Fanfic: Streamer (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Anahi e Dulce

Anahí

Definitivamente era isso que estava faltando, não era o remédio ser mais fraco que me dava insônia, era a falta da presença de Dulce ao meu lado enquanto eu dormia.

Passamos a noite abraçadas, o vento uivava ao entrar pela fresta da janela que nunca se fechava completamente do nosso quarto, o aquecedor não dava conta do frio que fazia até uma hora simplesmente parar de funcionar juntamente com as luzes, mas nada era mais relaxante do que dormir abraçada em Dulce, sentir seu cheiro, sua pele, seu calor, seu toque. Ela. Dormimos tranquilamente até o despertador sinalizar que era hora de acordar. Ao olharmos pela janela a neve era mais espessa que nunca, uma tempestade atingiu a cidade naquela noite.

Fomos para o café, a luz já havia voltado em apenas uma fase e então as aulas atrasariam até que voltasse completamente. Eu me perguntei a que horas Lisa chegaria pensando nas estradas cobertas de neve, provavelmente só no fim do dia.

Dulce estava quieta, pensativa. Queria poder entender o que a deixava tão estranha desde ontem. Ainda na hora do café a diretora veio nos comunicar que até que a luz não voltasse completamente nós deveríamos voltar ao nossos quartos a espera da sirene, que sinalizaria que deveríamos ir para a sala de aula. Dulce e eu sentamos sozinhas na mesa do café e comemos em silêncio, trocamos olhares por alguns momentos, pude ver a tensão estampada em seu rosto, em seus gestos; desde o seu modo de respirar até o modo como segurava o garfo, ou que não sustentava nossos olhares por mais de alguns milésimos de segundo, aquilo já estava me deixando incomodada.

Calmamente assim que terminamos o café voltamos para o quarto, em passos silenciosos, calmos, ela segurava minha mão um pouco rígida –assim como todos seus gestos naquela manhã. Abri a porta do quarto e a segurei para que entrasse, ela me olhou deixando escapar um breve sorriso de agradecimento. Sentamo-nos na nossa (sim, eu podia chamar de nossa) cama frente a frente, senti seu olhar preso no meu rosto, eu fitava o chão e então ergui meu rosto olhando em seus olhos, desta vez ela cedeu e sustentamos este olhar. Ela estava entregue, como se soubesse que eu via sua tensão, ela aproximou sua mão da minha ainda sem desgrudar os olhos dos meus, segurou-a com força. Levei minha outra mão ao seu rosto o acariciando apenas com meu indicador.

- O que ta acontecendo, amor? –sussurrei calmamente.

Ela tentou sorrir e então desviou o olhar.

- Nada, ta tudo bem.

Então voltou a me olhar com a expressão mais tranqüila, ainda com um breve sorriso. Batidas na porta nos interromperam, olhamos em direção a essa, Dulce se levantou e a abriu.

- Bom dia, Dulce. Podemos entrar? –escutei a voz da diretora do outro lado da porta.

- Claro.

Dulce abriu mais a porta dando espaço para que a diretora e McAdrey entrassem. Eles pararam na minha frente e Dulce sentou ao meu lado.

- Meninas, nós temos autorização para revistar todos os pertences de Lisa, como vocês devem saber, ela volta hoje. Se não se importam, nós precisamos fazer isso agora. –A diretora tinha uma expressão tranqüila.

- Nós precisamos sair? –perguntei franzindo o cenho.

- Não, não é necessário. –ela concluiu.

Ela e McAdrey se viraram para o armário, Hudson o abriu e McAdrey apontou onde estavam as roupas de Lisa e Hudson começou a mexer nessas e as colocar na cama.

- Espera ai. –falei pensativa, apenas Dulce me olhou- Autorização de quem?

Hudson continuou mexendo nas roupas.

- Dos seus pais. –ela respondeu.

Eu levantei-me da cama em um impulso.

- Então vocês também fizeram isso nas minhas roupas?! –soou mais como uma afirmação, McAdrey me olhou espantado e Hudson largou as roupas de Lisa para me olhar.

- Anahí, você precisa entender que...

- Entender o que? –falei em um tom mais alto- Vocês não conversam com Richard? Vocês não percebem a mudança no meu comportamento? O que é isso agora? Vocês sequer falaram comigo!

Olhava-os incrédula, como se todo meu esforço para melhorar fosse vão, como se o que eu havia passado fosse uma mera dorzinha de cabeça facilmente curada com analgésicos. Não houveram analgésicos, eu que me esforcei e agora estava desacreditada.

- Calma, Any. –Dulce sussurrou encostando sua mão no meu ombro.

- E você... -olhei para McAdrey, minha frase ficou incompleta, mas sabia que ele havia entendido.

Ele continuou me olhando enquanto Hudson voltou-se para o armário, quando chegou nas meias ela achou dois saquinhos com pó, ela os colocou na cama. Por um momento fiquei olhando para a cocaína, minha expressão continuava tensa e meu olhar preso naquele pó branco. Aquele pó que eu havia dependido por tanto tempo, por alguns segundos, meros segundos, eu quis me lembrar da sensação. Fechei meus olhos afugentando aqueles pensamentos e ao abrir olhei para Dulce, que me encarava. Seu olhar me tranqüilizou e eu fiquei a encarando até a hora em que os dois foram embora, levando consigo a cocaína de Lisa.

- Como eles puderam fazer isso? –perguntei mais para mim mesma que para Dulce, agora me deixei dominar pela angustia e tristeza.

Dulce acariciou meu braço e eu a olhei.

- Eles não conseguem ver o quanto foi difícil para mim, por que é tão difícil para as pessoas acreditarem que eu não uso mais cocaína?

Ela desviou os olhos por alguns segundos e então me olhou novamente.

- Não se importe com eles, Any. – Eles são uns fracos.

- Você acredita em mim, não?

Ela hesitou.

- Claro.

Senti a decepção invadir meu rosto, o gosto da amargura na minha boca.

- Você também é uma fraca. –cuspi as palavras me levantando da cama.

- Anahí!

Eu permaneci de costas para ela enquanto senti meus olhos ficando marejados.

- O que é? –virei indagando-a irritada- O que é? Nem você enxerga que eu passei por tudo isso por sua causa? Nem você!

Ela permaneceu estática, enquanto eu assimilava aquilo tudo, então a compreensão invadiu meu rosto.

- É por isso então. É por isso que você está assim. Por causa de Lisa.

Senti as lágrimas percorrendo meu rosto, Dulce deu alguns passos até mim e segurou meu braço.

- Eu não tenho medo por você, Any. Tenho medo por ela.

- Porque você não confia em mim! –gritei.

- Não! –ela gritou no mesmo tom- Se eu não confiasse em você não estaria contigo agora, quem está sendo cética é você!

- Ah, cética? Pelo amor de Deus, Dulce! –eu ri ironicamente.

- Anahí, eu nunca tomei nenhuma decisão por você, nunca fiz nenhuma escolha por você, justamente porque eu confio em você. O que você faria se eu voltasse a dormir no quarto de Amy? Não se assustaria? Ter ela perto de mim não te deixaria inquieta?

- Não! –eu pressionava minha mandíbula, irritada.

E fez-se uma lacuna. Eu percebi que realmente ficaria inquieta com a presença de Amy no quarto com Dulce.

- Aliás, você não tem que voltar para o quarto dela hoje? –novamente cuspi as palavras, escondendo minha irritação na minha ironia.

Dulce largou meu braço, olhou-me decepcionada e então se voltou para suas coisas que estavam na sua antiga cama. Eu permaneci imóvel enquanto ela juntava suas coisas rapidamente, abraçou tudo o que havia trazido consigo e em passos rápidos foi até a porta, seu rosto estava vermelho e inundado em lágrimas, com dificuldade abriu a porta e saiu rapidamente a batendo com força. Eu permaneci parada olhando em direção à porta.

Então, seria isso mesmo? Quero dizer, de novo?

Rapidamente fui até a porta a abrindo, olhei Dulce se afastando rapidamente com a cabeça baixa pelo corredor.

- Dulce! –gritei.

Ela não parou, agiu como se não tivesse ouvido. Eu caminhei rapidamente em sua direção, corri por um momento.

- Dulce!

Ela permaneceu caminhando de cabeça baixa, até que a ouvi soluçar com o choro. Eu a alcancei e então encostei em seu braço, ela se virou para mim furiosa.

- O que é agora? –gritou.

- Não pode ser assim. –falei em um tom mais baixo.

- Assim como, Anahí? Quer saber... É melhor mesmo eu voltar para o meu quarto. –ela secou as próprias lágrimas.

- Você não entende... –falei inconformada.

- Agora nós vamos brigar todos os dias para no fim nos reconciliar e continuar como se nada estivesse acontecendo? Realmente, eu não estou entendendo. –seu tom ainda era irritado.

- Não! Eu não quero isso. –aumentei meu tom de voz.

Ela deixou as coisas que carregava cair, explodindo.

- O que você quer então, Anahí? Porque... Eu não sei se tenho mais a oferecer. Eu to dando meu máximo porque eu quero estar contigo, eu quero estar ao seu lado! - Você diz que eu não enxergo o que você passou por mim, mas e o que eu to passando, você realmente acha que é fácil para mim?!

- Eu nunca achei que era fácil para você, Dulce.

- Então por que você está agindo como se fosse?

- Não estou agindo como se fosse, já disse que não é isso o que eu quero!

- O que você quer então, Anahí? –desta vez seu grito foi mais alto.

- Eu quero você! Quero sua confiança! Quero seu amor!

Ela respirou fundo, ainda com a expressão triste.

- Você já tem tudo isso. –foi sua vez de cuspir as palavras.

Fiquei quieta, senti outra lágrima escorrer dos meus olhos. Olhei em volta, algumas meninas nos observavam comentando. Voltei a olhar para Dulce sem me importar com as meninas.

- Você tem mais que isso. –ela continuou mais calma- Você tem meus planos, você tem meu futuro, você tem cada próximo segundo da minha vida, Anahí. Porque eu não me vejo mais em lugar algum sem você. Não é o bastante?

Permaneci parada, estática. Não sabia se ainda estava respirando, era como se o tempo houvesse parado. Dulce continuava ali também, esperando uma resposta, seu olhar intenso e imóvel preso nos meus olhos. Ouvi sussurros atrás de mim, cochichos, passos, mas tudo o que escutava era o eco das palavras de Dulce. Seu olhar entristeceu, ela se agachou e novamente juntou suas coisas abraçando-as e voltou a andar rapidamente na direção contrária.

Fiquei olhando ela se distanciar até que não pudesse mais suportar a cena, desviei o olhar para o lado e me deparei com três meninas me encarando, tinham as expressões assustadas, surpresas. Virei meu corpo e tornei a caminhar em direção ao quarto, outras meninas me encaravam, eu simplesmente não queria me importar com isso agora, não conseguiria.

Ao entrar no quarto fechei a porta rapidamente escorando-me nela. Fechei os olhos e tudo o que via eram as lágrimas de Dulce. Tudo o que ouvia eram suas palavras. Tudo o que sentia era simplesmente dolorido. Ao abrir os olhos eu estava sentada no chão, ainda escorada na porta. Com dificuldade o ar saiu dos meus pulmões, senti meu rosto ficando mais quente, eram as lágrimas querendo escorrer. Franzi o cenho numa vã tentativa de lutar contra elas, mas não durou muito para me render.

Levantei-me do chão rapidamente, minhas mãos estavam fechadas e tremiam com a força que eu fazia, dei um passo a frente e então senti-me tonta. O chão de baixo dos meus pés estava instável, como sempre.

Apoiei uma das minhas mãos na parede e continuei a andar, bruscamente abri a porta do banheiro e ajoelhei-me diante do armário da pia. Abri-o e estava cheio de tubos de shampoo, condicionadores, sabonetes, ao lado tinha o secador de cabelos. Joguei todos esses objetos para trás desesperadamente, eu sabia que ainda restava alguma coisa atrás deles.

Não.

Eu não pensava no que eu estava colocando a perder.

E ali estava, o último.