Fanfics Brasil - Capítulo 47 Streamer (AyD)

Fanfic: Streamer (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Anahi e Dulce


Capítulo: Capítulo 47

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Segunda-feira fui à nova escola, eu estava um pouco adiantada em algumas matérias então estava indo bem nas aulas, mas eu não falava nada, não tinha feito nenhum novo amigo e todos me olhavam com uma expressão que eu parecia uma aberração.


Eu voltei para casa e ao entrar no quarto a primeira coisa que fiz foi ligar para Rachel.


- Ela não ligou? –perguntei esperançosa.


- Não, Dul. –a voz de Rachel demonstrava pena.


Eu respirei fundo.


- Você pode tentar falar com Lisa? Elas eram amigas, pode ser que saiba alguma coisa...


- Eu vou perguntar para ela. Você me liga amanhã?


- Sim, eu vou ligar.


- Está bem então Dul.


- Tchau Rach, obrigada.


- De nada.


 


Terça-feira:


- Lisa tem alguma notícia?


- Ela não sabe de nada Dul, também não tem nenhum número de algum parente ou amigo.


Droga, cada dia que passava o vazio era maior dentro de mim.


- Vou deixar meu número contigo, está bem? Se Anahí ligar você passa para ela.


- Claro, sem problemas.


 


Sexta-Feira:


- Eu pensei que você podia ter perdido o número, ou eu acho que disse errado.


- O número está comigo mas ela não ligou, Dul.


- Obrigada, Rach. E me desculpe.


- Não tem porque se desculpar Dulce. Eu te entendo, por favor, tente ficar bem.


- Eu vou tentar. Mas por que você acha que ela ainda não ligou, Rach? –minha voz saiu embargada.


- Não sei Dul, também não entendo.


- Eu to com medo.


- Tente ficar calma, notícia ruim chega rápido, tenho certeza que Anahí está bem e tem algum motivo por ainda não ter ligado.


- Você acha? –senti uma lágrima escorrer.


- Eu tenho certeza, Dul.


- Espero que você esteja certa.


 


Assim passaram-se mais alguns dias, até que os dias formaram uma semana, eu insistia em ligar para Rachel esperando ter alguma notícia, outra semana se passou e nada.


Eu costumava dizer que me sentia vazia por me sentir triste, eu não tinha a mínima noção do que é se sentir vazia, a mínima. Costumava dizer que estava perdida quando na verdade simplesmente não gostava do que via no espelho, porém agora não vejo nada no espelho.


 


- Dulce, eu e seu pai estamos ficando preocupados com você.


Minha mãe disse sentada ao meu lado em minha cama.


- Quantos quilos você já emagreceu? –continuou. Você não sai mais, não te vemos comer direito, sorrir, está sempre com olheiras, você não é mais a mesma, meu amor.


- Desculpe mãe. É só que... Eu estou tendo dificuldades para me adaptar, só isso.


- Você tinha muitas amigas em Port Austin, não é?


- É.


- Mas você não liga para elas quase todos os dias?


- Ligo.


- Eu não entendo.


- Tudo bem, mãe. Isso vai passar.


Ela segurou a minha mão não muito convencida de que era só uma fase.


- Vamos jantar agora, você precisa se alimentar melhor.


 


_


Segunda-feira eu fui à aula com o pouco entusiasmo de costume, entrei na sala e sentei no canto. O professor de geografia entrou na sala e logo ordenou que sentássemos em duplas para fazer um trabalho. Rapidamente todos começaram a movimentar suas classes e conversar. Eu permaneci parada.


- Oi.


Olhei para a direção da voz, ao meu lado.


- Você está sem dupla? –o menino perguntou o óbvio.


Eu assenti.


- Posso fazer com você?


- Claro. –respondi indiferente.


Ele se afastou para arrastar sua classe até o lado da minha.


- Você é Dulce, certo? –ele perguntou ao se sentar.


- Sim, desculpa... Eu não sei o seu nome.


- Charlie. –ele sorriu simpaticamente.


Eu retribuí o sorriso e o professor nos entregou a folha com o trabalho.


- Você já tinha visto essa matéria antes de vir pra cá? –ele perguntou enquanto lia a folha.


- Ah, sim. Estávamos começando.


Nós fizemos o trabalho com certa facilidade, Charlie parecia ser inteligente. Ele ficou sentado na minha frente no resto dos períodos e a primeira impressão que eu tinha tido dele foi se dissipando. Ele não me fez nenhuma pergunta, não me olhou de forma estranha, apenas ficou ali.


Na saída minha mãe foi me buscar, atrasada como de costume.


- Oi mãe. –falei entrando no carro.


- Como foi a aula? –perguntou indiferente.


- Normal.


Ela dirigiu sem falar muito, apenas aumentou o volume do rádio que dava as notícias.


À noite, quando eu estava no meu quarto, novamente liguei para Rachel.


- Colégio Interno Saint Monique, boa noite. –a secretária atendeu.


- Boa noite, eu gostaria de falar com a Rachel, do 608 E.


- Só um instante.


- Obrigada.


Passou-se alguns minutos até ouvir a voz de Rachel no telefone.


- Dulce?


- Oi Rach, como você está?


- Tudo bem, e com você?


- É, também. Então, alguma notícia?


Por favor, por favor...


- Sinto muito, Dul.


Respire fundo. – Eu lembrei a mim mesma.


- Obrigada Rach, mande um oi para as meninas. Sinto falta de vocês.


- Nós também sentimos. Pode deixar que eu mando sim, beijo Dul.


- Beijo.


Eu coloquei o telefone no gancho, de novo respirei fundo. O que aconteceu com ela? Eu não sei o que fazer. E se ela estiver precisando de mim?


- Dulce, vamos jantar? –meu pai falou abrindo a porta do meu quarto.


- Estou sem fome, pai.


- Mas vamos descer, pelo menos. –ele disse com um entusiasmo atípico.


- Não quero, pai. Preciso tomar banho.


- Céus, eu vou ter que te arrastar? –ele disse em tom de brincadeira.


Eu sorri cedendo ao seu pedido.


- Está bem, eu vou.


Levantei da minha cama e desci as escadas na frente do meu pai, assim que chegamos no último degrau ele passou a minha frente em passos rápidos.


- Venha aqui, Dulce.


Ele foi até a porta que dava acesso à garagem, minha mãe estava ali também. Eu parei em frente à porta e olhei para o rosto de ambos que pareciam animados. Meu pai abriu a porta e ali estava uma nova e enorme caminhonete preta, olhei para meus pais incrédula, incerta se aquilo era realmente o que eu estava pensando.


- Não tem mais porque você ficar com saudades das suas amigas em Port Austin. Esse carro é seu.


- Vocês estão brincando? –eu disse com um enorme sorriso.


- Não, filha. –meu pai respondeu sorrindo também. Esse é o mais novo modelo da Toyota, completamente seguro e estável, perfeito para você que vai dirigir na neve. Nós já a inscrevemos e pagamos suas aulas de direção, a primeira é quinta-feira.


- Obrigada, obrigada. Isso é de mais.


- Entre no carro. –meu pai disse me entregando a chave.


Eu peguei a chave em sua mão e abri o carro, sentei-me no banco do motorista, coloquei a chave na ignição e o liguei. Aquele carro era enorme, cheirava a couro novo, o painel era brilhoso e seus vidros tinham um insulfilm muito escuro. Meu pai se sentou ao meu lado e começou a explicar todas vantagens do carro.


- Não preciso nem lhe falar que a direção é hidráulica, freios ABS, quando você for dirigir na neve basta apertar este botão que as rodas vão ficar mais aderentes,...


Eu não entendia nada daquilo, mas ele estava tão empolgado que eu apenas fingi entender e me interessar.


Meus pais ficaram tão felizes quanto eu, no fundo eu me sentia mal por estar mentindo, eu não iria para Port Austin. Mas como seria contar a verdade? O que eu estaria colocando a perder?


_


 


- Dulce, já faz quatro semanas. Eu sei que isso pode ser difícil, mas tente superar. Esquecer. –Rachel disse do outro lado da linha.


- Obrigada Rachel. –respondi rudemente.


Desliguei o telefone sem me despedir e me recusei a tomar as palavras de Rachel como conselho, recusei-me a acreditar que Anahí simplesmente me abandonaria.


Eu fui ao banheiro, liguei o chuveiro e comecei a me despir, ao tirar minha blusa deparei-me com meu reflexo no espelho, minha mãe tinha razão, eu estava muito mais magra, e não era bonito. Meu rosto também tinha emagrecido, o torno dos meus olhos era arroxeado, o que está acontecendo comigo?


O vapor no banheiro começou a embasar meu reflexo, o que me fez voltar a me despir e entrar no banho.


Esquecer?


Como se isso fosse possível. Como simplesmente se resolve esquecer alguém? Ainda mais quando for alguém que mudou sua vida completamente, que fez você derrubar alicerces e construir novas verdades e valores, que fez você fazer o que alguns meses antes parecia ridículo. Que fez você se expor ao sol, sair da correnteza. Como se pode esquecer alguém assim?


É simplesmente impossível. E, o que eu seria quando esquecesse esta pessoa? Voltaria a ser como antes? Mas e se eu não lembro o que era antes?


Esquecer é regressar.


E não há para onde regressar.


- E as aulas de direção? –Charlie me perguntou na aula no dia seguinte.


- Estão boas, até agora só tive duas. –respondi.


Estávamos no último período, na aula de inglês, eu o ajudava, palavras não eram o seu forte.


- Mas já teve aula prática?


- Ainda não, só teóricas.


- Ah, sem graça. –ele debochou.


- Por acaso você sabe dirigir? –perguntei querendo tomar alguma vantagem.


- Sei.


- Droga.


Nós rimos.


- Se você quiser eu posso lhe ensinar algum dia. –ele disse com um tom de superioridade.


- Não será necessária sua ajuda. –respondi brincando. Vamos terminar este exercício logo.


- Isso é adjetivo? –perguntou apontando para uma palavra do texto.


- Não, é substantivo.


- Ah, é.


Eu estava gostando da presença dele, aliviava minha cabeça por alguns minutos, o que era o suficiente para me sentir um pouco melhor. Ele não perguntava sobre o passado, sobre o porquê de eu não me entrosar com ninguém, talvez isso fosse o que eu mais gostava nele.


Ao sinal indicando o término da aula todos saíram o mais rápido o possível da sala, eu estava na porta quando Charlie me chamou.


- Se você precisar daquelas aulas de direção me ligue. –debochou.


- Se você não souber diferenciar substantivo de adjetivo me ligue também.


Ele sorriu ironicamente e eu fui embora.


Eram 21h, eu fazia meus deveres de matemática, estava só com as empregadas em casa e provavelmente já estavam dormindo, meus pais haviam ido para um jantar com alguns fornecedores.


O telefone tocou uma vez. Eu terminava o problema concentrada, não quis atender. O telefone voltou a tocar e eu não levantei, alguma empregada o atenderia. Então caiu na caixa de mensagens.


Escutei alguém respirar fundo do outro lado da linha, eu reconhecia aquela respiração.


- Dulce?


-


- Rachel me disse que esse era seu número, espero que esteja certo. –sua voz era triste do outro lado da linha.


Eu tirei o telefone do gancho mas não consegui falar nada, meu coração batia com força.


- Alô? Dulce?


Eu respirei com dificuldade.


- Anahí. –sussurrei.


Escutei sua respiração mais intensa do outro lado da linha, parecia chorar. Senti meus olhos ficando úmidos, era como se um enorme peso tivesse sendo retirado de dentro de mim apenas por escutar sua voz.


- Desculpe não ter ligado antes, eles me proibiram. – Meu Deus, como eu sinto sua falta.


- Eu também, você não tem idéia o quanto. –falei com dificuldade.


- Minha tia convenceu meu pai a me internar em um hospital para dependentes, eu fui pega de surpresa e não tive como te avisar.


- Onde fica? –falei desesperada.


- Por quê?


- Eu estou indo para aí agora, me dê o endereço. –eu pagava uma folha qualquer para anotar.


- Amor, eles não vão te deixar entrar agora.


- Não me importa, eu preciso te ver.


- Eu estou no Hospital Saint Marys, mas você vai pegar um avião a esta hora? Como? Dizer o que para os seus pais?


- Eu vou de carro, devo chegar aí amanhã, eu te amo muito.


- Mas Dulc...


- Any, por favor, deixe-me ir, eu preciso... Eu te amo, eu tenho que ir agora. Eu te amo.


Escutei-a suspirar no telefone, senti algumas lágrimas escorrerem no meu rosto.


- Eu também te amo, muito.


Eu não pude evitar sorrir após ouvir isso.


- Espere por mim, estou saindo agora. –disse com pressa.


- Eu sempre vou esperar.


Escutei mais uma vez seu suspiro, então ela desligou o telefone, eu imediatamente peguei meu celular e procurei na agenda o número da única pessoa que poderia me ajudar agora, Charlie.


- Dulce? Aconteceu alguma coisa?


- Você pode vir na minha casa agora?


- Você esta bem?


- Sim, estou. Preciso que você me leve a um lugar, você pode?


- Estou indo agora, me dê o seu endereço.


Eu o disse meu endereço, não ficava muito longe da sua casa, enquanto ele não chegava eu procurei na internet um mapa com a localização do hospital e o imprimi. Poucos minutos depois Charlie apareceu com sua bicicleta. Eu o esperei lá na frente para que não tocasse a campainha e acordasse alguma empregada.


Ele se aproximou de mim e analisou meu rosto, parecia preocupado.


- O que aconteceu? Você estava chorando?


- Está tudo bem agora. –sussurrei.


- Onde você quer que eu a leve?


Eu o entreguei o mapa que estava em minhas mãos.


- Nova York?! –ele se espantou.


- Shh! –falei e olhei para as janelas de casa vendo se alguma luz havia sido acesa. Por favor, Charlie, você é a única pessoa quem posso recorrer. Eu preciso muito ir para lá agora. –meus olhos ficaram marejados, eu estava desesperada.


- Está bem, está bem. Calma. Eu te levo só deixe avisar meus pais. –sussurrou.


- Não, ninguém pode saber.


Ele respirou fundo, pensativo.


- Vamos, rápido.


- Obrigada, obrigada...


Charlie colocou sua bicicleta nos fundos de casa, eu o entreguei as chaves, ele sentou no banco do motorista e eu no carona, ele ligou o carro e pareceu impressionado.


- Nossa, isso vai ser divertido. –ele falou empolgado enquanto dava ré para tirar o carro da garagem.


Homens...


Eu o sugeri um caminho onde eu tinha certeza que ele não cruzaria com os meus pais, mesmo sabendo que eles não voltariam tão cedo para casa. Charlie fez o caminho, ele era bom motorista, pelo menos.


- O que você vai falar para os seus pais quando perceberem que você saiu? –perguntou.


- Não pensei nisso ainda. –respondi olhando pela janela. E você?


- Eles não vão perceber, já estão dormindo, e mesmo amanhã, eu acordo antes que eles.


- Quantas horas você acha que são de viagem?


- Cerca de 12h.


- Eu estou ferrada.


- Sim.


- Mas o que tem lá em Nova York? –ele me olhou rapidamente.


Eu hesitei, droga, acho que devo esta resposta a ele.


- Uma pessoa.


Ele pareceu um pouco incomodado.


- E essa pessoa não podia esperar até amanhã?


- Eu não podia.


- Ele deve ser muito especial então. –disse com um tom de sarcasmo.


Ele.


- É. –respondi e em seguida liguei o rádio para acabar com a conversa.


Nós entramos na estrada e agora o carro seguia com mais velocidade, eu olhei para Charlie discretamente, ele era o sonho de qualquer menina. Era alto, tinha braços fortes e traços muito bonitos, além de ser inteligente e simpático, mas ele não se misturava muito com as pessoas, era muito na dele, nunca o vi com amigos, apenas conversava com pessoas aleatórias. Mas apesar disso, talvez se eu já não amasse alguém com todo o meu coração, eu me sentiria atraída por ele, mas eu só conseguia ver uma pessoa, sentir um cheiro, estremecer com um toque, Anahí. Ninguém mais existia além dela.


- Vá mais rápido, Charlie.


- Eu estou no limite, não posso. –ele disse apontando pro velocímetro.


- Dane-se o limite, vai.


- Não, Dulce. Eu vou obedecer ao limite. –ele respondeu rígido.


- Está bem, desculpe. –cedi.


Eu o analisei, parecia tenso.


- Você está bem? –perguntei.


Ele me olhou e então aliviou um pouco sua postura.


- Estou. Na verdade estou um pouco preocupado, mas quem não estaria no meu lugar?


- Você tem carteira, não? –perguntei assustada.


- Claro né, Dulce. Fico preocupado com seus pais, não quero pensar o que eles vão fazer quando perceberem que você sumiu.


Eu olhei no relógio: 03h19min


- Eles já devem ter percebido.


- Como assim? –ele perguntou sem entender.


- Eles não estavam em casa quando saímos, quando virem que o meu carro não está na garagem e que eu não estou no meu quarto vão surtar.


- Droga, Dulce! Mas tinha outro carro na garagem ao lado do seu! Pensei que eles estivessem dormindo.


- Era o carro da minha mãe, eles estavam com o do meu pai. Mas fique calmo, Charlie.


- Espero que esse cara valha à pena. –falou inconformado.


- Não é um cara, Charlie. –eu falei ficando brava.


- O quê? –ele me olhou rapidamente assustado.


- Você ouviu. –eu falei um pouco arrependida de ter dito a ele.


- Meu Deus, não acredito. –ele falou pasmo. É sério isso?


- Eu não devia ter dito. –sussurrei arrependida e incomodada com a reação dele.


- Desculpe, é só que... Eu não entendo.


Se nem eu entendo, como ele iria? É amor.


- Você é, desculpe mas, muito linda. É estranho pensar que é lésbica.


Eu permaneci quieta por um tempo, eu nunca tinha parado para pensar no impacto que a palavra ‘lésbica’ tinha sobre as pessoas, inclusive sobre mim.


- Eu não sou lésbica, Charlie. –sussurrei.


- Não?


- Eu apenas a amo.


- Ok, uma lésbica individualista, lésbica igual.


- Ah, cala essa boca. –disse irritada.


- Desculpe.


Agora eu permaneci quieta, olhava pela janela o céu repleto de estrelas, só me vinha uma coisa à cabeça, encontrar Anahí. Eu não via a hora de tê-la nos meus braços novamente.


Nós já estávamos na entrada da Pensilvânia agora, era metade do caminho, eram 5h da manhã e o céu ficava um pouco menos escuro. Eu estava cansada, mas não conseguia dormir, meus pensamentos em Anahí não me deixavam. Eu já podia sentir seu cheiro, sua pele encostando na minha, seu olhar preso no meu.


- Podemos parar no posto? Estamos com pouca gasolina e eu estou ficando com sono, preciso parar um pouco. –Charlie disse.


Eu pensei no tempo que perderíamos, mas tudo bem, ele precisava parar, seus olhos realmente estavam cansados.


- Claro.


Ele parou no posto seguinte que passamos, ele desceu do carro e encheu o tanque de gasolina e eu paguei com o meu cartão, nós ficamos um pouco ali fora para esticarmos as pernas. Eu o emprestei um dinheiro para pegar uma coca-cola na máquina que tinha ao lado do banheiro, após alguns minutos eu me aproximei dele, que estava um pouco afastado olhando para o nada.


- Vamos?


- Sim, vamos. –ele se virou para mim com uma aparência um pouco melhor.


Nós voltamos para o carro e entramos na estrada novamente, o céu gradativamente ficava mais claro, eu escancarei meu vidro e senti o vento bater no meu rosto por um tempo até ficar com frio e resolver fechar o vidro. Olhei para Charlie que permanecia quieto e concentrado na estrada.


- Obrigada. –falei em um tom baixo. A gente se conhece há um mês e você já está se arriscando muito por mim, obrigada Charlie.


Ele me olhou rapidamente.


- Você vale à pena. –sorriu de canto.


Eu ri timidamente, droga. Charlie parecia ter algum sentimento que ia além de amizade por mim.


- Merda. –ele disse ao olhar para o retrovisor.


- O que foi? –perguntei assustada e logo olhei para trás.


Merda, merda. Uma viatura da polícia se aproximava cada vez mais do nosso carro. Eu continuei olhando para trás, droga, não agora. A gente já veio até aqui. Então a viatura ligou a sirene por alguns segundos indicando que era para Charlie parar no acostamento.


- Acelera Charlie! –gritei desesperada.


Eu o olhei, ele mantinha a mesma velocidade e continuava olhando para o retrovisor, parecia estar pensando no que devia fazer.


- Acelera! –eu gritei mais alto.


Ele estava indeciso, parecia com medo.


- Desculpe, Dulce.


Ele virou a direção indo para o acostamento e parando o carro.


- Não! Não! Não! –eu falei alto irritada.


Merda, não! Por que Charlie fez isso?


- Volte para a estrada! –eu me joguei por cima do volante e o virei de volta para a estrada.


Charlie pisou no freio com força.


- Você está louca?! –ele falou em tom alto para mim.


Não sei.


Talvez.


Eu recuei e sentei no meu banco. A viatura parou logo atrás da gente, um policial desceu do carro e parou ao lado de Charlie, que abaixou seu vidro.


- Algum problema? –o policial perguntou provavelmente se referindo à freada brusca do nosso carro.


- Nenhum, senhor. –Charlie respondeu.


- Posso ver seus documentos? –o policial falou.


Charlie mexeu em seu bolso provavelmente procurando sua carteira de motorista.


- Não os seus, os dela. –O policial ordenou.


Eu o olhei assustada, droga. Eles estavam atrás de mim. O policial fez um sinal para o outro que estava na viatura descer. Eu tentei parecer o mais normal o possível e entreguei minha identidade ao policial.


- Para onde vocês estavam indo? –ele perguntou enquanto olhava a carteira e olhava para sua prancheta.


- Nova York. –respondi.


Ele olhou para o outro policial que também avaliava a prancheta, o policial que tinha vindo depois assentiu, confirmando alguma coisa, então o outro fez um sinal negativo com a cabeça.


- Sinto muito, senhorita Dulce María Saviñon, mas vamos ter que levá-los. Vocês podem descer do carro, por favor? –um deles ordenou.


Nós descemos do carro, um dos policiais que parecia ter menos autoridade voltou à viatura, pude ver que ele comunicava algo no rádio.


- Nós vamos chamar o reboque para levar o seu carro de volta à Indianápolis, você faz alguma idéia de o quanto seus pais estão loucos atrás de você? –o policial com mais autoridade falou comigo.


Eu permaneci quieta, eu realmente não queria ter que fazer meus pais passarem por isso, mas eu não queria dizer-lhes a verdade.


- O rapaz tem carteira, pelo menos? –o policial se dirigiu a Charlie.


- Sim, sim.


Charlie tirou sua carteira do bolso e entregou ao policial que a analisou e entregou de volta, assim como minha identidade. Após alguns minutos chegou o reboque, eles colocaram meu carro sobre tal e o prenderam pelas rodas, o carro do reboque então partiu.


- Vocês dois. –o policial gritou para mim e Charlie. Podem entrar na viatura.


Nós apenas obedecemos, sentamos no banco traseiro que era separado dos bancos dianteiros por uma grade. Logo depois os policiais entraram no carro e deram a partida.


- Parece que arruinamos a fuga dos pombinhos. –eles conversavam entre si.


- Não era uma fuga. –Charlie disse. E nós somos amigos.


Eu o cutuquei e apenas fiz um sinal indicando para não se importar com o que eles falassem, ele assentiu e se acomodou no banco ficando mais deitado.


Eu olhei para o lado de fora e o primeiro raio de sol se manifestava no horizonte, eu só pensava em Anahí. Eu precisava tanto vê-la e quanto mais eu lutava, mais as coisas pareciam dar errado. Aquela angústia voltou, aquele peso e desesperança pareciam ter voltado com mais força ainda dentro de mim, mas nada seria o suficiente para eu desistir.


Eu continuei olhando pela janela até que peguei no sono.


- Desçam, nós chegamos!


Eu acordei com o grito do policial e então eles desceram do carro. O sol brilhava entre algumas nuvens lá fora, deviam ser umas 11h. Olhei para Charlie que continuava dormindo profundamente. Eu encostei minha mão em seu braço.


- Charlie, acorde.


Eu o chacoalhei levemente e ele abriu os olhos.


- Nós chegamos. –sussurrei.


Então abri a porta e sai do carro, Charlie fez o mesmo e nós seguimos o policial para o interior da delegacia.


- Dulce! Graças a Deus! –minha mãe falou desesperada levantando-se da cadeira e vindo até mim.


Ela tinha os olhos inchados e vermelhos, levou as mãos ao meu rosto e me olhou com uma mistura de ternura e raiva.


- O que deu em você? –perguntou ficando com os olhos úmidos.


- Desculpe. –falei em um tom baixo.


Olhei para o meu pai que se mantinha sentado, sua expressão era fechada, ele estava muito irritado.


- Bom senhores, podem me acompanhar à minha sala? –outro policial falou com os meus pais.


Olhei para Charlie, seus pais estavam ali, mas um policial falava com ele. Eu fiquei sentada ali no hall da delegacia enquanto meus pais foram para a outra sala, escutava a conversa de Charlie com o policial.


- Você precisa mesmo avisar os meus pais?


- Você é menor de idade, eu preciso comunicá-los, garoto. –o homem disse impassível.


Droga, isso tudo era minha culpa. Charlie se reclinou emburrado enquanto o policial ligava para os seus pais. Charlie então me olhou, “Me desculpe” –eu gesticulei com os lábios para ele. Sua expressão suavizou, ele assentiu e gesticulou “Tudo bem”.


- Sim senhor, obrigado pela atenção. Estarei esperando. –o policial dizia no telefone e então o colocou no gancho.


- Eles estão vindo? –Charlie perguntou ao policial.


- Sim, você pode aguardar sentado ali, por favor. –ele disse sem olhar para Charlie e apontou as cadeiras laterais, onde eu estava sentada.


Charlie veio ao meu lado e se sentou.


- O que você vai dizer para os seus pais? –perguntou.


- Não sei. Não sei nem como conseguiram me encontrar, nós não estávamos mais na estrada para Port Austin, onde eles poderiam pensar que eu estava indo. E você?


- Eu invento qualquer coisa, que você me seqüestrou,... –ele disse em tom de brincadeira.


Eu ri tristemente.


- Eu estava brincando, Dul. –ele falou.


- Tudo bem, Charlie. Eu que te meti nisso, coloque a culpa em mim.


Claro que eu não me referia a um seqüestro, Charlie entendeu.


- Jura, eu não vou fazer isso. Eu fui porque eu quis Dul, você não me forçou a nada.


- Não quero que você se dê mal por mim. –falei o olhando nos olhos.


- Meus pais nem vão ligar. –ele sorriu.


Eu sorri, e ao perceber a proximidade dos nossos rostos fui para trás, Charlie ficou sem jeito e fingiu não perceber.


Nós permanecemos em silêncio até que após longos minutos meus pais saíram da sala do policial.


- Muito obrigada, senhor. –minha mãe disse ao policial.


- Não fiz mais que o meu trabalho. –o gordo disse sorridente.


- Pode ter certeza que não vai se repetir. –meu pai disse rígido.


Eles se despediram e então passaram por mim sem dizer uma palavra, acho que era para segui-los.


- Tchau, Charlie.


Eu fui atrás dos meus pais que entraram no carro, eu entrei em seguida. O clima era tenso, ninguém falou uma palavra durante o caminho inteiro de volta para casa.


Ao chegarmos meus pais desceram antes de mim do carro, eles entraram em casa e eu fui atrás deles e segui em direção da escada para ir ao meu quarto.


- Onde você pensa que vai? –meu pai perguntou ríspido.


Eu o olhei temerosa e fiquei ali parada, ao lado dele minha mãe me olhava também, ela estava com medo, via em seus olhos que não queria brigar, mas era submissa de mais para enfrentar meu pai.


- Qual é o seu problema, Dulce? –ele manteve o tom.


- Desculpem. –eu falei ficando com os olhos úmidos.


- Por que você fugiu, minha filha? –meu pai pareceu se comover um pouco.


- Você tem noção do que nós tivemos que fazer para encontrá-la? –minha mãe começou a se desesperar.


Droga, eu realmente não queria ter feito aquilo.


- Foi aquele garoto? –ela perguntou.


- Não, não. Charlie é só meu amigo. –eu respondi.


- Sente-se ai. –meu pai mandou.


Eu sentei no sofá e eles permaneceram de pé na minha frente. Meu pai retirou um papel branco do seu bolso que estava dobrado e jogou em cima do meu colo.


- O que é isso? –ele perguntou.


Eu abri o papel sem entender muito, tinha algo impresso. Droga, burra, burra, burra. Era o meu histórico do computador. Ali dizia que eu havia procurado por um ‘Hospital Saint Marys Nova York’ e que eu tinha procurado um mapa de Indianápolis até Nova York.


- O que você queria com um hospital de reabilitação de drogados? –meu pai perguntou rígido.


Eu respirei fundo, não sabia o que dizer, eles não gostariam de saber que eu visitaria uma amiga. Muito menos se essa amiga não fosse apenas minha amiga, mas eu não tinha escolha.


- Eu ia visitar uma amiga. –cochichei.


- Uma amiga? –minha mãe tornou-se mais rígida também.


- Sim.


- De onde essa amiga? Meu Deus do céu, Dulce! –ela continuou.


Eu precisava pensar em algo, não havia tempo.


- Responde! –meu pai gritou.


- De Port Austin.


Merda.


- Eu estou vendendo seu carro hoje. –meu pai afirmou.


- Não, não pai. Por favor. Vocês não entenderiam. –supliquei com lágrimas nos olhos.


- Tente nos explicar. –ele respondeu sentando-se.


Eu respirei fundo.


- Ela é minha... Minha melhor amiga. Ela se envolveu com isso, mas eu sei que ela não quer mais, ela mudou, mas também sei que precisa da minha ajuda.


- Por que você foi se envolver com esse tipo de gente, Dulce? –minha mãe perguntou sentando também.


- Não é um tipo de gente mãe. É gente como a gente, mas por algum motivo caíram, entende? Não significa que sejam más pessoas, apenas não sabiam mais a que recorrer. –eu respondi tentando parecer o mais calma o possível, mas senti uma lágrima se desprender dos meus cílios.


- Você acabou de dizer uma grande idiotice. –meu pai falou impassível. Não quero você andando com essa menina, dane-se se ela é uma boa pessoa! Eu te proíbo, Dulce!


- Você nem a conhece! –eu falei em um tom mais alto.


- Não preciso conhecê-la para saber que o lugar dela é longe de você! Ela é lixo, não merece nem respirar o mesmo ar que você!


- Ah, cala essa boca! Você não pode me proibir de nada! –eu gritei.


- Eu posso, e eu vou! –ele gritou também e ficou de pé. Vá pro seu quarto!


- Se você vai, eu vou embora! –eu falei em um impulso ficando de pé.


Ele me olhou, parecia ter fogo nos olhos.


- Ir embora? –ele cuspiu as palavras.


- Exatamente. –cuspi de volta.


- Então vá. Então vá, e não volte. –seus olhos arderam mais ainda, estava com muita raiva.


Escutei o choro da minha mãe, ela se manteve na sombra do meu pai. Eu não podia acreditar no que ouvia.


- Nem que você me implorasse voltaria. Eu vou para Nova York com a minha namorada. –cuspi as palavras.


Eles ficaram estáticos.


- O que? –minha mãe surtou.


- Você ouviu bem.


- Não posso acreditar. –minha mãe resmungou.


- O que você ainda está fazendo aqui? Pegue suas coisas e vá embora agora. –ele me olhou com nojo.


Eu virei e subi as escadas sentindo a raiva percorrer meu corpo. Eu estava sendo expulsa de casa. Senti as lágrimas escorrerem pela minha face indolentes. Eles eram as pessoas que tinham que estar do meu lado, não os primeiros a me recriminar.


Eu entrei no meu quarto correndo, peguei algumas roupas e coloquei na minha mala, coloquei todas as jóias de alto valor que eu tinha, meu notebook, tênis de marca, meu celular e minha carteira que tinha alguns dólares e meus cartões. Guardei tudo o mais rápido o possível na minha mala e na minha bolsa e desci as escadas de casa. Meus pais continuavam na sala, minha mãe sentada no sofá chorando, meu pai de braços cruzados olhando para o chão. Eu passei correndo, abri a porta e saí de casa. Saí para nunca mais voltar.


Tenho nojo de ter nas veias o mesmo sangue que aqueles dois.


Eu caminhei o mais rápido o possível com aquela pesada mala nos braços, assim que passou um ônibus por mim eu entrei, sem ao menos saber o destino. Eu sentei ao lado de um homem engravatado que segurava uma maleta.


- Com licença, o senhor poderia me dar uma informação. –eu o chamei.


Ele me olhou.


- Claro.


- Como eu faço para chegar a Nova York?



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Autor(a): foxxy96

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 41



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  • pekenna Postado em 04/08/2015 - 00:14:45

    Linda historia!!!pena q acabou.

  • flavianaperroni Postado em 02/08/2015 - 02:06:19

    Aaaah. não queria que acaba-se :( Mais sua web foi perfeita demais,amei de paixão s2

  • foxxy96 Postado em 01/08/2015 - 16:15:33

    kkk, sério mesmo, querida. Já tá acabando. Mais tarde posto ;)

  • flavianaperroni Postado em 31/07/2015 - 18:57:54

    Penúltimo? serio?? :(

  • flavianaperroni Postado em 28/06/2015 - 15:40:04

    Posta mais....Finalmente elas vão se ver

  • flavianaperroni Postado em 26/06/2015 - 17:19:59

    caraca que loucura....Ela realmente ama mesmo a Annie,espero que a Dul consigo se estabilizar,sabe sobreviver,porque sair assim de casa não deve ser fácil.........Posta mais

  • foxxy96 Postado em 26/06/2015 - 11:34:23

    Muito legal isso, essa web é muito boa e tal, se quiser pode me mandar teu email que eu te envio. ;)

  • gabs_ Postado em 02/05/2015 - 11:30:18

    gente! eu escrevi essa web em 2009, publicava na comunidade ayd meu trauma com o perfil da low! eu não tinha salvo ela no meu computador e procurei no google com a esperança de encontrar, que ótimo que isso aconteceu! obrigada, foxxy96 por ter salvo e estar postando!! tu era leitora na época? valeuuu, e boa leitura, meninxs!!

  • flavianaperroni Postado em 30/04/2015 - 01:01:33

    nossa me deu uma dor agr ;( sera que a Dul vai mesmo?

  • flavianaperroni Postado em 28/04/2015 - 19:24:54

    cara que mancada da Anahi


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