Balançando a cabeça em espanto, ele ergueu uma das mãos e esfregou o queixo.
– Não sei como consegui estragar tudo.
– Mas com certeza conseguiu.
Ouvindo seu irmão rir, Alfonso o encarou.
– Pelo menos não estou usando uma aliança. Ainda posso tentar conquistar uma linda estranha.
Mark apenas riu com mais intensidade, o que fez Alfonso cogitar socá-lo. Só que Mamma estava bem atrás do balcão, olhando curiosamente para os dois enquanto aguardava os clientes. Se Alfonso partisse para cima do irmão, ela viria e acertaria os dois na cabeça com uma concha de sopa.
– Linda estranha… Ai, cara, você vai se odiar quando perceber o que acabou de fazer.
Estreitando os olhos, Alfonso aguardou para que o irmão continuasse.
– Você realmente não a reconheceu, não é?
Ai, diabos. Ele deveria tê-la reconhecido? Ele a
conhecia?
– Ainda não está sacando?
– Diga-me qual é o tamanho da encrenca na qual me meti – murmurou ele, rezando para não ter dado em cima de uma prima que não via há anos. Se eles fossem parentes, e ele não pudesse tê-la, isso seria um crime digno de um tribunal militar. Então ele rezava ainda mais para que ela fosse alguma garota que ele havia conhecido na época de escola.
– Uma encrenca enorme.
Ele aguardou, sabendo que Mark estava gostando de vê-lo suar.
– Ela é da família, você sabe.
Droga. Todo o sangue no corpo dele desceu aos pés de constrangimento… e decepção.
– Por que você não me impediu?
– Você saiu da baia como se seu traseiro estivesse pegando fogo.
Esfregando os olhos e balançando a cabeça, Alfonso murmurou:
– Quem é ela? Do lado da Mamma ou do Papà? Por favor, diga que ela não é uma das 30 netas do nosso
tio-avô Vincenza. Do contrário, eu posso ter de me realistar e me esconder dele e de seus companheiros de máfia pela próxima década.
Os olhos de Mark brilharam de diversão. Ele estava gostando daquilo.
– Não é do lado do nosso tio-avô Vincenza. Pense em alguém mais próximo.
Mais próximo. Jesus Cristo.
– Ela não tem como ser uma prima de primeiro grau…
– Não é uma prima. Ai, graças a Deus.
– Então quem?
– Vou lhe dar uma pista. Você por acaso notou toda a cobertura de bolo e farinha no avental dela?
Notou. Ele não sabia se já havia sentido cheiro mais gostoso do que daquela bagunça açucarada combinada à essência natural da morena.
– Sim. E daí?
– Você normalmente não é tão concentrado assim.
– E você normalmente não fica assim tão perto de ser morto.
– Pense… a confeitaria…
– A Natale’s? É do pessoal da Maite? – E de
repente ele se deu conta.
– Não.
– Ah, sim.
Não. Impossível. Estava fora de questão.
– Nao é a irmã caçula de Maite? Diga-me que não era aquela doçura rechonchudinha.
– Ela não está rechonchuda e acho que, se você a chamasse de doçura, ela o surraria. – Mark passou um braço consolador em torno dos ombros de Alfonso, o peito vibrando de tanto rir.
– Para responder à sua pergunta, sim, meu irmão, aquela era Anahi Portilla,
Alfonso não conseguia falar. Estava chocado demais, pensando no quanto ela havia mudado. Fazia pelo menos nove, dez anos talvez, desde que a vira pela última vez. Ela ainda estava no Ensino Médio, e ele dera de cara com ela em uma festa de natal na casa de Maite e de Tony, quando estava de licença do serviço militar. Ela ainda corava e gaguejava perto dele. E ainda estava femininamente cheinha, bonita, mas com um rosto tão infantil que ele nunca levara a paixonite dela por ele a sério.
Ah, ele sabia da paixonite. Todo mundo sabia da paixonite. Seu irmão Tony ameaçara lhe quebrar as pernas caso ele a olhasse torto durante o casamento.
O quê? Ele não a havia olhado torto. Simplesmente
pousara em cima dela sobre uma pilha de biscoitos. E fora incapaz de se levantar porque ela entrelaçara os membros em volta dele como se estivesse se afogando e Alfonso fosse um salva-vidas tentando salvá-la.
Ele começou a sorrir.
– Any.
– Any. A ex-gordinha irmã de nossa cunhada se transformou em uma mulher muito sexy, que agora está de volta à cidade, trabalhando na confeitaria.
– Na confeitaria dos pais dela, logo acima no quarteirão?
– A própria.
– Ela está aqui em definitivo? – perguntou ele, já imaginando como as coisas de repente poderiam ter se tornado tão perfeitas.
– Não sei. Ela está de volta ao lar há alguns meses, desde que o pai de Maite sofreu um derrame. Com a chegada do bebê, Mait3 não pôde ajudar muito, e a irmã do meio é advogada.
– Então a caçula voltou para casa para tomar conta de tudo.
– Não era surpresa. Os Portilla se assemelhavam muito aos Herrera a família significava tudo.
Quase parecia bom demais para ser verdade. Ele
finalmente encontrara alguém que não apenas fazia seus nervos faiscarem e seu jeans ficar apertado, mas que também vinha com um selo de pré-aprovação da vizinhança. Ela estava linda. Estava agressiva. O sorriso dela quase fez o coração dele parar. Ela fora apaixonada por ele desde sempre, e ele obviamente ainda a afetava, a julgar pelo modo como ela fora embora bufando.
E ela não era uma stripper sem rosto, escondida atrás de uma máscara.
Chega disso. A Rosa Escarlate era a fantasia de todos os homens. A essa altura da vida, Alfonso desejava a realidade. Ele estava pronto para o mesmo que seus irmãos possuíam. E havia acabado de tropeçar em uma mulher de verdade que, ele sentia, podia enlouquecê-lo totalmente de desejo e ser alguém de quem ele poderia verdadeiramente gostar.
– Acho que estou com vontade de comer um docinho fresco – murmurou ele, sorrindo enquanto olhava pela janela, para o céu riscado de alaranjado pelo sol poente. Anahi já não estava mais visível… Ela obviamente não estava desesperada para comer pizza.
Talvez ele entregasse uma para ela.
– A julgar pelo jeito como ela disparou daqui, é
melhor você pensar duas vezes.
Alfonso deu de ombros. Ele não estava preocupado. Afinal, Anahi tivera uma paixão por ele certa vez… Ela praticamente o perseguia. Ele só precisava lembrar-lhe disso.
E informá-la de que estava pronto para ser fisgado por ela.