você fala isso porque não precisa estudar... sorte a sua!” – ele murmurou fazendo bico
“não diga isso Christian, você não sabe o quanto desejava estar no seu lugar!” – revirei os olhos em reprovação – “acho melhor você ir para casa e ler até o capítulo 5, vejo que nem tocaste no livro!” – me levantei da cadeira e a encostei na mesa.
“mas eu não entendo o que eles falam Dulce e a prova é daqui duas semanas!” – seus olhos pidões sempre me convenciam, mas dessa vez eu seria forte e não faria o que ele queria, um resumo.
Neguei com a cabeça e sai da cozinha antes que fosse tarde demais, eu sempre cedia a Christian Chaves, talvez por ele ser meu melhor amigo ou melhor o único... ou então, por ele ser o amor da minha vida!
Sempre que isso acontecia, ou melhor toda vez que as semanas de provas da escola pública de Phoenixville estavam preste a começar, era sempre a mesma coisa, Christian vinha aqui tentando de alguma maneira me fazer facilitar a vida dele, mas no final, ele ia para casa cabisbaixo arquitetando alguma forma de me fazer ceder.
O vento uivava do lado de fora da casa, a lareira já queimava os troços de madeira. Mamãe, papai e eu conversávamos na sala.
“amanhã chegarão novos livros na Papel&Tinta, você se incomodaria de me ajudar Dulce?” – papai falou descansando seus óculos fundo de garrafa na mesinha ao lado do sofá
“claro que não papai, não tenho nada que fazer amanhã!” – eu nunca tinha nada a fazer! – “se eu ao menos estudasse, quem sabe eu não teria algo por fazer durante as manhãs?”
“não comece com isso Dulce, já lhe explicamos nossos motivos para que você não estude, sem contar que você é inteligente o bastante, aprendeu com os livros tudo o que precisa.” – mamãe respondeu antes que papai dissesse algo – “você é especial’ minha pequena, em breve você entenderá nossos motivos!”
“eu juro que não entendo ‘seus’ motivos!” – revirei os olhos contrariada, queria poder entender os motivos deles..
Olhei aquelas grandes e fortes chamas seguirem queimando, o silêncio dominou entre nós três... E foi então que eu senti que a mágica existia...
Os corredores escuros daquele imenso castelo estavam tão úmidos que o cheiro de mofo exalava como se fosse o odor preferido dos habitantes daquele lugar. Meus olhos forçavam enxergar diante a pouca luz. Mas mesmo assim eu segui caminhando sendo guiada por minhas pernas e minha intuição. Barulhos de correntes se arrastando e gritos de dor eram como uma musica ambiente. Onde eu estava?Para onde eu ia?
Ao longe ouvi passos agitados que corriam como se viessem a minha direção, meu coração palpitou e um singelo medo me dominou. Na primeira brecha entre duas pilastras eu me escondi. Vi o vulto negro de um homem passar correndo, clamando por ‘socorro’...
Uma movimentação anormal de vultos indo e vindo tomou de conta daquele grande corredor. Pessoas gritavam, riam e cantavam... ‘A guardiã nasceu, nossa bruxinha nasceu!’. A alegria tomou conta do lugar, com ela foi se embora o cheiro fétido e os barulhos desagradáveis. Sai de onde estava, ninguém parecia me notar, então pude caminhar por entre os vultos sem face.
Uma sala ao fim daquele corredor tinha uma luz inexplicável e um aroma floral extasiante. Aproximei-me da porta com certa dificuldade.
“mamãe?” – murmurei como pergunta, minha mãe estava sentada na cama com um bebê no colo, um bebê cujo carregava uma auréola branco reluzente sobre a cabeça
Ninguém havia me ouvido entrar, ou notado minha presença ali. Então me acomodei em um canto do quarto e vi papai entrar sorridente, ele trazia um belo cordão de prata com uma grande pedra de ônix. Toquei sem pensar meu pescoço. Céus, aquele bebê era eu e aquele cordão era meu!
Não nego que tenha me assustado, sai correndo dali... Como poderia ver aquilo daquela forma?Como eu poderia ter nascido em um lugar tão feio, ou estranho como aquele?Mamãe e papai me haviam dito que eu era mexicana, que havia nascido em Monterrey. Ai não, o que era aquilo?Dois grandes olhos amêndoas apareceram a minha frente, creio eu que ele podia me ver, podia notar minha presença ali.
“ei, calma pequena!” – o suor escorria por minhas têmporas, os olhos negros de papai me olhavam e me acalmavam, estava deitada e adormecida em seu colo – “acho que foi só um sonho!” – seus lábios quentes e ternos beijaram minha testa, me reconfortando de tal forma que eu acabei dormindo... pude somente ouvir a voz de mamãe dizendo... ‘Fernando eles estão chegando!’
comentem plixx,que eu posto