Fanfic: Streamer (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Anahi e Dulce

Dulce

Uma semana se passou.

Sete dias sem dormir direito, sem comer direito, sem me concentrar em nada, sendo atormentada constantemente por lembranças que continuavam vivas em cada pedaço de mim.

Anahí não me procurou. Nós não estudávamos mais na mesma turma por ordens da diretora. Não a vi mais no refeitório ou nos corredores. Eu não freqüentava mais a sala do piano ou o jardim de inverno, seria muito difícil estar nesses lugares sem ela ao meu lado.

Durante a semana Rachel tocou uma vez no assunto, Amy escutou, ela praticamente jogou na minha cara o quão idiota eu tinha sido por acreditar em uma viciada.

Eu tava me convencendo que Amy tinha razão.

Richard me chamou para conversar duas vezes mais, a primeira delas foi para dizer que a diretora não ligou para os meus pais e que ela não havia acreditado completamente, porém não duvidou quando ele disse que as meninas estavam inventando a história. A segunda vez foi apenas para conversar comigo, ver como eu estava, mas eu não melhorei depois disso.

Depois que terminou a aula Richard disse que gostaria de falar comigo à tarde, antes disso a diretora precisava falar comigo em sua sala.

Caminhei calmamente até a sala da Sra. Hudson. Eu formulava em minha cabeça algumas frases explicando a minha relação com Anahí. Que nós nunca passamos de amigas, que tudo isso não passava de fofoca.

Droga.

Eu me aproximava da sala concentrada em o que diria, olhei pelo vidro e avistei duas pessoas sentadas de frente para a diretora conversando com ela. Eram meus pais.

Não tenho mais como escapar.

Bati na porta e em seguida entrei. Todos me olharam com expressões fechadas.

- Oi. –falei parada em frente a eles.

- Por favor, Dulce, sente-se. –a diretora falou e eu o fiz- Vou lhes dar privacidade, vocês têm muito a conversar.

Ela se levantou da sua cadeira e saiu da sala.

- Mãe, pai, eu sei que deve ser difícil para vocês... –falei lentamente até minha mãe me interromper.

- Eu disse, ela já sabe. A diretora contou. –falou para o meu pai.

- Calma Blanca. A diretora não contaria. –meu pai disse paciente- Do que você está falando Dulce?

- Ahm... Não, nada.

Ele respirou fundo.

- Então... Dulce, eu preciso que você compreenda o nosso lado antes de qualquer coisa, por favor. Isso vai ser difícil para você, nós sabemos, mas estamos procurando o melhor para a família e para o seu futuro.

‘Nenhuma das atitudes que vamos tomar foram fáceis de decidir, já faz alguns meses desde que a proposta surgiu e nos viemos pensando e repensando, mas agora está na hora de dar o próximo passo.

Eu começava a me assustar com aquele tom de voz e aquele papo de melhor para todos. Permaneci quieta, apenas escutando.

- A empresa esta crescendo em proporções muito boas, apareceu uma oportunidade de abrirmos uma sede em Indianápolis. Nós vamos nos mudar para lá, todos nós.

Fez-se o silêncio. Eles me olhavam com expectativa, eu permaneci calada. Sabia que deveria dizer algo agora.

Só me vinha uma coisa à cabeça, Anahí.

Seria mesmo o melhor? Deixar a nossa história no passado e tentar uma vida nova em outro estado? Esquecer do seu cheiro, do seu toque, do seu olhar, da sua voz,... Esquecer como é estar ao seu lado para tentar recomeçar? Seria mesmo o melhor?

- Tudo bem. –respondi, finalmente.

- Tudo mesmo? –minha mãe perguntou sem entender.

Eu a olhei nos olhos. Não! –uma voz gritou em minha cabeça.

- Tudo.

Eles se olharam, pareciam aliviados.

- Seu tio Josh virá pegá-la domingo.

- Este domingo?

- Sim, ele vai te levar até Detroit onde vamos pegar um avião para Indianápolis, esteja pronta.

Eu nunca vou conseguir estar pronta para deixá-la.

Eu apenas assenti e me despedi. Assim que sai da sala a diretora entrou, e eles voltaram a conversar.

Caminhava lentamente, tentando entender tudo aquilo, olhava cada centímetro daquelas paredes de pedra, logo eu não estaria mais aqui, mas via um pedaço de mim que nelas ficariam. Fui até o hall, algumas meninas estavam ali, tinham duas conversando no sofá onde eu apoiei Anahí quando ela passava mal e eu desesperadamente ligava para Allison. Senti minha expressão entristecer, eu não iria saber como deixá-la no passado. Lembrei-me da consulta com Richard então me dirigi para sua sala, no caminho passei pelo corredor que dava acesso à sala do piano, parei por alguns segundos e fiquei olhando para a última porta. Foi naquela sala que nos falamos pela primeira vez, que nos amamos, que nos perdoamos, lembro-me de cada segundo. Eu não quis ficar tempo o bastante para sentir meus olhos com lágrimas então continuei a andar até a sala de Richard, que também me trazia lembranças de Any, mas não tão vivas.

Dei leves batidas na porta e esperei que Richard a abrisse.

- Olá Dulce. –ele não demorou muito e então deu passagem para que eu entrasse.

- Oi Richard.

Eu sentei no sofá, Richard fechou a porta e sentou em sua cadeira.

- Como você está?

- Não sei. –respondi olhando para o lado de fora da janela- Richard, você já sabia? Por isso me chamou aqui depois de eu ir conversar com a Sra. Hudson?

- Sabia de quê?

Eu o olhei, parecia confuso. Não, ele não sabia.

- Eu estou indo embora. Vou sair do colégio.

- Como? Quando isso?

- Meus pais vão me levar para Indianápolis com eles neste domingo.

- E você não pediu para continuar aqui?

- Não. Acho que não tive escolha, mas na verdade não tentei.

- Mas você acha que isso é o melhor? Assim, tão rápido? Não é uma decisão fácil de se tomar.

- É o que eu estou me perguntando.

Voltei a olhar para a janela, eu estava um pouco apática, não tinha assimilado aquela situação. Acho que eu ainda não fazia idéia do que significava partir para sempre.

Richard ficou em silêncio, escutei-o respirar fundo.

- E Anahí?

Foi então que senti meus olhos ficando marejados, franzi o cenho ainda sem tirar os olhos da janela.

- Vai ficar aqui, com todo o resto. – Inclusive com uma parte de mim.

Ele respirou fundo de novo.

- Eu não ia falar isso, mas, a supervisora Lean falou comigo hoje. – Ela disse que tem encontrado Anahí sentada em frente à porta do seu quarto durante as madrugadas todos os dias, ela está preocupada.

Uma lágrima se desprendeu dos meus cílios. Por isso eu não esperava.

- E o que você quer que eu faça? Abra a porta para ela e pergunte o que ela tem para dizer? Eu não vou fazer isso, Richard.

- Não é o que eu quero dizer, Dulce. Eu só queria que você soubesse que ela também está sentindo o que você está sentindo.

- Não, definitivamente não. Quando eu achei que ela também estava sentindo o que eu estava, ela conseguiu me provar o contrário. Eu não acredito mais nisso, Richard.

- O que ela fez para provar?

Eu o olhei nos olhos, ele não sabia que Anahí tinha cheirado no dia do passeio.

- Eu apenas sinto.

Ele ficou em silêncio por um tempo.

- Dulce, eu não quero sugerir o que você deve fazer, não é certo. Só não quero que você reprima o que sente, o silêncio é perigoso. Acostumar-se com o que não lhe agrada é perigoso. Tirar conclusões próprias é perigoso. Apenas tome cuidado.

- Obrigada. –disse após um tempo, secando minhas lágrimas.

Ele sorriu sem mostrar seus dentes.

No escuro do meu quarto, deitada em minha cama, permaneci de olhos abertos escutando apenas minha respiração. Rachel e Amy dormiam em suas camas tranquilamente, olhei para o relógio. 01h57min. Eu não tinha o mínimo sono, retirei as cobertas de cima do meu corpo e sentei na cama. Será que Anahí estava ali fora agora? Levantei cuidadosamente e em passos silenciosos fui até a porta do quarto, encostei meu ouvido nela tentando escutar algum som dizendo-me que Any estava ali.

Não ouvi nada.

Mas eu sabia que ela podia estar ali, esperando. Escorei-me na porta e lentamente meu corpo foi descendo até que eu me sentasse no chão, continuei com o ouvido na porta, também esperando.

Até quando eu poderia esperar?

Fechei meus olhos, eu continuaria a noite inteira ali se fosse necessário, mas eu precisava ouvir algo que talvez me mostrasse que Anahí estava ali, sentindo.

Lutei contra a vontade de abrir a porta o tempo todo, sanar a curiosidade e acabar de uma vez com aquilo. Mas eu precisava que ela desse o passo seguinte, se realmente estivesse ali.

Não sei quanto tempo passou, pareciam horas, até que escutei passos arrastados do outro lado da porta. Eu parei de respirar por um momento, escutei meu coração batendo velozmente, pela fresta de baixo da porta vi uma luz acesa.

- Anahí. –A supervisora Lean disse em um tom alto. De novo sem sono?

- Desculpe.

Ela estava ali.

Ela estava ali.

Sentindo.

Imediatamente levantei do chão, meticulosamente abri a porta deixando espaço somente para metade do meu rosto, eu vi a silhueta de Lean acompanhando Anahí para a ala D.

Então a perdi de vista.

Fechei a porta ainda sem fazer nenhum barulho, encostei minha cabeça nela sentindo um nó em minha garganta. Respirei fundo e esperei que aquela sensação passasse.

Meu coração gritava em meu peito enquanto eu a via se distanciando.

- Any. –sussurrei sem força, sabendo que ninguém me escutaria. Any. –tentei novamente, ainda em um tom muito baixo para ser escutada.

Então a perdi de vista.

Fechei a porta ainda sem fazer nenhum barulho, encostei minha cabeça nela sentindo um nó em minha garganta. Respirei fundo e esperei que aquela sensação passasse.

- Dulce? –escutei a voz de Rachel cansada no interior do quarto.

- Rach, desculpe, eu te acordei? –falei aproximando-me de sua cama.

- Tudo bem. Aconteceu alguma coisa? –sussurrou preocupada.

Eu respirei fundo novamente, era uma forma de tentar controlar as lágrimas.

- Eu estou indo embora. –sussurrei. E eu não quero deixar Any aqui sozinha. –minha voz cedeu, eu esperei até poder controlá-la novamente.

- Por quê? –ela levantou metade do seu corpo, ficando sentada.

- Meus pais vão abrir uma sede da sua empresa em Indiana e vão me levar junto.

- Quando você vai?

- Este domingo. –eu sentei nos pés de sua cama.

- Nossa...

- O que eu faço Rach? Eu não posso ir. Eu não quero ficar longe dela.

- Calma Dul... Você já fez tanto por ela, talvez não haja mais o que se fazer. Ela fez uma escolha.

Senti uma dor invadir meu peito, meus olhos ficavam úmidos.

- Mas eu a amo. –desabafei com a voz fraca.

Rachel segurou minha mão.

- E ela também me ama. –continuei. Eu sei que ela também me ama. O que vai acontecer se eu for embora, Rach? Tudo o que restará a Any será Lisa.

De repente senti o medo percorrer meu corpo, segurei a mão de Rachel com força.

- Dulce, eu só acho que... Quando Lisa voltou semana passada, você estava aqui, e Anahí optou por ela e a cocaína.

- Mas ela esta arrependida, Rachel. Você não vê? –eu me exaltei pondo-me de pé e Amy se mexeu em sua cama.

- Desculpe, eu só não quero ver seu olhar como o vi no dia do passeio. Eu gosto muito de você, Dulce. Nada do que falo é para o seu mal, e você não faz idéia do medo que senti por você quando a vi daquela forma, eu nunca vi tanta decepção em um só olhar.

Eu sentei em minha cama, veio em minha mente a imagem de Anahí com os olhos arregalados pedindo que eu a protegesse.

Eu sempre soube que não seria fácil.

- Não parece.

- Boa noite, Rachel.

Falei para terminar com a conversa, não queria ouvir o que Rachel estava me dizendo. Eu deitei em minha cama virando-me para o lado oposto ao dela.

- Boa noite.

Fiquei pensando nas palavras de Rachel, lembrando-me de ver a silhueta de Any afastando-se, eu não sabia o que devia fazer. Meu coração me dizia uma coisa e a razão dizia outra. Eu não cheguei a nenhuma conclusão e esperei por muito tempo até que o sono chegasse.