Fanfic: Streamer (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Anahi e Dulce

Dulce

Sexta-feira, como eu gosto desse dia. Já tinham se passado duas noites desde que eu dormia no quarto com Anahí, duas noites de amor, duas noites de suspiros ofegantes, de palavras pronunciadas com o encontro dos nossos olhares em meio ao quarto iluminado apenas pelas luzes que vinham de fora da janela. Eu nunca soube o que significava eternidade até momentos como aqueles.

Se tudo isso é certo? Não sei, tudo se torna tão relativo quando se ama.

- Bom dia meninas. –a professora regente entrou na sala e algumas meninas a respondeu- Estou aqui para dizer-lhes que eu, juntamente com a direção, programamos uma saída para Bad Axe na próxima sexta-feira. Nós sairemos daqui às 11h da manhã, e voltaremos às 17h, primeiro iremos ao Museu Histórico, e depois vamos nos dividir em pequenos grupos com algumas professoras responsáveis para que vocês possam passear, e então nos encontraremos para voltar. Já foi enviada aos pais de vocês pelo correio uma autorização para que assinem. Alguma pergunta?

Bad Axe é uma cidade que fica aproximadamente 30 km de Port Austin, muito maior que a última. Ouviam-se os cochichos entusiasmados das meninas, finalmente sairíamos daquele casulo que era Port Austin.

- Nenhuma? –a professora permaneceu parada ali em nossa frente- Ah, e lembrando que sexta terá aula normal até as 11h.

A professora saiu da sala e então começou o alvoroço: todas as meninas combinando lugares onde passariam, o que fariam,... Olhei para Anahí que sorria enquanto Rachel que estava à sua frente dizia os melhores lugares para ir, ela concordava e até dizia o que gostaria de fazer.

- Não acha ótimo, Dul? –ela então me olhou sorrindo.

Havia algo diferente no sorriso de Anahí àquele dia, seu olhar era mais brilhoso, ela parecia mais feliz.

- Claro. –respondi com um sorriso nos lábios.

Rachel tornou a falar com outra menina ao seu lado então Any falou restritamente comigo.

- Você já foi para lá?

- Não –respondi- você já?

- Sim, nossas saídas com o colégio normalmente são para lá.

Seu rosto imediatamente mudou a expressão sorridente, para um olhar perdido, ao perceber que eu analisava sua face rapidamente voltou ao seu sorriso. Seja qual for a lembrança que Bad Axe a trouxera, não era muito boa.

- Tem um parque muito bonito lá, poderíamos ir se você quisesse. – Ou... não sei, se você preferir lá tem grandes shoppings... –falou insegura.

- Qualquer lugar, com você. –respondi tímida.

Ela sorriu da minha timidez, acariciou meu rosto com uma das mãos, seus olhos eram fundos nos meus.

- Muito bem meninas –a professora de física chamou nossa atenção- Vamos continuar com a matéria...

Pouco a pouco as meninas se acalmaram, a professora terminou a explicação e em seguida nos passou alguns exercícios.

Eu acho que Anahí sequer percebia, mas podia notar sua distração –e na verdade eu esperava que fosse só isso- quanto batia as unhas sem qualquer ritmo contra a classe, ou ela ficava mordendo seu lábio inferior, mostrava impaciência em seus movimentos, estava sempre agitada. Mas eu sabia que os remédios estavam lhe ajudando, saberia também se voltasse a cheirar, mas eu não queria acreditar nessa possibilidade, e não acreditava.

Quando bateu para o término da aula, todas arrumaram suas coisas, Anahí e eu sempre ficávamos por fim, depois da aula de biologia quando algumas meninas riram por ela fazer uma pergunta, ela passou a preferir tirar suas dúvidas no fim das aulas, e eu a esperava.

Ela voltou em minha direção, curvou-se à sua mesa em direção ao caderno fazendo mais anotações, então arrumou seus materiais, e fomos em direção à saída, assim que Anahí colocou o pé para fora da sala, o homem que se escorava na parede de pedra do corredor deu um passo à frente. Eu, que estava atrás, rapidamente fui para o lado de Anahí. Ela olhou para o seu pai com uma expressão gélida, o fuzilava com os olhos.

- Anahí, deixe-me falar com você.

Ela não o deu ouvidos, virou-se e continuou a caminhar pelo corredor. Eu fiquei o olhando, então a segui. Escutei os passos brutos e rápidos atrás da gente, McAdrey segurou o braço de Anahí fazendo-a olhar para ele, nós viramos o olhando nos olhos, eu dei um passo na direção dele prestes a tomar alguma atitude, mas Anahí bruscamente puxou seu braço.

- Você não se atreva a falar comigo, -ela apontava o dedo para o rosto do homem- você não tem o direito de estragar o meu dia.

O rosto dela estava vermelho, McAdrey me olhou, em seguida olhou para Anahí novamente, sua expressão tornou-se enfurecida, ele respirou fundo e então se virou e andou em passos rápidos para a direção oposta. Anahí permaneceu parada apenas observando seu pai se distanciando, então ela tirou os olhos dele, virou-se na minha direção, sua expressão nervosa era evidente, levou sua mão à sua testa, seus olhos agora preocupados fitavam o chão, então olhou nos meus. Levei minha mão ao seu rosto, prestes a desmoronar em lágrimas. Acariciei sua face com meu polegar, olhando-a com ternura. Quando ela percebeu seus olhos marejados, os fechou, respirou fundo.

- Eu to bem. –ela disse ainda com os olhos fechados- Eu to bem.

Ao abrir seus olhos sorriu para mim ainda com sua expressão triste, fiz o mesmo, dei um beijo na face de sua mão, então voltamos a andar em direção ao quarto. Aos poucos a sensação ruim que McAdrey havia provocado era esquecida, Anahí definitivamente estava diferente naquele dia, sua expressão, sorriso, olhar, ela estava mais feliz.

Nós ficamos deitadas na cama, eu entre suas pernas, ela acariciava meus cabelos enquanto eu brincava com sua mão desocupada. Senti seus lábios e sua respiração quente no meu pescoço, ela dava leves selinhos. Após um breve arrepio que senti pelo seu toque, sutilmente virei meu corpo e então a olhei nos olhos, nos acomodamos melhor na cama, deitando-nos lado a lado.

- Amor. –lhe chamei em seguida encostando meus lábios nos seus, ela me olhou aguardando que eu continuasse- O que você acha de hoje não irmos estudar na biblioteca?

- Hmm –ela fez uma expressão pensativa- Estudamos aqui então?

- Não. –eu peguei uma mecha de seus cabelos e fiquei fazendo voltas- Na verdade, eu pensei... Já fazem três dias que estamos estudando, poderíamos fazer algo diferente hoje. Lembra que a Dra. Allison recomendou que você aprendesse a tocar um instrumento? –parei de mexer em seus cabelos e olhei àqueles grandes olhos azuis- Pensei que... Bom, eu poderia te ensinar algumas lições no piano, se você quisesse, é claro.

Desviei o olhar do dela por um momento, até escutar sua voz novamente:

- Você sendo minha professora? –seu olhar era malicioso, tinha um leve sorriso nos lábios, senti o sangue percorrer minha face tornando-a do mesmo tom do meu cabelo.

- Ai Any, -ri constrangida- vamos estudar biologia então se você prefere.

Ela riu também, colocou uma de suas mãos nas minhas costas aproximando nossos corpos.

- Claro que eu prefiro aprender a tocar piano com você, amor. –ela me olhou ainda com um sorriso nos lábios e em seguida selou-os nos meus.

- Hm. –ainda não estava satisfeita, ou convencida.

Ela novamente aproximou nossos rostos, acariciou seu nariz no meu, encontrou meus lábios envolvendo-nos em um longo e carinhoso beijo. Levei minha mão à sua nuca enquanto uma das suas continuava em minhas costas pressionando nossos corpos. Finalizou o beijo mordendo meu lábio inferior, mas continuamos com os rostos próximos, encostando sua testa na minha.

- Eu preciso ir ver Richard. –disse após um momento ainda sem distanciar nossos rostos.

Eu sequer abri os olhos, apenas aproximei meu corpo do seu e emiti um som sem abrir a boca como um: “Hum-hum” para que não saísse dali. O que eu estava fazendo? Meu Deus Dulce. Distanciei nossos rostos abrindo meus olhos, ela então abriu os seus também.

- Está bem. –cedi.

Ela sorriu, pude ver que ela já tivera acatado meu pedido anterior para que ficasse, e não queria ir à consulta, mas por fim levantou-se da cama.

- Então... A gente se encontra lá na sala do piano? –perguntou a caminho da porta.

- Não, eu vou até a sala do Richard para irmos juntas.

Ela sorriu.

- E... Você não quer me acompanhar até lá agora?

- Claro, onde eu estava com a cabeça?

Levantei-me e rapidamente fui ao seu lado, trancamos a porta do quarto e andamos à caminho da sala. Anahí pegou minha mão entrelaçando nossos dedos.

- O que você vai fazer agora? –perguntou.

- Acho que vou preparar a sua aula. –respondi em seguida rindo da minha piada fraca.

Ela riu também.

- Não sei, –continuei, olhei para a janela onde o manto branco de neve não parecia mais tão espesso- Talvez eu vá ao jardim de inverno ler um livro.

Ela olhou para a janela, analisando a hipótese.

- Não vai amor, deve estar muito frio e você vai acabar pegando alguma coisa.

Ela franziu a testa, seu olhar temeroso me deixou com cara de boba. Era a primeira vez que Any havia demonstrado preocupação comigo, eu estava tão acostumada ao oposto que senti meus lábios formarem um singelo sorriso.

- Está bem, eu não vou. –respondi ainda com o sorriso bobo.

- Isso. –respondeu imperativa, mas ainda em um tom de brincadeira.

Chegamos à porta, dei um beijo em sua bochecha.

- Venha aqui em uma hora, pode ser?

- Certo.

Ela bateu na porta, Richard a atendeu.

- Olá Anahí, -ele me olhou- Dulce, é um prazer vê-la.

- Igualmente. –respondi.

Anahí entrou na sala, eu me despedi deles. Sabia aonde iria, não seria no jardim de inverno, ou prepararia uma aula de piano para Any. Em passos rápidos fui à recepção, diretamente ao balcão, onde a atendente falava no telefone, aguardei até que desligasse, ela então me olhou.

- Sim?

- Por favor, você sabe onde está o McAdrey?

- Ele está fazendo uma ronda pela ala C.

- Acabei de vir de lá, engraçado não ter o visto.

- Ele recém saiu daqui.

- Está bem, obrigada. –respondi já indo em passos rápidos até a ala C.

Quase correndo pelo corredor procurava McAdrey, até que de longe vi sua silhueta, as mãos cruzadas nas costas, andava calmamente. Só de vê-lo pude sentir o sangue pulsando com mais força em minhas veias.

- McAdrey. –chamei-o ainda distante.

Ele virou o corpo calmamente, com a testa franzida, ele não esperava que fosse eu por sua expressão, ficou quieto.

- Eu quero falar com você. –falei dando mais alguns passos para frente.

Ele olhou para os lados para se certificar que não havia ninguém no corredor, algumas meninas passaram, ele então deu alguns passos à frente.

- O que você quer? –sussurrou.

- O que você queria com Anahí hoje? –indaguei.

- Ela é minha filha, não lhe devo satisfações.

- Você está enganado, ela não tem nada de você.

- Aí que você se engana. –respondeu autoritário.

- O que você queria com Anahí hoje? –dessa vez perguntei mais rígida.

- É seu aniversário. Queria parabenizá-la, achei que seria uma boa oportunidade para conversarmos. Satisfeita?