Fanfic: Streamer (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Anahi e Dulce

Depois de mostrá-la o básico, ensinei-lhe as primeiras notas de Hallelujah na versão para iniciantes, foi a primeira música que aprendi.

Ela fazia a parte com a mão direita, enquanto eu lhe acompanhava com a esquerda, ela ia bem, às vezes demorava um pouco lembrando que nota viria a seguir.

- Droga. –falou depois de errar uma nota, em seguida sorriu- Eu não tenho futuro como pianista.

- Pára amor, você estava indo bem. –eu ri. Vamos tentar de novo.

Eu dei a primeira nota, ela então continuou.

Quando entendeu a primeira parte da música e já não errava mais, ensinei-lhe mais um trecho. Enquanto eu tocava com uma das mãos, olhava-a de canto, tentando não constrangê-la, mas ao mesmo tempo precisava sanar minha curiosidade, e sua face ficava ainda mais linda do que da maneira que eu imaginava, sua concentração era um alívio, sentia como se... Ela quisesse aquilo, não estivesse se esforçando para gostar, mas como se sentisse prazer estando ali.

Eu não fui tão discreta o quanto pretendia, ela então parou de tocar e me olhou.

- Eu estou indo muito mal, não estou? –olhou insegura.

- Não, -eu então acordei dos meus pensamentos- claro que não. Eu estava pensando... Já deve estar na hora da janta, vamos para o refeitório?

- Na verdade, eu preferiria ficar aqui.

- Mas e sua dieta, amor?

- Eu sei, eu sei, mas nós poderíamos ir mais tarde ao refeitório, como a gente fez daquela vez. – Além de que, eu já ganhei quase três quilos.

Eu não gostei muito da idéia, burlar sua dieta não me soava bem. Ela leu minha expressão, então uniu as sobrancelhas e me olhou como se implorasse que eu assentisse.

- Eu vou comer tudo o que tem na dieta, só que num horário diferente. –justificou.

- Está bem. –cedi. Só porque é seu aniversário.

Ela sorriu, aproximou seu corpo do meu colocando seus braços em minha cintura, fiquei apenas olhando-a, ela fitava meu pescoço, lentamente aproximou seus lábios e encostou em minha pele fazendo com que eu ficasse arrepiada, permaneci imóvel enquanto ela subia os beijos do meu pescoço, foi ao meu queixo, então chegou aos meus lábios. Ela encostou-os de leve, então distanciou nossos rostos, olhando diretamente em meus olhos.

O contraste já não era evidente, se é que ainda existia contraste. Atrás dela a lareira com o fogo ardendo, aquecendo todo o ambiente. Podia lembrar a primeira vez em que vi seus olhos, azuis, desiludidos, gélidos. Não eram os mesmos olhos que eu via agora. Os de agora me traziam uma sensação melhor do que deitar em uma cama quentinha no ápice do inverno, melhor do que entrar no banho quente quando meus pés estão gelados, melhor do que qualquer coisa que um dia já havia sentido.

Eu encontrei seus lábios, envolvendo-a num carinhoso beijo, coloquei as mechas de seu cabelo que cobriam seu rosto para trás, separei um centímetro nossas bocas, continuando a encostar nossos lábios de leve, a sala agora somente iluminada pelo fogo da lareira fazia com que sua pele tivesse uma cor de bronze, posicionei-me melhor em sua frente, ela colocou as mãos em minha cintura, e novamente procurei seus lábios. O beijo era carinhoso, cuidadoso, ficamos roçando nossos lábios por um bom tempo até abrir os olhos.

Aquela posição não era a mais confortável, além de que naquela hora já não podia mais tocar piano, portanto nós levantamos do banco, e sentamos no tapete bege em frente à lareira. Estávamos frente a frente, não queria perder aquela imagem de seu rosto iluminado com a luz do fogo. Era perfeito. Após alguns minutos, -ou horas, o tempo parecia parar perto de Any- fomos interrompidas por batidas na porta, nós olhamos para essa, que em seguida foi aberta. Rachel botou somente o rosto para dentro.

- Oi meninas. –ela sorriu então virou para trás- Elas estão aqui sim.

- Oi Rachel, entrem. –disse esperando que ela estivesse acompanhada de mais gente.

Rachel entrou seguida por Natalie, Amy e Kate, todas elas nos cumprimentaram, e então sentaram ao nosso lado formando um pequeno círculo.

- Dulce, nós estávamos louca atrás de você, a chave do quarto está contigo, não? –Amy perguntou.

- Ah, é verdade! –levei a mão à testa lembrando que deveria ter entregue- Desculpem, esqueci completamente.

Peguei a chave em meu bolso e a entreguei na mão de Rachel.

- Tudo bem. –Amy respondeu.

Apenas sorri.

- Então, o que vocês fazem aqui? Não foram estudar, não as vimos no refeitório... –Natalie perguntou.

Eu olhei para Anahí, pedindo permissão para dizer que era seu aniversário com o olhar, ela apenas deu os ombros e assentiu.

- Hoje é aniversário de Any. –falei olhando para as meninas.

- É verdade? –Kate perguntou eufórica para Anahí.

- É sim. –ela respondeu com um sorriso tímido.

- Parabéns! –Kate envolveu Any em um abraço, que ficou completamente desconfortável, mas tentou disfarçar- Ai que legal, tudo de bom, muita felicidade, saúde, amor, garotos...

Elas se desvencilharam, Any apenas sorriu, eu olhei para sua expressão na hora em que Kate disse garotos, foi engraçado. Amy também achou graça, mas foi menos discreta que eu, esperava que tivesse achado graça da mesma coisa que eu.

- Que foi? –Kate olhou para Amy.

- Nada, é que... Você disse garotos. –Amy respondeu, todas a olharam estranhamente, inclusive eu e Any- Não, não é isso que vocês estão pensando... Esquece.

- Não, por favor, fale. –encorajei-a, depois me perguntei se ela não me mataria por isso.

Amy respirou fundo, então nos encarou.

- É só que,... Eu não acredito que amor, felicidade e garotos se encaixem na mesma frase. Eu não quero dizer que sinto atração por mulheres também –ela riu e as garotas a acompanharam-, é só que, não faz sentido para mim, aliás o amor não faz, pelo menos agora.

- Ai Amy, como você é amargurada. –Natalie disse- O amor é o sentimento mais lindo que existe, não há vida sem amor.

- Também acho. –Rachel disse- Quem aqui nunca sonhou com um amor daqueles que deixa rosas na porta de casa, um amor que te faz ter arrepios na espinha e te faz ofegar sem ao menos te tocar.

Todas ficaram atentas em Rachel, que parecia falar como se tivesse recordando de algo.

- Não é isso que eu quis dizer, -Amy olhou para todas, então sorriu- ta, é mais ou menos isso, mas o amor, o amor é como se colocassem seu cérebro em stand by e você não respondesse mais pelos seus atos, a gente abre mão de tantas coisas boas em nome de um sentimento que é completamente instável. Achamos digno fazer o indigno porque dizemos que é por amor. Isso não é justo, não é um sentimento que eu gostaria de me apegar.

- Eu ainda discordo –Kate protestou- Ainda bem que eu o desejei para Anahí, e não para você. –disse em tom de brincadeira, Amy entendeu- O que você acha? –ela virou-se para Anahí.

Any desceu seu olhar para o fogo que ardia na lareira, onde ficou perdido por algum tempo, o silêncio predominou o ambiente, todas a espera da resposta de Anahí. Ela suspirou, ainda olhando para o fogo seus olhos revelavam que havia muito em sua mente agora.

- Eu acho que... O amor é... como se cada pessoa navegasse sozinho a bordo de um navio. – Centenas de navios pelo oceano, todos juntos, mas ainda assim, a sensação de cada um é como se estivessem sozinhos. Todos seguindo a correnteza, mesmo sabendo que no fim dela há um abismo. –seus olhos brilhavam com a luz do fogo, eu a escutava atentamente, meu olhar agora deveria estar hipnotizado- Até que, do seu navio, você enxerga uma pequena chama lá de longe, uma flâmula² no horizonte. Você tenta a ignorar, afinal, é muito mais fácil apenas continuar no fluxo da água, mas a luz vai crescendo, até que você sente que não há como fugir, você quer estar lá, algo te chama. É como se fosse um farol te chamando na terra. Então você luta, você vai contra a correnteza, você sofre, mas você sente que o esforço vai valer a pena, sabe que aquela luz está te guiando para um lugar melhor. Você se aproxima da luz, e vê o quanto ela ainda é mais bonita de perto, como ainda é maior, você luta mais até chegar até a luz, então quando chega, você pode ver que –ela tirou os olhos do fogo e me olhou- realmente valeu à pena.

Eu permaneci estática, sem reação, Anahí também ficou apenas me olhando. Eu estava absorvendo tudo aquilo, senti meus olhos umedecerem, mas os controlei antes que uma lágrima escorresse.

- Meu Deus Anahí, -escutei a voz de Kate ainda sem tirar os olhos de Any- essa foi a coisa mais linda que eu já ouvi.

- Eu também. –Rachel concordou- Se é assim, eu te desejo muito amor.

As outras concordaram, Any então desviou o olhar do meu, o que me fez acordar.

Como eu a amava, como eu a amava. Nada iria nos separar.

- Obrigada. –Any disse com um sutil sorriso nos lábios.

Nós ficamos durante boas horas ali, conversando, rindo, até a hora em que eu e Anahí decidimos que iríamos jantar, as meninas nos acompanharam, era sexta-feira, não teria problema dormir um pouco mais tarde.

Em passos silenciosos fomos até a cozinha, Anahí pegou a chave que estava em seu bolso e abriu a porta cuidadosamente, todas entraram, eu fechei a porta cuidadosamente e Kate acendeu a luz dos fundos para que pudéssemos enxergar um pouco.

- O que tinha hoje na janta? –perguntei faminta.

- Era macarrão com molho de tomate. –Rachel respondeu.

Ouvi meu estômago roncar depois do que Rachel disse, Amy que estava próxima de mim riu.

- Eu acho que não sobrou nada. –Kate disse debochando.

- Não acredito. –Anahí respondeu já abrindo a geladeira e procurando resíduos da janta, ela então me olhou incrédula- Pior que é verdade.

Todas se olharam e riram.

- Vamos fazer nós a nossa própria comida. –sugeri.

- Ótimo, mas o que? Não deve mais ter nada de macarrão. –Anahí respondeu.

- Minha empregada sempre fazia uma torta de queijo e presunto muito boa e fácil, chegou até a me ensinar de tanto tempo que eu passava com ela, se quiserem eu posso mostrar pra vocês como é. –Rachel sugeriu.

- Por mim, ótimo. –sorri e Anahí concordou.

- Ta, onde tem uma forma? –perguntou à Anahí.

- No armário ao lado de Kate.

Kate pegou uma forma e colocou-a sobre a mesa.

- Pegue queijo, presunto, ovos e manteiga, por favor? –Rachel pediu a Any que estava ao lado da geladeira- Preciso de creme de leite também.

- Eu pego. –me prontifiquei.

- Tem na dispensa. –Anahí respondeu toda atrapalhada pegando os ingredientes na geladeira, então Natalie a ajudou.

- Onde fica a dispensa? –perguntei.

- Eu sei. –Amy respondeu pegando na minha mão e me conduzindo até a dispensa.

Era uma pequena sala cheia de estantes com alimentos enlatados. Passei meus olhos por todas aquelas prateleiras a procura do creme de leite, até que o avistei na penúltima, era muito alta para que pudesse alcançar, avistei uma escadinha ao lado de Amy.

- Me alcance a escada.

Ela me entregou, eu então subi um degrau, então senti um leve desequilíbrio.

- Segure para mim. –pedi a Amy, que imediatamente o fez.

Subi o próximo degrau da escada que continuava bamba.

- Dulce...

Eu finalmente alcancei a lata, peguei-a, estava com uma aparência envelhecida então fui me certificar da sua data de validade: 20/11/07. Ótimo, nós estamos em 2009. Que nojo, o que aquela escola servia para gente? Então me dei conta que Amy havia me chamado.

- Hm?

Perguntei enquanto procurava alguma lata de creme de leite na estante.

- Eu vi o jeito que você e Anahí se olharam hoje.

Eu senti mais uma vez o desequilíbrio.

- O-o que? –continuei procurando a lata como se não soubesse do que Amy falava.

- Ah, pára. Vocês podem enganar as outras meninas, mas a mim não.

Achei uma lata.

- Achei. –disse eufórica, como se fosse salva pelo gongo.

Certifiquei-me da validade, eu parecia ter nascido com a bunda virada para a lua, esta estava na validade. –Se não tivesse eu me fingiria de louca para fugir da conversa com Amy.

Desci da escada e então Amy permaneceu parada, não consegui evitar de olhar em seus olhos, ela esperava por uma resposta.

- O que vocês têm? –Perguntou.

Eu respirei fundo, quase cedi.

- Ham... Nada Amy, apenas somos amigas, assim como eu e Natalie, você e Rachel. Nada de mais.

- Dulce, você trocou de quarto por causa dela, depois voltou para o quarto dela quando Lisa foi embora, vocês matam aula juntas, vocês passam o tempo todo juntas. Na verdade até aí tudo bem, mas eu vi o jeito que vocês se olharam quando ela disse aquilo sobre o amor, isso não é apenas amizade.

Droga, eu preciso de uma escapatória.

- Por que você quer saber, Amy? Droga, isso não te interessa, já te disse: nós somos apenas amigas.

Eu abri um caminho e saí em passos rápidos. Merda, Amy era mais esperta que as outras, ela tinha percebido. E se ela não fosse mais esperta e na verdade todas tinham percebido? Não, não, elas estariam olhando de um modo diferente, ou alguma delas falaria algo antes de Amy, ou teria algum ataque homofóbico. Cheguei à cozinha como se aquela conversa não tivesse acontecido. Anahí observou minha expressão tensa então olhou para Amy ao meu lado, Rachel também ficou me olhando, então dei alguns passos à frente e coloquei o creme de leite sobre a mesa.

- Está aqui.

- Obrigada. –Rachel sorriu.

Apenas sorri de volta.